ARTUR TIMÓTEO DA COSTA - Pintor em seu ateliê
Óleo sobre tela
Estar disponível para a Arte
é um privilégio praticado por muitos ultimamente, em todas as partes do mundo.
Muitos fazem disso sua profissão, sobrevivendo dela e movimentando um grande
mercado. Outros encontram no fazer artístico apenas um passatempo, que ajuda na
promoção humana e que por vezes se torna uma eficaz terapia. No entanto, fazer
arte requer alguns cuidados na sua execução, tanto para aqueles que a praticam
ocasionalmente, e principalmente por aqueles que a fazem em sua rotina diária.
É que grande parte dos materiais utilizados para a confecção de qualquer obra
de arte esconde grandes perigos, devido ao seu alto grau de toxicidade.
Uma grande parte dos
pigmentos utilizados na fabricação das cores tem em sua composição elementos
agressivos à saúde humana, como os metais pesados; além de diluentes ou
solventes para se tornarem estáveis e manipuláveis. Dependendo da técnica,
esses materiais podem ser manipulados sob controle e não proporcionam perigo.
Mas, na busca por uma técnica mais apurada e por efeitos além dos tradicionais,
tem-se utilizado exageradamente métodos que põe em risco a saúde de quem os
manipula. Vê-se cada vez mais, o uso abusivo de veladuras e transparências
conseguidas graças ao uso de resinas, vernizes e toda sorte de diluentes e
solventes. São esses últimos, os maiores vilões nessa história.
A presente matéria traz um
alerta, não no sentido de amedrontar e provocar pânico. Os materiais estão aí
para serem utilizados e são os nossos maiores aliados para a produção daquilo
que idealizamos e trazemos para a realidade. O que pretendo é sensibilizar que
todas as coisas nos oferecem riscos. Como disse Saint Exupéry em “O Pequeno
Príncipe”: Até uma rosa pode nos ferir,
tudo depende da maneira como dela nos aproximamos. Assim também, qualquer
material utilizado para fazer arte pode se tornar o nosso maior aliado ou nosso
maior inimigo, tudo depende da maneira como os utilizamos.
Experiência está ligada a
experimentar, observar na prática, sofrer ou praticar uma ação. Aprender pela
experiência pode ser doloroso, mas é um aprendizado que muda nosso
comportamento e nos faz caminhar com mais segurança. Em 2003, uma série de
transtornos com garganta e sistema respiratório, levou-me a rever
comportamentos referentes ao processo de execução de meu trabalho, a pintura a
óleo. A recorrência dos problemas relacionados acima se dava pelo uso constante;
que eu fazia até então; de terebintina e secante de cobalto, além de querosene
ou thinner para limpeza de pincéis. Problemas de saúde que foram logo resolvidos,
mediante a suspensão do uso de tais produtos e o afastamento do contato com a
pintura por 4 meses. Até então, ignorava os efeitos danosos desses produtos
sobre o organismo e nunca havia pensado na possibilidade de ser intoxicado por
eles. Creio que esse seja o raciocínio errôneo de muitos artistas, mundo afora.
Solventes
A concepção de um ateliê
todo em desordem, com uma série de tintas e produtos espalhados por todos os
lados, e o artista tão sujo e desorganizado quanto ele, pode parecer meio
romântica e aludir à sensação que o artista e sua arte estão completamente
integrados. É uma cena bonita na ficção. Na prática, esse mau hábito pode
trazer consequências sérias para a saúde do artista. As biografias de vários
artistas nos relatam o mal que tais produtos já proporcionaram. Um dos exemplos
mais famosos entre nós é o de Portinari, que faleceu cedo, em decorrência da
exposição errônea e prolongada a tais produtos.
Em grande parte das vezes,
tais transtornos a saúde são gerados principalmente pela condição do ambiente
onde se trabalha. Um ateliê adequado para o trabalho e que reduza quase que
completamente os riscos de intoxicação, deve ter uma boa ventilação e nenhuma
concentração de odores. Ambientes fechados e que não permitam boa troca de ar
são ideais para o surgimento e agravamento de várias doenças e transtornos a
saúde. Vale ressaltar também que algumas pessoas são mais tolerantes que
outras, mas isso não impede que estejam sendo intoxicadas. Os danos virão, é só
uma questão de tempo.
As substâncias tóxicas
utilizadas no processo de diversos trabalhos artísticos podem penetrar no corpo
através de várias maneiras: por ingestão, por respiração/aspiração e também
podem ser absorvidos pela pele. De acordo com a natureza de cada pessoa, os
danos provocados por essas substâncias podem ser agudos ou crônicos, também podem
ser sanados tão logo sejam remediados ao serem descobertos, ou se tornarem
irreversíveis. A exposição pode causar danos ao cérebro e provocar doenças
mentais, assim como outros males e moléstias físicas e levar até mesmo à morte.
Segundo Ralph Mayer, no livro O Manual do Artista, as cores artísticas mais
tóxicas podem causar doenças agudas ou crônicas (inclusive o câncer),
provenientes de carcinógenos conhecidos ou desconhecidos.
Fique atento se, ao utilizar seu material de trabalho, começar a sentir alguns sinais frequentes, tais como irritação e vermelhidão dos olhos, ressecamento das fossas nasais, dores de cabeça sem motivo aparente, coceiras e micoses principalmente nas mãos, frequentes irritações do sistema respiratório (amígdalas, laringe e faringe) e em casos mais sérios, náusea e mal-estar. A intoxicação pode ocorrer de modo abrupto ou lento, sem você perceber. Todas as duas variantes trazem vários problemas.
Mediante tais alertas, não
custa tomar algumas precauções para que o fazer artístico, uma atividade tão
especial na vida de muitas pessoas, não torne um problema. Citarei algumas
providências que são de minha própria experiência e que se mostraram muito
úteis:
. Não pinte em locais
fechados ou com pouca ventilação, em nenhuma circunstância. Mesmo os produtos
menos tóxicos tem seu potencial de toxicidade aumentado nessas condições.
. Não use panos ou trapos
para a limpeza de pincéis, quando estiver pintando. Eles retém cheiro e
partículas de tintas, que acabarão sendo inalados ou entrarão em contato com
sua pele. Use papel toalha ou guardanapos de papel e jogue-os fora sempre que
sujarem o suficiente.
. Mantenha a lixeira fora do
ateliê. Ela retém cheiro e continuará exalando os produtos voláteis que você
havia descartado.
. Caso sinta alergia nas
mãos, pelo contato com algum produto, use luvas descartáveis.
. Ao manusear diluentes e
solventes com maior risco de toxicidade, utilize uma máscara e lave bem as mãos
ao término de cada atividade.
. No uso de tinta à óleo,
evite solventes ou diluentes. Se a tinta se apresentar mais densa, use pequenas
gotas de óleo de linhaça para quebrar um pouco sua consistência. Tente se
adaptar a uma pintura mais simplificada, com menos efeitos mirabolantes e que
dispense o uso de vernizes e resinas, pois esses sempre necessitam de diluentes
e solventes para serem aplicados.
. Também para a limpeza dos
pincéis usados com óleo, utilize apenas detergente neutro em água corrente.
Retire o excesso em pentes próprios para limpeza.
. Hidrate-se sempre que
possível. O organismo precisa de líquidos para eliminar impurezas e manter o
bom funcionamento dos rins.
Essas são apenas algumas sugestões.
Como disse anteriormente, cada caso tem suas particularidades e conveniências.
Observando melhor suas reações diante de alguns produtos e certas atividades,
você se conhecerá melhor e saberá como se precaver de certos transtornos.
A Arte precisa de você para
sobreviver. Colabore, para que ela nunca se acabe.