CHARLES OAK - Joana - Óleo sobre tela - 30 x 60
Tenho frisado, em matérias anteriores, sobre
a versatilidade que é inerente à carreira de muitos artistas. Essa espécie de
inquietude, que é um dom para muitos e que também se transforma num doce
tormento, torna-se a gênese do que há de mais cobiçado no mundo da arte, a
criatividade. É das adversidades e dos desafios do dia a dia, que nasce o artista
irreverente e que se propõe estar sempre criando e buscando novas linguagens. Não
é fácil conviver com mil ideias na cabeça, “trocando socos e pontapés” para
ganhar vida em pincéis, canetas, lápis e toda forma de expressão. Uma
inquietude que é nata dos jovens, que ainda não se deram ao conforto perigoso
da maturidade de expressão, porque, como disse Picasso, “é na juventude que
acontecem todas as revoluções”.
Charles Carvalho, que assina Charles Oak
(muito próprio, por sinal), é um desses jovens talentos brasileiros que dá
gosto de acompanhar. Fala a linguagem de seu tempo e a expressa com técnicas e
sentimentos também de sua época. Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, reside
atualmente na cidade de São Paulo. Deixo abaixo, um relato emocionante de sua
carreira, narrado pelo próprio artista. Uma bela história sobre como tudo
começou.
CHARLES OAK - Sem título - da Série Geisha Pop
Óleo sobre tela - 30 x 60
CHARLES OAK - Sem título
Óleo sobre tela - 30 x 60
Eu sou um
artista autodidata, comecei a desenhar muito cedo, graças ao
incentivo da minha mãe a essa prática. Pessoa maravilhosa, a quem devo tudo que
consegui com a arte até hoje. Como ela não queria que eu e meu
irmão ficássemos na rua, para evitar qualquer tipo de problema,
trazia folhas e mais folhas, junto com canetinhas e réguas, para desenharmos.
Então colávamos as folhas e desenhávamos, montando uma sequência
com as folhas coladas, que atravessavam a casa toda. Era uma bagunça, mas ela
adorava chegar e ver os desenhos. Por isso, tudo que tenho conquistado até hoje,
com a arte, devo a ela.
CHARLES OAK - Entre azul - Óleo sobre tela - 60 x 30
Com o
tempo, fui crescendo e aprendendo a necessidade e importância do
estudo. Estive em algumas bibliotecas, onde conheci as
obras de Stephen Rogers Peck
e Andrew Loomis e fiquei
maravilhado com o nível destes artistas. Esse foi o momento onde eu
percebi que a arte tinha realmente entrado na minha vida. Decidi que
seria dessa forma que passaria a viver, produzindo arte, já que na minha
cabeça, eu precisava fazer algo que causasse aquele mesmo sentimento que tive
quando abri os livros do Rogers Peck e Loomis.
Daí veio a decisão de estudar mais a fundo, sempre por conta própria, pois
não tinha uma condição financeira que me propiciava estudar arte.
CHARLES OAK - Tigrada - Óleo sobre tela - 40 x 20
Aos 16
anos fiz meu primeiro trabalho de publicidade, na época ganhei menos
de 50 reais, voltei supercontente com o dinheiro no bolso. Lembro que
meu irmão
gostava muito de Fliperama, cheguei em casa e o levei para jogar. Ao
longo do tempo foram aparecendo mais e mais trabalhos de ilustrações para
publicidade e comecei a trabalhar bastante com isso, consequentemente meu
cachê aumentou também (rs).
CHARLES OAK - green lantern
HQ
CHARLES OAK - Sword and magic
HG
Depois de
algum tempo, eu conheci um desenhista que estava tentando trabalhar com
histórias em quadrinhos para aos Estados Unidos, Rodrigo Pereira, ele é um dos
meus melhores amigos até hoje. Achei a ideia de trabalhar no mercado
de HQs Americano muito louca e coloquei na minha cabeça que queria
fazer isso também. Então conversando com o Rodrigo, ele disse que
precisava ter um agente, alguém que falaria com as editoras. Era
uma época que não tínhamos a Internet como hoje, as
referências vinham pelo correio e, quando faltava alguma coisa, era
enviada através do Fax.
O Rodrigo
arranjou o tal agente e então decidi trabalhar com o mesmo que o Rodrigo
trabalhava, fiz os testes que ele pediu e não demorou muito comecei a pegar
alguns trabalhos no mercado americano. Ao mesmo tempo surgiram boas propostas
aqui no mercado nacional de HQs e acabei saindo por um tempo do mercado
internacional.
CHARLES OAK - Buffy Sample
HQ
CHARLES OAK - Sword and magic
HQ
Passados
os trabalhos para o mercado nacional, voltei para o mercado americano, desta
vez fiquei mais tempo, fazendo com que eu trabalhasse com grandes franquias,
como: Wolverine, X-men, Batman, Red Sonja, entre outras. Fiquei mais de 10 anos
trabalhando no mercado americano, através de um agente, aqui do Brasil.
Mas uma
coisa me incomodava, toda vez que olhava minha carreira, eu sempre sentia
que faltava alguma coisa, eu não sabia bem ao certo o que era... Até que
comecei a pintar com tinta guache, para fazer alguns trabalhos pessoais. Mesmo ficando horríveis, o ato de pintar
me trazia paz e eu adorava fazer aquilo.
CHARLES OAK - Estudo em plein air
Óleo sobre tela - 30 x 40
CHARLES OAK - Estudo
Óleo sobre tela - 50 x 70
Eu queria
pintar da forma tradicional. Então resolvi procurar uma escola, um
lugar onde sentisse que pudesse atender as minhas necessidades. Foi muito
tempo procurando, eu não achava ninguém que eu olhasse o trabalho e
pensasse: “esse cara é muito bom!”. Fui deixando isso meio de lado, estava
cansando de procurar e fui seguindo com o meu trabalho. Até que um dia
encontrei um amigo, que mencionou uma professora, Petra, com quem aprendi muito
do básico de cor... Acabei arrumando um trabalho onde tive de
interromper as aulas, isso me fez parar de pintar de novo e durante um bom
tempo!
Mas
sempre estava lendo e estudando a respeito e li muito sobre as técnicas de
tinta à óleo, então voltei depois de muitos meses na Petra . Ela me disse que
não mexia com tinta óleo, mas indicou um artista, disse que o cara era bom,
entendia muito de pintura.
Fui
conhecer o tal artista que era, nada mais nada menos, que Alexandre Reider. Eu
me lembro muito bem deste dia, porque minha forma de ver a pintura à óleo
mudou. No dia em que fui visitar o estúdio, ele estava pintando um painel
de mais de 7 metros
de largura, por 3 metros
de altura e eu pensei: “Esse cara não é bom, ele é um mestre!”
Neste dia
tive o mesmo sentimento da biblioteca, fiquei super emocionado ao ver seu
trabalho, afinal Reider é um artista fenomenal, mas de
uma simplicidade e honestidade com as pessoas.
Saí
do estúdio dizendo que faria pinturas em óleo e comecei a
pintar. Com o início do curso, em pouco tempo, como não poderia ser diferente,
eu percebi o potencial monstruoso que o Reider tem, aprendi muita
coisa útil e fundamental sobre o óleo e tudo foi ficando
muito claro pra mim, eu estava no lugar certo.
Abaixo: Série de trabalhos feitos em caneta esferográfica.
Hoje sou
apaixonado por pintura a óleo, acho uma técnica fascinante... Só
usando entendemos porque todos os grandes mestres a usavam com tanto afinco.
Atualmente faço parte do Plein Air Studio, a convite do próprio Reider
(dono e fundador do estúdio), lá dou aulas de desenho básico
e também tenho meu espaço de trabalho, onde executo minhas pinturas.
Eu olho
muita coisa, desde desenhos em HQs a obras de mestres renomados da pintura como
Michelangelo, mas sem dúvida dois artistas me influenciaram muito: Norman
Rockwell e Drew Struzan.
Sempre
fui e sou apaixonado pela obra deles, apesar do meu trabalho não se parecer em
nada à primeira vista. Mas sinto que tem algumas coisas semelhante sim. Um
exemplo são as cores que o Drew usa, que eu tento sempre algo parecido no meu
trabalho.
Atualmente
eu estou vendo muitos artistas que são totalmente diferentes entre sim, como: Jenny Saville, Jeremy Lipking.
CHARLES OAK - Sem título - Óleo sobre tela - 20 x 40
Leciono
em dois espaços, um deles é o próprio Plein Air Studio e também na
ArtAcademia que é uma escola especializada em animação 2D e 3D. Como
é necessário um bom conhecimento de anatomia para uma
boa animação, é aí que eu atuo, passando meus conhecimentos sobre essa
área.
Eu adoro
lecionar, porque ao mesmo tempo que ensino, aprendo muito também. A
faixa etária é em torno dos 15 a 25 anos, eles sempre estão atualizados com
as novidades... Essa geração é muito mais ágil e voraz por
informação. Assim acabo aprendendo muito com eles.
Estou
sempre tentando dar um olhar mais contemporâneo em meus trabalhos. Gosto e
“tento” usar o óleo de forma diferente. Como? Levando as pinturas mais para o
lado das HQs, Ilustrações. Procuro cair para o lado mais vibrante das cores,
gosto muito disso, de trabalhar o sentimento através das cores.
Eu gosto
muito desta forma mais estilizada da figura humana, não gosto do trabalho
muito hiper-realista ou fotográfico, eu respeito as regras de anatomia,
mas sempre quero quebrar uma pontinha ali na imagem, para diferenciar da foto.
Vejo a
Arte Figurativa hoje como um retorno dos verdadeiros artistas, afinal
temos a capacidade de enxergar, interferir e brincar com a realidade.
Sempre
estou testando misturas, materiais, formas de construção, para tentar
conseguir um trabalho diferenciado e atual.
Eu ainda tenho um caminho muito grande a
percorrer com a fine art, isso me move e me dá mais garra para executar e
mostrar minhas obras.
PARA ACOMPANHAR:
A vibração das cores do Oak é impressionante, seus trabalhos tem riqueza em cores, desenho e ousadia, bela matéria... bom fim de semana meu amigo.
ResponderExcluirVidal, sempre prestigiando todos os artistas e deixando algo de bom. Obrigado, amigo, por passar sempre por aqui e nos fazer companhia. Tenha também um ótimo fim de semana!
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