GUSTAVO DALL'ARA - Casario em Curral del Rei - Óleo sobre madeira - 15,5 x 29 - 1893
Certamente uma das mais antigas pinturas de Belo Horizonte, do tempo em que ainda era conhecida pelo nome de Curral del Rei.
A última visita a Belo
Horizonte despertou em mim dois sentimentos bem distintos: nostalgia e
surpresa. Não há como não se surpreender com as muitas mudanças estruturais pelas
quais está passando toda a cidade. Novas vias surgiram, antigas ruas desapareceram,
praças e novas construções nascem num piscar de olhos. Sinal de que o progresso
urge e pede passagem. Nostalgia por ir vendo, aos poucos, referências do
passado se despedindo e ocupando um lugar apenas na memória. Gostava de almoçar
em um restaurante que ficava em uma casa em estilo neoclássico, na esquina da
Guajajaras com a Espírito Santo, e de lá apenas atravessar a rua e gastar horas
na Livraria Van Damme, que há menos de uma década, era para mim um templo das
publicações artísticas com o qual me deliciava. O antigo restaurante se
transformou num estacionamento, comprovando aquela urgência que todo grande
centro lateja: o espaço cada vez mais descente para se locomover. As
comodidades da internet também afastaram grande parte do público que eu sempre via
pela Van Damme. Como no romance O
encontro marcado, do mineiro Fernando Sabino, carregamos em nós, personagens
de um tempo que não existe mais, num mundo que muda muito rápido.
MAURO FERREIRA - Belo Horizonte, década de 30 - Óleo sobre tela - 46 x 75
GUIGNARD - Parque Municipal
Óleo sobre madeira - 29 x 39 - 1947
Belo Horizonte nasceu assim,
com essa vontade de ter pressa. Foi criada, projetada e construída em apenas 5
anos, para substituir Ouro Preto, a antiga capital do estado, enclausurada
entre muitas colinas e vales, inapta para as expansões que o século XX
exigiria. A atual capital do estado de Minas Gerais; o segundo estado mais populoso do país; não teve "infância". Precisou já existir adulta e paga por isso um preço muito alto. Precisou também, desde sempre, não gostar de acostumar muito com seus cenários. Hoje, completando 116 anos, continua com
sua veia “camaleão” e vai se reinventando. Não só de ponto de vista estético,
mas também populacional. É certamente um dos centros que mais cresceu no país
em tão pouco tempo, já ultrapassando a casa dos 2 milhões e 400 mil habitantes.
Só para se ter uma ideia, nos seus primeiros 70 anos de existência, a cidade
passou da casa de 1 milhão de habitantes, fato inédito na história do país.
MAURO FERREIRA - Afonso Pena, final dos anos 50 - Óleo sobre MDF - 40 x 60 - 2013
ROBERTO MELO - Parque Municipal - Óleo sobre tela
Não gosto muito de números,
mas esses são dignos de serem lembrados, pois creio que sejam ignorados até por
moradores da própria cidade: Belo Horizonte já foi indicada pela ONU como a
metrópole de melhor qualidade de vida da América Latina e também como a 45ª
melhor cidade do mundo entre as 100 melhores para se viver. Tem o quinto maior
PIB de todos os municípios brasileiros, representando quase 1,4% de todas as
riquezas produzidas no país. Também é a 10ª cidade do país ideal para se fazer
negócios, despertando um lado novo de seu perfil, o turismo comercial. Pra ser
sincero, gostaria que esses números todos atingissem melhor as baixas condições
de vida encontradas nas periferias, à crescente desigualdade que não descansa e distancia cada vez mais ricos e pobres, aos muitos desabrigados alojados em cantos
ermos e ao cada vez mais crescente número de usuários de drogas e pedintes que perambulam
por toda a cidade.
GUIGNARD - Serra do Curral - Óleo sobre madeira - 26 x 55 - 1948
A Serra do Curral, que é sua
moldura natural mais importante, também já viu muita história acontecer por lá.
Como a quase extinção dos índios do grupo linguístico macro-jê, dizimados pelos
bandeirantes que chegavam de São Paulo. Também viu erguer o povoado que deu
origem ao nome de Curral Del Rei, onde o gado e as fazendas movidas por
escravos expandiam o lugar. Ainda em 1750, foi criado o distrito de Nossa
Senhora da Boa Viagem do Curral e aquela comunidade ficaria assim, com essa
vocação agropecuária até que a história tomasse novos rumos. Foi só nas últimas
décadas do século XIX, quando o ouro já havia se tornado raridade e Ouro Preto
já não apresentava viabilidade de continuar como capital do estado, Belo
Horizonte foi enfim colocada em cena. Sua ótima posição geográfica e excelente
condição topográfica pesaram na escolha para se tornar o centro mais importante
do estado, numa disputa que incluía concorrentes como Juiz de Fora, Barbacena,
Paraúna e Várzea do Marçal.
JOSÉ ROSÁRIO - Domingo no Parque Municipal - Óleo sobre tela - 50 x 70
JOSÉ ROSÁRIO - Parque Municipal
Óleo sobre tela - 73 x 105
Aarão Reis foi o engenheiro
que tornou realidade o projeto da cidade de Belo Horizonte. Há uma controvérsia
em afirmar que seja a primeira cidade brasileira planejada, pois Teresina e
Aracaju também reclamam essa condição. Inspirado nos centros europeus, Aarão
concebeu uma cidade funcional, cujos elementos chaves de seu traçado incluem
uma malha perpendicular de ruas cortadas por avenidas em diagonal. Também
possui quarteirões de dimensões regulares e uma eficiente avenida em torno de
seu perímetro central, a Avenida do Contorno. Mas, assim como em Paris, onde
tudo converge para o Arco do Triunfo, também em Belo Horizonte, uma
concentração maciça de ruas e avenidas se encaminham para a Praça Sete, transformando o trânsito da cidade
numa das maiores dores de cabeça até para o mais experiente Engenheiro de tráfego.
Belo Horizonte não conteve seu crescimento como desejado no momento de sua
criação. Foi se multiplicando desordenadamente e se transformando num dos
maiores problemas do início do regime republicano.
MAURO FERREIRA - Automóvel Clube- Óleo sobre tela - 40 x 60 - 2013
JOÃO BOSCO CAMPOS - Descarregando para a feira
Óleo sobre tela
Gosto de pensar na cidade
sem seus muitos problemas e mais em seus louváveis atributos, como sendo o local
onde já se concentrou a mais seleta leva de escritores de seu tempo, tais como
Carlos Drumond de Andrade, Ciro dos Anjos, Pedro Nava, Alberto Campos, Emílio
Moura, João Alphonsus, Milton Campos, Belmiro Braga e tantos outros. É também o lugar que se
tornou palco para as muitas obras encomendadas por Juscelino Kubitschek, e deu
vazão ao gênio criativo de Oscar Niemeyer, Portinari, Alfredo Ceschiatti e
Roberto Burle Marx. Como a casa de grupos teatrais como Corpo e Galpão e o
local onde viu movimentos importantes como o Clube da Esquina, os tempos de ouro da MPB e
também o local de nascimento do rock mais pesado do país. É também o lar que abriga os times esportivos que inflamam com alegria os corações de seus torcedores. Que não me deixem de
mencionar Guignard e toda sua escola modernista, e o saudoso Edgar Walter e
toda sua legião de paisagistas que fizeram sede em Belo Horizonte.
ALVARO APOCALYPSE - Favela - Pastel - 47 x 35
LORENZATO - Subúrbios em BH
Óleo sobre tela - 50 x 40 - 1974
A cidade se renova, parece
viver uma década a cada ano. Avança rumo ao futuro e vai se adaptando a ele,
mais que seus próprios moradores, saudosistas demais com tudo o que lhes escapa
tão rápido pelas mãos. Uma capital “matuta” que aprendeu rápido os caminhos do
progresso e da civilização. Nunca é demais lembrar que com a constante mania de ser grande, crescem também os problemas e os desafios. Que o futuro incerto, escondido na euforia de seus galopes, não ameace a beleza de seus horizontes. Voltarei a ela muitas vezes, e mesmo as mais gratas
surpresas nunca irão me tirar a nostalgia de belos tempos.
INIMÁ DE PAULA - Praça da Liberdade - Serigrafia - 70 x 100 - 1994
JÉSUS RAMOS - Av. Antonio Carlos. Obras em 2009 - Óleo sobre tela - 54 x 65
Belo Horizante merece toda essa homenagem dos grandes artistas.
ResponderExcluirParabéns! pelo simples gesto de beleza, pela bela estrutura, arte, palavras e Minas...
ResponderExcluirmuito mais que um simples adjetivo... é bela na essência, na carne de um cotidiano alegre...
Por tudo e um pouquinho mais... parabéns!
Valeu meu amigo, um abraço!
Sou meio suspeito para falar de Minas, Vidal, pois é minha casa. Mas, acho tudo por aqui muito fantástico.
ExcluirUm abraço, meu amigo!
Sem dúvidas quero conhecer Belo Horizonte e vários dos sucessores do gênio Edgar Walter, porque mesmo sem conhecer o seu texto chegou a me emocionar....
ResponderExcluirBela matéria José e belas obras usou para ilustrar.
Abraço
Que seja sempre bem vindo, Yure. Será muito recebido por aqui.
ExcluirGrande abraço!
Minas é demais...adoro todas as coisas mineiras.
ResponderExcluirMinas è demais............. por isso por isso temos grandes artistas como Jose Rosario!
ResponderExcluirMariazinha, obrigado pelas suas considerações. Tenho que concordar com você. Minas é mesmo demais!
ExcluirUm grande abraço!
Belo artigo e belas telas, José Rosário.
ResponderExcluirFui a exposição no centro cultural padre eustáquio e só lamentei não encontrar você e uma de suas telas do parque municipal por lá.
Um abraço
Thiago.
Haverá uma nova oportunidade, Thiago, com certeza.
ExcluirMuito obrigado por passar aqui. Grande abraço!
Um belo post. Já passei temporada em sua cidade.Amei!!!Vivi muitos momentos bons aí.
ExcluirSeu trabalho é muito bonito!Algo nobre e belo demais!
Sempre gostei de arte. Cheguei aqui por meio do blog do Reginaldo Artes, que é outro artista iluminado! O seu link no blog dele chamou-me a atenção pela cidade!Conhecendo o seu espaço, deslumbrei-me com tantas belezas e luxúria.Abraços amigo e boa sorte.
Fico feliz, Maria Adeladia, que tenha gostado de passar por aqui.
ExcluirSeja sempre bem vinda.
Grande abraço!