WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas - Óleo sobre tela - 117 x 90 - 1865
Há quem diga que a moldura
está para uma obra de arte assim como os cabelos estão para uma cabeça. Um
complemento! Até já tentaram criar modas carecas, assim como a arte
contemporânea introduziu a pintura em painel, sem moldura. Usadas em desenhos,
fotografias e pinturas, as molduras tem a função inicial de protegê-los, mas
são também um excelente complemento visual. Um trabalho bem emoldurado terá uma
longa vida se o material utilizado na confecção da moldura for condizente para
tal. Feita tradicionalmente em madeira, cada vez mais tem-se inovado em sua
produção, vindo a serem utilizados materiais como aço, alumínio, prata, bronze,
gesso e até mesmo o plástico. O paspatur (passe-partout) é um acessório que
também trouxe um ótimo incremento às molduras, formando uma espécie de
isolamento entre a obra de arte e a moldura propriamente dita.
Galerias nos Museus de São Petersburgo (acima) e Louvre (abaixo).
Assim como as famosas obras encontradas nessas instituições, as
molduras são uma atração à parte.
Há relatos de que as
primeiras molduras, ou pelo menos algo que tivesse essa função, tenham sido
usadas no Antigo Egito, encontradas ornando múmias, que eram penduradas nas casas
de seus proprietários, antes mesmo de serem utilizadas como equipamento
funerário. Mas, somente nos séculos XII e XIII as molduras começaram a ser
produzidas com o aspecto e a função que conhecemos atualmente. Curiosamente, o
processo de elaboração de uma obra de arte acontecia no sentido inverso de
hoje. Primeiramente era construída a moldura, em peça única e finamente
acabada, e só então, numa área reservada em seu centro era reservado um espaço
para se confeccionar a pintura. Era um processo caro, que inibia a confecção de
obras em grandes proporções, pois era quase impossível encontrar tábuas com
grandes dimensões que pudessem ser esculpidas. Quando finalmente tiveram a
ideia de produzir tiras de madeira cortadas em esquadrias e que passaram a ser colocadas
nas laterais dos painéis pintados, que eram geralmente feitos em madeira.
LUCA SIGNORELLI (1445 a 1523) - Madona e criança - Óleo sobre madeira
Até os séculos XIV e XV, a
maioria dos trabalhos em pinturas eram encomendas feitas pela Igreja, sem
dúvida o grande mecenas da arte naqueles tempos. Os retábulos eram essas
principais encomendas e quase sempre eram peças fixas, que não abandonariam
seus locais de instalação inicial. Seus adornos, ou molduras, compunham assim um
conjunto com a arquitetura do templo onde eram instalados. Com o Renascimento
houve uma significativa mudança nesse cenário. Nobres ricos começaram a dividir
o mecenato com a igreja e cada vez mais colecionavam pinturas e esculturas em
suas propriedades. Precisavam, porém, transportar essas obras quando bem
entendessem e para onde quisessem. Com a necessidade de uma armação portátil e
móvel, as pinturas passaram a ter molduras cada vez mais elaboradas, tanto no
sentido funcional de proteção quanto no sentido estético.
ANTOINE BOUVARD - Tarde em Veneza
Óleo sobre tela - 51 x 66
EDMOND LOUIS DUPAIN - Um passeio romântico - Óleo sobre tela - 60,96 x 45,72
JEAN-ETIENNE LIOTARD - Prince Charles Edward Stuart
Óleo - Oval de 5 cm
Foi com Francisco I, monarca
renascentista francês, que aconteceu o ápice de uma produção organizada de
molduras. Nesse período, as molduras já não eram mais produzidas pelo artista,
como acontecia anteriormente. Havia agora um moldureiro, exclusivamente
treinado para isso e que passou a ter uma importante função nas etapas finais
de qualquer decoração. A coisa se organizava a tal ponto que, mesmo naquele
período, já eram lançados livros com dicas de decoração de interiores,
ricamente ilustrados a mão. Praticamente um século depois, já no reinado de
Luís XIII, o requinte tornou-se o centro da atenção em qualquer decoração
palaciana. Novos perfis de moldura foram criados e também foram introduzidos
neles arabescos dos mais diversos possíveis, fato que levou ao processo natural
da concepção barroca de molduras. Praticamente toda a Europa se viu
influenciada por essa nova corrente de produção. No reinado de Luís XIV, isso
tomaria proporções inimagináveis anteriormente. Madeira e gesso eram usados
indiscriminadamente na confecção de perfis cada vez mais rebuscados. O Barroco
estava em seu apogeu e abria terreno para os excessos do Rococó.
LOUIS MECLENBURG - Ponte de Rialto a noite
Óleo sobre tela - 49 x 67 - 1864
CHILDE HASSAM - Uma estrada no campo
Pastel sobre papel - 44,8 x 54 - 1891
JAN TOOROP - Duas mulheres
Lápis, crayons coloridos e aquarela sobre papel em moldura
desenhada pelo próprio artista - 24,5 x 37,5 - 1893
Como que se revoltando
contra o excesso de toda essa decoração opulenta, o final do século XVIII via a
criação de perfis de molduras mais leves e finos, com influências orientais,
que incluíam até mesmo o uso de bambu. Os estilos edwardianos e vitorianos
trariam novas influências ao design de molduras, até que mais tarde, já nos
anos impressionistas do século XIX, a moldura passou a ser uma continuação da
pintura. Peças mais planas, chanfradas simplesmente, cuja característica
principal era o uso puro da madeira, sem muitos acabamentos, passaram a ser o
que mais dominava o design das molduras naqueles tempos.
CLAUDIO DA FIRENZE - Marina di Campo
Óleo sobre madeira
VINÍCIUS SILVA - Tarde no cerrado - Óleo sobre tela - 30 x 50 - 2010
O século XX iria presenciar
o nascimento maciço de um grande número de estilos de trabalhos, que não incluíam
apenas pinturas, mas também gravuras, desenhos e até mesmo a fotografia. Uma
infinidade de coisas precisava ser enquadrada e para tanta novidade visual
novos perfis de molduras e novas formas de montá-los foram sendo criados. A
criação da moldura e da obra voltou inclusive a ser feita novamente pelo
artista. Já no final do século XX, a arte contemporânea traria liberdade
irrestrita para isso. Um número cada vez mais crescente de materiais reciclados
e alternativos foi sendo manipulado e desenvolvido. Até que a exclusão completa
das molduras chegou com a nova onda de produzir trabalhos somente em painéis,
cujas laterais também recebem pintura, seja com a continuação da temática do
plano principal ou apenas com uma pintura uniforme de acabamento.
Um oficina de molduras em 1900. Anônimo.
Produção artesanal de molduras, feita pelo artista João Carvalho.
E aqui estamos nós, num
tempo onde convivemos com tudo isso. Materiais antigos e atuais disputando
espaços semelhantes. Temos diante de nós o tradicionalismo dos antigos estilos
e a inovação das modas recentes. Cabe-nos conviver com todos eles e respeitar
seus locais ideais de utilidade. Uma coisa é certa, as molduras sempre farão
parte da história da arte.
Recentemente, o artista mineiro e moldureiro Francelino Rodrigues criou uma linha de
molduras homenageando artistas dessa geração. Fui homenageado com um dos
modelos ilustrados acima.
Encomendas a ele podem ser feitas pelo contato (19) 9243-0544 ou pela página
Grandes obras com excelentes molduras adoro muito,grande abraço José!
ResponderExcluirOlá Isaque, como vão as coisas?
ResponderExcluirDesejo tudo de bom bor aí!
Grande abraço!
A moldura é sem dúvida o uniforme de um belo trabalho.... imagino os seus trabalhos em belas molduras.
ResponderExcluirFelicidades!
Obrigado, meu amigo, por mais uma passagem por aqui.
ExcluirUm grande abraço!
Olá, gostaria de tirar uma dúvida. Posso usar o paspatour preto com moldura dourada em um quadro de óleo sobre tela com tons pasteis, ou só devo pensar em paspatour claro/branco? Fico em dúvida se o paspatour deve combinar com o quadro ou com o ambiente. Obrigada desde já pelo seu tempo.
ResponderExcluirOlá Alessandra, boa tarde.
ExcluirTenho conseguido bons resultados com paspatour preto.Confesso que ficam melhor se colocar um friso dourado por dentro. Eles combinam bem, tanto com molduras douradas quanto de madeira natural.
Caro José , Bom dia! Gostei muita do seu site, e o achei tentando fazer uma pesquisa de descobrir uma época de quadro pela sua moldura. Tenho um quadro muito antigo, do começo do século 19 ou antes. A madeira na parte de trás está muitíssimo gasta, os grampos alguns sumiram outros estão muito enferrujados. Na parte da frente há trabalho em madeira e gesso. Voce poderia ter uma ideia vendo uma foto? grande abraço e parabens pelo trabalho do blog.
ResponderExcluirOlá José Luiz, bom dia!
ExcluirObrigado pela vinda e pelo contato.
Caso queira, pode enviar a imagem de sua moldura para o e-mail ou WhatsApp indicados no alto da página.
Grande abraço!
Muito interessante! Obrigada por compartilhar seu conhecimento.
ResponderExcluirGostaria de saber o nome ou como é a técnica de pintura sobre algumas molduras mais recentes, séc XX, acho. Algumas possuem um acabamento imitando outro tipo de madeira ou até "casco de tartaruga". Gostaria de saber como são confeccionadas. Tenho foto, se não for inconveniente, podeira enviar para seu e-mail e quem sabe poderia me ajudar nesta pesquisa.
Obrigada!
Ana Eliza Caniatti Rodrigues.
Bom dia, Ana Eliza.
ExcluirNão sou especialista em acabamentos em molduras, mas posso direcionar a imagem que enviar para alguém que entenda melhor, ou colocá-los em contato.
Um bom dia!
Que bacana, eu gostaria muito. Eu trabalho com restauro de pintura de cavalete, mas as vezes necessito fazer higienização de molduras ou remover algum verniz muito oxidado ou craquelado e tenho dúvidas sobre o melhor tratamento. Obrigada
ResponderExcluirOK. O email é o mesmo do alto da página:
Excluirjoserosariosouza@yahoo.com
Um bom final de semana.
Encontrei por acaso pesquisando um pouco da história das molduras em madeira para um trabalho da faculdade, gostei.
ResponderExcluirMuito grato. Obrigado pela visita!
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