JEAN DISCART - O ateliê do poteiro - Óleo sobre painel - 35 x 45,5
Cenas retratando interiores
de ambientes foram apelidadas de Cenas de Gênero. Representam pessoas em seus
afazeres, descansando ou até mesmo se divertindo. Podem ser com apenas uma
figura ou conter um grande grupo. Curiosamente, essas cenas eram consideradas
desprovidas de dignidade artística, até o início do século XVII. Serviam para
ilustrar iluminuras e manuscritos, mas nunca eram consideradas temas para uma
pintura séria. Os holandeses tornaram-se os primeiros colecionadores a
valorizar e difundir esse gênero, isso no século XVII. Muitos pintores daquele
país se tornaram célebres artistas nessa espécie de temática. Naquela época, o
ambiente doméstico era muito propício para cenas assim. Famílias se reuniam em
torno dos fogões, as rodas de papo não tinham a concorrência da internet e
viver em sociedade parecia uma espécie de necessidade que o tempo ensinou a
perder. Os serviços eram mais manuais, artesanais mesmo, não a automação
industrial dos tempos de hoje.
Executado pelo italiano Jean
Discart, O Ateliê do Poteiro é uma
cena de gênero com uma abordagem intrigante, uma espécie de homenagem que um
pintor fez, a outro pintor em atividade. Na decisão de abordar uma temática
tão especial, Discart tomou todo o cuidado para que a representação resultasse
o mais natural possível. Atente principalmente para o detalhe da testa franzida
do pintor, totalmente absorto em sua atividade. A concentração e a tensão estão presentes
em todos os membros de seu corpo, desde a firmeza da mão segurando o pote, ao
pé, posicionado de forma a dar mais equilíbrio ao corpo.
Por todo o ambiente, há
diversos objetos pintados com o máximo possível de detalhes. São todos típicos
do norte da África. O grande prato em cerâmica, por exemplo, é uma obra típica
dos artesãos da cidade de Fez, no Marrocos. No século XV, os melhores
fabricantes de cerâmica mouros fugiram da Espanha para o Marrocos,
estabelecendo nas cercanias das cidades de Fez, Meknes, Marrakech e Safi. Os
fornos construídos por esses artesãos, assim que chegaram, eram especiais em
relação a todos os outros da região. Durante cerca de 400 anos, foram tidos como
os ceramistas de maior qualidade no mundo islâmico. Mas, também há outros
objetos de origem diversa, como o cesto de palha tagine, na prateleira à
direita; um grande prato redondo berbere, na prateleira à esquerda, além de
pequenos itens da Província de Cabília, na Argélia. É uma obra de pequenas dimensões, mas que carrega todos os adjetivos de um grande trabalho.
JEAN DISCART - Barbearia, Tanger - Óleo sobre tela - 115,7 x 84,4
Embora tenha nascido em
Modena, Itália, em 1856, Jean Discart não ficou na Itália por muito tempo. Com apenas
16 anos, ele se matriculou em um curso de pintura histórica, na Academia de
Viena, onde fez aulas principalmente com o artista alemão Anselm Feuerbach.
Assim que Feuerbach se aposentou da Academia, Discart e seus colegas Ludwig
Deutsch e Carl Merode se inscreveram para estudar com Leopold Carl Müller.
Recusados na prova de admissão, os artistas Discart e Deutsch viajaram para
Paris, para fazerem outros cursos. No ano seguinte, porém, Discart foi chamado
para ocupar uma vaga no ateliê de Müller.
JEAN DISCART - Um mercante mourisco - Óleo sobre painel - 33 x 20,3
A carreira de Discart acabou se transformando
nessa rica combinação: as influências clássicas de Viena com as experiências contemporâneas
e um ambiente cosmopolita como Paris. Isso lhe fez muito bem! Conseguia
imprimir efeitos inovadores para temáticas bem clássicas. Ele conseguiu uma
participação no Salão de Paris, em 1884, mas depois disso, pouco se sabe sobre
sua vida artística e pessoal. Muitas de suas obras, chegaram ao conhecimento do
grande público bem depois de sua morte. Ele pintou temas orientalistas até
1920, e a julgar pela inscrição “Tanger”, que assina em muitas de suas obras, é
bem provável que visitou a cidade marroquina e se encantou por ela.
JEAN DISCART - Tanger - Óleo sobre painel - 20,8 x 28
Percebe-se uma grande
afeição do artista para com a produção artesanal dos lugares por onde andava.
Ele não economiza nos detalhes, sempre requintados e meticulosos. Muitos de seus
trabalhos continuariam com o mesmo capricho e zelo na composição e execução. A
beleza de suas composições e a habilidade artística neles proferida, o
posicionam como um dos mais respeitados artistas desse gênero.
O artista faleceu na França,
em 1944.
JEAN DISCART - Um curioso comprador - Óleo sobre tela
Meu amigo, cada dia melhor. Só isso.
ResponderExcluirLuz e paz.
S. Quimas
Desejo boas energias por aí também, Quimas.
ExcluirUm grande abraço!
Ainda estou pasmo! observando cada cena. eu não conhecia os seus trabalhos, mas fiquei encantado!
ResponderExcluirDeu trabalho meu amigo mas voltei a comentar... estava sem net, é horrível!
Abração, tudo de bom!
Sim, percebi que havia ficado ausente por uns tempos.
ExcluirBom retorno, amigo.
Grande abraço!