sábado, 1 de novembro de 2014

POR DENTRO DE UMA OBRA: Jean Discart

JEAN DISCART - O ateliê do poteiro - Óleo sobre painel - 35 x 45,5

Cenas retratando interiores de ambientes foram apelidadas de Cenas de Gênero. Representam pessoas em seus afazeres, descansando ou até mesmo se divertindo. Podem ser com apenas uma figura ou conter um grande grupo. Curiosamente, essas cenas eram consideradas desprovidas de dignidade artística, até o início do século XVII. Serviam para ilustrar iluminuras e manuscritos, mas nunca eram consideradas temas para uma pintura séria. Os holandeses tornaram-se os primeiros colecionadores a valorizar e difundir esse gênero, isso no século XVII. Muitos pintores daquele país se tornaram célebres artistas nessa espécie de temática. Naquela época, o ambiente doméstico era muito propício para cenas assim. Famílias se reuniam em torno dos fogões, as rodas de papo não tinham a concorrência da internet e viver em sociedade parecia uma espécie de necessidade que o tempo ensinou a perder. Os serviços eram mais manuais, artesanais mesmo, não a automação industrial dos tempos de hoje.



Executado pelo italiano Jean Discart, O Ateliê do Poteiro é uma cena de gênero com uma abordagem intrigante, uma espécie de homenagem que um pintor fez, a outro pintor em atividade. Na decisão de abordar uma temática tão especial, Discart tomou todo o cuidado para que a representação resultasse o mais natural possível. Atente principalmente para o detalhe da testa franzida do pintor, totalmente absorto em sua atividade. A concentração e a tensão estão presentes em todos os membros de seu corpo, desde a firmeza da mão segurando o pote, ao pé, posicionado de forma a dar mais equilíbrio ao corpo.




Por todo o ambiente, há diversos objetos pintados com o máximo possível de detalhes. São todos típicos do norte da África. O grande prato em cerâmica, por exemplo, é uma obra típica dos artesãos da cidade de Fez, no Marrocos. No século XV, os melhores fabricantes de cerâmica mouros fugiram da Espanha para o Marrocos, estabelecendo nas cercanias das cidades de Fez, Meknes, Marrakech e Safi. Os fornos construídos por esses artesãos, assim que chegaram, eram especiais em relação a todos os outros da região. Durante cerca de 400 anos, foram tidos como os ceramistas de maior qualidade no mundo islâmico. Mas, também há outros objetos de origem diversa, como o cesto de palha tagine, na prateleira à direita; um grande prato redondo berbere, na prateleira à esquerda, além de pequenos itens da Província de Cabília, na Argélia. É uma obra de pequenas dimensões, mas que carrega todos os adjetivos de um grande trabalho.

JEAN DISCART - Barbearia, Tanger - Óleo sobre tela - 115,7 x 84,4

Embora tenha nascido em Modena, Itália, em 1856, Jean Discart não ficou na Itália por muito tempo. Com apenas 16 anos, ele se matriculou em um curso de pintura histórica, na Academia de Viena, onde fez aulas principalmente com o artista alemão Anselm Feuerbach. Assim que Feuerbach se aposentou da Academia, Discart e seus colegas Ludwig Deutsch e Carl Merode se inscreveram para estudar com Leopold Carl Müller. Recusados na prova de admissão, os artistas Discart e Deutsch viajaram para Paris, para fazerem outros cursos. No ano seguinte, porém, Discart foi chamado para ocupar uma vaga no ateliê de Müller.

JEAN DISCART - Um mercante mourisco - Óleo sobre painel - 33 x 20,3

A carreira de Discart acabou se transformando nessa rica combinação: as influências clássicas de Viena com as experiências contemporâneas e um ambiente cosmopolita como Paris. Isso lhe fez muito bem! Conseguia imprimir efeitos inovadores para temáticas bem clássicas. Ele conseguiu uma participação no Salão de Paris, em 1884, mas depois disso, pouco se sabe sobre sua vida artística e pessoal. Muitas de suas obras, chegaram ao conhecimento do grande público bem depois de sua morte. Ele pintou temas orientalistas até 1920, e a julgar pela inscrição “Tanger”, que assina em muitas de suas obras, é bem provável que visitou a cidade marroquina e se encantou por ela.

JEAN DISCART - Tanger - Óleo sobre painel - 20,8 x 28

Percebe-se uma grande afeição do artista para com a produção artesanal dos lugares por onde andava. Ele não economiza nos detalhes, sempre requintados e meticulosos. Muitos de seus trabalhos continuariam com o mesmo capricho e zelo na composição e execução. A beleza de suas composições e a habilidade artística neles proferida, o posicionam como um dos mais respeitados artistas desse gênero.

O artista faleceu na França, em 1944.

JEAN DISCART - Um curioso comprador - Óleo sobre tela

4 comentários:

  1. Meu amigo, cada dia melhor. Só isso.
    Luz e paz.
    S. Quimas

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    1. Desejo boas energias por aí também, Quimas.
      Um grande abraço!

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  2. Ainda estou pasmo! observando cada cena. eu não conhecia os seus trabalhos, mas fiquei encantado!
    Deu trabalho meu amigo mas voltei a comentar... estava sem net, é horrível!
    Abração, tudo de bom!

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    1. Sim, percebi que havia ficado ausente por uns tempos.
      Bom retorno, amigo.
      Grande abraço!

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