sexta-feira, 20 de março de 2015

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Cabanas na mata - Óleo sobre tela

Entre uma obra e outra, nos momentos de folga, que geralmente acontecem à noite, tiro um tempo para pesquisas que invariavelmente me auxiliam. Resolvi voltar o olhar sobre a “paisagem” e a sua gênese como escola artística na América do Sul. Para minha surpresa, uma efervescente manifestação artística, voltada para essa escola, encontrou um território fértil por toda a América Latina, principalmente à partir da metade do século XIX. Um fator histórico é importante que seja destacado: as colônias existentes em todo o continente serviam como uma ponte para os vários artistas das metrópoles europeias e de suas colônias por aqui, ora recebendo expedições artísticas, ora enviando para as principais cidades europeias os mais notáveis artistas que por aqui surgiam.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Corredeiras - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Rio e pedras
Óleo sobre tela

A que se destacar também a grandiosidade de uma paisagem quase ainda intacta, pouco explorada e, acima de tudo, exótica para as visões dos colonizadores e artistas europeus. Por isso, diferentemente da tradição europeia em investir nas escolas figurativas e pinturas históricas, floresceu em terras sul-americanas um desejo natural por representar aquilo que elas possuíam de mais extraordinário, a paisagem.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Paisagem - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Vacas numa mata - Óleo sobre tela

Todos os países, ou colônias como ainda eram classificadas, receberam importantes missões artísticas e expedições de vários países europeus, até mesmo artistas de outras metrópoles. Artistas em busca de algo novo, assim como faziam outros que partiam para o Oriente Médio e norte da África. Essa presente matéria quer fixar em especial na escola paisagística da Colômbia, e mais em especial ainda, sobre as obras de um dos mais notáveis artistas do gênero naquele período, em todo o continente: Ricardo Borrero Álvarez.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Neblinas na serra - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Fim de tarde
Óleo sobre tela

Já era quase final do século XIX, quando nasceu na Escola de Belas Artes de Bogotá, a Cadeira de Paisagem. Tinha uns propósitos parecidos com as Escolas de Paisagens que surgiam em várias partes do mundo: tirar a pintura dos ateliês e leva-las a campo. Práticas herdadas das ideias impressionistas que germinavam em muitas correntes artísticas. Isso tinha um ar de modernidade e era o que de mais audacioso parecia para aqueles tempos. De fato, não era uma missão muito fácil, romper um tradicionalismo estabelecido por várias gerações de artistas que viam na Pintura Histórica e Religiosa, o ápice do artista-modelo. Todos tinham como hábito o trabalho com pequenos formatos, que se mostravam muito práticos para os trabalhos externos ao ateliê. Borrero teria uma importância enorme nessa instituição.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Natureza morta - Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Cabeça de carneiro
Óleo sobre tela

Diferentemente dos artistas de outras regiões do continente sul-americano, que escolhiam Paris e Roma para referências de estudo, os artistas colombianos preferiram a influência das escolas espanholas. Acredito que a língua tenha sido um fator que pesava sobre essa escolha, afinal, partir para Paris ou Roma exigia, além de uma boa bagagem artística já adquirida, o domínio de idiomas estranhos aos das colônias sul-americanas. Mas a Espanha também não devia em nada às escolas francesas e italianas. Carlos de Haes já era o consagrado paisagista espanhol que influenciava e arrebanhava um bando enorme de seguidores. É dele, a maior influência a todos os artistas colombianos daquele período, mesmo que não tenha sido diretamente.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Ruínas
Óleo sobre tela

RICARDO BORRERO ÁVAREZ - Um canto de jardim - Óleo sobre tela

Borrero se formou nesse período, em Sevilha, e aguçou ainda mais os aprendizados numa rápida estada em Paris, frequentando principalmente a Escola de Barbizon, reforçando a inclinação paisagística que já lhe era inerente. O Impressionismo e o Naturalismo lhe atraiam como tudo que sempre planejou para sua arte. Pensava em produzir algo naqueles moldes, livre, sem as mordaças das academias, isento de toda lição histórica ou moral. A nova arte que ele abraçou, e que também era nova por todas as partes, em nada tinha a ver com as considerações históricas ou políticas impostas pelas Academias. Pintava por prazer, enamorado somente com a poesia e a emoção.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Uma vila - Óleo sobre tela

Por causa dessa sua proposta audaciosa, de romper com as instituições e pintar por conta própria, pode-se dizer que foi um modernista, no termo inovador da palavra. Mas, pintava com a alma, acima de tudo. E isso conta muito, mesmo para os dito “anarquistas”. Tanto que suas obras eram procuradas avidamente por colecionadores burgueses, os mesmos que esperavam ansiosos pelas novidades dos grandes salões. Para uma Colômbia com vocação totalmente rural e que ensaiava seus primeiros contatos capitalistas, Borrero é considerado uma peça de suma importância. Poucos artistas, como ele, conseguem fazer uma transição de um país agrícola para as mentalidades modernistas que mudariam a história da arte, no início do século XX.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Pequeno regato - Óleo sobre tela

Borrero voltou para a Colômbia em 1898 e logo recebeu dos amigos o título de “pintor da terra quente”. Sabia como ninguém, admirar e interpretar todos os cantos de seu país, do verde luxuriante e selvagem de suas matas, bem como dos desfiladeiros, rios e cachoeiras que não saíam de sua retina. Tornou-se professor e chegou mesmo a dirigir a Escola Nacional de Belas Artes, em Bogotá, por vários anos. Influenciou e motivou muitos outros artistas do país a adotarem como tema as belezas de sua terra. Não viveu muito, mas viveu intensamente.

RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Uma serra com correnteza - Óleo sobre tela


Ricardo Borrero Álvarez nasceu a 24 de agosto de 1874, em Gigante, departamento de Huila e faleceu em Bogotá, com 57 anos de idade. O modernismo já ganhara outras aspirações e estas certamente passavam longe das suas.


4 comentários:

  1. O que mais apreciei foi "Uma serra com correnteza". Ele capturou isso com uma perfeição magistral
    Grato por nos trazer sempre tamanha beleza.
    Luz e paz.
    Grande abraço.
    S. Quimas

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  2. Belos trabalhos, cada obra parece ter vida própria. Foi um prazer conhecer um pouco da vida desse artista...
    Abraço amigo.
    Ótima matéria!

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  3. Maravilha Zé Rosario....Sempre nos enchendo de conhecimento...Obrigado!

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  4. Quimas, Yure e Jesser, sempre um prazer encontrá-los, amigos.
    O Borrero é inquestionável. Não canso de repetir: há muitos tesouros escondidos por aí...

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