RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Cabanas na mata - Óleo sobre tela
Entre uma obra e outra, nos
momentos de folga, que geralmente acontecem à noite, tiro um tempo para
pesquisas que invariavelmente me auxiliam. Resolvi voltar o olhar sobre a
“paisagem” e a sua gênese como escola artística na América do Sul. Para minha
surpresa, uma efervescente manifestação artística, voltada para essa escola,
encontrou um território fértil por toda a América Latina, principalmente à
partir da metade do século XIX. Um fator histórico é importante que seja
destacado: as colônias existentes em todo o continente serviam como uma ponte
para os vários artistas das metrópoles europeias e de suas colônias por aqui,
ora recebendo expedições artísticas, ora enviando para as principais cidades
europeias os mais notáveis artistas que por aqui surgiam.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Corredeiras - Óleo sobre tela
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Rio e pedras
Óleo sobre tela
A que se destacar também a
grandiosidade de uma paisagem quase ainda intacta, pouco explorada e, acima de
tudo, exótica para as visões dos colonizadores e artistas europeus. Por isso,
diferentemente da tradição europeia em investir nas escolas figurativas e
pinturas históricas, floresceu em terras sul-americanas um desejo natural por
representar aquilo que elas possuíam de mais extraordinário, a paisagem.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Paisagem - Óleo sobre tela
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Vacas numa mata - Óleo sobre tela
Todos os países, ou colônias
como ainda eram classificadas, receberam importantes missões artísticas e
expedições de vários países europeus, até mesmo artistas de outras metrópoles.
Artistas em busca de algo novo, assim como faziam outros que partiam para o
Oriente Médio e norte da África. Essa presente matéria quer fixar em especial
na escola paisagística da Colômbia, e mais em especial ainda, sobre as obras de
um dos mais notáveis artistas do gênero naquele período, em todo o continente:
Ricardo Borrero Álvarez.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Neblinas na serra - Óleo sobre tela
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Fim de tarde
Óleo sobre tela
Já era quase final do século
XIX, quando nasceu na Escola de Belas Artes de Bogotá, a Cadeira de Paisagem.
Tinha uns propósitos parecidos com as Escolas de Paisagens que surgiam em
várias partes do mundo: tirar a pintura dos ateliês e leva-las a campo. Práticas
herdadas das ideias impressionistas que germinavam em muitas correntes
artísticas. Isso tinha um ar de modernidade e era o que de mais audacioso
parecia para aqueles tempos. De fato, não era uma missão muito fácil, romper um
tradicionalismo estabelecido por várias gerações de artistas que viam na
Pintura Histórica e Religiosa, o ápice do artista-modelo. Todos tinham como
hábito o trabalho com pequenos formatos, que se mostravam muito práticos para
os trabalhos externos ao ateliê. Borrero teria uma importância enorme nessa
instituição.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Natureza morta - Óleo sobre tela
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Cabeça de carneiro
Óleo sobre tela
Diferentemente dos artistas
de outras regiões do continente sul-americano, que escolhiam Paris e Roma para
referências de estudo, os artistas colombianos preferiram a influência das
escolas espanholas. Acredito que a língua tenha sido um fator que pesava sobre
essa escolha, afinal, partir para Paris ou Roma exigia, além de uma boa bagagem
artística já adquirida, o domínio de idiomas estranhos aos das colônias sul-americanas.
Mas a Espanha também não devia em nada às escolas francesas e italianas. Carlos
de Haes já era o consagrado paisagista espanhol que influenciava e arrebanhava
um bando enorme de seguidores. É dele, a maior influência a todos os artistas
colombianos daquele período, mesmo que não tenha sido diretamente.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Ruínas
Óleo sobre tela
RICARDO BORRERO ÁVAREZ - Um canto de jardim - Óleo sobre tela
Borrero se formou nesse
período, em Sevilha, e aguçou ainda mais os aprendizados numa rápida estada em
Paris, frequentando principalmente a Escola de Barbizon, reforçando a
inclinação paisagística que já lhe era inerente. O Impressionismo e o
Naturalismo lhe atraiam como tudo que sempre planejou para sua arte. Pensava em
produzir algo naqueles moldes, livre, sem as mordaças das academias, isento de
toda lição histórica ou moral. A nova arte que ele abraçou, e que também era
nova por todas as partes, em nada tinha a ver com as considerações históricas
ou políticas impostas pelas Academias. Pintava por prazer, enamorado somente
com a poesia e a emoção.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Uma vila - Óleo sobre tela
Por causa dessa sua proposta
audaciosa, de romper com as instituições e pintar por conta própria, pode-se
dizer que foi um modernista, no termo inovador da palavra. Mas, pintava com a
alma, acima de tudo. E isso conta muito, mesmo para os dito “anarquistas”.
Tanto que suas obras eram procuradas avidamente por colecionadores burgueses,
os mesmos que esperavam ansiosos pelas novidades dos grandes salões. Para uma
Colômbia com vocação totalmente rural e que ensaiava seus primeiros contatos
capitalistas, Borrero é considerado uma peça de suma importância. Poucos
artistas, como ele, conseguem fazer uma transição de um país agrícola para as
mentalidades modernistas que mudariam a história da arte, no início do século
XX.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Pequeno regato - Óleo sobre tela
Borrero voltou para a
Colômbia em 1898 e logo recebeu dos amigos o título de “pintor da terra quente”.
Sabia como ninguém, admirar e interpretar todos os cantos de seu país, do verde
luxuriante e selvagem de suas matas, bem como dos desfiladeiros, rios e
cachoeiras que não saíam de sua retina. Tornou-se professor e chegou mesmo a
dirigir a Escola Nacional de Belas Artes, em Bogotá, por vários anos.
Influenciou e motivou muitos outros artistas do país a adotarem como tema as
belezas de sua terra. Não viveu muito, mas viveu intensamente.
RICARDO BORRERO ÁLVAREZ - Uma serra com correnteza - Óleo sobre tela
Ricardo Borrero Álvarez nasceu
a 24 de agosto de 1874, em Gigante, departamento de Huila e faleceu em Bogotá,
com 57 anos de idade. O modernismo já ganhara outras aspirações e estas
certamente passavam longe das suas.
O que mais apreciei foi "Uma serra com correnteza". Ele capturou isso com uma perfeição magistral
ResponderExcluirGrato por nos trazer sempre tamanha beleza.
Luz e paz.
Grande abraço.
S. Quimas
Belos trabalhos, cada obra parece ter vida própria. Foi um prazer conhecer um pouco da vida desse artista...
ResponderExcluirAbraço amigo.
Ótima matéria!
Maravilha Zé Rosario....Sempre nos enchendo de conhecimento...Obrigado!
ResponderExcluirQuimas, Yure e Jesser, sempre um prazer encontrá-los, amigos.
ResponderExcluirO Borrero é inquestionável. Não canso de repetir: há muitos tesouros escondidos por aí...