domingo, 8 de março de 2015

RODOLFO AMOEDO

RODOLFO AMOEDO - A narração de Filectas
Óleo sobre tela - 249 x 307 - 1887 - Museu Ncional de Belas Artes

Há controvérsias quanto ao local de nascimento de Rodolfo Amoedo, uma vez que o próprio artista preencheu um currículo para admissão na Academia de Artes como sendo originário do Rio de Janeiro. Mas, tudo indica que isso tenha sido apenas uma estratégia para a admissão, uma vez que muitas fontes atestam que ele tenha nascido em um vilarejo na Bahia, a 11 de dezembro de 1857. Passou a infância em Salvador e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1868. Seus pais eram artistas de teatro e as dificuldades financeiras sempre foram uma constância na família.

RODOLFO AMOEDO - Marabá - Óleo sobre tela - 151,5 x 200,5 - 1882

RODOLFO AMOEDO - O último tamoio - Óleo sobre tela - 180,3 x 261,3 - 1883

Com sacrifícios, ele é admitido no Colégio Pedro II e permanece lá por algum tempo. Mas, a falta de dinheiro impede que conclua o curso e leva o jovem artista a trabalhar como assistente do pintor-letrista Albino Gonçalves. Só viria a regressar aos estudos aos 16 anos, quando ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e tem aulas com Costa Miranda , Victor Meirelles e Antônio de Souza Lobo.

RODOLFO AMOEDO - Más notícias
Óleo sobre tela - 100 x 74 - 1895 - Museu Nacional de Belas Artes

Foi graças ao apoio incondicional de Antônio de Souza Lobo que Amoedo torna-se aluno da Academia Imperial de Belas Artes. Naquela Academia, além de continuar a estudar com Victor Meirelles, também passa a receber aulas de Zeferino da Costa, Agostinho da Motta e Chaves Pinheiro. Zeferino da Costa e Agostinho da Motta exercem uma forte influência sobre a obra de Amoedo, tanto na composição como nos ideais estéticos. Em 1878, recebe o prêmio de viagem ao exterior da Academia Imperial de Belas Artes, por sua tela Sacrifício de Abel.

RODOLFO AMOEDO - Modelo
Óleo sobre tela colada em madeira - 38 x 58,8 - Década de 1890

RODOLFO AMOEDO - Mulher
Nanquim sobre papel - 21,5 x 15,7 - Década de 1890

É sobre o prêmio conquistado para estudar no exterior, que se desenrola um dos episódios mais polêmicos da vida de Amoedo. Os Prêmios de Viagem, como eram classificadas as bolsas de estudo concedidas a artistas, foram instituídos na Academia Imperial em 1845. Isso aconteceu com a iniciativa de Taunay, junto ao Imperador D. Pedro II. A Europa, principalmente Paris e Roma, era o destino desejado por todo artista que pretendia reciclar conhecimentos e aprender novas técnicas com mestres renomados. Uma vez de posse de tais novos aprendizados, os alunos se comprometiam a renovar o conhecimento da Academia que os levou até aquele continente.

RODOLFO AMOEDO - A partida de Jacó
Óleo sobre tela - 105,5 x 136 - 1884 - Museu Nacional de Belas Artes

RODOLFO AMOEDO - Jesus entrando em Cafarnaum - Óleo sobre tela - 63 x 88 - 1885

Além de todos os rigores que compunham o tão desejado prêmio para estudos no exterior, o daquele ano em que Amoedo foi escolhido, 1878, teve uma dose extra de emoção.  Rodolfo Amoedo e Henrique Bernadelli ficaram empatados no primeiro lugar da classificação. Os próprios professores que analisaram o concurso se viram incapazes de fazer tal desempate, ficando tal função para o diretor da Academia, que acabou decidindo por Amoedo. Tal episódio causou desafeto nas partes opositoras a Amoedo e aquilo o acompanharia para o resto da vida.

RODOLFO AMOEDO - Estudo de mulher - Óleo sobre tela - 150 x 200 - 1884

RODOLFO AMOEDO - Tronco masculino
Óleo sobre tela - 100 x 84 - 1880

Paris era a cidade-modelo naquelas últimas décadas do século XIX, como continuou sendo ainda por vários anos do século seguinte. É para lá que Rodolfo Amoedo decidiu ir, com o prêmio de viagem ao exterior que recebera. Assim que chegou na cidade, Amoedo matriculou-se na Académie Julien como aluno no ateliê de Cabanel e depois no estúdio chefiado por Boulanger e Lefebvre. Era muito importante  para os candidatos a uma vaga na École de Beaux Arts (antiga Academia de Belas-Artes de Paris) garantir uma boa preparação para os testes. A École, que admitia alunos estrangeiros, exigia exames de anatomia e perspectiva, desenho ornamental ou história geral. As respostas para essas provas tinham que ser dadas em francês, claro, o que já era um funil para alguns dos pretendentes. Se um candidato passasse da primeira etapa, a próxima era mais crítica - execução do desenho de um gesso de alguma escultura antiga ou do modelo vivo, a ser completado em duas sessões de seis horas cada uma, num cubículo privado.

RORODLFO AMOEDO - Amuada
Óleo sobre tela - 73 x 49 - 1882 - Museu Nacional de Belas Artes

RODOLFO AMOEDO - Bandeirante
Óleo sobre tela - 233 x 158 - 1929
Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora

Aceito para a École de Beaux Arts, mesmo sob rigorosos testes, Amoedo ingressou na classe do professor Cabanel. Logo se tornou um discípulo-modelo, sempre conquistando as primeiras colocações em todas as disciplinas. A importância de ficar entre os primeiros lugares não se resumia apenas ao orgulho ou ao prestígio do aluno. Sempre que conquistava uma boa colocação nas avaliações semanais ou mensais, o aluno tinha o direito de posicionar seu cavalete de estudo o mais próximo do modelo a ser retratado. Ficar longe do modelo de estudo, era um sinal de que não se havia assimilado bem os estudos daquele período.

RODOLFO AMOEDO - Natureza morta
Óleo sobre tela - 35,5 x 53 - Museu de Arte da Bahia

RODOLFO AMOEDO - Paisagem - Óleo sobre tela - 19 x 27

Mesmo com todos os rigores e controvérsias que o Salon de Paris já provocava nas últimas décadas do século XIX, ser admitido para expor e concorrer ainda era considerado o auge para qualquer artista que se encaminhara a Paris, com o objetivo de estudar artes. A tela Marabá foi a primeira obra de Amoedo a ser selecionada para aquele evento. O que aconteceria também no ano seguinte, 1883, com a tela O Último Tamoio.

RODOLFO AMOEDO
Jesus Cristo no Monte das Oliveiras
Óleo sobre tela - 130 x 90,5 - 1917

Em 1887, volta ao Rio de Janeiro, onde é nomeado professor de pintura da Academia Imperial de Belas Artes. A influência do ambiente acadêmico francês se faz notar tanto em suas concepções estéticas quanto pedagógicas. Seu trabalho se afasta do tom triunfante da pintura oficial da Academia, procurando um tratamento mais discreto, objetivo, que o distancie de temas mitificados. Suas discordâncias dos métodos de ensino da Academia Imperial de Belas Artes são expressas em 1888, quando junto com os irmãos Henrique Bernardelli e Rodolfo Bernardelli, Souza Lobo e Zeferino Costa, funda o Ateliê Livre, espaço paralelo de ensino e trabalho de arte, onde os artistas procuram chamar a atenção para a defasagem do ensino acadêmico. Propõem uma modernização curricular, tendo como modelo a Académie Julian, onde estudara em Paris.

RODOLFO AMOEDO - Homem de pé
Óleo sobre madeira - 45 x 19 - 1904

Em 1889, com a proclamação da República, o grupo é reconhecido e conquista a diretoria da Escola Nacional de Belas Artes, antiga Academia Imperial de Belas Artes. No novo regime político, Amoedo se torna vice-diretor da Escola, trabalhando com muita dedicação. Tanto na pintura quanto no ensino tem preocupação crescente com as questões técnicas, do métier deixando em segundo plano os temas. Amoedo preocupa-se com a correção do desenho e a suavidade da cor, obedecendo às normas tradicionais de composição. Como professor, ensina com a mesma rigidez. Indica onde as cores devem ser distribuídas na paleta e é rígido com questões da técnica pictórica. Boa parte dos artistas formados pela Escola Nacional de Belas Artes passa por suas mãos, como Baptista da Costa, Eliseu Visconti, Candido Portinari, Eugênio Latour, João Timótheo da Costa, Rodolfo Chambelland, Carlos Chambelland e Alfredo Galvão.

RODOLFO AMOEDO - Interior com cadeira e livro
Aquarela sobre papel - 43,5 x 33 - Coleção Fadel

Rodolfo Amoedo ocupa o cargo de vice-diretor da Escola Nacional de Belas Artes em 1893 e em 1896. Em 1906, se desentende com o diretor, Rodolfo Bernardelli, e parte para a Europa, afastando-se da Escola até 1918, ano em que reassume a cadeira de professor ocupando-a até a sua aposentadoria, em 1934. Essa dedicação total ao ensino fez dele também o professor com maior longevidade naquela instituição.Em 1909, pinta o teto da Sala de Sessão do Supremo Tribunal Federal; um ano depois, faz painéis para a seção de livros raros da Biblioteca Nacional e, em 1916, decora o Theatro Municipal. O artista falece no dia 31 de maio de 1941, com 83 anos de idade. Neste momento, é reconhecido como um dos grandes nomes da arte acadêmica brasileira. Um ano após o seu falecimento, a viúva do artista doa parte do seu acervo para o Museu Nacional de Belas Artes - MNBA. Nos limites do realismo acadêmico poucos artistas se mostraram tão sensíveis à captação da subjetividade burguesa, sobretudo em retratos e cenas de gênero.

RODOLFO AMOEDO - Autorretrato
Pastel sobre papel - 57,8 x 43,2
Museu Nacional de Belas Artes

4 comentários:

  1. Um artista que rompeu todas as barreiras........ espetacular!
    Um belo domingo!

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    1. Sim, Vidal. Numa época onde as coisas eram bem mais difíceis.
      Grande abraço!

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  2. Amuada é impagável.
    Como sempre excelente. Você faz um grande trabalho pela arte.
    Luz e paz. Abraço.
    S. Quimas

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    1. É uma das minhas preferidas, também.
      Grande abraço, Quimas.

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