LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um amante da arte romana
Óleo sobre painel - 55,9 x 84,5 - 1868
“Fazer da queda, um paço de
dança.” Essa é uma famosa frase do escritor mineiro Fernando Sabino, e é
interessante como a vemos assumida na vida de tantas pessoas, em várias partes
do mundo, em épocas completamente distintas. Lawrence Alma-Tadema viveu quase
um século antes de Sabino, mas ambos sentiam na alma, a força daquela expressão
que tão bem representou a carreira dos dois. Foi por causa de uma doença, a
tuberculose, diagnosticada ao jovem Alma-Tadema, quando tinha apenas 15 anos de
idade, que sua vida tomou um novo rumo. Aquilo que acenava como uma queda, foi
o paço que faltava para compor a dança de sua vida. Para recuperar da doença, o
jovem foi colocado em repouso, onde tinha como opção apenas desenhar e pintar.
Atividades que tinham muito pouco a ver com ele anteriormente, desenvolveram
nele um gosto tão grande, que não teve dúvidas: após recuperar de sua doença,
decidiu que queria seguir a carreira de pintor.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Primavera - Óleo sobre tela - 178,4 x 80,3 - 1894
Lourens Alma Tadema
(posteriormente Lawrence Alma-Tadema) nasceu no dia 8 de janeiro de 1836, na
aldeia de Dronrijp, província de Friesland, ao norte da Holanda. Nascido do
segundo casamento de seu pai, era o sexto filho de Pieter Jiltes Tadema e o
terceiro filho de Hinke Dirks Brower. Pelas intenções da mãe, Lawrence seria
encaminhado para os estudos de Direito, mas em 1851, ele sofreu um colapso
nervoso e mental. O diagnóstico de tuberculoso fez a família rever os planos
para seu futuro. Tendo o desenho e pintura como auxiliares no tratamento de
recuperação da enfermidade, acabou tomando gosto por eles. Um ano depois, ele
entrou para a Academia Real da Antuérpia, na Bélgica.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um antigo festival - Óleo sobre tela - 77 x 177 - 1870
Os quatro anos que estudou
naquela instituição renderam muitos frutos para sua recente carreira.
Conquistou prêmios respeitáveis por lá e ainda pode estar mais próximo da
companhia do professor Louis Jan de Taeye, do qual se tornou um assistente.
Mesmo que de Taeye não fosse uma referência excepcional de pintor, tinha um
gosto refinado por história e isso despertou a atenção de Lawrence. Ficou
especialmente atraído pela cultura merovíngia, que explorou em suas pinturas
por um bom período e o trouxe uma fama especial por aquela característica.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Rivais inconscientes - Óleo sobre tela - 45,1 x 62,8
Em 1858, Alma- Tadema passou
uma temporada em Leewarden, antes de se estabelecer em Antuérpia. Ali,
trabalhou nos estúdios de Baron Jan August Hendrik Leys, um dos mais
conceituados espaços artísticos da Bélgica, naqueles tempos. Foi naquele
ambiente que produziu a obra “A educação dos filhos de Clovis”. Muito aclamada
entre os críticos e visitantes do Congresso Artístico de Antuérpia, podemos
considera-la como a obra-alicerce de sua reputação e fama.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - O discurso
Óleo sobre painel - 40,6 x 25,4
Fazer pintura com referência
histórica requer muita disciplina. Há toda uma pesquisa que envolve cada tema
escolhido para representar, como mobiliário, vestuário, utensílios, hábitos de
cada povo... O assunto com a cultura merovíngia era atraente para Alma-Tadema,
mas não muito atraente para o público, que preferia culturas mais sofisticadas
e exóticas, como a egípcia e grega. Foi quando Alma- Tadema decidiu montar seu
próprio ateliê e explorar com mais acuidade o tema de culturas europeias
clássicas.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - O encontro de Moisés - Óleo sobre tela - 137,7 x 213,4 - 1904
O ano de 1863 traria
mudanças para a vida de Alma-Tadema. Logo que iniciou o ano, faleceu a sua mãe
e pouco depois da metade do ano, casou-se com Marie-Pauline Gressin Dumoulin.
Eles passaram sua lua-de-mel em Florença, Roma, Nápoles e Pompeia. Era o
ingrediente que faltava para que ele decidisse de vez a sua carreira. À partir
dali, aumentaram ainda mais os seus interesses pelas culturas romanas e gregas
e estas ocupariam os seus trabalhos para as próximas décadas.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Num jardim de rosas - Óleo sobre painel - 37,5 x 50,7 - 1890
A carreira ia se
solidificando, assim como solidificava também o interesse pelas culturas
antigas. Alma-Tadema pesquisava ainda mais, a fim de que suas composições
ganhassem maior veracidade. Perfeccionista, tinha uma atração especial pela
representação do mármore, que em suas obras tem realmente uma representação
especial. Da união com Marie-Pauline nasceram três filhos. O primeiro viveu
poucos meses, vítima de varíola, e os outros dois desenvolveram habilidades
artísticas mais tarde. Ernest Gambart, um importante editor e negociante de
arte teve uma participação importante nessa fase da vida de Alma- Tadema,
encomendando uma série de trabalhos para ele, assim como conseguindo introduzir
seus trabalhos em Londres.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - O que é aquilo?
Óleo sobre painel - 29,2 x 22,5 - 1863
Em maio de 1869,
Marie-Pauline faleceu, vítima de varíola. Ela tinha apenas 32 anos, e sua morte
deixou Alma-Tadema desconsolado e deprimido por um longo tempo. Até a pintura,
ele deixou de praticar por quatro meses. A depressão acarretou outros
problemas, que os médicos locais não conseguiam diagnosticar. Sob conselhos do
editor Gambart, Alma- Tadema foi encaminhado para Londres, a fim de consultar
outros especialistas. Durante o tratamento, Alma-Tadema conheceu um artista
muito influente nos meios britânicos, Ford Madox Brown, a quem passou a visitar
regularmente. Foi em seu estúdio, que conheceu a jovem Laura Theresa Epps, de
apenas dezesseis anos, e que mudaria sua vida.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um estúdio romano - Óleo sobre painel
Dois fatores influenciaram
bastante na mudança de Alma-Tadema para Londres: o início da guerra Franco-Prussiana,
em julho de 1870 e a lembrança constante de Laura Theresa em sua cabeça. Ele
chegou a Londres no mês de setembro daquele ano e a vida começava a encontrar
seus trilhos. A ideia de dar aulas para ela foi um pretexto encontrado para
assedia-la com mais frequência. Numa dessas sessões, acabou pedindo sua mão em
casamento. Inicialmente contrário ao pedido, o pai da jovem decidiu que
deveriam se conhecer melhor. Eles se casaram em julho de 1871. Ela, também
artista, adotou o sobrenome Alma-Tadema, que lhe rendeu bons frutos na
carreira. O novo casal não teria filhos. Laura cuidou muito bem dos dois filhos
que vieram com Alma-Tadema. Ela também seria modelo para várias composições,
uma delas, em especial, é “Mulheres de Amphissa”.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Mulheres de Amphissa - Óleo sobre tela - 122,5 x 184,2 - 1887
Londres se tornaria a morada
definitiva para Alma-Tadema. A escolha não poderia ter sido melhor. Ali
encontrou fama e respeito, tornando-se inclusive um dos artistas mais bem-pagos
de seu tempo. O contato com vários artistas ditos pré-rafaelitas iluminou sua
paleta e deu um novo impulso em sua carreira. Em 1872, numa nova viagem de 5
meses e meio pelo continente europeu, Alma-Tadema aprofundou ainda mais suas
pesquisas sobre culturas antigas. Colecionava fotografias, documentos,
utensílios, visitava locais ainda bem preservados.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Uma galeria de esculturas
Óleo sobre tela - 1867
Em 1876 ele alugou um ateliê
em Roma e produziria importantes obras no período que esteve por lá. O mais
importante prêmio almejado por um artista foi concedido a ele em 1879, quando
foi considerado um acadêmico completo. Três anos depois, uma grande retrospectiva
de sua produção foi realizada na Galeria de Grosvenor, em Londres, com cerca de
185 trabalhos. O retorno para Roma, em 1883, tinha como intenção principal,
visitar as novas escavações de Pompeia. Estas lhe renderam novamente muitas
fontes para composição nos novos trabalhos.
LAWRENCE ALM-ATADEMA - Amo-te, ama-me - Óleo sobre painel - 17,5 x 38 - 1881
O preciosismo na composição
continuava mais intenso do que nunca. Para pintar o famoso quadro “As rosas de
Heliogábalo”, centenas de flores eram enviadas semanalmente da Riviera
francesa, a fim de que conseguisse uma originalidade ímpar em sua tela. A cena
era baseada no episódio da vida de um imperador romano que tentou sufocar seus
convidados em uma orgia de cascata de rosas. Foi um dos seus períodos mais
férteis e do qual originaram obras muito importantes.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - As rosas de Heliogabalus
Óleo sobre tela - 132,1 x 213,9 - 1888
Do ponto de vista pessoal,
Alma-Tadema era extrovertido e muito caloroso. Além de profissional acima de
tudo em sua carreira, também era um ótimo negociante. Não é à toa a sua fama de
um dos mais ricos artistas do século XIX. Corpulento, era amante de um bom
vinho, mulheres e festas. Mesmo com a diminuição de suas atividades, em parte
por causa da saúde, continuou colecionando títulos e honrarias até os anos
finais do século XIX. Para descansar um pouco das pinturas, começou a desenhar
móveis e fantasias, além de projetos para teatro. Os anos iniciais de 1900
ainda teriam muitas obras suas, dentro daquele tema que considerava favorito:
mulheres em terraços, com vista para o mar. “O encontro de Moisés” foi uma das
obras mais marcantes dessa época.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Pratas favoritas
Óleo sobre tela - 69,1 x 42,2 - 1903
No dia 28 de junho de 1912,
Alma-Tadema faleceu, vítima de uma ulceração do estômago. Ele está sepultado
numa cripta na Catedral de Saint Paul, em Londres. O mundo perdia um de seus
artistas mais dedicados, que jamais se rendeu aos modernismos que começavam em
seu tempo. Por mais de sessenta anos de carreira, deu ao seu público exatamente
o que ele queria: pinturas bem elaboradas, com pessoas bonitas e em ambientes
clássicos. Inacreditavelmente, seu legado artístico quase desapareceu, após sua
morte. Críticas nada necessárias, feitas por alguns jornais e críticos de arte,
deixaram seus trabalhos quase que no anonimato durante várias décadas. Somente
à partir da década de 1960, os trabalhos de Alma-Tadema retomaram o prestígio
que nunca deveriam ter perdido. Hoje, ele é considerado como um dos principais
artistas com temas clássicos do século XIX, que fez, como poucos, um verdadeiro
estudo arqueológico, para demonstrar veracidade e exatidão nas obras que
criava.
LAWRENCE ALMA-TADEMA - Auto-retrato
Óleo sobre tela - 65,7 x 52,8
Um dos maiores artistas de todos os tempos.
ResponderExcluirExcelente escolha. Ótimo artigo.
Luz e imensa paz.
Sem dúvida, é um artista fenomenal.
ExcluirTenha uma ótima semana, Quimas.
Grande abraço!
Um artista grandioso! sua Arte é apaixonante, seu estilo inconfundível... Maravilhoso!
ResponderExcluirAbraços, meu amigo!
Obrigado, Vidal, pela vinda de sempre.
ExcluirUm grande abraço!
Belos trabalhos, grande artista, pessoas lindas,deunos a conhecer várias culturas, adorei ver os seus lindos quadros, obrigada!muita paz! Deus é contigo.
ResponderExcluirMuto grato pela visita.
ExcluirGrande abraço!