MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Hora da ordenha em Anticoli Corrado
Óleo sobre tela - 92,5 x 124 - 1922 - Museu de Zaragoza
Abaixo, detalhe de Hora da ordenha em Anticoli Corrado
Anos atrás, quando estava
escrevendo a matéria sobre o artista brasileiro Pedro Weingärtner, acabei
entrando em contato com a obra de Mariano Barbasán Lagueruela. Um fato em comum
entre os dois artistas chamou-me a atenção: a visitação constante que fizeram
ao povoado italiano de Anticoli Corrado. Não muito distante de Roma, debruçado
sobre uma colina, esse pequeno povoado tornou-se um ponto de peregrinação de
muitos artistas estrangeiros que iam estudar em Roma, nas décadas finais de
1800 e início de 1900. Weingärtner e Barbasán não apenas visitaram o local com
assiduidade, mas o eternizaram exaustivamente em trabalhos minuciosos e
maravilhosos.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Vem com o papai
Óleo sobre painel - 28,8 x 46,9 - 1897
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Paisagem com uma vila nos arredores de Roma
Óleo sobre tela - 105 x 75 - 1905
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Mercado, Anticoli Corrado
Óleo sobre tela - 24 x 46 - 1909
Mariano Barbasán Lagueruela
e Pedro Weingärtner chegaram em Roma praticamente no mesmo período, nos anos
finais do século XIX, a fim de estudar num dos locais que era a melhor
referência acadêmica daquele momento. Roma já começava a perder o status de
referência artística para Paris, mas ainda assim se mantinha como uma rota
quase obrigatória para muitos artistas, principalmente aqueles que ainda se
mantinham fiéis às correntes conservadoras realistas, naturalistas e afins.
Muitos desses artistas tinham o hábito de se encaminhar para a Piazza di
Spagna, em Roma, onde diversos jovens (moças, rapazes e adolescentes), vindos
principalmente das redondezas de Roma, em especial Antícoli Corrado, se
ofereciam como modelos para aulas e sessões de pinturas. Era no contato com
esses modelos que crescia a afinidade entre artistas e o povo desse lugarejo
italiano. Nos verões, uma grande caravana de artistas partia para Antícoli
Corrado e ali se instalava em estrebarias e currais, que os camponeses transformavam
em ateliês e alugavam para os artistas passarem a temporada de produção.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Praça em Antícoli Corrado
Óleo sobre tela - 94,5 x 85 - 1922
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Primeira comunhão
Óleo sobre painel - 17,8 x 28,5 - 1900
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Pastora com cabras
Óleo sobre tela - 147 x 90 - 1910
Durante os dias, os artistas
punham a aproveitar ao máximo a luminosidade especial do lugarejo e se
encaminhavam para os campos e trigais, onde não cansavam de registrar as
famosas cenas de colheitas e pastoreios, que até hoje encantam e são motivos de
acirradas disputadas nas melhores casas de leilões de todo o mundo. Durante as
noites, em alegres festividades em tabernas locais, ou mesmo em residências
particulares, continuavam a produzir estudos dos incansáveis modelos. Muitas
dessas moças que se prestavam para posar aos artistas, acabaram se tornando
esposas ou amantes deles. A visitação ao pequeno vilarejo era tão intensa que
em 1935, já no período final do auge como centro de peregrinação, ainda
existiam ali 55 ateliês de artistas, um fato que não deixa de ser curioso, uma
vez que ali não possuía, como até hoje, não mais que mil habitantes.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Paisagem italiana com cabras e pastores
Óleo sobre tela - 24,5 x 46,5 - 1924
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Rua em um povoado
Óleo sobre tela - 37 x 57,5 - 1909
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Procissão - Óleo sobre tela - 1899
As idas para Antícoli
Corrado começaram a ficar mais intensas para Mariano Barbasán em 1892. Ele
gostou tanto da Itália, que passaria ali trinta anos de sua existência, retornando
para sua cidade natal somente no final de sua vida. Ele desenvolveu um gosto
tão especial pelas pinturas de costumes locais, que logo ficou famoso entre os
colecionadores e era procurado inclusive por turistas desejosos de levar uma
lembrança das terras italianas. Assim, ele criou um laço especial com a
população camponesa de Antícoli e outros vilarejos vizinhos, principalmente
Subiaco. Suas obras dessas localidades se tornaram um relato preciso da vida do
homem do campo, o sentimento religioso desses povos e a relação deles mediante
à natureza e as suas tradições. Cada trabalho guarda a memória de um tempo
especial, tanto para o artista como para a localidade de Antícoli Corrado.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - La cata - Óleo sobre painel - 29,5 x 47
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Plaza de la Retama, Toledo
Óleo sobre tela -1887
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Pedro II, o Grande, em Las Panizas
Óleo sobre tela - 200 x 185 - 1891
Mariano Barbasán Lagueruela
nasceu em Saragoça, a 3 de fevereiro de 1864. Ele completou seus estudos artísticos
na Escola de Belas Artes de San Carlos, em Valência, onde estudou entre os anos de
1880 e 1887. Para completar os estudos, viajou para Madri para estudar de perto
as obras dos grandes mestres espanhóis que admirava. As coleções do Museu do
Prado trouxeram um novo impulso para sua formação. Ele também realizou diversas
viagens para Toledo, onde pintou diversas cenas de gênero, com cenário
histórico. Pintou também várias cenas da literatura europeia.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Veneza - Óleo sobre painel - 20,3 x 28,3 - 1889
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Aguadoras - Óleo sobre tela - 35,5 x 61 - 1889
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Uma vista de Veneza ao por do sol
Óleo sobre tela - 61 x 100
Em 1889, com o prêmio que
conseguiu pela Província de Saragoça, uma mensalidade vitalícia para estudar na
Itália, uma espécie de aposentadoria oferecida a artistas premiados, Barbasán
partiu para Roma. Ele produziu as obras mais significativas de sua vida por lá.
É de 1892, uma famosa cena num café árabe, de pintores espanhóis em Roma,
disfarçados de árabes para um carnaval.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - O outono - Óleo sobre tela - 50 x 72 - 1918
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Tristeza de inverno
Óleo sobre tela - 64 x 98 - 1917
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Planície alagada - Óleo sobre tela - 50 x 71 - 1917
Barbasán montou um estúdio
muito bom em Roma, e fez exposições frequentes por toda a Alemanha, Áustria e
Inglaterra. Nunca na Espanha, onde quase nem era conhecido. Em 1912, ele morou
na cidade uruguaia de Montevidéu, por um curto período de tempo, enquanto
organizava duas exposições que fez por lá. Ele permaneceu em Roma até 1921,
quando sua saúde começou a piorar. Retornando à Espanha, ele ocupou uma cadeira
na Academia de Belas Artes de San Luis, em Saragoça, que havia ficado vaga com
a morte de Francisco Pradilla.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Saída para Assis - Óleo sobre painel - 11 x 18 - 1889
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Batalha de Guadalete
Óleo sobre painel - 21,9 x 50,2 - 1882
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Saída para Tívoli - Óleo sobre painel - 11 x 18 - 1889
Dois anos depois que havia
retornado à Espanha, Barbasán realiza a primeira exposição em território
espanhol, no Mercado Central de Saragoça. Somente naquela época, seus trabalhos
começaram a ser conhecidos e procurados pelo público espanhol. Ele faleceu em
Saragoça, no dia 22 de julho de 1924. Em 1925, seu filho Mariano Barbasán
Lucaferri realizou uma grande retrospectiva em sua homenagem, no Museu de Arte
Moderna de Madri. Ele faria diversas outras nos anos sequentes, ajudando a
estabelecer a reputação de seu pai na Espanha.
MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Autorretrato
Óleo sobre tela - 52 x 41 - 1887
ResponderExcluirdisse bem Tostoi : Só seremos universais se conhecermos e amarmos nossa aldeia. Aprendo e me comovo sempre com suas postagens..
Muito obrigado, amigo.
ExcluirQuem conhecer bem o próprio quintal, está apto a conquistar o mundo.
Grande abraço!
O mesmo aconteceu comigo,procurando estudar um pouco Pedro Weingärtner, encontrei este tesouro.... fiquei encantado...
ResponderExcluirAbração, felicidades!
Que bom que andamos pelos mesmos caminhos.
ExcluirForte abraço, Vidal!