JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Óleo sobre tela - 53,3 x 78,7
Em 1840, John Frederick
Lewis partiu de Roma para uma viagem que ainda não sabia exatamente o destino. Passou pela Albânia, Corfu, Janina, pelas Montanhas de Pindo e
Patrass, Atenas, pelo Golfo de Corinto e Esmirna, até finalmente chegar a
Istambul, onde iria residir pelo resto daquele ano. Amou aquele lugar logo à
primeira vista. Ficava intrigado como havia uma cultura tão rica, cultivada por
pessoas tão simples. Passava horas passeando por todos os mais pitorescos
cantos, desenhando, anotando e registrando como podia, tudo aquilo que não lhe
cansava os olhos.
JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 1
Embora grande parte de seus
vários estudos focasse mais as construções, também havia espaço em suas
pesquisas para a representação do povo local e todos os seus costumes. Lá estão
representados o povo comum, soldados, ciganos, senhoras, crianças... Todos nas
tarefas e prazeres de suas rotinas. Lugares, pessoas, acontecimentos, tudo isso
formaria um rico material com que Lewis trabalharia por anos, depois que
retornasse a Londres.
Scutari é uma rua na parte
noroeste de Istambul, situada na margem asiática do Bósforo, e que agora é
conhecida como Üsküdar, um distrito de Istambul. Durante muitos anos, a área era
local de importante comércio, graças à sua boa localização, que lhe dava um
porto estratégico e também já lhe havia oferecido um glorioso passado. Era ali
uma espécie de central de correios asiáticos, palco para as primeiras linhas
férreas da Anatólia, bem como o destino final de caravanas que vinham da Síria
e de outros pontos da Ásia. Só por aí já dá pra se ter ideia de como era a efervescência
do local e como isso alimentou a criatividade e visão artística de Lewis.
JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 2
Lojas Kibab vendiam uma
espécie de “churrasquinhos”, ou carne espetada assada, se melhor preferir. Este foi o ambiente escolhido por Lewis, para desenvolver um de seus mais belos trabalhos. A
riqueza de detalhes da tela é impressionante. Três homens, com vestes ricamente
coloridas reúnem-se sob a sombra de um portal. À esquerda, um senhor de idade
(provavelmente o dono da loja) lê enquanto repousa. Acredita-se que o homem de
barba, de pé, seja o próprio artista se retratando. Ele olha diretamente para o
espectador. Os detalhes não param por aí: atente-se para o vaso de rosas
murchas mais ao canto, a ornamentação nas cerâmicas chinesas e até mesmo as
mais diversas texturas e estamparias de cada veste. Lewis sabia como ninguém
manipular as cores e combiná-las perfeitamente tanto à luz quanto na mais
profunda sombra. O primeiro plano é iluminado por uma luz intensa de meio-dia.
Ao fundo, um grupo de homens conversa animadamente, e mais distante, a cidade
aparece majestosa. No plano intermediário, a cena é invadida por uma luz
refletida muito bem controlada, que define e valoriza tudo.
JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 3
Todos os figurantes estão
estáticos e o movimento é representado apenas pelos pombos, comprovando aquilo
que a composição sugere: um local para se descansar e relaxar num momento de
refeição.
Os objetos foram montados em
estúdio. Todos certamente garimpados nas muitas compras que Lewis fazia em
Istambul e em bazares do Cairo. Eles não sugerem nenhuma opulência e a obra também
não teve nenhuma pretensão política. Estão ali apenas representando toda uma
cultura e o seu povo. São exatamente o contraste com o requinte europeu, mas
exaltam uma riqueza que não tem valor.
Depois que retornou a
Londres, Lewis passou a ter uma vida reclusa, concentrando todas as suas forças
nas elaborações muito bem estudadas de todos os locais pelos quais havia
passado. Cada obra sua era sempre esperada com muita ansiedade.
JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 4
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John Frederick Lewis nasceu
em Londres, a 14 de julho de 1804. Filho de um outro artista, Frederick
Christian Lewis. Reconhecido primeiramente por sua excelência na pintura de
aquarelas, John Frederick Lewis também foi um artista que produziu bastante com
o óleo, guache e outras técnicas. Virtuoso, era extremamente detalhista e nada
lhe fugia ao olhar. Especializou-se na pintura de cenas do Oriente Próximo e Médio e também das
costas mediterrâneas. Teve vários endereços, mas suas estadias estrangeiras mais
duradouras foram na Espanha, entre 1832 e 1834; e no Egito, entre 1841 e 1850.
Ele se associou à Academia
Real em 1859 e tornou-se um membro da mesma em 1865. Faleceu em Londres, a 15
de agosto de 1876.
Esquecido por muitos anos
depois de sua morte, o trabalho de Lewis passou a ter uma forte valorização a
partir de 1970. Atualmente, seus raros trabalhos, quando colocados em ofertas nas melhores casas
de leilões, atingem facilmente as cifras dos milhões.
Veja mais algumas obras do artista:
JOHN FREDERICK LEWIS - Uma lady recebendo visitas
Óleo sobre painel - 63,5 x 76,2 - 1873
JOHN FREDERICK LEWIS - Os peregrinos romanos
Aquarela, guache e grafite sobre papel - 55,6 x 76,5 - 1854
JOHN FREDERICK LEWIS
Um acampamento no Deserto do Monte Sinai
Aquarela, guache e grafite sobre papel - 66,7 x 135,9 - 1856
JOHN FREDERICK LEWIS
A oração e a fé salvarão o doente
Óleo sobre painel - 90,8 x 70,8 - 1872
JOHN FREDERICK LEWIS
Vida em um harém do Cairo
Óleo sobre tela
JOHN FREDERICK LEWIS - Refeição do meio dia
Óleo sobre tela - 88 x 114 - 1875
A obra de Lewis embora esquecida por muitos anos (difícil de acreditar), tem um poder de paralisar...
ResponderExcluirUm artista com um toque especial, principalmente por se tratar de cenas orientais, belíssimo artista, sou apaixonado pelos seus tons...
Um grande final de semana meu amigo...
Os trabalhos com temática orientalista são especialmente admirados por mim. São ricos em tudo: na composição, no colorido, nas texturas... Obras especiais do mundo da arte.
ExcluirGrande abraço, Vidal!