quinta-feira, 6 de março de 2014

JOHN SINGER SARGENT

JOHN SINGER SARGENT - Autorretrato
Óleo sobre tela - 30,5 x 25,4 - 1886
Aberdeen Art Gallery and Museum, Escócia

Certos artistas não deveriam ter mesmo uma pátria mãe, tal suas condições de cidadãos do mundo. Ironicamente, parece ter sido assim a trajetória de John Singer Sargent, o mais célebre retratista de sua geração e um dos maiores nomes da pintura do final do século XIX e início do século XX. Filho de pais americanos, nasceu em Florença, na Itália, em 1856, mas definitivamente nunca teria um endereço específico. Essa vida nômade, já desde os primeiros anos, trouxe para ele e suas duas irmãs uma infância nada convencional. Emocionalmente independentes, pois não criavam raízes por onde passavam, também acabaram tendo um ensino informal. Sargent, por exemplo, recebeu ensino básico de várias nacionalidades, por isso falava fluentemente italiano, francês e um pouco de alemão. Além de pianista e músico devotado, tinha um conhecimento abrangente da cultura europeia em geral. Simples, educado e muito simpático, ele tinha um convívio fácil. Contudo, era sempre muito reservado. Ficaria assim por toda sua vida.

JOHN SINGER SARGENT - Duas taças de vinho
Óleo sobre tela - 45,7 x 36,8 - 1874

JOHN SINGER SARGENT - Bordadeiras venezianas
Óleo sobre tela - 55,8 x 78,7 - 1882
Galeria Nacional da Irlanda, Dublin

O gosto pelas artes foi despertado bem cedo pela própria mãe, que era uma aquarelista de horas vagas. Era ela quem incentivava o filho nos exercícios por onde passavam, seja reproduzindo obras de alguns grandes mestres ou registrando tudo aquilo de interessante que viam. Pelo gosto do pai, ele seguiria a carreira naval, mas, logo ficou claro que a inclinação artística falaria mais alto. Em Paris, num novo endereço, coisa que para ele já era rotina, matricula-se no ateliê de ninguém menos que Carolus-Duran, renomado professor e retratista da época, que incentivava muito o estudo com modelo vivo. Esse ensino tradicional deu muita disciplina ao seu aprendizado, fazendo dele um artista consciencioso e seguro daquilo que queria. Mas, Paris se agitava com novas ideias naqueles tempos e Sargent não resistiu a elas. Nessas novas ideias, o Impressionismo lhe acenava como uma bandeira impossível de não seguir. Tornou-se assim, um grande artista simpatizante a esse movimento. Quer pintasse com óleo ou aquarela, tinha pinceladas sempre fluidas e com muita precisão, típicas dos melhores impressionistas da época. Porém, Sargent nunca levaria o Impressionismo até as suas últimas consequências. Conseguiria impor, a partir dali, uma maneira única de pintar, que aliava os ensinamentos tradicionais com a liberdade impressionista.


JOHN SINGER SARGENT - Pequena refeição na varanda
Óleo sobre tela - 51,5 x 71 - Freer Gallery of Art, Washington

JOHN SINGER SARGENT - Catadoras de ostras em Cancale
Óleo sobre tela - 1878

JOHN SINGER SARGENT - Veneziana carregando água
Óleo sobre tela - 64,4 x 70,9 - 1882
Museu de Arte de Worcester, Massachusetts

Em 1876, Sargent visita os Estados Unidos pela primeira vez, juntamente com a mãe e uma das irmãs. A cidadania americana, que lhe era de direito, parece ter exercido um grande fascínio pelo artista, pois se apega facilmente a vida e aos costumes americanos. No verão desse mesmo ano já estaria novamente de volta a Europa, onde reuniria com colegas na Bretanha, para exercícios ao ar livre. Fez vários apontamentos por lá, que originariam na mais importante obra do seu início de carreira: Catadoras de ostras em Cancale. Essa obra lhe renderia uma menção honrosa no Salão de Paris de 1878 e também já denunciava sua veia impressionista, com pinceladas bem espontâneas e com colorido típico daquele movimento.

JOHN SINGER SARGENT - Retrato de Carolous-Duran
Óleo sobre tela - 116,8 x 95,8 - 1879

JOHN SINGER SARGENT - Sra. Henry White
Óleo sobre tela - 221 x 139,7 - 1883
Corcoran Gallery of Art, Washington

Não era apenas um aprendiz do ateliê de Duran, naquela altura já o ajudava na execução de trabalhos importantes. Um retrato de seu mestre, realizado naquele ano, traria uma nova menção honrosa no Salão de Paris de 1879. Isso seria o pontapé inicial para uma nova carreira promissora, a de retratista. O retrato da Sra. Henry White, esposa do primeiro-secretário da Embaixada dos Estados Unidos só faria confirmar essa sua nova fama. Um trabalho altamente cativante, que com certeza deve ter rendido muitas outras encomendas. Foi por volta de 1880, que estreitou amizade com Monet, comprando dele quatro quadros e realizando três retratos com ele.

JOHN SINGER SARGENT - Claude Monet pintando em uma floresta
Óleo sobre tela - 54 x 64,8 - 1885 - Tate Gallery, Londres

JOHN SINGER SARGENT - Madame X, ou Madame Pierre Gautreau
Óleo sobre tela - 208,6 x 109,9 - 1884
Museu Metropolitano de Nova York

Em 1884, já instalado num elegante estúdio no Boulevard Berthier, Sargent deseja inovar em seu trabalho. Fascinado pela beleza de Madame Gautreau, uma americana que se casara com um banqueiro parisiense, consegue convence-la para posar como modelo de um quadro que pretendia experimentar. Colocou-a em uma pose ousada, que muitos julgaram arrogante. Mas, foi o decote do vestido que a modelo usava, criticado como provocante demais para os padrões de retratos da época, que trouxe sérias consequências para suas experiências. A mãe da modelo chegou a exigir que o quadro da filha fosse retirado da exposição, fato não permitido pelo artista. No entanto, aquilo arranhou um pouco o início de sua carreira como retratista em Paris, o que fez com que Sargent se radicasse em Londres em 1885, após uma série de viagens que já realizara por lá meses antes.

JOHN SINGER SARGENT - Adega veneziana
Óleo sobre tela - 53,3 x 69,8 - 1898 - Coleção particular

JOHN SINGER SARGENT - A saída dos barcos
Óleo sobre tela - 1889 - Museum of Art, Rhode Island

JOHN SINGER SARGENT - Lady Agnew de Lochnaw
Óleo sobre tela - 124,5 x 99,7 - 1892 - Galeria Nacional de Edimburgo

Londres era agora seu mais novo endereço. Já estava acostumado com essa vida itinerante e isso com certeza iria trazer novos ânimos ao trabalho. Em 1886, viaja para os Estados Unidos onde, a convite do colecionador Henry Marquand, realizaria um retrato de sua esposa. Não só foi recebido de braços abertos como obteve um enorme êxito numa exposição individual em Boston. Os convites para retratos lhe chegavam aos montes e já havia até uma sondagem sobre o projeto dos murais da Biblioteca Pública de Boston. A última década do século XIX traria muita fama e prestígio para Sargent, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. O retrato de Lady Agnew, executado nesse período, foi saudado como uma obra-prima do artista, consolidando ainda mais sua reputação.

JOHN SINGER SARGENT - Campos do país
Óleo sobre tela - 1885 - Instituto de Artes de Detroit

JOHN SINGER SARGENT - Grupo com sombrinhas
Óleo sobre tela - 1905 - Coleção particular

JOHN SINGER SARGENT - Um córrego na montanha
Aquarela sobre papel - 34,2 x 71,7 - 1907
Museu Metropolitano de Nova York

Requisitado pela mais alta aristocracia, que fazia filas para obter um retrato com o artista, Sargent chegou a ser chamado por Rodin de o Van Dyck dos tempos modernos. Era, nesse período, um artista de situação financeira estável, mas já estava se cansando dos intermináveis retratos que tanto lhe fizeram conhecer o apogeu. Por volta de 1907 se dava ao luxo de recusar quase todas as encomendas. Queria passear mais, explorar novos motivos e novos temas. Assim fez, passando praticamente 3 ou 4 meses em viagens a cada ano, seja nos Alpes, descendo até a Itália, ou mesmo na Espanha. Também viajou ao norte da África e se sentia encantado com o exotismo das culturas diferentes que encontrara por lá. Desde a morte de sua mãe, em 1905, seu gênio se tornou ainda mais introspectivo. Nunca iria se casar, apesar dos rumores de romances com várias modelos e outras amizades.

JOHN SINGER SARGENT - Cashmere
Óleo sobre tela - 71,1 x 109,2 - 1908 - Coleção particular

JOHN SINGER SARGENT - Reconhecendo
Óleo sobre tela - 55,8 x 71,1 - 1911  Palácio Pitti, Florença

JOHN SINGER SARGENT - Envenenados
Óleo sobre painel - 230 x 610 - Museu Imperial da Guerra, Londres

A Primeira Guerra Mundial lhe traria a incumbência de se tornar artista oficial na França, onde fez apontamentos e documentou tudo que via por onde passava. Fez isso com imparcialidade, como um repórter que registra horrores nas batalhas. Descreveu como ninguém, os grupos de feridos e mortos amontoados na lama. Um grupo de soldados feridos por gás mostarda, cuja tela deu o nome de "Envenenados", é uma de suas obras mais significativas desse momento de sua produção. Desde 1890 até 1921, ficou envolvido nos murais para a Biblioteca Pública de Boston, serviço que lhe levou a exaustão, intercalando viagens para fugir da rotina. Ao término da obra, afirmou que “já poderia morrer quando quisesse”. Talvez pelo cansaço com a longa duração da execução dos painéis, o resultado não agradou ao público tanto quanto ele esperava, mas ele sentia com a sensação de dever cumprido.
Em 1925, um dia após um jantar feliz e descontraído organizado pela irmã, Sargent foi encontrado morto em sua cama, vítima de um ataque cardíaco. Tinha 69 anos. Deixou um legado inestimável nas mais de 900 obras que produziu em óleo e mais de 2000 trabalhos em aquarela, além de inúmeros desenhos e esboços. Ainda é uma das mais respeitadas referências no quesito figura humana e um dos grandes artistas que o mundo já teve.

6 comentários:

  1. Como é bom aprender sobre a arte de pintar! Amo pinturas!!!

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  2. Que matéria! obra prima! sou admirador de Sargent, impossível não citar seu nome, como um dos grandes retratistas da história da Arte .... pena morrer tão jovem, embora deixando um grande legado... parabéns por esta belíssima matéria!
    Valeu amigão!

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    1. Há tempos já havia escrito essa matéria, confesso que a dúvida em publicar estava na escolha de tanta boa obra. Acabei optando pelas que ilustravam mais o texto.
      O Sargent é uma referência.
      Abraço, meu amigo!

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  3. Obrigado José em compartilhar tamanha cultura e informações importantíssimas para quem esta iniciando. Gosto do estio do Sargent, e sempre achei um pouco parecido com o do Joaquim Sorolla, que sempre gostei muito.

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    1. Sim, os dois tinham estilos bem parecidos, Rafael. Fizeram um impressionismo sem perder as referências acadêmicas que foram a suas bases.
      Obrigado por vir.
      Grande abraço!

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