Às vezes, fico com receio de
parecer “bairrista” quando falo de Minas. Confesso que não sei me conter com as
coisas com as quais convivo e que me tocam, e me fazem comprovar que eu não
poderia ter nascido em outro lugar. Experimento um sentimento de satisfação muito
grande, quando sinto que outras pessoas, de estados diferentes, também sentem o
mesmo. Será que existe sentimento mais nobre do que compartilhar alegria?
A Semana de Arte Moderna,
ocorrida em São Paulo, em 1922, evidenciou o que para muitos passava
despercebido: se quisermos ter uma arte genuinamente brasileira, temos que
esmiuçar as origens do que forma a cultura desse povo e principalmente
valorizar aquilo que há de melhor para se mostrar no solo brasileiro. Foi assim
em tempos passados. Ainda hoje, muitos artistas buscam nas raízes primitivas do
Brasil, um motivo maior para “abrasileirar” suas obras. Felizmente, posso dizer
com orgulho, que Minas Gerais ainda oferece uma fonte inesgotável para se
perceber as verdadeiras raízes desse país. Seja pela exuberância de sua
paisagem, pela simplicidade de sua gente, pela cultura histórica que resiste
aos solavancos contemporâneos... Não há como contestar: antropofagismo cultural
tem que começar por aqui. Já sabiam disso desde o início do século passado.
Seguindo as trilhas de
Oswald e Mário de Andrade, os artistas Ernandes Silva e Rodrigo Zaniboni
embarcaram para Minas, e por aqui começaram a ruminar novas informações, a darem
um outro sentido às suas maneiras de ver e fazer arte. Fecharam os olhos a
todas as informações artísticas que vinham de outras partes do mundo e se deram
um momento para ver e sentir o que há nas terras mais primitivas do Brasil. A “Expedição
Minas” começou no dia 11 de setembro de 2015 e durou até o dia 20 de setembro
desse mês.
Abordaram primeiramente na
cidade de Timóteo para um rápido workshop e de lá partiram para a pequena
cidade de Dionísio. Nessa cidade, a natureza ainda guarda, com generosidade,
recantos de magia e paz, que só as mentes mais afortunadas sabem perceber. Há
na paisagem de Dionísio uma simplicidade especial, que contém o belo na sua
mais verdadeira essência. Pessoas sem pressa ainda caminham pelas ruas,
cavaleiros tranquilos ainda cruzam as estradas, e o rio corre manso, com uma
velocidade que tecnologia nenhuma irá apressar.
RODRIGO ZANIBONI - Trecho do Mumbaça, Dionísio
Óleo sobre prancha - 25 x 30
ERNANDES SILVA - Um trecho do Mumbaça, Dionísio
Óleo sobre prancha - 30 x 23
Dias nublados se fizeram
presentes no início da caminhada, talvez para evidenciar o que muitos não dão a
devida importância: por mais bela que seja a paisagem, a vedete de toda criação
continua sendo a luz. E ela se fez presente nos últimos dias da estada em
Dionísio. Momento efêmero para captar a paisagem, em toda sua generosa beleza.
Ali, esboçaram ao natural e fizeram várias fotografias, que servirão para referências
de trabalhos futuros.
Uma passagem por Ouro Preto
seria inevitável! Assim como os integrantes da Semana de Arte Moderna, é ali
que os nossos artistas realmente se deram conta que estavam em um local
completamente diferenciado. A cidade desperta algo inexplicável a todos que
passam por lá. Um misto de retorno ao tempo e saudosismo, com o encontro de
várias culturas. Muitos turistas, de várias partes do mundo, fazem de Ouro
Preto uma espécie de Babel mineira. Estar na cidade é o mesmo que participar de
uma grande festa, ter os olhos se extasiando a cada esquina e desejar que o
tempo fique assim, imóvel como aquela cidade secular.
Que Minas, apenas uma parte
dela, tenha despertado uma chama brasileira ainda mais latente em nossos
artistas visitantes. Que possam levar ao mundo, com orgulho, aquilo que só é
possível encontrar aqui. E que, acima de tudo, essa chama aqueça mentes
curiosas e indagadoras de outros artistas do país. O melhor movimento artístico
genuinamente brasileiro começa quando nos observamos melhor, quando nos damos conta
que, é no “quintal de casa” que se encontra a nossa melhor escola. Basta ter
coragem para fazer o caminho para o interior de si e perceber que o melhor de
nós está em nós mesmos.
Ótima postagem lindo texto, vcs estão de parabéns, minas é minas. Abraço
ResponderExcluirGrato pela vinda, Isaque.
ExcluirMuito boa nossa viagem a Ouro Preto. A cidade inspira muito...
Grande abraço!
Deve ter sido dias maravilhosos esses Zé que estes dois grandes artistas Ernandes e Rodrigo Zaniboni estiveram aí com você, que também é outro pintor que admiro muito, ocasião esta que os mesmos poderam proporcionar um workshop para pessoas interessadas por arte e aproveitar as belas paisagens da sua cidade e de Ouro Preto, como também foi uma experiência prazerosa aos mesmos ter a oportunidade de retratar algumas das belas paisagens de Minas. Um abraço. José de Jesus.
ResponderExcluirRecebi sua mensagem, José de Jesus.
ExcluirDias de muito aprendizado por aqui. A vida, como sempre, ensinando...
Grande abraço, amigo!
Muito bom, muito bom mesmo... felicidades...
ResponderExcluirUm grande abraço.
Bom te ver de novo, Vidal.
ExcluirGrande abraço!