WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas (detalhe)
WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas - Óleo sobre tela - 117 x 90 - 1865
Há uma vasta literatura
sobre William Bouguereau, tanto impressa quanto virtual. Um dos mais competentes
artistas de todos os tempos, também é um dos mais polêmicos; que tem um número
cada vez maior de admiradores e seguidores e que no passado também foi um dos
artistas mais injustiçados da história. Esquecido após sua morte, por causa da
crítica impiedosa e implacável de seus opositores, William Bouguereau ficou
quase sete décadas no anonimato, vindo a ressurgir com toda força na década de
70 do século passado. Confirmando aquela máxima de que “ninguém morre, enquanto
for lembrado”, Bouguereau voltou a cena artística da maneira mais honrosa possível:
respeitado pela nova corrente realista acadêmica de todo o mundo, que viu nele
a referência máxima do ideal artístico, especialmente a nível técnico.
WILLIAM BOUGUEREAU - A abdução de Psiqué
Óleo sobre tela - 209 x 120 - 1895
WILLIAM BOUGUEREAU - A juventude de Baco - Óleo sobre tela - 331 x 610 - 1884
Bouguereau teve o privilégio
de viver num período onde o academicismo estava em alta e acabou se tornando um
dos maiores defensores dessa corrente de ensino. Essa, aliás, talvez tenha sido
também a causa maior da perseguição que teve por parte dos modernistas que
emergiam no final do século XIX. Também o fato de ter agradado a grande
classe colecionista e aristocrática de seu tempo, possa ter feito dele um alvo
de inveja por parte de artistas e críticos. Muitos jornais e periódicos do
início do século XX chegaram a classificar Bouguereau como o modelo do artista
que deve ser evitado, por fazer um trabalho vazio e artificial. Isso se tornou
uma cruz pesada no final de sua vida, mas nunca abalou os propósitos de sua
arte. Bouguereau sabia nitidamente aquilo que queria fazer e o fez até os seus
últimos dias. Mesmo nos tempos atuais, há um público muito dividido com relação
aos seus trabalhos.
WILLIAM BOUGUEREAU
Cupido e Psiqué como crianças
Óleo sobre tela - 200 x 116 - 1889
WILLIAM BOUGUEREAU - Lamour piqué
Óleo sobre tela - 116,5 x 62,5 - 1894
William-Adolphe Bouguereau
nasceu na cidade (comuna) francesa de La Rochelle, a 30 de novembro de 1825,
filho do casal Théodore Bouguereau e Marguérite Bronnin. Comerciantes, mudaram
para Saint-Martin, quando William Bouguereau tinha apenas 7 anos, para
começarem uma nova vida nos negócios. Mas não vieram para a cidade num período
muito próspero e acabaram atravessando um momento muito difícil. As coisas se
agravaram a tal ponto, que William foi encaminhado para viver com o tio Eugène
Bouguereau, um membro de melhores posses na família. A sorte não podia ter
sorrido de maneira melhor para o pequeno artista. Eugène tinha uma rica
cultura, alicerçada principalmente nas referências clássicas, na literatura
francesa e no ensino religioso. O mesmo tio que possibilitava e exigia do
sobrinho aprender latim, também era o mesmo que cobrava rigores em aprendizados
como caça, equitação e gosto por temas ecológicos.
WILLIAM BOUGUEREAU - Contemplando a criança - Óleo sobre tela - 76,2 x 95,2 - 1871
WILLIAM BOUGUEREAU - Distração - Óleo sobre tela - 61 x 50,2 - 1868
Localizada na região administrativa
de Poitou-Charentes, Pons é uma cidade (comuna) francesa localizada no
departamento de Charente-Maritime. Naquela época, possuía uma escola de
referência em todo o país, e é para onde William foi enviado pelo dedicado tio,
no ano de 1839. Numa instituição religiosa austera, a intenção do tio era que o
sobrinho aprofundasse ainda com mais critério nos conhecimentos clássicos. Ali,
William aprendeu praticamente de tudo disponível até aquele momento sobre o
mundo antigo, desde a Mitologia Grega à história de todos os continentes,
passando pelos mais renomados poetas da antiguidade, como Ovídio e Virgílio.
Simultaneamente, fazia aulas de desenho com Louis Sage, um antigo aluno do
neoclassicista Ingres.
WILLIAM BOUGUEREAU - Convoitise
Óleo sobre tela - 65,4 x 44,1
WILLIAM BOUGUEREAU - Adormecendo - Óleo sobre tela - 61,6 x 51,4
A família de William Bouguereau
recuperou-se do mau momento financeiro e o filho voltou a morar com o casal em
1841. Eles foram inclusive, tentar novos negócios em Bordeaux. Mesmo que
dedicasse bastante para seguir o ramo do pai, os desenhos que William fazia em
seus intervalos atraíam imensamente a atenção dos clientes da família. Foi pela
insistência desses, que o pai de William o matriculou na Escola Municipal de
Desenho e Pintura, sob os cuidados de Jean-Paul Alaux. Os avanços foram tão
rápidos, que já em 1844, o iniciante artista recebe seu primeiro Prêmio em
Pintura. Na procura por ajudar os negócios da família, William ainda elaborava
rótulos para produtos alimentícios.
WILLIAM BOUGUEREAU - Ninfas e sátiro
Óleo sobre tela - 260 x 180 - 1873
WILLIAM BOUGUEREAU - Le livre d'heures
Óleo sobre tela - 66 x 53,3 - 1867
Em 1846, acontece um passo
decisivo na carreira de William. Por uma recomendação de seu mestre Alaux e
mediante as economias feitas com a produção de retratos na cidade onde morava,
ele é admitido na Escola de Belas Artes de Paris, instituição que se tornaria
um marco em sua vida. Foi com François-Édouard Picot que William se aperfeiçoou
no método acadêmico e nunca desvencilharia dele. A dedicação e o envolvimento
era tão intenso, que o jovem aluno chegava a pintar e desenhar por cerca de
vinte horas por dia e mal se alimentava. Não bastassem os ensinamentos próprios
de seus estudos, assistia a dissecações de cadáveres para se aprimorar no
desenho anatômico e também fazia Arqueologia e História. O resultado já se
fazia evidente em seus trabalhos, que mesmo em início de carreira, já se
mostravam completamente bem acabados e resolvidos. Um fato inédito aconteceu nessa
época, quando ele, iniciante em salões, dividiu o primeiro prêmio com Gustave
Boulanger, o Prêmio de Roma, nome dado ao prêmio máximo entregue pelo Salão de Paris e o mais cobiçado daquela época. Uma espécie de oscar da pintura naqueles tempos. Dois anos
depois, ele venceria o prêmio mais uma vez. Os caminhos já estavam mais que
solidificados para o artista.
WILLIAM BOUGUEREAU - Blessures d'amour
Óleo sobre tela - 191,8 x 114,3 - 1897
WILLIAM BOUGUEREAU - Depois do banho
Óleo sobre tela - 178 x 88,5 - 1875
Mas, William Bouguereau
sentia uma vontade de aprendizado que não cessava. Ele monta um estúdio na
Villa Medici, em Roma, e mais uma vez se põe a estudar e aprender. Agora, com
os mestres do renascimento italiano. Ele teve orientações de Victor Scnetz e
Jean Alaux nessa sua nova fase. Rafael tornou-se a referência mais admirada por
Bouguereau. Ele não só gostava de tudo que ele havia produzido, como o achava
um dos mais originais artistas do renascimento italiano. Giotto foi outro
artista italiano que muito inspirou Bouguereau, chegando a reproduzir todos os
seus afrescos contidos na Basílica de Assis. Muitos artistas já consagrados
elogiavam e referenciavam Bouguereau e suas obras. Ele já era agora um artista
de respeito e bastante procurado.
WILLIAM BOUGUEREAU - A lição
Óleo sobre tela - 116,8 x 80,6 - 1895
WILLIAM BOUGUEREAU - Admiração maternal
Óleo sobre tela - 116,8 x 90,8
Com a vida profissional em
avanço contínuo, Bouguereau casa-se com Marie-Nelly Monchablon, no ano de 1856.
Eles teriam cinco filhos e Bouguereau perderia quatro deles, ao longo de sua
vida. Começava ali uma de suas décadas mais promissoras, com obras que
praticamente o consagrariam com uma das maiores revelações de sua época. Pintou
retratos para o imperador e sua família, decorou espaços públicos e produziu
vários trabalhos no estúdio. Se até então, seus trabalhos eram evidenciados
pela produção histórica e religiosa, a década de 1860 viria nascer um
Bouguereau diferenciado, que atendia ao gosto do público requintado e culto de
Paris. Sua paleta ganha novas cores e o nível técnico de seu trabalho atinge o
ápice.
WILLIAM BOUGUEREAU - Homero e o seu guia
Óleo sobre tela - 209 x 143 - 1874
WILLIAM BOUGUEREAU - Menina com uma romã
Óleo sobre tela - 56,9 x 45,7 - 1875
De relacionamento fácil no
meio artístico, Bouguereau estabelece fortes laços de amizade com Jean-Marie
Fortuné Durand e seu filho Paul Durand-Ruel. Conhecidos marchands na cidade,
apresentam a ele Adolphe Goupil, mais um comerciante das artes que sabia os
caminhos das grandes coleções particulares. Bouguereau passa a participar efetivamente
dos salões que aconteciam na capital francesa e a colecionar títulos em
sequência. Sua fama não se restringia somente à França. Da Inglaterra, viriam
várias encomendas importantes. O momento econômico favorável permitiu que ele comprasse
uma mansão em Montparnasse.
WILLIAM BOUGUEREAU - Moissonneuse
Óleo sobre tela - 106,5 x 85 - 1868
WILLIAM BOUGUEREAU - Todos os santos - Óleo sobre tela - 61 x 50,8
A Guerra entre a França e a
Prússia, em 1870, mudaria um pouco a rotina de Bouguereau. Ele deixa a família
em Londres, onde passavam férias e retorna a Paris, para ajudar na defesa de
barricadas, mesmo já sendo isento do serviço militar, devido a sua idade. Findo
o período de batalhas entre os dois países, volta suas atividades, decorando
catedrais e realizando vários retratos. Sua vida intercalava momentos de muita
alegria e reputação, com momentos tristes, com a perda de entes queridos. As
aulas na Academia Julian, iniciadas nessa mesma época, eram um alento para o
período.
WILLIAM BOUGUEREAU - Frère et souer
Óleo sobre tela - 180,5 x 81,2 - 1887
WILLIAM BOUGUEREAU - O caranguejo
Óleo sobre tela - 81,3 x 65,4 - 1869
Um dos períodos mais tristes
da vida particular do artista aconteceria em 1877, quando falecem sua esposa e,
dois meses depois, um de seus filhos. Como que por compensação, o artista se
isola ainda mais em seu trabalho, produzindo a partir dali, as suas obras
maiores e mais ambiciosas. Em 1878, a grande medalha de honra, na Exposição
Universal o coroava ainda mais no meio artístico. Em 1879, William fica noivo
de Elizabeth Gardner, com quem só viria a casar em 1896, pois a família não era muito conivente com a união.
WILLIAM BOUGUEREAU - Na praia
Óleo sobre tela - 95,9 x 61,6 - 1903
WILLIAM BOUGUEREAU - Pescando
Óleo sobre tela - 137,2 x 106,7 - 1882
Enquanto na década de 1880,
sua carreira chegava ao auge, produzindo grandes encomendas e realizando obras
importantes, recebendo inclusive o Prêmio de Comendador da Ordem Nacional da
Legião de Honra, começava também o embate com grupos pré-modernistas. Como era
presidente da Sociedade dos Artistas Franceses, a mesma que organizava e
administrava os salões, William tinha opiniões bastante rigorosas quanto a
seleção e exposição das obras em cada evento. As discussões ficaram cada vez
mais sérias, a ponto de em 1889, um grupo liderado por Ernest Meissonier criar a
Sociedade Nacional das Belas Artes, que passou a realizar um salão
dissidente. Isso começou a afetar bastante a imagem de Bouguereau junto ao meio
artístico francês. Se por um lado, as coisas não iam bem “em casa”, o mesmo não
podia se dizer do seu reconhecimento fora, onde era homenageado na Alemanha e
na Inglaterra.
WILLIAM BOUGUEREAU - O lanche da manhã
Óleo sobre tela - 90,8 x 55,9 - 1887
WILLIAM BOUGUEREAU - A onda - Óleo sobre tela - 121 x 160,5 - 1896
Golpe maior
aconteceria em 1900, quando morre o quarto filho de Bouguereau, Paul. A partir
daquele momento, William já não teria mais uma saúde estável e em 1902, um
problema cardíaco o deixaria ainda mais debilitado. Momentos de reconhecimento
e de alegria viriam com a aclamação de sua obra enviada à Feira Mundial,
principalmente com o título que faltava em sua vida: Grande-Oficial da Ordem
Nacional da Legião de Honra, em 1903. Bouguereau ainda teria tempo para as
celebrações do centenário da Villa Medici, em Roma e uma rápida viagem a
Florença. Muitos convites para homenagens e condecorações vinham de várias
cidades da Europa, mas a sua saúde já não permitia mais tantas viagens. Com a
saúde cada vez mais precária, já não consegue nem mais pintar, nos meses finais
de 1904. Pressentindo sua morte iminente, ele se refugia onde começou sua vida,
em La Rochelle, mudando-se para lá em julho de 1905. Ali, morreria no mês
seguinte, dia 19 de agosto.
WILLIAM BOUGUEREAU - Autorretrato
Óleo sobre tela - 46 x 38 - Coleção particular - 1879
Um dos artistas que tenho grande admiração...Já lí bastante sobre ele e aprendi um pouco mais agora....Parabéns pela matéria! Abraço
ResponderExcluirValeu, Jesser.
ExcluirGrande abraço, amigo!
Mestre.
ResponderExcluirEsse é realmente um mestre incontestável, Irisney.
ExcluirGrande abraço!
Um mestre... grande mestre!
ResponderExcluirMatéria como uma obra prima...maravilhosa!
Um abração!
Sempre bom vê-lo por aqui, Vidal.
ExcluirUm grande abraço!
Um dos maiores artistas figurativo de todos os tempos.
ResponderExcluirComo sempre, uma ótima matéria.
Luz e paz. Grande abraço.
Que infelizmente teve sua carreira sepultada por um longo tempo.
ExcluirGrande abraço, Quimas!
possuo um livro escrito por David Hockney - artista a quem muito admiro - e que faz uma referência bastante desrespeitosa ao conjunto da obra de Bouguereau e especificamente à tela A ONDA, que aparece em seu post. apenas para citar mais um exemplo de gente esclarecida a desmerecer a obra desse grande mestre. sempre aprendendo por aqui...abraço!
ResponderExcluirSão vários críticos e artistas que desmereceram o trabalho de Bouguereau, ao final de sua vida e após sua morte. Esse é o tema principal da parte 2 da matéria.
ExcluirObrigado, Paulo. Abraço!
É um dos artistas mais fantásticos que existiu.É impressionante a qualidade fotográfica dele, o traço único delicadíssimo, as feições femininas duma delicadeza transcendental.Arista magnífico.
ResponderExcluirO ápice da arte em seu estilo.
ExcluirGrande abra e obrigado por vir.