JEAN BÉRAUD - Bois de Boulogne - Óleo sobre tela - 45,7 x 58,4
JEAN BÉRAUD - Bois de Boulogne - Detalhe
A Arte deve a sua
perpetuação não apenas aos artistas que a produzem, mas também aos muitos colecionadores
e mecenas que a sustentaram e sustentam em todos os tempos. Muitas pessoas
entendem, desde cedo, que relacionar com a arte é uma maneira saudável de
relacionar com a vida, por isso iniciam a sua instigante e prazerosa aventura
de adquirir e colecionar objetos de arte. Há grandes coleções que estão quase
que exclusivamente restritas sob o domínio de poucos proprietários, pessoas que
herdaram ou construíram um importante patrimônio em todas suas vidas. Mas, há
também pequenas e importantes coleções, frutos do amor devotado e gratuito
àquilo de mais belo que o ser humano pode produzir. Muitos jovens admiradores
de arte, com uma aguçada visão cultural, começam cedo suas coleções e tomam por
elas um gosto e um apreço incalculáveis. E não fazem isso apenas com o intuito
de posse e investimento. A arte proporciona prazeres inimagináveis para aqueles
que podem e tem a oportunidade de coleciona-la. Quem coleciona e guarda um
objeto de arte, sabe que o está fazendo pela manutenção da história. A presente
matéria trata exclusivamente de uma pequena parte da coleção de Margaret
Thompson Biddle, um dos nomes mais fortes do colecionismo americano.
Margaret Thompson (esquerda) em Paris
Margaret Thompson Biddle e seu marido Tony Biddle
Margaret Thompson Biddle
nasceu no estado americano de Montana, no ano de 1896, filha do milionário
William Boyce Thompson. Dono de fartas minas de cobre nas vastas planícies do
oeste americano, William Thompson deixou uma grande fortuna para sua filha. Educada
no mais tradicional sistema e cultivando desde cedo um gosto nato por tudo que
envolvia arte, Margaret Thompson Biddle logo se tornou uma colecionadora
eficiente e com um olhar seletivo aguçado. Inteligente e bela, possuía um
charme e bondade de coração ímpares. Ela passou grande parte de sua vida na
França, e estar entre Paris e a Riviera Francesa, recebendo amigos americanos e
a mais alta sociedade francesa, era a sua atividade predileta. Ela conhecia
todo mundo de importância na capital francesa e convivia muito bem com
artistas, escritores e políticos.
JEAN BÉRAUD - A conversa - Óleo sobre tela - 55,9 x 39,3
JEAN BÉRAUD - A dança
Óleo sobre painel - 26,6 x 15,3
JEAN BÉRAUD - Courses rue de la paix - Óleo sobre painel - 41 x 32,4
Paris atraía cada vez mais
americanos, tanto no final do século XIX, quanto início do século XX. Eles
lotavam hotéis, movimentavam a economia das muitas lojas e restaurantes da
cidade, e se envolviam cada vez com o ritmo de vida, tão diferente das terras
americanas. Juntamente com os turistas, vinham também escritores, arquitetos e
artistas, ansiosos por se inscreverem em escolas renomadas da cidade-luz. Paris
ensinou ao americano comum a respirar arte e se apaixonar por ela. Entre esses
grupos, algumas mulheres se destacavam, conquistando seu espaço na sociedade e
impondo um novo respeito à classe feminina. Margaret era uma delas. Seja em seu
apartamento em Nova York, numa mansão em Paris ou mesmo na Riviera, todos os
visitantes recebidos em suas propriedades se deliciavam com o grande número de
obras que Margaret Thompson ia acumulando em sua vida. Muitas obras foram
adquiridas com o intuito de ajudar artistas em dificuldade, chegando a manter
muitos deles por longos anos. Outras, foram colhidas em visitas a velhos
antiquários ou adquiridas de famílias que se desfaziam de obras herdadas. Por
todos os espaços, obras de Corot, Gauguin, Renoir, Monet, Galien-Laloue, Lépine
e tantos outros. E, em especial, um grupo de várias obras do artista Jean
Béraud, que são o foco dessa matéria.
JEAN BÉRAUD - Cena ao sul dos Champs Élysées - Óleo sobre tela - 36,8 x 53,3
Antes e depois de restaurada
JEAN BÉRAUD - Ao lango do Sena - Óleo sobre painel - 37,8 x 54,6
JEAN BÉRAUD - Entrada do Pequeno e Grande Palácio, Avenida Alexandre III
Óleo sobre painel - 37,8 x 54,9
Provavelmente foi o amor
incondicional por Paris, que despertara em Margaret o gosto por obras que
retratassem a cidade e a sua vida. Ninguém fazia isso melhor naqueles tempos
que Jean Béraud. E ninguém colecionava mais as suas obras do que ela. As obras
de Béraud acabaram por se tornar quase que um guia da cidade. Ele parecia saber
capturar todo o sentimento que tinha tanto o francês como o americano pela
capital francesa. Em palavras de um cronista da Sotheby’s, “as composições de
Béraud são duradouras visões de momentos fugazes de prazeres urbanos”. Béraud era
extremamente rigoroso. Ele viajava pela cidade em uma espécie de estúdio móvel,
capturando os eventos e as cenas mais corriqueiras que aconteciam em todos os
cantos. O próprio Béraud afirmou certa vez: “Quando você pintar cenas da vida
cotidiana, tem que coloca-las em seu contexto e dar seu ambiente autêntico”.
Esse sentimentalismo colocado na obra que despertou em Margaret Thompson o
forte interesse em coleciona-la. As obras de Béraud, presentes na coleção de
Margaret Thompson, se tornaram uma espécie de janelas para o passado, que
nutriram nela, até morrer subitamente, em 1956, um amor intemporal pela cidade
de Paris.
Esquerda: JEAN BÉRAUD - Um gentlemen - Óleo sobre painel - 27,9 x 14,6 - 1873
Direita: JEAN BÉRAUD - Uma serviçal - Óleo sobre tela - 65,7 x 40
Abaixo: JEAN BÉRAUD - Mulher contemplando uma tela - Óleo sobre painel - 8,9 x 6,7
Todas as obras de Béraud,
aqui apresentadas, estavam armazenadas em um cofre, desde a morte de sua
proprietária. Como não haviam sido restauradas desde então, várias delas
estavam impregnadas de marcas do tempo. Fumaças de charutos, poeira,
fuligens... Béraud utilizou telas e painéis de madeira para a execução das
obras. Ele viveu numa época relativamente estável para os artistas e utilizava
bons materiais para executar os seus trabalhos, talvez por isso, mesmo com
vários anos sem manutenção, as obras ainda se encontravam em relativo bom
estado. A restauração trouxe a luz cores vibrantes e tons que o tempo havia
escondido, como mostram algumas cenas antes e depois da restauração. Essas
obras foram a leilão pela Sotheby’s, em 18 de maio de 2016. Elas atingiram a marca
de quase 5 milhões de dólares.
Antes e depois de restaurada
JEAN BÉRAUD - Les grand boulevards Cafe American - Óleo sobre painel - 36,2 x 53,3
JEAN BÉRAUD - Les grand boulevard - Detalhe
Esquerda: JEAN BÉRAUD - La loge - Óleo sobre painel - 45,4 x 37,5
Direita: JEAN BÉRAUD - Uma mulher descendo de uma carruagem
Óleo sobre painel - 46 x 36,8
como sempre mais uma matéria que encanta e nos traz grandes aprendizados
ResponderExcluirPensando em você ao escrevê-la, meu amigo.
ExcluirVocê e sua coleção...
Grande abraço!
Belíssima matéria... se todos cultivassem este prazer, com certeza o mundo seria outro...
ResponderExcluirUm grande abraço meu amigo!
Obrigado mais uma vez pela vinda, Vidal.
ExcluirDesejo um ótimo dia por aí!