sábado, 28 de julho de 2018

A ARTE NO SÉCULO XIX: Parte 3

ANSELM FEUERBACH - O julgamento de Paris
Óleo sobre tela - 228 x 443 - Entre 1869 e 1870 - Museu Kunsthalle, Hamburgo
Artista alemão que passou por Paris e Roma e soube aliar
os ensinamentos de várias correntes artísticas:
o rigor neoclássico, a interpretação romântica e
um colorido diferenciado de seu tempo.

Tanto na arte, como em qualquer outro campo das relações humanas, a democracia se faz algo imperativo. Na arte, em especial, essa virtude parece ganhar uma lente de aumento, uma vez que cada artista expressa a sua realidade e qualquer dificuldade em conviver com isso tornaria essa uma das atividades humanas mais insuportáveis. Uma vez que cada ponto de vista torna um posicionamento pré-estabelecido, somente a democracia para viabilizar o convívio entre artistas e admiradores. No início do século XIX, esse conviver com as “diferenças” passou a ganhar uma conotação mais forte. A arte deixava o ambiente aristocrático e começava a ganhar o grande público. O novo sistema econômico, cambiando cada vez mais do agrário e colonial para o industrial e citadino, possibilitava a qualquer cidadão mais bem estabelecido, começar a usufruir do prazer de apreciar uma obra em sua casa. Também ampliavam as correntes artísticas e os estilos pareciam defender bandeiras e ideologias. Não vamos esquecer de um importante detalhe: o século XIX é o século dos contrastes.

DOMENICO MORELLI - Banho em Pompeia - Óleo sobre tela - 1861
Um artista versátil, que soube aliar influências neoclássicas, realistas e
com um colorido que se aproximava das novas
experiências que chegariam futuramente ao Impressionismo.
O Simbolismo também fez parte de sua obra, em
uma etapa mais madura de sua carreira.

Conviviam, ao mesmo tempo, o Academicismo, o Neoclassicismo, o Romantismo e expressões ainda tardias do Barroco e Rococó. Isso tenderia a aumentar ainda mais, conforme encaminhasse o século XIX. Muitas outras correntes seriam derivadas do Neoclassicismo e Romantismo, a citar, apenas pelo momento, o Naturalismo e o Realismo. Estas trariam variações que levariam ao Impressionismo e muitas outras correntes ditas “modernistas”. Alguns artistas faziam até mais de uma tendência, e veremos isso em grande parte daqueles que não tiveram um posicionamento político, quando abraçaram tais movimentos. O certo é que “democracia” parece ter sido uma virtude muito empregada naqueles tempos. Isso às vezes fugia ao controle, e, muitos nomes influentes naquele tempo não deixaram boas lembranças. Apenas para citar como exemplo, as “rusgas” frequentes entre Bouguereau e os ditos movimentos “alternativos”.

THOMAS COLE - O curso do Império, Destruição - Óleo sobre tela - 100,3 x 161,2 - 1836
Pintor norte-americano, mais conhecido como o fundador
da Escola do Rio Hudson. Os anos de estudo na Itália,
nas duas temporadas que passou por lá, fizeram dele
um admirador confesso da cultura romana, tanto
que produziu uma série com 5 grandes telas que
narram a trajetória do Império romano, desde o
apogeu à sua decadência.
O Romantismo tornou-se marca em suas obras
de paisagens norte-americanas.

Uma coisa não se pode negar, quase todos os influentes artistas do século XIX foram franceses e todas as revoluções que se produziram nas artes plásticas tiveram a França por teatro. As razões que se invocam em geral para explicar esta proeminência parecem insuficientes. Outros países, além da França, tiveram então períodos brilhantíssimos, tanto no aspecto econômico como no aspecto literário, filosófico ou musical. Muitos artistas competentes e até respeitados de outros países, acabavam indo se instruir em Roma e outros pontos da Itália, mas o endereço final de suas caminhadas quase sempre era Paris. Certos artistas obtiveram, sem dúvida, êxitos ao mesmo tempo encorajadores e remuneradores, mas outros foram incompreendidos e tiveram de lutar duramente contra a miséria. Contudo, o século XIX ficará provavelmente como o grande século da arte francesa. Mas, encontraremos e veremos excelentes representantes da arte do século XIX fora da França e inclusive fora da Europa. Essa etapa de nossa viagem ao século XIX será exatamente para conhecermos alguns nomes de destaque daquele século, fora da França. Todos tiveram influências das escolas romanas e ou francesas.
Como vimos até aqui, muitos eram os artistas de outras nacionalidades que foram estudar em Roma ou Paris. Em Roma, iam atrás das referências históricas e em Paris, iam atrás das referências técnicas. Ainda falaremos bastante sobre os diversos artistas e suas nacionalidades, mas, por enquanto, os destaques vão para esses três nomes a seguir: Karl Bryullov, Lord Leighton e Henryk Siemiradzki.

KARL BRYULLOV - O último dia de Pompeia
Óleo sobre tela - 456,5 x 651 - Entre 1830 e 1833 - Museu Russo, São Petersburgo



KARL BRYULLOV
Karl Bryullov nasceu em São Petersburgo, na Rússia e é considerado a figura-chave da transição do Neoclassicismo russo para o Romantismo. Ele se sentiu atraído pela Itália desde seus primeiros anos. Apesar de sua educação na Academia Imperial de Artes (1809-1821), Bryullov nunca abraçou totalmente o estilo clássico ensinado por seus mentores e promovido por seu irmão, Alexander Bryullov. Depois de se distinguir como um estudante promissor e imaginativo e terminar sua educação, ele deixou a Rússia para morar em Roma, onde trabalhou até 1835 como retratista e pintor de gênero, embora sua fama como artista tenha ocorrido quando ele começou a pintar a história.



Sua obra mais conhecida, O Último Dia de Pompeia, criou uma sensação tão positiva na Itália que estabeleceu Bryullov como um dos melhores pintores europeus de sua época. Ela é uma mistura de Neoclassicismo, Romantismo e Barroco. Depois de concluir este trabalho, ele triunfantemente retornou à capital russa, onde fez muitos amigos entre a elite aristocrática e intelectual e obteve um alto cargo na Academia Imperial de Artes. Enquanto ensinava na academia (1836–1848), ele desenvolveu um estilo de retrato que combinava uma simplicidade neoclássica com uma tendência romântica e sua propensão ao realismo era satisfeita com um nível intrigante de penetração psicológica. Portanto, é um exemplo clássico do artista que se desenvolvia bem naquele século: não se prendia a estilos e posicionamentos rígidos.

LORD LEIGHTON - A celebrada Madonna de Cimabue é levada pelas ruas de Florença
Óleo sobre tela - 222 x 521 - Galeria Nacional, Londres

LORD LEIGHTON
Frederic Leighton, conhecido mais como Lord Leighton, nasceu na Inglaterra. Ele recebeu seu treinamento artístico no continente europeu, primeiro de Eduard von Steinle e depois de Giovanni Costa. Aos 17 anos, no verão de 1847, ele conheceu o filósofo Arthur Schopenhauer em Frankfurt e pintou seu retrato, em grafite e guache sobre papel - o único estudo completo conhecido de Schopenhauer feito em vida.




Quando ele tinha 24 anos, foi para Florença e estudou na Accademia di Belle Arti. De 1855 a 1859 viveu em Paris, onde conheceu Ingres, Delacroix, Corot e Millet. Por essa rápida introdução sobre esse artista, é possível entender as suas influências neoclássicas, acadêmicas e mais tarde, como um defensor do Esteticismo Britânico. Essa multiplicidade estilística seria uma marca constante dos grandes nomes da pintura do século XIX. Em 1860, mudou-se para Londres, onde se associou aos pré-rafaelitas. Em 1864, ele se tornou um associado da Royal Academy e em 1878 tornou-se seu presidente (1878-1896).

HENRYK SIEMIRADZKI - O julgamento de Paris - Óleo sobre tela - 99 x 227 - 1892

HENRYK SIEMIRADZKI
Henryk Siemiradzki Foi um pintor polonês que concluiu sua formação em Roma, mais lembrado por sua monumental arte acadêmica. Ele era particularmente conhecido por suas representações de cenas do antigo mundo greco-romano e do Novo Testamento, de propriedade de muitas galerias nacionais da Europa. Embora tenha chegado a Roma em 1872, muitos anos depois das grandes transformações ocasionadas no início daquele século, a influência da arte antiga é notada em todas as suas composições. Além de retratar as cenas da antiguidade, muitas vezes fazia cenas pastorais ensolaradas ou composições que apresentam as vidas dos primeiros cristãos. Ele também pintou cenas bíblicas e históricas, paisagens e retratos. Mais um grande artista do século XIX que soube aliar informação histórica, técnica e tradição em sua obra.




Na próxima matéria, veremos o surgimento do Romantismo e suas influências na arte do século XIX.

VEJA TAMBÉM AS MATÉRIAS ANTERIORES:


2 comentários:

  1. Essas matérias sobre o século XIX está muito gostosa de ler meu amigo!
    Muito obrigado pelo material que vc disponibilizou aqui!
    Parabéns!!!!

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    1. Obrigado, Ernandes. Elas continuam por um bom tempo. Há muito o que falar daqueles tempos.

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