“... O mistério da vida me
causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza e a verdade,
cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode
experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram.” (Albert
Einstein)
Logo no início do livro Como Vejo o Mundo, Albert Einstein nos
deixa excelentes reflexões acerca do mundo e da vida. São as visões de alguém
com uma capacidade perceptiva enorme, mas acima de tudo, a visão de um
humanista, que devotava uma grande admiração pelas coisas simples e pelo
fascínio de se encantar com cada uma delas. Muito mais conhecido pelos seus
grandes experimentos e teorias no campo da Física, foi um humanista que dedicou
seus últimos anos; mesmo que reclusos; na defesa da construção de ideais que
incluíssem a paz e a promoção de um mundo melhor.
SIR LAWRENCE ALMA-TADEMA - Comparações
Óleo sobre tela
A ciência nos afirma que
estamos aqui há milhões de anos, que evoluímos de espécies anteriores e que
esse processo de evolução torna cada ser desse planeta uma entidade especial.
Todas as transformações físicas passadas pelos nossos ancestrais, conquistadas
no processo evolutivo desses milhões de anos, foram adaptações do nosso corpo
às condições que foram se manifestando no planeta. Somos do jeito que somos,
fisicamente falando, graças a um processo de hominização que nos permitiu ser
assim, adaptando e evoluindo até chegarmos a nossa condição atual, quando há
cerca de 7 milhões de anos seguimos um caminho diferente de outros primatas
parentes nossos. Somos especiais? Do ponto de vista apenas físico, não somos
mais especiais que uma formiga. Mas, algo nos tornou enormemente diferentes das
outras espécies. Foi pela humanização que nos diferenciamos de todos os outros
seres. A diferença mais importante entre nós e todas as outras espécies é que
não vivemos apenas para o presente, pela intensa preocupação existencial de
sobrevivência. Buscamos referências em nosso passado e nos orientamos nele para
construirmos nosso futuro. Nenhuma outra espécie no planeta pensa e age assim.
Como nos humanizamos?
Preocupamos com os nossos
semelhantes e com as outras espécies, mesmo sabendo que muitas delas são até
nossos concorrentes na cadeia de sobrevivência. Grande parte de nós, nem todos,
se comove com a degradação acelerada do ambiente em que vivemos e uma parcela
até considerável, luta para que ele permaneça nas melhores condições possíveis,
para que possamos ter uma vida com melhor qualidade. Por vezes, lutamos pelo
direito de excluídos e minorias, e muitos de nós ainda mantém acesa a chama da
esperança de que dias melhores nos esperam. Humanizar é um processo que inspira
coletividade, que nos faz abandonar nossa casca do egoísmo e da indiferença.
Fazer planos para a humanidade é planejar algo para mim e para todos aqueles
que dividem esse planeta comigo.
MARGUERITE GÉRARD - Artista pintando e retrato de uma musicista
Óleo sobre tela
Várias atitudes comprovam o
processo evolutivo de nossa humanização, mas nenhuma delas tem força maior que
a nossa manifestação artística. É a arte que comprova nossa trajetória na
história e nos faz permitir olhar os passos que nos trouxeram até aqui.
Registrando em textos, esculturas, pinturas, construções, compondo músicas e
interpretando em palcos a nossa existência, evoluímos em nossa caminhada. A
arte nos promove à nossa condição humana mais especial. Principalmente ela, nos
permite olhar e encantar com o passado e sonhar e projetar um melhor momento
futuro. A arte tem o poder da transcendência. Quem faz arte vive além da vida
de seu próprio corpo físico. Pouco nos importa, por exemplo, como era Michelangelo,
se era baixo, magro, forte... sua arte lhe representa sem que precisamos lhe
conceber uma forma física. Para a
humanidade, isso é o suficiente.
“A superioridade do homem
sobre os restantes seres da natureza, é devida aos seus pensamentos inúteis”, já
dizia Paul Valéry. Joan-Josep Tharrats completa assim o raciocínio de Valéry: “Se
a gente não tivesse essa necessidade de coisas sobrantes, não teríamos superado
o nível dos irracionais. A arte é uma realidade inútil, mas são precisamente as
coisas inúteis as que fazem vibrar a humanidade”. A arte, enquanto excesso
luxuoso de nossa produção, sempre teve o papel de refinar o espírito humano, de
aproximá-lo por alguns instantes; do que o próprio homem concebeu; de uma
centelha divina. Também é pela arte que atingimos o ápice de nossa liberdade,
fugindo com maior satisfação das forças manipuladoras do mundo atual, onde tudo
parece mecanizado, programado e vigiado. Há, por isso, uma responsabilidade
enorme para não deixarmos que a liberdade conquistada no fazer artístico seja
algo puramente egoísta, que não comungue com a promoção de melhores condições
para a toda a humanidade. Nesse sentido, muitas manifestações artísticas
recentes acrescentam pouco ao coletivo, supervalorizando o mundo individualista
de quem as criou. Mas isso já são motivos para novas divagações filosóficas.
VICENTE ROMERO REDONDO - No ateliê do artista - Pastel
Estamos certamente
numa encruzilhada. O que se tem produzido atualmente, em muitos segmentos
artísticos, caminha para um comportamento quase irracional, animal mesmo.
Produtos do momento, sem referencias ao passado e sem a preocupação em formar
uma melhor sociedade futura. A arte, como a ferramenta mais valiosa que temos,
para produzir e construir um mundo melhor, corre o risco de não se tornar mais,
aquilo que conseguimos produzir de mais nobre até aqui. Que sejamos todos,
humanistas devotados em construir um mundo melhor, assim como
Einstein se empenhou em seus últimos anos. Estaremos assim contribuindo para
justificar o título que nós mesmos nos damos, de criaturas especiais e
diferenciadas deste planeta.
A humanização está presente em todos que acreditam que um mundo coletivo, supera todas as barreiras da ignorância, tornando a evolução não apenas em palavras, mas em atos...
ResponderExcluirBom final de semana, felicidades...
E como temos esquecido de pensar pelo coletivo...
ExcluirObrigado por vir, Vidal.
Um grande abraço!
Se a arte tem alguma função, é a de humanizar, isto é, tornar ativo todo o ilimitado potencial humano. A vida sem arte é desumana.
ExcluirBelo texto José,
Grande Abraço!
Certamente, Isabelle.
ExcluirEngenheiros do Havaí tem uma bela letra pra isso: "Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter!"
A Arte nos proporciona belos e incomparáveis sonhos.
Grande abraço!
A arte nos desperta a conciência, de ser, de ver e refletir sobre si mesmos em relação aos outros e ao mundo.
ResponderExcluirConsciência cada vez mais perdida nos últimos tempos, não Paulo?
ExcluirGrande abraço a todos por aí!