JOSÉ ROSÁRIO - A dança das esferas - Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2008 - Coleção particular
Sigo
o curso das estrelas?
Eu
me proponho a ordem dos mundos ou abraço ao caos?
Por um instante, saio da
minha restrita pequenez e me permito passear pelo universo. De início, a
lucidez do infinito me assusta. Aqui e ali, galáxias se expandem e seguem seus
cursos. Serenas! Diante dos meus olhos, um turbilhão de energia que se organiza
constantemente. Não há rebeldia, nenhum corpo celeste vai em direção contrária
aos seus propósitos. Gravidade atrai e repele, com a precisão cirúrgica que
miseravelmente não sabemos conceber. Dentro de cada estrela, uma pequena fração
da misteriosa energia que gera a vida.
Mas, o universo é
superlativo demais. Em uma proporção infinitamente menor, volto ao meu planeta.
A mesma ordem se revela aos meus olhos. Minerais se organizam e edificam todas
as estruturas, numa sinfonia que até então me era estranha. No compasso das
estações, tudo se recolhe ou desabrocha. A água tem o seu ciclo e está
novamente em tudo que é vivo, como a misteriosa energia das estrelas. Um reino
servindo ao outro, numa cadeia de sobrevivência sob o respeito de uma batuta
invisível. Novamente, a ordem natural das coisas se estabelece sob meus olhos.
E me encontro em mim.
Em meu corpo, o infinito se
manifesta na mesma ordem. Minerais se agrupam em células e moléculas, e lá
estão todos os fluidos, órgãos e membros. Não há rebeldia! Cada célula
desempenhando o seu papel, nascendo e morrendo dentro de mim. No infinito maior
ou no infinito menor, percebo, nem que por um instante, a maravilhosa dança das
esferas. A isso, chamamos de imanência. A força maior no mundo e em mim.
Silencio! A paz me estende as mãos e eu me permito bailar com ela.
JACQUES-LOUIS DAVID - A morte de Sócrates
Óleo sobre tela - 129,5 x 196,2 - 1787 - Museu Metropolitano de Nova York
Ao ter sua morte decretada como punição por influenciar aos seus
seguidores, Sócrates percebeu que era a verdadeira vida que estava sendo
oferecida. Morria seu corpo. Nascia ali, mais do que nunca, as suas ideias.
A ignorância gosta de lançar
suas âncoras no mar da comodidade. É no canteiro da dúvida que brota viçosa
toda sabedoria. Despertar é romper a casca da inconsciência! Nunca ter medo das
perguntas, nem tão pouco das respostas. E a pergunta maior se fez: o que está
por trás de toda ordem cósmica, a mesma que rege as galáxias e até a minha
menor partícula? Quer você queira ou não, essa ordem cósmica existe, desde o
sempre até o eterno, bagunçando a cabeça de físicos ou simplesmente curiosos.
Dentro de sua crença, ou à luz de suas especulações, chame-a do que quiser:
Deus, Lei Mística, força cósmica, energia universal... Simplesmente a aceite e
jogue fora todos os conflitos que carrega. Você vai ver que seguir mais leve tem
suas vantagens. Para o caminho ascendente, tudo que é supérfluo impede o
caminhar.
Aceitar é um movimento de
acolhida. A exemplo das galáxias ou mesmo da minha menor partícula, preciso
apenas seguir meu curso. E seguir conforme ele, pede apenas que eu não vá no
sentido contrário de sua ordem. Nós humanos somos os únicos seres que rebelam
contra a ordem. Não a acolhemos como ela espera que o façamos. Todos os
sofrimentos nascem daí. Fico imaginando que apenas esse planeta já seja mais
que suficiente para nos suportar. Mesmo confinados aqui, ainda não percebemos
os limites da nossa pequenez. A ganância nos faz destruir matas e extinguir
rios, dizimar espécies e ferir ao próximo. Não aprendemos a ver no outro e em
todas as coisas que nos cercam, os companheiros de viagem na breve existência
da forma que ocupo hoje. Porque a vida é cíclica, todo o eu físico que sou hoje
continuará por aí, agrupando em outras formas, seguindo o curso da ordem que
não para, com ou sem a minha permissão. A eterna música da vida está no ar e o
maestro invisível a oferece a todos nós. É nesse momento que nós, humanos,
podemos fazer a diferença. Por uma série de atos, a minha caminhada pode ser maior
do que apenas ser. Pensar no bem de tudo e de todos e dividir com os que virão
o que melhor experimentei um dia. A isso chamamos de transcendência.
Transcendência é a fração do desejo da ordem maior que habita em mim. Um sopro
de Deus para os que creem ou a chama da ética para os que preferem assim.
Muitos já se esforçaram para nos passar suas experiências: Jesus, Buda, Maomé,
Confúcio... Até chegamos a ouvir suas falas, mas ainda não as colocamos em
prática, no rigor de suas simplicidades. Continuamos como lamentáveis criaturas
rebeldes, que fogem da ordem dos mundos e criam seus próprios conflitos.
Rompida a casca que antes me
cegava, e desperto para uma consciência mais sincera, refaço as mesmas
perguntas: Sigo o curso das estrelas? Eu me proponho a ordem dos mundos ou
abraço ao caos?
JOSÉ ROSÁRIO - A dança das esferas 2 - Óleo sobre tela - 60 x 100 - 2008 - Acervo particular
Em 2008, fiz uma série de 8 telas, intitulada A Dança das Esferas.
Era a possibilidade de explorar uma arte metafísica, que durou cerca de 9 meses.
Dr. Não é por acaso que sou seu fã. Excelente!!!
ResponderExcluirMeu amigo, muito obrigado por vir.
ExcluirUm grande abraço!
Não há rebeldia, nenhum corpo celeste vai em direção contrária aos seus propósitos...
ResponderExcluirShow de expressão!
Parabéns! abração!
Olá, Vidal.
ExcluirBom revê-lo, meu amigo. Um grande abraço!