EDUARD HILDEBRANDT - Igreja de Santa Luzia, Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 24,3 x 34,3 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Largo com chafariz - Aquarela sobre papel - 25,7 x 36,4
Na última visita a São
Paulo, em uma passagem mais demorada pela Pinacoteca, chamaram a atenção dois
trabalhos: Paisagem com índios e Paisagem com negros, do artista Eduard
Hildebrandt. Impossível ficar indiferente a essas obras. Mesmo em pequenas
dimensões, elas nos aprisionam para um tempo maior diante delas. Pertencentes
ao acervo da Coleção Brasiliana, da Fundação Rank-Packard e Fundação Estudar,
faziam parte de uma exposição temporária que acontecia naquela instituição. Já
conhecia os trabalhos em aquarela do artista, que aliás são o carro-forte de
sua produção, mas ao ver aqueles pequenos óleos pude confirmar a grandiosidade
de sua obra.
EDUARD HILDEBRANDT - A Glória, Rio de Janeiro - Aquarela sobre papel - 33,9 x 49,8
EDUARD HILDEBRANDT - A Glória, Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 25,7 x 36,5 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - A Glória, Rio de Janeiro
Óleo sobre tela - 65,7 x 96,8 - Cerca de 1846
Eduard Hildebrandt chegou ao
Brasil em 1844, ficando aqui entre os meses de março e outubro, percorrendo
nesse curto período de tempo locais como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e
Pernambuco. Em tão rápida estadia, produziu uma das mais belas e valiosas coleções
de vistas do Brasil colonial. Se não têm a fama do Debret e Rugendas, não
perdem em nada com relação à qualidade técnica e principalmente poética de suas
narrativas. Hildebrandt superou a todos os outros artistas viajantes que
passaram por aqui, pois sua descrição do que via era precisa e magistralmente
executada.
EDUARD HILDEBRANDT - Engenho Velho - Aquarela sobre papel - 25,7 x 36,4 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Rio de Janeiro - Aquarela sobre papel - 25,7 x 36,3 - 1844
Sempre financiado por
Frederico Guilherme, rei da Prússia, Hildebrandt empreendeu inúmeras viagens
por várias partes do mundo. O financiamento se deu graças à Medalha de Ouro no
Salão de Paris, concedida a ele em 1843. Foi por intermédio do naturalista
Alexander von Humboldt, que o financiamento do governo prussiano possibilitou a
primeira das muitas viagens que faria em sua vida. E essa primeira expedição
veio exatamente para as Américas, iniciando pelo Brasil e passando também pelos
Estados Unidos. Levou um material de tão grande excelência, provavelmente as
aquarelas mais felizes de toda sua vida, que logo foi eleito membro da Academia
de Berlim e incumbido para várias viagens em sequencia.
EDUARD HILDEBRANDT - Paisagem com índios
Óleo sobre tela - 39,5 x 57 - Entre 1844 e 1845
EDUARD HILDEBRANDT - Paisagem com negros
Óleo sobre tela - 36,9 x 58,2 - 1845 - Pinacoteca do Estado de São Paulo
A quase totalidade da
valiosa coleção de estudos produzidos no Brasil pertence ao Gabinete de
Gravuras da Nationalgalerie, em Berlim. São 170 obras no total, entre aquarelas
e desenhos, coletados in loco, no Rio
de Janeiro, São Paulo, Bahia e Pernambuco. Das aquarelas do Rio de Janeiro,
nove são especiais, no que dizem respeito ao rigor quase fotográfico. São um
verdadeiro hino à glória luminosa de um Rio que encantou a todos que passaram
por aqui, seja pelas paisagens naturais exuberantes, como pela arquitetura
colonial, ricamente concebida para aquela época.
EDUARD HILDEBRANDT - Bahia - Carvão sobre papel - 21,8 x 29,6 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Rua da Misericórdia, Rio de Janeiro
Guache e carvão sobre papel - 30 x 23,3 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Morro do Castello, Rio de Janeiro
Carvão sobre papel - 21,8 x 29,7 - 1844
Eduard Hildebrandt nasceu a
9 de setembro de 1818, em Dantzig, na Alemanha. Segundo filho, entre sete
irmãos, teve uma infância difícil, sustentada pelo pai, um pobre pintor de
paredes. O mar sempre o inspirou desde cedo, e dizia que um dia ainda iria
entrar para a Marinha. Com a morte do pai, quando tinha apenas 13 anos,
resolveu seguia as aspirações de sua mãe e entrou para aulas de desenho. Não
por coincidência, fez os primeiros estudos com o marinhista Wilhelm Krause, em
Berlim. Chegou a ir até a Inglaterra e Escócia para se aperfeiçoar nos estudos
e terminou sua especialização com Eugène Isabey, em Paris. Mal sabia que o
sonho de criança e os desejos de sua mãe finalmente iriam se casar. Iria
percorrer o mundo como ele queria e fazer aquilo que sempre foi a vontade dela.
EDUARD HILDEBRANDT - Igreja da Piedade, Salvador
Aquarela sobre papel - 24,5 x 34,8 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Ilha da Boa Viagem, Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 17,8 x 25,4 - 1845
EDUARD HILDEBRANDT - Mazaro, arredofres de Recife
Aquarela e óleo sobre papel - 24,3 x 34,3 - 1844
Uma coisa é profundamente
marcante em toda a produção de Hildebrandt: o estilo. Principalmente nos
trabalhos à óleo, isso é perceptivelmente marcante. Não importa muito se a paisagem
é das Américas, da Europa, do norte da África, do Oriente, suas pinturas sempre
se orientam a partir de algumas regras básicas de composição, a se destacar a
incisão de focos de luz dirigidos, iluminando os pontos que concentram a
narrativa principal do quadro e áreas de profunda sombra, no restante da
composição. Há também o predomínio de cores quentes, um fato típico em todas as
suas obras, principalmente pinturas. Assim, todas ganham o ar de aparente similaridade
de locais, porém, com uma grandiloquência, quase épica. Ele transformou cenas
simples e pitorescas em obras monumentais e rigorosamente construídas.
EDUARD HILDEBRANDT - Quitite - Aquarela e óleo sobre papel - 24,3 x 34,3 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 36 x 25,8
EDUARD HILDEBRANDT - Uma fazenda, com grupo de escravos no primeiro plano
Óleo sobre tela - 68 x 101 - 1844
Diferentemente dos óleos, as
aquarelas e os estudos a lápis, feitos todos in loco, revelam uma observação acurada e bem seletiva do artista.
Não têm o arranjo idealizado, percebido nos óleos, mas trazem uma composição
bem alicerçada na realidade. Aliado a isso tudo, soma-se o gosto pelo exótico e
a afinidade com a pintura orientalista e romântica francesa. Ele soube filtrar
tudo isso muito bem e criar um estilo único e inconfundível.
EDUARD HILDEBRANDT - Igrejinha de Nossa Senhora da Saúde
Aquarela sobre pape - 17,9 x 25,7
EDUARD HILDEBRANDT - Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 26,3 x 20,3
EDUARD HILDEBRANDT - São Paulo - Aquarela e óleo sobre papel - 24,2 x 34,3 - 1844
Mal havia descansado da
viagem às Américas, Hildebransdt já era incumbido para uma nova viagem, dessa
vez para a Escócia, Canárias, Espanha e Portugal. Mais adiante, vai à Itália,
Egito e Grécia e até o Ártico. Mas, sua grande aventura viria entre os anos de
1862 e 1863, onde realiza uma famosa viagem ao redor do mundo, mais uma vez às
custas de seu generoso patrono. Passou por Trieste, Alexandria, Suez, Índia,
China, Japão, Estados Unidos, Antilhas e finalmente a Inglaterra. Dessa
expedição, mais 300 aquarelas foram produzidas. Dessas, 280 se encontram em
Berlim.
EDUARD HILDEBRANDT - Chafariz da Rua do Conde, Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 17,6 x 25,7 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Lagoa Rodrigo de Freitas
Aquarela sobre papel - 17,6 x 25,6 - 1844
EDUARD HILDEBRANDT - Rio Comprido, Rio de Janeiro
Aquarela sobre papel - 18,7 x 25,8 - 1844
Eduard Hildebrandt faleceu
em Berlim, a 25 de outubro de 1868. Uma importante observação sobre o artista,
encerra a narrativa de Gilberto Ferrez, no livro O BRASIL DE EDUARD
HILDEBRANDT: “Dos pintores aquarelistas que nos visitaram no século passado,
foi sem favor Eduard Hildebrandt o mestre do tropicalismo realístico, jamais
superado por outro artista no Brasil, não só pela arte de captar as cores e
contrastes de luz, sem olvidar o detalhe arquitetônico, como por ter escolhido
ângulos não aproveitados pelos demais” (1998).
LOUIS AUGUSTE MOREAU - Retrato de Eduard Hildebrandt
Aquarela sobre papel - 27,5 x 22 - 1844
Belas obras! Já tive a oportunidade de ver a "paisagem com negros" na pinacoteca, mas não tinha ideia da extensão do trabalho deste artista. Vou procurar o livro citado por você.
ResponderExcluirObrigado mais uma vez pelo excelente artigo.
Que bom, Thiago. Não vai se arrepender de adquirir o livro. Cada imagem melhor que outra e texto muito bem elaborado.
ExcluirObrigado pela visita!
Obrigado pelo trabalho de pesquisa e publicação. Gosto muito da obra de Hildebrandt e encontra-la aqui organizada foi uma bela surpresa.
ResponderExcluirEu que agradeço a visita. O trabalho de Hildebrandt é realmente excepcional.
ExcluirUm bom dia!