FRANZ SKARBINA - Jardim em Karlsbad - Óleo sobre tela - 97 x 146 - Entre 1899 e 1890
MAX LIEBERMANN - Feira de papagaios
Óleo sobre tela - 88,1 x 72,5 - 1902
A história da Arte tem uma
série de injustiças inaceitáveis e uma delas diz respeito ao tratamento
excludente ou quase discriminatório dado ao impressionismo alemão. Isso já
melhorou bastante nas últimas décadas, mas até a metade do século passado, os “impressionistas
alemães” passavam quase despercebidos. Há várias razões históricas que fazem
entender isso, quando se olha à luz dos bastidores do cenário artístico. E não
se pode tomar partido, sem antes conhecer a verdadeira gênese dessa
“injustiça”. O prolongamento do estado de inimizade entre alemães e franceses,
que seguiu à Guerra Franco-Prussiana, certamente teve um peso muito grande
nessa exclusão. Raros eram os artistas alemães, em solo francês, que não negavam
suas origens, com receio de hostilidade local. Da mesma forma que qualquer
artista alemão que se posicionasse simpático ao Impressionismo francês, em seu
país, era no mínimo imprudente.
KARL HAGEMEISTER - Verão em März
Óleo sobre tela - 210 x 120 - 1895
ULRICH HÜBNER - Lübeck - Óleo sobre tela - 100 x 140 - 1912
Paris passou a substituir
Roma como local de peregrinação artística desde a década de 1850. As academias
e escolas de arte, bem como os competitivos salões realizados ali, consolidavam
a capital francesa como a referência do que havia de melhor no mundo artístico
daqueles tempos. E se havia um lugar que lançava moda, em todos os setores, ali
parecia o ideal deles. Como o Impressionismo foi lançado e consolidado
como sucesso em solo francês, é justo e aceitável que Paris e os artistas
franceses tivessem se tornado uma referência padrão para todos os pretensos
artistas impressionistas de qualquer outra nacionalidade. Assim, americanos,
ingleses, italianos, russos, australianos, todos que se despontaram como ótimos
artistas com características impressionistas, ainda que não tivessem aderido
diretamente ao movimento, tinham os franceses como referência. As questões
histórico-políticas entre alemães e franceses deixaram os primeiros como
artistas marginais desse importante movimento, que viria revolucionar todo o
mundo.
FRITZ VON UHDE - Viagem para Belém - Óleo sobre tela - 117 x 126 - 1890
CARLOS GRETHE - Esperando a embarcação
Óleo sobre tela -170,5 x 116 - 1900
Se no próprio país de
origem, o Impressionismo teve que esperar até a década final do século XIX para
ser reconhecido, imagine num país em que falar sobre algo que enaltecia e
reconhecia o inimigo como precursor e inovador?! As desavenças passadas fizeram
com que, inicialmente, o Impressionismo na Alemanha não tivesse o êxito que
merecia. Felizmente, há colecionadores visionários, que sempre
incentivaram e promoveram a arte, em toda sua história. E sempre foram pessoas
que não possuíam fronteiras. Valorizavam e promoviam aquilo que era necessário
e promissor.
CARL SCHUCH - Rio com uma ponte em ruínas - Óleo sobre tela - 22,9 x 32,7 - 1870
PAUL BAUM - Paisagem em Kleinem Wiesenbach - Óleo sobre tela - 36,5 x 45 - 1900
Nascido na Rússia, Carl Bernstein
foi um dos primeiros e grandes incentivadores do movimento Impressionista na
Alemanha. Juntamente com sua esposa, Felicie, dedicavam as noites de quarta
para uma espécie de encontro cultural, onde promoviam os artistas evidentes e
convidavam figuras da sociedade para falar e admirar sobre arte. Daquele tipo
de milionário que soube como empregar os bens materiais na promoção cultural e
evolução da cidade que escolheu viver. O primeiro contato do grande público
alemão com o Impressionismo se deu em 1883, quando a Galeria Gurlitt expôs as
coleções de Carl e Felicie Bernstein em Berlim. Eram 10 obras de propriedade do
casal e mais 23 emprestadas pelo marchand parisiense Paul Durand-Ruel. Com a
mesma hostilidade que também foram recebidos os primeiros trabalhos
impressionistas na França, em Berlim também não foi diferente. Público e
críticos classificaram os trabalhos como esboços
mal acabados e com pouca habilidade técnica. Max Liebermann, amigo do casal
Bernstein, foi o primeiro artista alemão a reconhecer a grandiosidade do novo
estilo e inclusive a adquirir trabalhos de artistas franceses. Foi ele também
um dos grandes alemães dentro do movimento naquele país. Mas, até mesmo entre
os artistas alemães, simpatizantes com o Impressionismo francês, pulsava uma
inveja contida e uma aversão natural ao que vinha de lá.
MAX LIEBERMANN - Vinck Restaurante, Leiden - Óleo sobre tela - 72 x 88 - 1905
LOVIS CORINTH - Nu reclinado - Óleo sobre tela - 75 x 120 - 1899
Quando, nos primeiros anos
de 1900, Gauguin e Denis expuseram em Berlim, embora o Impressionismo ainda não
estivesse muito bem estabelecido no país, já foram aceitos com mais
familiaridade. Houve quem dissesse que seus trabalhos tinham semelhança com a arte
moderna alemã. Bastou isso para que a velha rivalidade entre os dois países
viesse à tona. Mesmo os artistas alemães, simpatizantes aos artistas franceses,
não queriam que suas obras fossem comparadas às dos vizinhos. Houve um intenso
esforço, por parte de artistas alemães, com o orgulho ferido, para diferir
estilisticamente o “Impressionismo alemão”
do francês. O próprio Liebermann deixou uma célebre frase: “Toda essa história
da divisão das cores é um disparate. Constato uma vez mais que a natureza é
simples e cinzenta”. Uma oposição declarada à filosofia do Impressionismo
francês, que afirmava exatamente o contrário.
ADOLPH VON MENZEL - Meissonier no ateliê em Pissy
Óleo sobre painel - 22,3 x 29,9 - 1869
ADOLPH VON MENZEL - Metalúrgicos - Óleo sobre tela - 158 x 254 - 1875
É inegável a influência e
contribuição de Adolph von Menzel para o que seria o Impressionismo alemão no
futuro. Sua pincelada livre e virtuosa e um desdém pela minúcia de desenhador,
fizeram dele o precursor de um novo movimento no país, naqueles tempos. Embora
ele se julgasse um artista realista e sua paleta fosse semelhante à dos
Impressionistas, a sua relação com o movimento tinha reservas que eram
declaradamente públicas por ele, a ponto de alertar ao casal Bernstein, “acerca das pinturas francesas que eles
penduravam em suas paredes”.
PHILIPP KLEIN - Hora do chá - Óleo sobre tela - 53,5 x 44,5 - 1906
MAX SLEVOGT - Marietta di Rigardo - Óleo sobre tela - 230 x 180 - 1904
O Realismo e uma busca
simplificada pela verdade foi o que, a princípio, sustentou o Impressionismo
alemão. Isso tomaria conotações diferentes quando a adesão à pintura ao ar
livre ganharia força e adeptos de diferentes partes do país. Identificada como
a linguagem principal do Impressionismo, essa maneira de pintar, que muito
valorizava a espontaneidade e liberdade de expressão, faria escolas importantes
por todo lado, e até já havia sido praticada em tempos passados, por muitos
outros nomes não menos famosos da arte alemã. Blechen e Morgenstern são
lembrados sempre que se fala disso, assim como Hans Thoma.
GOTTHARDT KUEHL - Orfanato de Lübecker - Óleo sobre tela - 87 x 131 - 1894
GOTTHARDT KUEHL - Paris - Óleo sobre tela - 60 x 92 - 1880
Liebermann era o mais velho
artista do movimento impressionista alemão. Assim como Leibl, tinha os pés
fincados no Realismo, e a pintura ao ar livre praticada por eles era alicerçada
por um treino acadêmico e criterioso. Talvez um dos maiores momentos para o
Impressionismo alemão tenha sido a visita de Liebermann à Holanda, em 1871. Ele
voltaria várias vezes ao país e fascinou por muita coisa que via por lá: a
paisagem isenta de dramatismos, a liberdade técnica de Rembrandt e Hals e a
contemporaneidade e cumplicidade com as obras de Mauve e Josef Israëls. É
inegável que o tratamento que daria aos trabalhos subsequentes, teria a influência
das visitas holandesas com a virtuosidade de Adolph von Menzel. Isso o
projetaria para além das fronteiras alemãs, sendo reconhecido inclusive em
território francês.
ROBERT STERL - Trabalhador em Wittenborn - Óleo sobre tela - 45 x 57,5 - 1901
FRANZ SKARBINA - Igreja boêmia na véspera de natal
Óleo sobre tela - 130 x 99 - 1903
Fritz von Uhde foi outro
pintor que gozou de sucesso internacional. Fundamentalmente autodidata, seu
Realismo lírico coloca-o como um respeitável nome entre os impressionistas
alemães. Sua pintura pastosa e aparentemente sem unidade, é o que mais se
assemelha à definição impressionista que conhecemos na arte alemã. A sua
composição, no entanto, ainda não nos remete ao descompromisso e liberdade
completa dos impressionistas franceses, com um enquadramento ainda muito
estudado.
LOVIS CORINTH - Ao toilete - Óleo sobre tela - 120 x 90 - 1911
HEINRICH VON ZÜGEL - Carneiros num prado - Óleo sobre tela - 24,5 x 32
O mais famoso de todos os
impressionistas alemães foi Lovis Corinth. Era um artista dedicado e estudante
disciplinado, elogiado inclusive por Bouguereau, com quem estudou em Paris, na
Académie Julian. Até que tentou ser um artista acadêmico, inscrevendo-se no
salão. Mas, como teve os quadros recusados, retornou à Alemanha desapontado. A
partir de 1901, fixou moradia em Berlim. Participou, com outros vanguardistas,
do movimento denominado Secessão de Berlim, que haveria de mudar a concepção da
arte germânica. Do impressionismo, Corinth iria evoluir para a corrente
expressionista, época em que foi professor da pintora brasileira Anita
Malfatti. Para os nazistas, a arte de Corinth era qualificada como decadente.
THOMAS HERBST - Menina camponesa
Óleo sobre tela - 94 x 58 - 1895
HANS THOMA - Na rede - Óleo sobre tela - 1876
Muitos outros nomes levaram
o Impressionismo alemão a um respeitado patamar atual. Impossível não citar
nomes como Wilhelm Trübner, Max Slevogt, Carl Schuch, Christian Rohlfs, Gotthardt
Kuehl, Lesser Ury, Ulrich Hübner, Paul Klimsch, Ernst Oppler, Franz Skarbina,
Robert Sterl, Heinrich von Zügel, Karl Hagemeister, Carlos Grethe, August von
Brandis, Paul Baum, Philipp Klein e tantos outros. Quer seja pela audácia em
retratar com liberdade e desenvoltura num momento difícil da história
centro-europeia, quer seja pela dificuldade em se fazerem conhecidos perante o
cenário mundial. Max Liebermann, Lovis Corinth e Max Slevogt são considerados o
triunvirato do impressionismo alemão. Orientados para o estilo de vida francês
e mediterrâneo, eles deram aos seus trabalhos internacionalidade e temperamento.
Agradam público e críticos, em diversos aspectos.
CHRISTIAN ROHLFS - Casas ao sol - Óleo sobre tela - 41 x 42,5 - 1894
WILHELM LEIBL - Meninas costurando próximo ao fogão
Óleo sobre tela - 59 x 42 - Entre 1892 e 1895
Pode-se dizer que há itens
de diferença importante entre o Impressionismo alemão e o Impressionismo de
outros países: As condições de luz e tradições de pintura dão ao Impressionismo
alemão um caráter diferente, caracterizado por cores mais suaves e uma precisão
gráfica mais forte. Por exemplo, em vez de um céu ensolarado, preferem um
nublado. As cores são subjugadas pela adição de tons cinza e marrom, uma cor
brilhantemente colorida é proibida. Ao contrário do naturalismo, mas também do
impressionismo francês, surgiu no Impressionismo alemão o sentimento subjetivo
do pintor: "não a própria realidade, que se reflete na imagem, mas a pessoa
que fez a pintura", observa Corinth em seu livro. Mas o que mais se
observa de diferente entre a escola impressionista alemã e a francesa,
principalmente, refere-se à escolha dos temas. Enquanto no Impressionismo
francês, o campo e os prazeres da vida dão a ordem, no Impressionismo alemão
nota-se comumente o uso de temas como pinturas narrativas e históricas.
HEINRICH VON ZÜGEL - Carro de boi - Óleo sobre tela - 40 x 60 - 1910
HEINRICH VON ZÜGEL - Descanso nas margens do Althrein
Óleo sobre tela - 71 x 110,5 - 1919
O Impressionismo alemão é
visto hoje mais como uma arte de transição entre o Romantismo e os movimentos
do século XX. Ele abriu caminho para o Expressionismo, este sim, uma marca
forte da arte daquele país. Deixa também uma lição de como o tratamento com a arte precisa e
deve ser imparcial, para que essa possa ser assimilada em sua completude. Os limites
fronteiriços e as desavenças histórico-políticas não casam bem com a
universalidade da linguagem artística. Quando inflam os egos e a arte deixa de
ser o leme principal, perdem os artistas e perdemos todos nós.
Impressionismo surgiu na pintura do século XIX e até hoje encanta... teve muitos precursores em todos os cantos do mundo !!!!
ResponderExcluirAbração meu amigo... tá difícil comentar hein rsssss!!!!
Às vezes é assim mesmo.
ExcluirObrigado mais uma vez, meu amigo.
Grande abraço!
Mais um tópico imprescindível.
ResponderExcluirObrigado José.
Abraços.
O Impressionismo é super fascinante, em qualquer país onde tenha atingido.
ExcluirVoltaremos ao tema mais adiante.
Grande abraço e obrigado por vir, Macário!
Amo às suas postagens.Nem sei se me é permitido,mas compartilho em meu Facebook com os devidos créditos!
ResponderExcluirObrigada José Rosário
Olá, bom dia. Sim, é um grande favor divulgar as matérias.
ExcluirMuito grato pela visita!
Alguém sabe o valor desses quadros
ResponderExcluirSão quase todos peças de museus. Alguns em coleções particulares.
ExcluirGrato pela participação.
Um ótimo Novo Ano.