sábado, 4 de agosto de 2018

A ARTE NO SÉCULO XIX: Parte 4



JOHN CONSTABLE - A Catedral de Salisbury vista do jardim do bispo 
sobre tela - 88,9 x 112,4 cm - 1826

Constable foi o grande nome na paisagem inglesa, nos anos
finais do século XVIII e início do século XIX. Sua
maneira de pintar influenciou muitas gerações além dele.

JOHN CONSTABLE - Dedham Vale com o Rio Stour, East Bergholt
Óleo sobre tela - 51 x 91,5 cm

Tarefa tão árdua quanto falar sobre o Romantismo é descobrir a sua gênese. Um movimento que abrangeu com a mesma intensidade diversos setores da arte: Literatura, Pintura, Música... Alcançou vários países e em vários deles os aspectos diferenciavam bastante, assim como sua forma de manifestação.  A reação que se produziu no século XVIII contra a arte barroca foi essencialmente definida como regresso ao antigo. Importa analisar mais a fundo esta noção, para reconhecer que as tendências que então prevaleceram no meio internacional de Roma estão também na origem de um movimento, o movimento romântico, que tomou aspectos de oposição ao culto do antigo e que, mais tarde, o substituiu. Nas artes visuais, o romantismo mostrou-se pela primeira vez na pintura de paisagens, onde desde os anos 1760 os artistas britânicos começaram a se voltar para esse tema, com seus campos inspiradores e sua arquitetura gótica. É exatamente com os ingleses, a melhor forma de começar a falar sobre esse movimento.

CLAUDE LORRAIN - Amanhecer - Óleo sobre tela - 102,9 x 134 cm - Entre 1646 e 1647
Embora Lorrain tenha vivido muito antes do movimento denominado Romantismo,
suas obras foram referência para muitos artistas que o praticaram.


WILLIAM TURNER - O Lago de Zug  - Aquarela sobre papel - 29,8 x 46,6 cm - 1843

WILLIAM TURNER - O declínio do Império Cratago - Óleo sobre tela - 170 x 239 cm - 1817

Embora a França seja o palco principal da arte do século XIX, a Inglaterra teve sobre a França uma ação que está longe de ser desprezada. Nos seus quadros, nas aquarelas e não menos nas suas litografias, que ofereciam a vantagem duma larga difusão, os Ingleses, fiéis a esse amor do campo que se tinha manifestado já nos seus jardins, puseram a paisagem na moda. William Turner foi um dos nomes mais exponenciais para essa época. Ele era original, áspero e obtuso, era a tal ponto apaixonado por Claude Lorrain que quis que um dos quadros deste figurasse ao lado dum dos seus próprios, na Galeria Nacional. Pouco a pouco, o estudo da luz e do mar levou-o a uma concepção e a uma técnica que foram mal compreendidas pelo seu tempo: as suas telas são como fogos de artifício de cores vivas, em que as formas se diluem. Grutas irisadas, navios de velas multicores fundem-se numa bruma luminosa, do que resulta por vezes certa monotonia. As aquarelas de Turner seduzem talvez mais. Visões de Veneza ou das cidades de França, evocam um universo fluido, todo de luz e de água. A bem dizer, Turner não foi seguido por ninguém. Certos artistas se tornam únicos em diversos aspectos.


WILLIAM TURNER - O declínio do Império Cratago - Óleo sobre tela - 17 x 23,9 cm - 1817

THOMAS GIRTIN - Lincoln Cathedral
Aquarela e guache sobre papel - 23,7 x 28,9 cm - Cerca de 1795

Os outros aguarelistas formam, em contrapartida, uma espécie de escola. Não há arte mais popular na Inglaterra daqueles tempos. Os que a praticam usam uma técnica impecável e com bastante novidade, no sentido de que sabem tirar lindamente partido das transparências no branco do papel e do aspecto molhado. Desse modo, a aquarela, em vez de servir de realce ao desenho, toma a feição dum modo de expressão completo. Thomas Girtin, entre outros, que veio a Paris com os Aliados, foi muitíssimo admirado, e merecidamente, na França.

JOHN CONSTABLE - A carroça de feno - Óleo sobre tela - 130 x 185 cm - 1821

JOHN CONSTABLE - O Vale de Stour e a Igreja de Dedhan
Óleo sobre tela - 55,6 x 77,8 cm - Cerca de 1815

Mas o maior paisagista inglês do final de século XVIII e início de século XIX, John Constable, praticou sobretudo a pintura a óleo. Os seus esboços, de maneira brusca e decidida, em que os toques de cores diferentes se justapõem sem se fundir, atingem notável frescura e um efeito impressionante. É possível que estas qualidades se percam por vezes nos seus grandes quadros compostos, porque sucede a Constable parecer então artificial, pecado frequente dos Ingleses quando abandonam a transcrição literária da natureza. Pelo hábito de pintar ao ar livre, é considerado um dos predecessores do movimento impressionista, tanto que os artistas fundadores desse movimento, em solo francês, visitaram exposições suas em Londres.

WILLIAM BLAKE - Pity - Gravura - 42,2 x 52,7 cm - Cerca de 1795

Não se pode, no entanto, dar por findo o estudo da escola inglesa sem mencionar ao menos um artista que não teve qualquer influência na evolução da arte do seu século, porque foi ignorado pelos contemporâneos, mas que a nossa época exaltou exageradamente, William Blake. Poeta mergulhado nos seus sonhos, pintando e sobretudo desenhando como em estado de transe, transcreve os seus sonhos com uma rara mistura de inexperiência e de ambição. A sua própria impotência serviu-lhe de passaporte para um século apaixonado de literatura, embora se não possa negar-lhe sentido decorativo quando orna as páginas dos livros, dos seus próprios e dos que mais amava.

ANNE LOUIS GIRODET - Ossian recebendo os fantasmas dos heróis franceses
Óleo sobre tela - 192 x 184 cm - 1802 -  Château de Malmaison

A chegada do romantismo na arte francesa foi adiada pela fortaleza do Neoclassicismo nas academias, mas a partir do fim da era napoleônica tornou-se cada vez mais popular. Diferentemente do movimento romântico inglês, o movimento romântico das artes visuais na França veio inicialmente na forma de pinturas históricas, fazendo propaganda para o novo regime, dos quais Girodet, em Ossian recebendo os Fantasmas dos heróis franceses, para o Château de Malmaison de Napoleão, foi um dos primeiros. O antigo professor de Girodet, David, ficou perplexo e desapontado com a direção de seu pupilo, dizendo: "Ou Girodet é louco ou não sei mais nada sobre a arte da pintura". Uma nova geração da escola francesa desenvolveu estilos românticos pessoais, embora ainda se concentrasse na pintura histórica com uma mensagem política. Théodore Géricault é o nome a ser lembrado naqueles tempos. A Jangada da Medusa, de 1821, continua a ser a maior conquista da pintura da história romântica, que em seu dia teve uma poderosa mensagem anti-governo.

THÉODORE GÉRICAULT - A jangada da Medusa
Óleo sobre tela - 491 x 716 cm - Entre 1818 e 1819 - Museu do Louvre

EUGENE DELACROIX - A barca de Dante - Óleo sobre tela - 189 x 241 cm - 1822

Delacroix foi à Grã-Bretanha e deixou-se seduzir pela maneira fluida e brilhante dos Ingleses. É provável que a Inglaterra lhe servisse de transição para compreender os grandes Flamengos e sobretudo Rubens. Enfim, possuímos o testemunho da revolução que nele produziu o inglês Constable. No Salão de 1824, ia expor as Chacinas de Seio, quando o quadro que Constable apresentava nesse mesmo ano lhe caiu sob os olhos. A liberdade e a audácia de toque impressionaram-no de tal modo, que refez o seu próprio quadro num estilo mais largo. Nessa época, a sua linha de conduta estava, sem dúvida, já traçada. Este grande homem, que não era somente um grande pintor, porque possuía uma cultura pouco comum, não cessou de aprofundar seus estudos e deixou provas no seu admirável empenho.


EUGENE DELACROIX - A morte de Sardanapalus
Óleo sobre tela - 395 x 496 - 1827 - Museu do Louvre

Delacroix foi um artista que sempre considerou o uso correto da cor e seus efeitos numa obra de arte, algo mais importante até do que a obra em si. É dele uma célebre frase: "Nem sempre uma pintura precisa de um tema". O ano de 1822 é o ano de que se pode datar a consagração oficial da pintura romântica francesa, com um quadro que causou sensação: A Barca de Dante. Todos se apaixonaram por esses corpos de náufragos esverdeados que se torciam dentro da barca, por essa iluminação fulgurante, por essa surda riqueza. Saudado por Thiers, bem acolhido por Gros, insultado pelos fiéis a David, o artista tornou-se de repente célebre, o que o não dispensou de lutar até ao fim da vida, até para assegurar a sua existência material. Sua obra A Liberdade guiando o povo permanece, juntamente com a A Jangada da Medusa, uma das obras mais conhecidas da pintura romântica francesa.

EUGENE DELACROIX - A liberdade guiando o povo - Óleo sobre tela - 260 x 325 cm - 1830

Na próxima parte, veremos o Romantismo em outros países.

VEJA TAMBÉM AS MATÉRIAS ANTERIORES:
. A arte no século XIX: Parte 1
. A arte no século XIX: Parte 2
. A arte no século XIX: Parte 3

4 comentários:

  1. Que período amigo! nomes de peso! Constable,Turner,Delacroix...
    Amigo, aquele abraço!

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    1. Provavelmente o momento mais decisivo para a arte atual, como conhecemos.
      Grande abraço, amigo!

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  2. Mestre José Rosário... aquele abraço.

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