quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

ANTONIO DELFIM

ANTONIO DELFIM  - Cascais ao anoitecer - Óleo - 50 x 100

ANTONIO DELFIM - Bonde, Sintra
Óleo - 50 x 38

Ao deparar com os trabalhos de Antonio Delfim, surpreendeu-me; logo de início; a justeza das linhas, o respeito irrestrito às proporções e o capricho com as composições. Minha surpresa se tornou ainda maior quando percebi que era tudo executado apenas com espátula. Nas nossas conversas, anteriores à elaboração dessa matéria, ele foi categórico em afirmar: “uso apenas a espátula. Pincel apenas para o envernizamento final”. Não faz isso por algum capricho ou perseguição desmedida em manter uma técnica, sempre pintou assim, e como nunca fez aulas, foi a sua maneira de se expressar mais natural e particular que encontrou.


ANTONIO DELFIM - Fim de tarde, Lisboa
Óleo - 50 x 100

ANTONIO DELFIM - O estuário em Lisboa - Óleo - 50 x 100

Antonio João Delfim, como é o seu nome completo, nasceu na Freguesia de Ota, um distrito da cidade de Lisboa, Portugal, em 1956. A grande capacidade para o desenho e a pintura foi conquistada de maneira autodidata, quando ainda trabalhava como desenhista civil, em um escritório de arquitetura. Teve a felicidade de; nesse edifício onde trabalhava; encontrar com um grande artista da época, que foi sua espécie de mestre das primeiras lições. João Mário, seu mestre das primeiras caminhadas, descreve assim os primeiros contatos com Antonio Delfim: “Pede-me que lhe aconselhe quais os materiais de pintura a comprar e deita mãos à obra. A minha perplexidade é total; Delfim em dois anos ganha a experiência e o saber que deveria saber em vinte!” Assim, entre um trabalho e outro, que ia produzindo nos momentos de folga, foi ouvindo as opiniões de João Mário e consolidando suas experiências. Em 1992, faz sua primeira exposição individual, com excelente aceitação por parte de público e crítica.


ANTONIO DELFIM - Mulher cusquenha - Óleo - 33 x 38

O óleo sempre foi a técnica que utilizou na execução de seus trabalhos. Ele cita a existência de bons artistas realistas portugueses, mas são os espanhóis dessa escola que mais lhe influenciaram em início de carreira. Comenta também a visita a boas exposições desses artistas em seu país e a bela oportunidade de ter visto seus trabalhos na fase inicial de sua carreira. Na sua opinião; que aliás eu também compartilho; a “escola espanhola” é uma das melhores do mundo, e nomes atuais como os de Antonio Lopez, Eduardo Naranjo, Poblete e Antonio Morano fazem confirmar que a escola espanhola de pintura sempre estará bem representada.


ANTONIO DELFIM - Limpando o barco
Óleo - 24 x 33

ANTONIO DELFIM - Manhã chegando, Aveiro
Óleo - 33 x 50

Apesar de suas composições em grandes formatos projetarem melhor o nome, são as composições em pequenos formatos que funcionam melhor comercialmente, principalmente em terreno português. Os trabalhos de Antonio Delfim são sempre executados em ateliê, tendo como referência fotografias colhidas por ele ou esboços executados ao ar livre. Estes dão origem a estudos, que são minuciosamente elaborados e compostos, fazendo a exata adequação de figuras e elementos, até que a composição esteja totalmente ao seu agrado. É um artista minucioso e não abre mão de gastar horas nessa etapa de suas obras.


ANTONIO DELFIM - Crepúsculo, Sintra - Óleo - 120 x 100

ANTONIO DELFIM - Crepúsculo, Sintra, detalhe

Ele tem preferência pelos temas rurais, principalmente aqueles onde a água é um elemento importante. Também aprecia o trabalho com marinhas e cenas urbanas. Considera essas últimas desafios mais cautelosos, pois construções que precisam de um maior rigor em sua estrutura, não permitem a liberdade de composição, como nos temas citados anteriormente.


ANTONIO DELFIM - Lomba de Espalamaca, Faial, Açores - Óleo - 45 x 60

Seus trabalhos, que inicialmente tinham uma tendência mais impressionista, foram, ao longo dos anos, ganhando um realismo intencional, frutos de um maior domínio técnico alcançado em horas de estudo e experiência, e também por um sentimento interior. O que para muitos observadores passaria despercebido em uma obra, provavelmente rendeu horas de dedicação e persistência. Há que se ter uma disciplina rigorosa para executar um hiper-realismo com suas qualidades, ainda mais executado em espátula.


ANTONIO DELFIM - Ponte em Peso da Régua
Óleo - 22 x 40

ANTONIO DELFIM - Rio de Onor, Bragança
Óleo - 50 x 38

Não poderíamos deixar de mencionar em nossa conversa sobre a atual situação da economia na Europa e os reflexos desse momento no panorama artístico. Os sobressaltos do mercado deixaram por lá uma insegurança muito grande até em galerias bem tradicionais. Some-se a isso, a valorização excessiva da arte contemporânea, praticada por órgãos públicos, que vivem em função da promoção de críticos vendedores de novidades. Lamentável que a arte figurativa não tenha o respeito e o espaço que outros estilos, até mesmo em continente europeu. Realidade que não se confirma quando ainda percebemos que os verdadeiros colecionadores não abrem mão de adquirir um bom trabalho, realizado com as propostas que a verdadeira arte exige.

ANTONIO DELFIM - Charrete, Sintra Óleo - 38 x 50

ANTONIO DELFIM - Avieiros, Vila Franca de Xira
Óleo - 50 x 65

Quero terminar essa matéria com observações feitas por João Mário, quando por ocasião da abertura da primeira exposição de Delfim. Tão distante, já antevia o enorme potencial do recente artista que descobrira e das fiéis intenções que já existia em suas obras: “Delfim prefere seguir o caminho do seu sentir, sem iludir ninguém nem se iludir. Pouco importa ser antigo ou moderno, que o ultrapassem ou não, num desprezo total por quem deseja fazer da pintura não uma mensagem libertadora, mas sim uma eterna submissão a ideias espartilhadas e já feitas”.



PARA SABER MAIS:

21 comentários:

  1. Um grande artista sempre traz grandes surpresas... maravilhoso!
    Suas composições são belíssimas!
    Amigão mais uma vez, como sempre: bela matéria!

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    1. Achou a palavra certa para explicar os trabalhos do Delfim, Vidal: surpreendentes!
      Grande abraço, amigo!

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  2. Ótima matéria. Magníficos trabalgos . impressiona pelo detalhamento alcançado apenas com espátula e em tamanhos peqienoa .

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  3. E não dá pra acreditar que é só espátula!!!

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    1. Acredite, Izabel. O próprio artista me garantiu que até na galeria que o representa, é necessário exibir um vídeo onde ele mostra a execução de um trabalho, usando apenas espátula.
      Grande abraço!

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  4. José Rosário, fiquei encantada com os trabalhos do artista Antonio Delfim. É impressionante a riqueza de detalhes. Que maravilhas ele faz usando apenas a espátula...Fantástico! .Parabéns pelo texto!

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    1. Sim, Neide. Um trabalho de resultado complexo até para pincéis, imagina para espátula.
      Grande abraço!

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  5. Não consigo acreditar Zé...que é somente espátula...Não duvidando do artista, imagina...Mas é algo tão sutil, transições tão elaboradas...Olha, só indo para Portugal pra ver de perto! Parabéns ao grande artista e a sua excelente matéria..Um abraço

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    1. Também me pergunto como ele consegue. Virtuosismo e dedicação.
      Obrigado por vir, Jesser. Grande abraço!

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    1. Belíssimo, realmente. Tantas texturas, ricamente elaboradas...
      Grande abraço, Gilberto!

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  7. O Antonio Delfim, é um artista incrível e uma pessoa muito atenciosa. Quando conheci seu trabalho fiquei impressionado ao saber que são feitos com espátulas, em uma conversa que tivemos ele me disse que muita gente não acredita.
    Parabéns caro José pela matéria e ao Antonio Delfim pelo talento.
    Publiquei uma matéria contando um pouco sobre a tragetória artística do nosso amigo Túlio Dias em www.ateliecleberoliveira.com/materias, espero que possa fazer uma visita e ver o resultado.
    Um abraço!

    Cleber Oliveira

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    1. Obrigado pela sua visita e suas considerações, Cléber. Irei passar por lá, com certeza.
      Grande abraço!

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  8. Só tenho uma palavra para definir o que acabo de ver: Inacreditável!!!
    Jamais imaginei ser possível um hiper-realismo tão apurado feito com espátula.

    Parabéns ao artista Delfim.

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    1. Você é só mais um admirador para uma extensa lista que não faz parar de crescer, Márcio.
      Obrigado por vir e grande abraço!

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  9. Olá,

    Há uns dois ou três anos, tive a oportunidade de ver pessoalmente algumas pinturas do Delfim.
    A galeria estava fechada, por isso vi-as através do vidro.

    Fiquei impressionado com a qualidade, não só cromática mas também com o acabamento superficial a fazer-me lembrar os pintores clássicos.

    Posso dizer que não conhecia o autor e encetei alguns contactos a fim de saber quem era.
    Desde já afirmo que é uma pessoa acessível, com certeza orgulhoso das suas obras, mas sem mostrar o mínimo de soberba.
    Com certeza trabalha muitas horas. Pois como qualquer pessoa que é excelente naquilo que faz, a disciplina e dedicação, são fundamentais.

    Cumprimentos,

    José Carrilho

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    1. Olá José Carrilho, agradeço pela visita e também faço os agradecimentos pelo Antonio Delfim. Bom que já tenha tido a honra de ver suas obras pessoalmente.
      Um grande abraço!

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  10. que gran artista , pienso que sus trabajos mas difíciles y exquisitos son los de ciudades y estructuras y su arquitectura!! muy buenas obras amigo José saludos!!!

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    1. Olá Alonzo, também imagino que não deve ser nada fácil executar linhas tão perfeitas e coerentes com o uso da espátula. É um grande artista, realmente!
      Grande abraço, amigo!

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  11. Bom, eu sou apenas mais um a ficar encantado com tudo o que vi e li. Gostei do texto e da apresentação que faz do Pintor - parabéns! - e das suas invulgares características e, naturalmente, das magistrais pinturas... Fui à procura de mais e descobri o contacto dele no "facebook" e perguntei-lhe como é que ele fazia aquilo... Disse-me que tenho a casa dele à minha disposição e se quiser assistir a uma demonstração é só passar por lá... Meu Deus! Este Homem deve ser de outra galáxia!... Sou capaz de ir até lá...

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    1. Bom dia, João!
      Se tiver mesmo a oportunidade de ir, não recuse o convite. O Antonio Delfim é mesmo magistral na técnica que escolheu para sua expressão.
      Um grande abraço!
      Obrigado por vir!

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