domingo, 3 de novembro de 2013

ZDZISLAW BEKSINSKI

Zdzisław Beksiński - 1974

Se fosse necessária uma única palavra para definir a obra de Beksinski, esta palavra seria: enigmática. Adjetivo que também cabe perfeitamente ao artista e toda sua vida. A primeira impressão que me passa toda sua obra é de algo perturbador, inquietante mesmo. Mas logo, vamos nos familiarizando com suas tormentas e concluindo que são cenas que todos já concebemos, lá no fundo de nossos medos e aflições. Certamente influenciado pelas agruras do pós-guerra, período em que começou a produzir, ele nos expõe com sinceridade, tudo aquilo que mais tememos. É um “fotógrafo de pesadelos”, como ele mesmo se definiu.

Zdzisław Beksiński - 247

 Durante todo o século XX, os holofotes do Surrealismo estiveram concentrados principalmente em Dali e De Chirico e deixaram de dividir a atenção com muitos outros artistas. Merecidamente, aqueles dois artistas trouxeram uma nova visão para o fazer artístico, imprimindo uma liberdade que foi iniciada bem atrás, lá no Renascimento, com as obras de Bosh (um artista fora de seu tempo). Beksinski veio coroar o movimento, tornando-se um dos nomes mais fortes e injustamente um dos menos badalados. Sua obra e tudo que ela representa não têm o alcance que merece.

Zdzisław Beksiński - 137

Nascido na cidade de Sanok, no sul da Polônia, a 24 de fevereiro de 1929, é fácil de compreender porque sua obra é tão aterradora. Todas as imagens do holocausto que perdurou no país durante a Segunda Guerra Mundial, visitaram invariavelmente todos os moradores do país por diversos anos. Beksinski, contemporâneo desse período, sentiu todos os reflexos dele e o imprimiu com todas as usas forças em suas composições.

Zdzisław Beksiński - 33

Ele formou-se em arquitetura, na cidade de Cracóvia, mas retornou para Sanok em 1955. Lá, trabalhava como supervisor de obras, serviço que detestava. A fotografia, a escultura, e mais tarde a pintura, colocaram-no em projeção e o permitiram seguir num novo caminho. Foi no ano de 1964, em Varsóvia, numa exposição individual, que ele teria seu trabalho consagrado. Vendeu todas as obras expostas e entrou definitivamente para o hall da mais importante figura da arte contemporânea polonesa.

Zdzisław Beksiński - 151

Zdzisław Beksiński - 255

Beksinski não teve nenhum treinamento formal para executar suas obras. Foi criando sua linguagem pictórica e seu próprio estilo quase que instintivamente. Também era averso a visitas a museus e exposições. Não aparecia nem para as aberturas de suas próprias. Dizia não se influenciar por nenhum artista de sua época e isso parece ser mesmo verdadeiro, tal é a originalidade de sua proposta. Ele usava principalmente o óleo sobre painéis de chapas de fibra, que preparava pessoalmente. Também usou a acrílica em vários trabalhos.

Zdzisław Beksiński - 1980

Ele dizia que seu trabalho era Barroco ou Gótico da sua maneira. Explorou desde um realismo fantástico ao abstracionismo, passando fortemente pelo Surrealismo, onde se firmou e ficou conhecido. Abominava o silêncio, e por isso sempre pintava ouvindo música clássica. Quando não estava pintando, ouvia rock. O final da década de 1960, que o próprio artista denominou como o início de seu “período fantástico” foi de suma importância para sua carreira. Esse período de importantes produções durou até meados de 1980. Foi nessa época que vieram à tona todas as suas cenas mais perturbadoras, criações pós-apocalípticas que retratavam a morte, figuras esqueléticas, a decadência... Um perfil de todas as fobias. Suas figuras sempre foram muito detalhadas, aumentando ainda mais a inquietação a que se propunham.

Zdzisław Beksiński - 16

Tímido, modesto, era também uma pessoa de boa prosa e agradável, apesar de todo assombro que emitia em seu trabalho. Evitava qualquer evento público e creditou a música como a sua principal fonte inspiradora. Ficava indignado quando tentavam interpretar sua obra. Nem ele mesmo se preocupava em fazer isso. Apenas produzia aquilo que lhe vinha à cabeça e sempre achou que a arte não precisa de explicações. Tanto que se recusou a dar títulos para todas as suas pinturas e desenhos. Um fato inusitado aconteceu em 1977, antes de se mudar para Varsóvia, quando queimou uma grande parte de sua produção, no quintal de sua casa, alegando que ela era muito pessoal e não desejava que outros viessem a vê-la.

Zdzisław Beksiński - 371

Zdzisław Beksiński - 370

No início dos anos de 1990, passou a produzir algo mais simplificado, focando nos fundos e deformando cada mais as suas figuras. Abstraía as formas sempre mais e mais. No final dessa mesma década, teve acesso à arte digital e à internet, concentrando nessa forma de produção até o final de sua carreira.

Zdzisław Beksiński - 1976

Os últimos anos de 1990 não foram muito fáceis para Beksinski. Sua esposa faleceu em 1998 e na véspera do natal de 1999, encontrou seu próprio filho suicidado. Fatos que aumentaram ainda mais a introspecção que já lhe era natural. Em 21 de fevereiro de 2005, Zdzislaw Beksinski foi encontrado morto em seu apartamento em Varsóvia, vitimado com 17 facadas, proferidas por Robert Kupiec, filho de um dos zeladores do prédio onde morava. Dependente de drogas, Kupiec alegou que o artista havia lhe recusado a emprestar o equivalente a cem dólares.

Zdzisław Beksiński - 142


Atualmente, a cidade de Sanok abriga um museu dedicado exclusivamente ao seu artista mais ilustre. Ele se tornou um artista respeitado e valorizado em toda a Europa e Estados Unidos, seus mais importantes mercados.


6 comentários:

  1. Não conhecia a grandeza da obra de Zdzislaw Beksinski, são trabalhos belíssimos, pesadelos com toques de sonhos... grande artista!
    Abração meu amigo...
    muito obrigado pela mensagem.... Deus te abençoe!

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    1. Infelizmente o trabalho dele não é muito conhecido. Uma dessas injustiças do mercado artístico.
      Abraço grande, Vidal!

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  2. Um grande artista. Vida dura a dele.
    Abraço grabde desde aqui.
    S. Quimas

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    1. Sim, tempos difíceis aqueles, Quimas.
      Grande abraço, amigo!

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  3. Caro Jose, eu tenho observado algumas de suas fotos em que vc aparece portando seus pincéis, todos do cabo na cor vermelha, me parece. Por isso eu gostaria de saber se tem como vc nos dar algumas dicas tais como marca, modelos, numero, formato, etc. Obrigado.

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    1. Olá Ivo, isso é muito pessoal. Acabei me acostumando (nem sei se são os melhores, certamente não são os mais caros) com os pincéis da Condor, linhas 484 e 421, em todos os tamanhos. Mas, como disse, é uma questão pessoal.
      Grande abraço!

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