sábado, 28 de julho de 2018

A ARTE NO SÉCULO XIX: Parte 3

ANSELM FEUERBACH - O julgamento de Paris
Óleo sobre tela - 228 x 443 - Entre 1869 e 1870 - Museu Kunsthalle, Hamburgo
Artista alemão que passou por Paris e Roma e soube aliar
os ensinamentos de várias correntes artísticas:
o rigor neoclássico, a interpretação romântica e
um colorido diferenciado de seu tempo.

Tanto na arte, como em qualquer outro campo das relações humanas, a democracia se faz algo imperativo. Na arte, em especial, essa virtude parece ganhar uma lente de aumento, uma vez que cada artista expressa a sua realidade e qualquer dificuldade em conviver com isso tornaria essa uma das atividades humanas mais insuportáveis. Uma vez que cada ponto de vista torna um posicionamento pré-estabelecido, somente a democracia para viabilizar o convívio entre artistas e admiradores. No início do século XIX, esse conviver com as “diferenças” passou a ganhar uma conotação mais forte. A arte deixava o ambiente aristocrático e começava a ganhar o grande público. O novo sistema econômico, cambiando cada vez mais do agrário e colonial para o industrial e citadino, possibilitava a qualquer cidadão mais bem estabelecido, começar a usufruir do prazer de apreciar uma obra em sua casa. Também ampliavam as correntes artísticas e os estilos pareciam defender bandeiras e ideologias. Não vamos esquecer de um importante detalhe: o século XIX é o século dos contrastes.

DOMENICO MORELLI - Banho em Pompeia - Óleo sobre tela - 1861
Um artista versátil, que soube aliar influências neoclássicas, realistas e
com um colorido que se aproximava das novas
experiências que chegariam futuramente ao Impressionismo.
O Simbolismo também fez parte de sua obra, em
uma etapa mais madura de sua carreira.

Conviviam, ao mesmo tempo, o Academicismo, o Neoclassicismo, o Romantismo e expressões ainda tardias do Barroco e Rococó. Isso tenderia a aumentar ainda mais, conforme encaminhasse o século XIX. Muitas outras correntes seriam derivadas do Neoclassicismo e Romantismo, a citar, apenas pelo momento, o Naturalismo e o Realismo. Estas trariam variações que levariam ao Impressionismo e muitas outras correntes ditas “modernistas”. Alguns artistas faziam até mais de uma tendência, e veremos isso em grande parte daqueles que não tiveram um posicionamento político, quando abraçaram tais movimentos. O certo é que “democracia” parece ter sido uma virtude muito empregada naqueles tempos. Isso às vezes fugia ao controle, e, muitos nomes influentes naquele tempo não deixaram boas lembranças. Apenas para citar como exemplo, as “rusgas” frequentes entre Bouguereau e os ditos movimentos “alternativos”.

THOMAS COLE - O curso do Império, Destruição - Óleo sobre tela - 100,3 x 161,2 - 1836
Pintor norte-americano, mais conhecido como o fundador
da Escola do Rio Hudson. Os anos de estudo na Itália,
nas duas temporadas que passou por lá, fizeram dele
um admirador confesso da cultura romana, tanto
que produziu uma série com 5 grandes telas que
narram a trajetória do Império romano, desde o
apogeu à sua decadência.
O Romantismo tornou-se marca em suas obras
de paisagens norte-americanas.

Uma coisa não se pode negar, quase todos os influentes artistas do século XIX foram franceses e todas as revoluções que se produziram nas artes plásticas tiveram a França por teatro. As razões que se invocam em geral para explicar esta proeminência parecem insuficientes. Outros países, além da França, tiveram então períodos brilhantíssimos, tanto no aspecto econômico como no aspecto literário, filosófico ou musical. Muitos artistas competentes e até respeitados de outros países, acabavam indo se instruir em Roma e outros pontos da Itália, mas o endereço final de suas caminhadas quase sempre era Paris. Certos artistas obtiveram, sem dúvida, êxitos ao mesmo tempo encorajadores e remuneradores, mas outros foram incompreendidos e tiveram de lutar duramente contra a miséria. Contudo, o século XIX ficará provavelmente como o grande século da arte francesa. Mas, encontraremos e veremos excelentes representantes da arte do século XIX fora da França e inclusive fora da Europa. Essa etapa de nossa viagem ao século XIX será exatamente para conhecermos alguns nomes de destaque daquele século, fora da França. Todos tiveram influências das escolas romanas e ou francesas.
Como vimos até aqui, muitos eram os artistas de outras nacionalidades que foram estudar em Roma ou Paris. Em Roma, iam atrás das referências históricas e em Paris, iam atrás das referências técnicas. Ainda falaremos bastante sobre os diversos artistas e suas nacionalidades, mas, por enquanto, os destaques vão para esses três nomes a seguir: Karl Bryullov, Lord Leighton e Henryk Siemiradzki.

KARL BRYULLOV - O último dia de Pompeia
Óleo sobre tela - 456,5 x 651 - Entre 1830 e 1833 - Museu Russo, São Petersburgo



KARL BRYULLOV
Karl Bryullov nasceu em São Petersburgo, na Rússia e é considerado a figura-chave da transição do Neoclassicismo russo para o Romantismo. Ele se sentiu atraído pela Itália desde seus primeiros anos. Apesar de sua educação na Academia Imperial de Artes (1809-1821), Bryullov nunca abraçou totalmente o estilo clássico ensinado por seus mentores e promovido por seu irmão, Alexander Bryullov. Depois de se distinguir como um estudante promissor e imaginativo e terminar sua educação, ele deixou a Rússia para morar em Roma, onde trabalhou até 1835 como retratista e pintor de gênero, embora sua fama como artista tenha ocorrido quando ele começou a pintar a história.



Sua obra mais conhecida, O Último Dia de Pompeia, criou uma sensação tão positiva na Itália que estabeleceu Bryullov como um dos melhores pintores europeus de sua época. Ela é uma mistura de Neoclassicismo, Romantismo e Barroco. Depois de concluir este trabalho, ele triunfantemente retornou à capital russa, onde fez muitos amigos entre a elite aristocrática e intelectual e obteve um alto cargo na Academia Imperial de Artes. Enquanto ensinava na academia (1836–1848), ele desenvolveu um estilo de retrato que combinava uma simplicidade neoclássica com uma tendência romântica e sua propensão ao realismo era satisfeita com um nível intrigante de penetração psicológica. Portanto, é um exemplo clássico do artista que se desenvolvia bem naquele século: não se prendia a estilos e posicionamentos rígidos.

LORD LEIGHTON - A celebrada Madonna de Cimabue é levada pelas ruas de Florença
Óleo sobre tela - 222 x 521 - Galeria Nacional, Londres

LORD LEIGHTON
Frederic Leighton, conhecido mais como Lord Leighton, nasceu na Inglaterra. Ele recebeu seu treinamento artístico no continente europeu, primeiro de Eduard von Steinle e depois de Giovanni Costa. Aos 17 anos, no verão de 1847, ele conheceu o filósofo Arthur Schopenhauer em Frankfurt e pintou seu retrato, em grafite e guache sobre papel - o único estudo completo conhecido de Schopenhauer feito em vida.




Quando ele tinha 24 anos, foi para Florença e estudou na Accademia di Belle Arti. De 1855 a 1859 viveu em Paris, onde conheceu Ingres, Delacroix, Corot e Millet. Por essa rápida introdução sobre esse artista, é possível entender as suas influências neoclássicas, acadêmicas e mais tarde, como um defensor do Esteticismo Britânico. Essa multiplicidade estilística seria uma marca constante dos grandes nomes da pintura do século XIX. Em 1860, mudou-se para Londres, onde se associou aos pré-rafaelitas. Em 1864, ele se tornou um associado da Royal Academy e em 1878 tornou-se seu presidente (1878-1896).

HENRYK SIEMIRADZKI - O julgamento de Paris - Óleo sobre tela - 99 x 227 - 1892

HENRYK SIEMIRADZKI
Henryk Siemiradzki Foi um pintor polonês que concluiu sua formação em Roma, mais lembrado por sua monumental arte acadêmica. Ele era particularmente conhecido por suas representações de cenas do antigo mundo greco-romano e do Novo Testamento, de propriedade de muitas galerias nacionais da Europa. Embora tenha chegado a Roma em 1872, muitos anos depois das grandes transformações ocasionadas no início daquele século, a influência da arte antiga é notada em todas as suas composições. Além de retratar as cenas da antiguidade, muitas vezes fazia cenas pastorais ensolaradas ou composições que apresentam as vidas dos primeiros cristãos. Ele também pintou cenas bíblicas e históricas, paisagens e retratos. Mais um grande artista do século XIX que soube aliar informação histórica, técnica e tradição em sua obra.




Na próxima matéria, veremos o surgimento do Romantismo e suas influências na arte do século XIX.

VEJA TAMBÉM AS MATÉRIAS ANTERIORES:


domingo, 22 de julho de 2018

A ARTE NO SÉCULO XIX: Parte 2


JACQUES-LOUIS DAVID - Patroclus - Óleo sobre tela - 122 x 170 - 1780

O ideal de beleza grego foi ressuscitado nas propostas
neoclássicas. David se orientou das referências
gregas e romanas encontradas nas escavações
que visitara com frequência, por toda a Itália.

JACQUES-LOUIS DAVID - O funeral de Patroclus
Óleo sobre tela - 94 x 218 cm - 1779 - Galeria Nacional da Irlanda, Dublin

Dois estilos, tidos inicialmente como opositores, mas vistos posteriormente como dois lados de uma mesma moeda, deram as cartas no final do século XVIII e praticamente ditaram todo o início do século XIX, até a segunda metade dele: O Neoclassicismo e o Romantismo. Para muitos, o Neoclassicismo retratava a verdade absoluta da vida, vista pelo espelho das realidades puras e simples da Grécia Antiga e também de Roma. O Romantismo representava a realidade por meio de imagens das emoções brutas e descontroladas que prevaleceram nos tumultos após a Revolução Francesa. Curiosamente, o termo Romantismo pode ser usado para duas correntes artísticas completamente distintas entre si. Entre a pintura romântica francesa e a pintura romântica alemã há um verdadeiro abismo e, no entanto, o nome foi usado para designar movimentos artísticos nos dois países. Nessa matéria, concentraremos no Neoclassicismo, com ênfase especial para Jacques Louis David, o maior símbolo desse movimento.

LUIGI BAZZANI - Interior em Pompeia
Óleo sobre painel - 73 x 55,9 - 1882 - Dahesh Museum, Nova York

Pompeia inspirou muitos artistas, por todo o século XIX.
Motivados pelo ideal clássico de beleza, muitos deles
continuaram produzindo trabalhos com essa temática
por todo o século.

LUIGI BAZZANI - Cena de Pompeia com senhoras numa fonte - Óleo sobre tela - 1878

Neoclassicismo é uma palavra criada na década de 1880 (a identificação de um estilo artístico sempre se faz a posteriori), para definir o estilo nascido em meados do século XVIII, que superou o Rococó e foi o último “renascimento” da tradição clássica na arte. O Rococó, tido como uma arte frívola e superficial, foi substituído por uma arte de seriedade total e compromisso moral. Há que se ressaltar que o Neoclassicismo foi um movimento bastante educativo, pois seus devotos e seguidores acreditam que as belas-artes podiam e deviam difundir conhecimento e iluminação. O Neoclassicismo nunca desapareceu por completo na história mais recente da arte, vindo a ressurgir nos movimentos fascistas e nazistas e nos arquitetos modernos puristas do século XX e até mesmo nesse nosso século, com várias escolas retornando ao academicismo tradicional de início do século XIX, despertando o interesse de grande público para as abordagens estéticas daquele período.

JACQUES-LOUIS DAVID - Juramento dos Horácios
Óleo sobre tela - 330 x 425 cm - 1784 - Museu do Louvre, Paris

JACQUES-LOUIS DAVID - Hector - Óleo sobre tela - 1778 - Museu Fabre, Montepelier

Há uma diferença significativa do “renascer” neoclássico do século XVIII para os movimentos propriamente renascentistas anteriores e até mesmo do Alto Renascimento. Nos períodos anteriores, havia o desejo de reconhecer Grécia e Roma como fontes únicas da inspiração clássica do passado. No século XVIII, graças às inúmeras escavações arqueológicas que aconteciam em várias partes da Europa, Ásia e África, revelou-se um mundo antigo muito mais complexo do que simplesmente Grécia e Roma, e que compreendia a Pérsia Antiga, o Egito e até os mundos medieval e oriental. Pompeia e Herculano foram o pontapé inicial, mas não eram a única referência de um passado brilhante e muito rico culturalmente. As novas descobertas incitaram fortes reações emocionais e românticas ao passado e, por isso, é preciso compreender o Neoclassicismo como participante do movimento mais amplo do Romantismo.

JACQUES-LOUIS DAVID - A morte de Marat
Óleo sobre tela - 165 x 128 - 1793
Museu Real de Belas Artes da Bélgica, Bruxelas

JACQUES-LOUIS DAVID
Retrato de Antoine-Laurent e Marie-Anne Lavoisier
Óleo sobre tela - 259,7 x 194,6 cm - 1788
Museu Metropolitano de Nova York

Entre os intelectuais do período, chegou a haver brigas acirradas a respeito de qual modelo era mais puro: Roma ou Grécia. As novas descobertas fantásticas de afrescos inteiros e de mobílias de bronze praticamente intactas em Pompeia e Herculano suscitaram uma onda de evocações e interpretação de tudo o que fosse romano. Mas a Grécia, principalmente com a descoberta dos templos gregos arcaicos da ordem dórica de Pesto, no sul da Itália, tornou-se predominante.

JACQUES-LOUIS DAVID - A coroação de Napoleão e Josefine
Óleo sobre tela - 629 x 979 cm - Entre 1805 e 1807 - Museu do Louvre, Paris

JACQUES-LOUIS DAVID
O Imperador Napoleão em seu estúdio nas Tulheiras
Óleo sobre tela - 203,9 x 125,1 cm - 1812
Galeria Nacional de Arte, Washington

É possível que certa escassez de teóricos-filósofos tenha posto os Franceses em condições de inferioridade com os alemães, naquele momento, mas, por fim, foram eles que ganharam a partida. Afinal, as teorias artísticas só assumem verdadeira importância quando podem apoiar–se em obras, as quais, para os homens que trabalham com as próprias mãos, valem mais do que uma doutrina. Estas obras, que se impuseram à evidência, são as de Jacques-Louis David. Durante sua formação, ele subestimava a antiguidade, dizendo que esta carecia de vivacidade; mas, após uma longa viagem aos novos sítios arqueológicos da Itália (em especial Pompeia e Herculano), concluiu que vira a verdadeira luz do passado. Também como foi formado na escola do artista Vien, equivale dizer que a Antiguidade não lhe era desconhecida. Seu mestre já defendia essa corrente, muitos anos antes.

JACQUES-LOUIS DAVID - Napoleão atravessando os Alpes
Óleo sobre tela - 271 x 232 cm - 1802 - Chateau de Versalhes, Paris

JACQUES-LOUIS DAVID - Leônidas e Termópilas
Óleo sobre tela - 395 x 531 cm - 1814 - Museu do Louvre, Paris

De regresso à França, David lançou-se a pés juntos no movimento revolucionário, em cujo seio conseguiu impor as suas ideias reformadoras. Foi em particular o grande artífice da destruição das academias do antigo regime, nas quais se mantinha uma tradição que ele odiava. Entretanto, o seu gênio, a que se entregara de corpo e alma, só tirava benefício da sobriedade que a si mesmo se impusera. Poucos quadros são tão trágicos como o Marat que ele pintou, morto, dentro da banheira.

JACQUES-LOUIS DAVID - O rapto das Sabinas
Óleo sobre tela - 385 x 522 - Entre 1796 e 1799 - Museu do Louvre, Paris

Entretanto, veio Bonaparte, ao qual David se dedicou com tanta mais paixão quanto é certo que o herói partilhava do seu culto da Antiguidade. Tornou-se, pois, o pintor oficial do Império e a sua imensa tela da Sagração constitui uma página histórica esplêndida, bastante rica de cor, de composição apressada mas majestosa, cheia de retratos, cada um dos quais é uma obra de grande categoria, preparada por esboços que são em si mesmos obras-primas.

JACQUES-LOUIS DAVID - A morte de Sócrates
Tinta e lápis sobre papel - 27,8 x 41,6 - 1786 - Coleção particular

JACQUES-LOUIS DAVID - A morte de Sócrates
Óleo sobre tela - 129,5 x 196,2 - 1787 - Museu Metropolitano de Nova York

David tornou-se um ídolo, chegou mesmo a ser chamado de O Messias da Arte. Uma de suas obras mais famosas, A Morte de Sócrates, ostenta o estoicismo do filósofo no momento antes de beber a cicuta e morrer. A partir desse momento, a Antiguidade entrou em moda, todas as casas contemporâneas sentiam-se na obrigação de ter mobília ou papel de parede ao estilo Pompeia. Chegou ao cúmulo de algumas mulheres da época, em homenagem às Sabinas, passarem a exibir um dos seios em homenagem a elas, tal qual se via no famoso quadro de David, O Rapto das Sabinas.

GIRODET - O funeral de Atala - Óleo sobre tela - 207 x 267 - 1808 - Museu do Louvre, Paris

PIERRE-NARCISSE GUÉRIN - Morpheus e Iris
Óleo sobre tela - 251 x 178 - 1811 - Museu Hermitage, São Petersburgo

JEAN BERNARD RESTOUT - Os prazeres de Anacren - Óleo sobre tela - 196,3 x 250,2

JEAN FRANÇOIS PIERRE PEYRON - Belisarius recebendo pastores
Óleo sobre tela, colada em painel - 49,3 x 62,3 - 1811

JEAN LEON GEROME - O combate dos galos - Óleo sobre tela - 39,5 x 55,2
Museu d'Orsay, Paris

Giroudet, Guérin, Restout, Peyron, Gerome... Uma lista extensa
de ótimos artistas sucederam com o ideal clássico
despertado por David. Não obtiveram a fama e a intensidade
do mestre, mas marcaram uma página brilhante na arte
neoclássica daqueles tempos.

Por trás de todo grande gênio artista do passado sempre houve um grande mecenas. David floresceu graças ao sucesso de Napoleão e também findou junto com a sua queda. Exilado pelos Bourbons em 1815, David terminou a sua vida no exílio em Bruxelas, como ele mesmo escolheu, pois Luís XVIII até havia lhe oferecido anistia e mesmo uma posição na corte. David adquiriu na França uma autoridade quase tirânica e a história da pintura, no começo do século XIX, é quase exclusivamente a da sua escola. No entanto, nessa oficina, a primeira do seu tempo, os discípulos foram, na sua maioria, medíocres, se comparados com seu grande mestre. É tudo o que se pode dizer dum Guérin e dum Girodet. Gérard merece mais apreço: os seus retratos femininos respiram surda volúpia, mas perdia o fôlego perante as grandes composições segundo os moldes do antigo, que os seus companheiros olhavam como o cúmulo da arte. Menos que ninguém podia Gros entusiasmar-se por esta arqueologia. Prudhon é o que mais se aproxima das referências plenas de seu mestre.

FRANÇOIS JOSEPH NAVEZ - Retrato de Jacques-Louis David
Óleo sobre painel - 74,5 x 59,5 - 1817

Jacques-Louis David nasceu em Paris, a 30 de agosto de 1748 e faleceu em Bruxelas, a 29 de dezembro de 1825.
O Neoclassicismo já não se restringiria unicamente ao território francês. Espalhou por toda a Europa e também pela América. Continuaremos nossa viagem num próximo encontro.

VEJA TAMBÉM A MATÉRIA ANTERIOR:
. A arte no século XIX: Parte 1

sábado, 14 de julho de 2018

A ARTE NO SÉCULO XIX: Parte 1


ETTORE FORTI - Mercador de tapetes em Pompéia - Óleo sobre tela - 49 x 77,5

As escavações arqueológicas nas cidades de Pompeia e Herculano,
iniciadas no século XVIII, abriram caminho para o
retorno à antiguidade clássica como referência maior para
a manifestação artística. No século XIX, isso teria uma
importância fundamental nos estilos e temas abordados.

GIOVANNI MUZZIOLI - Jovens jogadores de bocha - Óleo sobre tela - 60 x 100

Assim como para fazer um diagnóstico correto de um paciente que chega a uma clínica é preciso saber o seu histórico de vida, também para conhecer melhor um período da História é necessário conhecer os períodos que antecederam a ele. No paciente, uma conclusão sem análise prévia pode não apenas chegar a uma conclusão errada de sua enfermidade como não curá-la. Na história, iguais injustiças podem acontecer. Há ainda a possibilidade de, na história, haver interesses particulares e os fatos serem distorcidos, fazendo com que, no futuro, essa força e poder deixem a história mal contada, trazendo sérios riscos para a memória da humanidade. Se quisermos entender o século XIX e todo o contexto histórico desse período, principalmente no que se refere à arte desenvolvida nessa época, teremos que voltar um pouco antes. Conhecer os personagens e todo o contexto social no qual estavam inseridos é o primeiro passo para se chegar a uma análise mais próxima da realidade. Um pouco da grande mudança artística ocorrida no século XIX acontece décadas antes, na Itália principalmente, e envolve personagens de diversas áreas e de diversas nacionalidades.

FILIPPO PALIZZI - Escavação em Pompéia
Óleo sobre tela - 118 x 85
Um fato curioso nas escavações das cidades italianas, é que a
mão-de-obra feminina era usada indiscriminadamente. Aos homens,
cabia o trabalho de escavar, e a elas o trabalho de carregar o
produto das escavações.

LOUIS FRANÇAIS - Escavações em Pompeia - Aquarela sobre papel - 36,2 x 47,5

A chegada do século XIX acenava um período muito bom para a Itália. Guardadas as devidas proporções, houve quem acreditasse que estariam de volta os velhos tempos áureos do Renascimento. Isso devido às escavações iniciadas em Pompeia e Herculano, que trouxeram à cena a intimidade com a Antiguidade. Destruídas pela erupção do Vesúvio no ano 79 dC, as cidades tiveram suas estruturas preservadas, tal como se estivessem congeladas no tempo. Pessoas foram pegas de surpresa e não tiveram como fugir. Muitas delas foram petrificadas ainda em suas casas. Iniciadas em 1738, as escavações nas duas cidades revelaram um cenário nunca antes visto ou imaginado. Podia-se caminhar por uma cidade romana praticamente inteira, com ruas pavimentadas, lojas, casas e anfiteatros. Com exceção dos telhados e algumas paredes que desabaram com o peso das cinzas; as cidades inteiras estavam bem conservadas.  Principalmente em Pompeia, onde os estragos estruturais não foram iguais aos de Herculano, a decoração original ainda continuava nas paredes, além dos utensílios domésticos. Toda essa descoberta acabou tendo um grande impacto nos estilos neoclássicos do século XVIII e no início do século XIX por todo o mundo ocidental.

AUGUST KNOOP - Sociedade rococó - Óleo sobre tela - 25,5 x 30

CARL SCHWENINGER JR - Fofoca no salão - Óleo sobre painel - 47 x 60

CLETO LUZZI - O recital - Óleo sobre tela

No período Rococó, a sociedade experimentava um 
período de extravagâncias. Há historiadores que
o classificam como o período da frivolidade e
desperdícios. Esse excesso, que era percebido
em tudo, desde a arquitetura à maneira de agir,
seria substituído em breve pelo Neoclassicismo.

Não era somente o fato inusitado das descobertas que prometia trazer severas mudanças ao cenário artístico europeu (que era quem ditava as regras da arte naqueles tempos). O Barroco já dava ares de um movimento exaurido. Como na história da arte, assim como na história da humanidade, um período de liberdade é sempre sucedido por um período de disciplina, a frivolidade dos tempos do Rococó estava com os dias contados. O retorno às antigas origens da arte europeia, com base principalmente nas escavações que se iniciaram nas cidades italianas citadas, trouxe à cena uma espécie de novo Renascimento. O Neoclassicismo ganhou força e marcou uma nova fase na História da Arte.

IPPOLITO CAFFI - O Pantão, Roma - Óleo sobre tela - 23,1 x 30,1

Roma e Veneza tornaram os centros mais movimentados na
Itália daqueles tempos. Mas, a promessa de um novo
Renascimento se tornava cada mais distante da realidade
do país. Foram os estrangeiros, as figuras mais
importantes daquela época.

CANALETTO - O pier, com a Casa da Moeda e a Coluna de St Theodore
Óleo sobre tela - 110,5 x 185,5

Roma retomava o posto que lhe fora de direito cerca de 300 anos antes. Por ironia, os romanos e os italianos tiveram uma participação modesta nessa nova fase. Eram os estrangeiros, vindos de toda parte, que chegavam ali para completar os estudos e instruir-se nas artes, principalmente. Praticamente vieram artistas de todos os continentes, de diversas nacionalidades. Alguns locais em Roma e Florença pareciam verdadeiros ateliês estabelecidos. Numa espécie de conquista do território italiano, todas as regiões foram praticamente invadidas. Veneza revelava um cenário exuberante e único, Florença e Roma ressuscitavam a antiguidade esquecida, o litoral revelava um país quase exótico aos olhos de artistas de todos os cantos que chegavam ali.

PIERRE SUBLEYRAS - O estúdio do artista - Óleo sobre tela - 1740

Se do Renascimento ao Barroco o artista era geralmente
sustentado por mecenas e trabalhava exclusivamente
em seus estabelecimentos (geralmente palácios e
igrejas), à partir do século XVIII ele passava a ter
seu próprio ateliê e tornara assim, um profissional
independente. No século XIX isso ficaria ainda
mais definido.

ALFRED STEVENS - O pintor e sua modelo - Óleo sobre tela - 1855

Os alemães tornaram os teóricos desse novo movimento. Isso sempre pareceu uma vocação natural daquele país. Deixaram uma notada contribuição no registro histórico desse novo tempo. Johann Joachim Winchelmann é a figura mais ressaltada entre eles. Historiador de arte e arqueólogo, foi o primeiro a estabelecer distinções entre Arte Grega, Greco-romana e Romana, o que se tornou decisivo para o surgimento e ascensão do Neoclassicismo. Winckelmann foi também um dos fundadores da arqueologia científica moderna e foi o primeiro a aplicar de forma sistemática categorias de estilo à história da arte. É considerado por isso, o pai da História da Arte. Infelizmente não dedicou à sua vida particular a atenção que dava aos estudos e teve um final trágico, que vale ser conferido em sua biografia.

GIULIANO ZASSO - Na Piazza San Marco, em Veneza
Óleo sobre painel - 47,5 x 37,5

Com as escavações em Pompeia e Herculano, e também
em outros sítios arqueológicos que foram sendo
explorados nesse período, visitantes de todas
as partes do mundo queriam ver as novidades
do mundo antigo. O conceito de turismo como conhecemos
hoje, é provável que tenha surgido nesse período.

LUIGI BAZZANI - Uma vista de Pompéia - Óleo sobre tela

Da Alemanha não vieram apenas os teóricos, artistas também tomaram espaço entre eles. Rafael Mengs e Vien foram os mais expoentes deles. Também ligados ao grupo estavam artistas como a suíça Angélica Kauffmann e Tischbein. Mas, de várias partes do mundo eles iam surgindo e obtendo influência e força nos novos movimentos. O escultor Trippel, o dinamarquês Carstens, os ingleses Flaxman e Gavin Hamilton e até mesmo o americano Benjamin West. Todos se diziam fanáticos pelos desenhos de contornos, imitados de vasos gregos e que se tornaram uma espécie de frenesi entre colecionadores. Mas, foi um francês, de nome Jacques Louis David quem daria um novo impulso ao movimento Neoclassicista daqueles tempos. Graças a ele e ao contexto político francês, Roma perderia o status de cidade sede da grande renovação artística daqueles tempos e Paris se tornaria o ponto de referência da grande revolução cultural daqueles novos tempos. E isso é assunto para a nossa próxima matéria.

JACQUES LOUIS DAVID - Eraístrato descobre a causa da doença de Antíoco
Óleo sobre tela - 120 x 155 - 1774

O mundo clássico antigo foi o tema predominante na obra
do francês David. E com ele, uma série de grandes
mudanças ocorreriam em vários campos da arte.

ANGÉLICA KAUFFMANN
Retrato de Johann Joachim Winchelmann
Óleo sobre tela - 97 x 71 - 1764

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