sexta-feira, 27 de outubro de 2017

ACADEMIA DE ARTE DE SÃO PAULO


Há, em todo o mundo, um movimento cada vez mais crescente de retorno à arte figurativa realista. A Internet é a grande aliada que tornou possível esse novo “Renascimento”, fazendo com que artistas e o grande público pudessem mostrar e apreciar os trabalhos, sem as amarras manipuladoras de galerias e críticos de arte. Felizmente, é chegado o tempo em que é possível apreciar aquilo que se deseja, com um simples toque de teclado. E o grande público sempre foi ávido por aquilo que exalta o belo e promove o artista hábil e dominador de todas as suas capacidades técnicas e criativas.




Na mesma direção dessa nova tendência mundial, começaram a surgir, em diversas partes do mundo, escolas de arte com o ensino voltado para as artes acadêmicas que eram desenvolvidas até o século XIX. A Academia Ilya Repin, em São Petersburgo, na Rússia, é a única que se mantém fiel a essa proposta, desde quando foi fundada, em 1757. Todas as outras academias espalhadas por diversos continentes, tiveram sua grade curricular “afetada”, de alguma maneira, por tendências modernistas e contemporâneas, ainda que tivessem sua base nos ensinamentos figurativos clássicos.




Uma academia de artes não se limita a um local de formação artística e de estudos somente. Junto com a capacitação técnica de todas as atividades relacionadas ao fazer artístico, principalmente no que diz respeito ao domínio preciso do desenho, também está à afirmação do caráter intelectual, desenvolvendo no artista aluno o gosto pelo conhecimento baseado nos ensinos clássicos, assessorado por um respaldo histórico-filosófico, desvinculando assim, a ideia de que ele se trata apenas de um trabalhador manual, um simples artesão.


          

          

Um dos motivos de minha última ida a São Paulo, nesse mês de outubro, foi visitar a Academia de Arte de São Paulo (AASP), idealizada e organizada pelo artista Gilberto Geraldo. A academia está situada no Bairro do Tatuapé, em um antigo galpão desativado, e que vai tornando, aos poucos, o ambiente propício do que já é um ponto de referência para arte tradicional acadêmica deste País. O próprio Gilberto me recebeu muito calorosamente numa tarde de sábado, e confesso que tudo o que vi e apreciei por lá, tem me tirado algumas horas de sono todas as noites, desde então.





Falar sobre a Academia de Arte de São Paulo é falar um pouco da trajetória mais recente de Gilberto Geraldo, uma vez que tudo ali só é possível graças ao seu propósito tão bem focado e determinação imbatível. Dizem que somente com objetivo, não nos deixamos desvencilhar de nossos propósitos. Quando saiu do Brasil, quinze anos atrás, para estudar na Academia Ilya Repin, Gilberto tinha em foco a especialização num dos sistemas mais rigorosos de ensino artístico do mundo. No auge de sua carreira, com uma clientela seleta já formada, ele deixou para trás o seu país, a estabilidade de sua posição profissional, o conforto de sua casa e o convívio com familiares e amigos, e se propôs uma nova realidade. Não foram suficientes a dificuldade da nova língua, o frio extremo do norte russo e os desafios diários da academia russa para lhe desanimar. É muito bom ver um artista satisfeito em sua escolha e convicto de que nada do que se propôs foi em vão. Retorna agora, o artista pleno de seus domínios artísticos, na companhia de esposa e filho e com uma nova proposta de vida. Proposta que deseja dividir com todos aqueles que se encantam com a arte e a desejam levar ao patamar mais elevado.





Um dos objetivos do Gilberto, que ficou bem claro em nossa conversa, é a de formar uma geração de excelência acadêmica no Brasil. Passo que será dado no próximo ano, quando dará início a primeira classe da Academia de Arte de São Paulo. Fundada no dia 2 de junho de 2016, o local se tornou passagem por várias turmas de alunos que desenvolveram e ainda estão desenvolvendo em cursos preparatórios para a Academia em si. Em três meses de ensino preparatório, o aluno aprende a dominar e manipular técnicas de desenho e pintura; habilidades essenciais para o decorrer do Curso Acadêmico que virá pela frente.




A Academia de Arte de São Paulo não é o primeiro empreendimento desse tipo na carreira de Gilberto Geraldo. Ele já possui em São Petersburgo/Rússia, um estúdio com essas mesmas características, e que tem preparado alunos de todo o mundo para ingressarem na Academia Ilya Repin. Juntamente com artistas russos e chineses (amigos e colegas dos tempos de academia), montaram um empreendimento que tende a se espalhar por várias partes do mundo. Portanto, ter acesso a uma academia com os mesmos critérios de ensino da mais renomada escola acadêmica do mundo, a de São Petersburgo, é um privilégio que os artistas brasileiros estão tendo, e que posso afirmar categoricamente: é algo que não acontece desde os tempos da extinta Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, que tantos ilustres artistas formou, como Pedro Américo, Vitor Meirelles, Almeida Júnior, Oscar Pereira da Silva e tantos outros.


GILBERTO GERALDO - Natureza morta - Óleo sobre tela

Voltei de São Paulo com os ânimos reavivados. O desejo de aprender não conhece idade e me pareceu uma bela proposta futura. Incentivo a todos que posso, e que se propõe a formar academicamente como artistas, que visitem as instalações da Academia de Arte de São Paulo. Agendem um horário para visitação e se deixem contagiar pela atmosfera fantástica que se respira ali.



Rua Dr.Ernesto Mariano, 335, Tatuapé, São Paulo/SP

(11) 3542-4274



PARA SABER MAIS:





domingo, 15 de outubro de 2017

BRETT JAMES SMITH

BRETT JAMES SMITH - Meio-dia no campo - Óleo sobre tela - 20 x 30 pol

BRETT JAMES SMITH - Segredos sob as pedras - Óleo sobre tela - 22 x 24 pol

BRETT JAMES SMITH - Fim do dia - Óleo sobre tela - 24 x 36 pol - 2001

De uma certa forma, sempre que encontro algum artista que se identifica diretamente com o estilo e temas que também gosto de abordar, sou tomado pelo ímpeto de não resistir o compartilhamento. Assim aconteceu quando me deparei com os trabalhos de Brett Smith, cujas obras remetem muito bem aos temas rurais que tanto admiro e faço questão de cultivar em minha produção. Estão em suas obras o gosto pelo desenho, a narrativa bucólica e a manutenção da memória de tempos perdidos. Todos os requisitos que considero essenciais para o artista que aborda seus trabalhos com uma proposta bem definida.

BRETT JAMES SMITH - Chegando a noite - Óleo sobre tela - 16 x 20 pol

BRETT JAMES SMITH - Acampamento junto ao rio - Óleo sobre tela - 24 x 40 pol

BRETT JAMES SMITH - Caçando codornas - Aquarela sobre papel - 20 x 29 pol

Brett James Smith nasceu em Nova Orleans, estado norte-americano da Louisiana, a 19 de março de 1958. Como grande parte dos artistas, seus anos de infância e adolescência tiveram uma grande influência no rumo de sua vida artística futura. Ainda bem novo, foi apresentado à vida esportiva pelo avô, que tinha como hobbie predileto caçar codornas em Longleaf Pine, no leste do Texas. O gosto por esse contato com o meio rural e selvagem foi intensificado quando também começou a praticar caça aos patos, em diversas reservas de sua região. E isso influenciaria bastante em suas decisões futuras.

BRETT JAMES SMITH - Atravessando a represa - Óleo sobre tela - 36 x 48 pol

BRETT JAMES SMITH - Acampamento - Óleo sobre tela - 24 x 36 pol

BRETT JAMES SMITH - Cane Island Pond - Aquarela sobre papel - 21 x 29 pol

Uma vez frequentando o curso de belas artes, Brett Smith não se deu por satisfeito com a grande carga de estudos voltados para arte contemporânea. Queria aprofundar em estudos que o melhor capacitassem para reviver as memórias que sempre o acompanhavam. Inscrevendo em um curso de belas artes particular, enfatizou o desenho e a pintura, com especial atenção para o desenho da figura humana e composições com apelo dissertativo.

BRETT JAMES SMITH - Pescando no outono - Óleo sobre tela - 24 x 40 pol

BRETT JAMES SMITH - Lazy river - Óleo sobre tela - 24 x 36 pol

BRETT JAMES SMITH - Riacho na montanha - Óleo sobre tela - 32 x 50 pol

De posse de mais recursos técnicos, começou então uma carreira por conta própria, como ilustrador comercial. Nova York era o centro mais apropriado para esse tipo de arte naquelas épocas e é pra lá que se mudou e seguiu seu trabalho. Um representante importante o apresentou a diversos clientes corporativos editoriais e seus trabalhos começaram a ser muito bem aceitos a cada publicação. Foi então que decidiu que deveria se aventurar também pela pintura de cavalete e enfatizar ainda mais a temática que sempre o acompanhou.

BRETT JAMES SMITH - Respite - Óleo sobre tela - 30 x 48 pol

BRETT JAMES SMITH - Dia de verão - Óleo sobre tela - 24 x 36 pol

BRETT JAMES SMITH - A fisgada - Óleo sobre tela - 20 x 24 pol - 2006

Artista minucioso, Brett Smith cria cenas atemporais, que saem lá do fundo de sua memória e são lembranças de momentos familiares ou entre amigos. Inspirando em artistas do passado, como Howard Pyle e N.C. Wyeth, ele conseguiu criar um trabalho com identidade própria, que o diferencia dos artistas de sua geração. Assim, cenas de caça, de pesca e a vida de nativos do oeste americano, são explorados largamente em suas obras. Ele executa os trabalhos mais elaborados em óleo sobre tela e a aquarela para resultados mais espontâneos, chegando a praticar a pintura ao ar livre para apontamentos mais gestuais.

BRETT JAMES SMITH - Sua volta - Óleo sobre tela - 32 x 50 pol - 2007

BRETT JAMES SMITH - Cedar Creek Falls - Óleo sobre tela - 34 x 28 pol

BRETT JAMES SMITH - No coração do campo - Óleo sobre tela - 24 x 34 pol

Não é de estranhar que suas obras sejam esperadas ansiosamente por praticantes esportistas de caça de todos os Estados Unidos. Seus trabalhos dessa temática não são apenas comoventes, mas autênticos, e relevam a sua intimidade com a temática abordada. Como ele próprio já afirmou, “o importante em minhas composições é não perder o senso de humor, um sentimento de como as coisas foram e ainda podem ser”. Seus trabalhos se encontram nas coleções particulares mais prestigiadas dos Estados Unidos e ele sempre participa de publicações artísticas, seja em revistas periódicas ou livros.

BRETT JAMES SMITH - Os intrusos - Óleo sobre tela - 14 x 18 pol

BRETT JAMES SMITH - Tight lines
Aquarela sobre papel - 21 x 29 pol

BRETT JAMES SMITH - Pescando próximo a uma ponte coberta - Óleo sobre tela - 9 x 12 pol

PARA SABER MAIS:


domingo, 8 de outubro de 2017

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Parte 2

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Castellmare dell golfo, Golfo de Nápoles - detalhe

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Castellmare dell golfo, Golfo de Nápoles
Óleo sobre tela - 75,5 x 144,5 - Entre 1876 e 1877

Já produzi uma matéria anteriormente sobre Unterberger, mas, não resisti em pesquisar um pouco mais sobre sua vida e coletar um pouco mais de imagens, sobre esse artista que se tornou uma das figuras mais notáveis da arte austríaca. Incomparável em muitos aspectos como artista, teve uma vida tranquila, nascido em uma família de estabilidade financeira e ainda tendo como pai um negociante de artes, muito bem estabelecido em Innsbruck. Foi o único artista numa família com mais dez irmãos.  Unterberger soube aproveitar muito bem tudo isso, e fez de sua vida uma devoção completa e muito bem sucedida à arte.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Paisagem alpina - Óleo sobre tela - 89,5 x 137,2

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Por de sol nas Montanhas Schlern, próximo a Bolzano
Óleo sobre painel - 42 x 58

Um dos aspectos mais importantes a se notar na produção de Franz Richard Unterberger está relacionado às inúmeras viagens que ele se permitiu em toda sua vida. Tão logo concluiu seus estudos preliminares, pôs-se a viajar e produzir obras efusivamente por onde passava. Começou pela Noruega, onde produziu inúmeras obras com cenas tão peculiares e exóticas. A aceitação por tais obras foi muito grande, nas exposições que fez em Inssbruck, Viena e Düsseldorf, o que o encorajou a viajar mais e produzir mais. Assim fez, visitando agora a Dinamarca, a costa inglesa e a Escócia.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Rio selvagem nos Alpes - Óleo sobre tela - 42 x 58

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Um dia dourado próximo ao Reno
Óleo sobre tela - 76,5 x 127

Não foi um artista que abandonou suas origens, muito pelo contrário. Sempre saía pela Áustria e produziu diversos trabalhos em várias regiões do país. Em 1862, ficou uma boa temporada no Tirol, onde produziu trabalhos importantes de sua carreira. Continuava combinando a simplicidade da vida do campo com as tão bem elaboradas cenas que idealizava.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Pastores nas margens de um lago na montanha
Óleo sobre tela

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Um lago na montanha - Óleo sobre tela - 72,5 x 111,5

Mesmo que fossem épocas de turbulências políticas em várias regiões da Europa, também foi um período onde o turismo ganhou um novo fôlego no continente. A nova classe burguesa de todas as partes do mundo não saía de Paris, Londres e Roma. Queriam visitar os museus, que se repaginavam e ofereciam exposições e promoviam salões. Isso ajudava em muito nas vendas dos trabalhos de Unterberger. Os principais resorts e pontos turísticos da Europa expunham suas obras e todas eram logo vendidas.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER
Costa de Amalfi, vista de um convento de Capucinos
Óleo sobre tela - 57 x 35,5 - 1888

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Costa de Amalfi, vista de um convento de Capucinos
detalhe

Aclamado como um excelente paisagista em todas as regiões que passava, é impossível não associar a sua imagem às inúmeras obras que fez de vários pontos da Itália. Talvez tenha sido o país com o qual mais se identificou em toda sua vida. Sua primeira visita por lá, aconteceu em 1858. Não foi uma das melhores épocas para visitar o país, a instabilidade política daqueles tempos fez com que não ficasse lá tanto quanto queria. Mas, o pouco que viu daquele primeiro contato já o seduziu o suficiente para não deixar de pensar naquelas terras. Anos depois, num período mais estável, ele voltaria lá e ficaria bem mais tempo. A década de 1870 foi especialmente dedicada à Itália.


FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Festividades da noite - Óleo sobre tela - 60,3 x 85,5

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Vista de Veneza, com o Palazzo D'Ario
Óleo sobre tela - 82,8 x 70,1

Em dois momentos da década de 1870, ele moraria na região de Nápoles, entre 1870 e 1872 e também entre 1877 e 1878. Foi um dos períodos mais criativos de sua carreira. Ele colecionou motivos variados e produziu estudos etnográficos que seriam usados em diversos trabalhos. Tornou-se assim, um dos ilustradores mais devotos da paisagem italiana, em particular do sul do país, onde gravou e reproduziu uma seleção natural sem excesso ideológico. Pintava o que via, filtrado apenas pelo impecável bom gosto, que sempre lhe foi particular. Conseguia transformar a mais simples cena em uma obra equilibrada e atraente. E era exatamente isso que atendia prontamente aos desejos do público e da crítica.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Grande canal, Veneza - Óleo sobre tela - 60,5 x 100,1

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Vista de Veneza, dos jardins públicos
Óleo sobre tela - 81,2 x 69,8

Em Veneza, ele viria afirmar que havia conhecido “a pura verdade”. “Il puro vero”, como costumava dizer. Em nenhum lugar, viu o magnífico e o comum em tão perfeita comunhão. Construções suntuosas ao lado do povo simples, que lotava os canais e pequenas ruelas. Ali, sua paleta tornaria ainda mais brilhante que de costume. Sua capacidade de captar a luz, somada à precisão do desenho e da boa composição, fizeram dele um artista sem precedentes na representação da cidade. Suas obras não lembram a austeridade de Canaletto e Belotto, trazem uma Veneza alegre e festiva, iluminada e convidativa.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Sorrento, baía de Nápoles - detalhe

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Sorrento, baía de Nápoles
Óleo sobre tela - 82,5 x 71,1

Desde quando mostrou seu primeiro trabalho com um tema italiano, em 1868, na Sociedade de Arte de Viena, logo ficou claro que a Itália teria uma grande influência em sua carreira. Em 1873, na Exposição Mundial de Viena, ele expôs uma cena ricamente produzida à partir de uma tomada em Sorrento, na costa italiana. Capri e várias tomadas da Costa Amalfitana viriam consagrar definitivamente a carreira desse grande artista de seu tempo.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Amalfi, Golfo de Salerno
Óleo sobre tela - 110 x 100

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Figuras numa encosta de Pompeia
Óleo sobre tela - 57,2 x 85,1

De aparência sempre elegante e de modos impecáveis, era sempre muito bem recebido por onde passava. Nunca se casou e viveu uma vida devotada especialmente à arte. Quando não estava viajando, se refugiava em sua casa em Bruxelas. A fortuna que adquiriu ainda em vida, permitiu ter uma vida estável e sem sobressaltos. Vários museus da Europa e Estados Unidos exibem seus trabalhos, mas, a maior parte de sua produção encontra-se mesmo em coleções particulares.

FRANZ RICHARD UNTERBERGER - Vista dos Dolomitas, Lago de Landro
Óleo sobre tela - 66 x 93

PARA SABER MAIS: