sábado, 22 de agosto de 2015

ETTORE TITO

ETTORE TITO - Cena de rua veneziana
Óleo sobre tela - 95 x 67 - 1884

ETTORE TITO - Chioggia - Óleo sobre tela

ETTORE TITO - Mercado de peixe
Óleo sobre tela - 100 x 73 - 1885

Com a invasão de Veneza, promovida por Napoleão, em 1797, fecha-se o ciclo de glórias de uma das mais influentes cidades da Europa. Decadência que começou quando um outro caminho para o Oriente fora descoberto por Vasco da Gama, cerca de 300 anos antes e o caminho para as Américas descoberto por Colombo, também na mesma época. Centro comercial de suma importância, devido a sua posição estratégica, que era como um portão de entradas para a Europa Ocidental, Veneza possuía uma grande população e principalmente ricos comerciantes, que mantiveram por centenas de anos, um incentivo irrestrito à arte. Ali fizeram fama, nomes como Canaletto, Tiepolo, Ticiano, Bellini, Tintoretto e Veronese. Com o início dos anos difíceis, depois da invasão de Napoleão, a cidade foi perdendo habitantes, os mecenas perdendo patrimônio e, por consequência, os artistas foram mudando de endereço para outros grandes centros artísticos e comerciais. Antes que mergulhasse no futuro sombrio que a esperava, à partir da segunda metade do século XIX, eis que surge na cidade, talvez um dos seus últimos grandes nomes artísticos, Ettore Tito.


ETTORE TITO - A professora - Óleo sobre tela

ETTORE TITO - A leitura
Óleo sobre tela - 1907

ETTORE TITO - Le modine in poseline - Óleo sobre tela - 110 x 196 - 1885

ETTORE TITO - Luz do sol - Óleo sobre tela - 1892

ETTORE TITO - A casa de banho
Óleo sobre tela - 1909

Dono de uma paleta brilhante e pinceladas vibrantes, Ettore Tito passou grande parte de sua vida na cidade de Veneza, vindo inclusive a falecer ali, em 1941. Retratista requisitado, também produziu grandiosos afrescos religiosos e alegóricos. Nascido em Castellamare de Stabia, em 1859, ele iniciou seus estudos em Nápoles, com o holandês Remigius van Haanen. Mas, foi depois de sua instalação definitiva em Veneza, em 1887, que sua produção artística tomou os rumos que o consagraria como um dos grandes nomes da arte italiana dos finais do século XIX e início do século XX, principalmente quando sua abordagem pictórica ganharia novos ares com a influência de um novo mestre em sua carreira, Pompei Molmenti.

ETTORE TITO - Ciacole
Óleo sobre tela - 1883

ETTORE TITO - Rua veneziana - Óleo sobre tela - 60 x 87

ETTORE TITO - Peixaria - Óleo sobre tela - 1924

Temas comuns da vida veneziana foram sendo abordados com tanta naturalidade e compaixão, que é impossível pensar na carreira de Tito e não o associar diretamente à cidade. Expondo em todas as grandes oportunidades oferecidas pela cidade, desde 1895, seu nome foi conseguindo respeito e muita admiração, tanto por parte de outros artistas, como por líderes governamentais italianos, que adquiriram várias de suas obras para a decoração de repartições públicas, em diversas partes do país. Como no caso de Velha Peixaria em Veneza, comprado pelo governo de Roma, na exposição de 1887.

ETTORE TITO - A deposição da cruz
Óleo sobre tela - 300,5 x 224 - 1911

ETTORE TITO - Fora do mercado - Óleo sobre tela - 95,2 x 136

ETTORE TITO - Mestres venezianos - Óleo sobre tela - 310 x 243,5 - 1937

Ettore Tito foi um artista muito eclético, que se inspirou sobretudo na suntuosa pintura veneziana dos século XVI a XVIII. Abordava cenas imaginárias com a mesma maestria com que elaborava suas majestosas cenas realistas. Retratou paisagens fantásticas, especialmente marinhas. Com uma liberdade incomum a muitos artistas de sua geração, deu luz à composições arrebatadoras de ninfas, cupidos e Vênus, numa alegoria ao amor, que passava por cenas alegres e bacanais inebriantes. Com uma segurança rara no manuseio de pincéis e tintas, consagrou-se num ambiente disputado e complexo como o italiano. Monumentais também são os seus afrescos, desenvolvidos para a Villa Berlinghieri, em Roma e para a Igreja do Scalzi, em Veneza. Sua fama veio coroada com uma mostra na Galeria Pesaro, em Milão, em 1919.


ETTORE TITO - Pescador
Óleo sobre tela

ETTORE TITO - A cartomante - Óleo sobre tela - 1886

ETTORE TITO - A minha rosa
Óleo sobre tela - 61 x 39,5 - 1888

ETTORE TITO - O mundo não acabou
Óleo sobre tela - 52,5 x 36,5

ETTORE TITO - Meninos, prado em flor
Óleo sobre madeira - 24,1 x 34,6 - 1901

Nomeado Acadêmico Italiano de Artes, em 1929, ensinava no Instituto de Belas Artes com a mesma dedicação que empreendia à sua carreira. Em 1932, a Bienal de Veneza dedica uma homenagem especial ao artista, fazendo uma retrospectiva de sua carreira, fato incomum para artistas vivos. Em 1935, também na Bienal daquela cidade, 15 obras suas viriam compor uma das mais significativas mostras daquela edição, inclusive uma série alegórica, elaborada em 1910, que narrava exatamente sobre os anos de triunfo e glória da cidade de Veneza. Ainda para consagrar e coroar sua veia eclética de artista, esculpia na tradição mais clássica de estilo.


ETTORE TITO - Amazona
Óleo sobre tela - 208 x 128 - 1906

ETTORE TITO - As amazonas - Óleo sobre tela - 1914

ETTORE TITO - Ninfas - Óleo sobre tela - 102 x 152 - 1911

ETTORE TITO - As ondas - Óleo sobre tela - 1919

ETTORE TITO - Amor e paz
Óleo sobre tela - 159 x 169 - 1909

A vida de Tito não se restringia, porém, a Veneza. Expôs com frequência no exterior e teve muitas de suas obras adquiridas por instituições de vários países. Uma das mais significativas de sua carreira, A Deposição da Cruz, foi adquirida pelo Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires, na Argentina. Paris, Mônaco, Munique, Viena, Budapeste, Londres, Bruxelas e San Francisco, foram sedes de importantes mostras suas, nas quais sempre obtinha um êxito e reconhecimento louváveis. Na crítica de Ugo Ojetti, a arte de Tito “ignora a feiura”. A beleza parece ser mesmo um dos atributos mais admirados em sua produção. O ciclo artístico de ouro de Veneza merecia mesmo um grand final.

Ettore Tito - Cerca de 1919

domingo, 16 de agosto de 2015

CORNELIS SPRINGER

CORNELIS SPRINGER - O Gemeeslandschuis e uma velha igreja, em Delft
Óleo sobre tela - 66 x 96 - 1877

CORNELIS SPRINGER - Uma vista de Staal Everspijp e Grote Kerk, no verão
Óleo sobre tela

O gosto pela arte urbana foi despertado em Cornelis Springer bem cedo, quando começou a se interessar pela pintura, embora tenha começado sua carreira pintando paisagens. Escolha que deve ter sofrido uma forte influência da tradição norte-europeia de produzir obras bem elaboradas e minuciosas. Foi produzindo cenas urbanas, que ele se tornou um dos mais respeitados artistas de seu gênero. Nascido em uma família de carpinteiros e construtores, Springer era dotado de um sólido conhecimento de arquitetura. Seu irmão mais velho, Hendrik Springer, um arquiteto profissional, lhe ensinou os princípios do desenho arquitetônico e perspectiva. Após completar seus estudos na Academia de Amsterdã, em 1835, Springer tornou-se um aluno de Gaspar Karsen, um pintor conhecido de cenas urbanas.

CORNELIS SPRINGER
Interior de uma igreja em Amsterdã
Óleo sobre tela - 79 x 62 - 1846

CORNELIS SPRINGER - Binneport em Culemborg - Óleo sobre tela

CORNELIS SPRINGER
Em frente ao Westerkerk, Enkhuizen
Sanguínea sobre papel - 55 x 45 - 1867

Cornelis Springer nasceu em Amsterdã, a 25 de maio de 1817. Além dos ensinamentos iniciais obtidos em casa, também recebeu orientação artística de Andries de Wit, Jacobus van der Stok, Hendrik Gerrit ten Cate e Gaspar Karsen. Todos eles também abordavam temáticas parecidas àquelas que viriam a ser o carro-chefe da carreira de Springer. Ele permanece incontestado como o primeiro e mais completo pintor holandês de cenas urbanas. A partir de meados da década de 1850 em diante, ele estabeleceu sua reputação como um pintor especializado em cenas topograficamente precisas de cidades. Sua reputação havia se espalhado tão positivamente, que os colecionadores interessados em suas obras chegavam a participar de uma lista de espera por três anos.

CORNELIS SPRINGER - Figuras em lazer, perto de um castelo em Wijk Bij Duurstede
Óleo sobre tela - 41 x 52,5 - 1857

CORNELIS SPRINGER - Paisagem com moinho - Óleo sobre painel - 48 x 58 - Entre 1850 e 1852

Embora tenha vivido a maior parte de sua vida em Amsterdã, o seu maior hábito era percorrer o país em viagens, coletando os cenários para suas composições. A partir de seus apontamentos, desenvolvia os trabalhos posteriores em estúdio. Ao contrário de Karsen, que pintou cenas urbanas imaginárias, Springer se esforçou por representar vistas topograficamente precisas, descobrindo que estas atraíam um público muito maior. Embora Springer elaborasse um pouco as suas composições, ajeitando e enquadrando melhor os elementos na cena, elas refletem a situação real com bastante precisão, retratando a vida em uma cidade holandesa de uma forma imaginativa. Como regra geral, Springer primeiro estudava a situação no local, fazendo dela um estudo preparatório, geralmente no tamanho da pintura. Depois disso, ele retornava com seus esboços para o estúdio, em Amsterdã, e concluía as pinturas. Várias cidades tornaram temas importantes de suas obras, a destacar Amsterdã, Haarlem, Zwolle, Kampen, Enkhuizen, Monnickendam e Harderwijk.
Leonard Springer, filho seu que nascera em 1855, também foi treinado pelo pai e se dedicou à carreira de paisagista e arquiteto.


CORNELIS SPRINGER - A Câmara Municipal de Leiden - Óleo sobre tela

CORNELIS SPRINGER
Walenchurch, Haarlem, no verão
Óleo sobre painel - 49,5 x 40 - 1867

CORNELIS SPRINGER - Uma vista de Franeker, com o Zakkendragershuisje
Óleo sobre painel - 30,5 x 41,5 - 1872

Springer trabalhou de uma forma cuidadosamente precisa, o que resultou em uma incrível riqueza de detalhes. Ele normalmente focava sua atenção em uma parte central das cidades que visitava, fazendo composições bastante ricas e movimentadas. As casas triangulares ricamente decoradas sempre forneceram uma oportunidade única para mostrar suas habilidades pictóricas. Springer completava suas composições com grupos de figuras e cavalos, somando-se a animação da imagem. As cenas eram geralmente banhadas por uma luz suave e brilhante, e a distribuição de áreas ensolaradas e sombreadas era magistral, criando uma verdadeira sensação de profundidade que convida o espectador para a composição.



CORNELIS SPRINGER
Figuras num mercado de peixe, em Delft
Óleo sobre tela - 65,5 x 55,5 - 1853

CORNELIS SPRINGER - O Wijdstraat, Oudewater, no verão - Óleo sobre tela - 56 x 73,5 - 1878

CORNELIS SPRINGER - Figuras numa rua de Alkmaar
Óleo sobre painel - 30,5 x 24,5 - 1872

Artista versátil em termos de técnicas, Cornelis Springer deixou cerca de 650 trabalhos realizados em aquarelas, gravuras, desenhos e óleos. Ele foi condecorado com a ordem Leopoldo da Bélgica em 1865, e em 1878 ele foi convidado com Jozef Israëls para assessorar o Ministério de Assuntos Públicos holandês sobre os planos para o Rijksmuseum. Os 59 anos de carreira comprovam o quanto fez da arte um estandarte em sua vida. O artista faleceu em Hilversum, a 20 de fevereiro de 1891. Sociável e muito dedicado àquilo que sempre amou; a pintura; conquistou reconhecimento ainda em vida. Seus trabalhos tem alcançado altas cifras em todas as casas de leilões europeias, como no caso de uma obra leiloada na Sotheby de Amsterdã, em 2006, que atingiu o valor de 1 milhão e 100 mil euros.


CORNELIS SPRINGER num retrato feito por Nicolaas Pieneman

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

ADOLF CHWALA

ADOLF CHWALA - Beira de rio com pequena aldeia - Óleo sobre tela

ADOLF CHWALA - Königsee - Óleo sobre tela - 60 x 90

Grande parte dos artistas paisagistas do século XIX sentiu influenciada pelo Romantismo, que se mostrava como uma das escolas mais populares no final do século anterior. A paisagem, ainda que vista como um tema secundário na pintura, que abrigava alguma cena ou acontecimento, já começava a ganhar status de cadeira importante em todas as escolas de arte, e muitos artistas surgiam especializados unicamente nessa temática. Adolf Chwala foi um dos grandes paisagistas checos, com grande influência do Romantismo em suas obras. E, mesmo que o artista tenha deixado uma grande produção e com qualidade equilibrada em toda ela, passou quase despercebido em sua época. Felizmente, nos tempos atuais, principalmente com o advento da globalização pela comunicação, muitos desses artistas “anônimos” vêm ganhando um reconhecimento por sua produção, ainda que tardiamente.

ADOLF CHWALA - Área ao redor de Thaya - Óleo sobre tela - 42,5 x 61

ADOLF CHWALA - Torre Vranovska sobre Thaya - Óleo sobre tela - 75 x 100

Adolf Chwala nasceu em Praga, a 4 de abril de 1836, filho de uma família que trabalhava na produção de chapéus. Em 1851, ele foi estagiário na Academia de Praga e entre os anos de 1854 e 1855, cursou na Escola de Paisagem de Max Haushofer. Em 1864, mudaria definitivamente para Viena, onde produziria e comercializaria todos os seus trabalhos. Em 1871, casaria com Josefa Procházkova, com quem teria 8 filhos. Dois deles, tornariam artistas e um deles, Fritz, estudaria inclusive na Academia de Viena.

ADOLF CHWALA - Paisagem com lago
Óleo sobre tela - 80 x 120

ADOLF CHWALA - Paisagem com cavaleiro - Óleo sobre tela - 43 x 68

As razões de sua transferência para Viena ainda são desconhecidas, mas a mais provável é que Praga não se tratava de um centro artístico de grande influência comercial naquela época. Ele viajava bastante pela região, limitando ao trabalho de ateliê, nas conclusões de suas obras. Andou por várias regiões da República Checa (Bacia do Sázava, Vltava, Labe, Jizera e Otava), também pela Morávia (perto de Old Breclav e Vranov Thaya) e na Baixa Áustria, Bavária e Alpes. Em certo momento de sua produção, os lagos alpinos e suas majestosas montanhas, tornaram-se quase que a exclusividade de sua produção.

ADOLF CHWALA - Trecho de rio arborizado - Óleo sobre tela - 94 x 128 - 1900

ADOLF CHWALA - Vista de Traunsee - Óleo sobre tela - 42,5 x 58

Fazia os primeiros estudos em ar livre, para a captação da atmosfera e cenas locais, mas sempre concluía seus trabalhos em estúdio. A qualidade de suas pinturas se classifica como a mais proeminente entre os artistas da Escola Haushofer. Com forte influência do Romantismo em suas produções iniciais, foi adquirindo uma veia realista com o passar do tempo e chegou mesmo a experimentar pinceladas mais soltas e alongadas, na década de 1860. Mas, voltou a executar o estilo que sempre se identificou e no qual se sentia bem. Seu trabalho foi muito bem sucedido e era respeitado por outros artistas de seu tempo, tanto que inúmeras reproduções de suas obras espalharam por toda a região. Mesmo trabalhando bastante e sendo reconhecido pelo que fazia, restringiu suas exposições somente na região, o que não o tornou um artista de reconhecimento continental em sua época. Chwala faleceu em Viena, em março de 1900.

ADOLF CHWALA - Corredeira - Óleo sobre tela - 26 x 39

ADOLF CHWALA - Paisagem tcheca
Óleo sobre tela - 80 x 115


Grande parte dos leilões realizados recentemente, em várias casas especializadas da Europa, comprova o crescente interesse de colecionadores atuais por temas paisagísticos do centro-leste europeu, e Chwala se mostra como um dos artistas mais requisitados. É uma espécie de pagamento de dívidas com diversos artistas daquele tempo, que não tiveram suas obras divulgadas e valorizadas como mereciam.

ADOLF CHWALA - Montanha na Baviera - Óleo sobre tela - 75 x 100

ADOLF CHWALA - Verão na montanha, com vista para um pequeno lago
Óleo sobre tela - 79 x 115