domingo, 26 de dezembro de 2010

PEDER MORK MONSTED

PEDER MORK MONSTED
Autorretrato diante de um cavalete num caminho do jardim
Óleo sobre papelão - 35 x 26 - 1895

No mundo das artes, o reconhecimento a um conjunto de obras produzidas durante toda a vida de um artista nem sempre chega a tempo para que o mesmo possa usufrui-lo. Não são raros os casos de artistas que passaram todas as suas vidas no anonimato, vindo a falecerem, sem sequer serem reconhecidos no próprio país de origem. O exemplo mais célebre é do holandês Van Gogh, com uma vasta produção de obras, que foram o prenúncio para uma nova maneira de ver e fazer arte. Embora tenha conseguido reconhecimento de seu trabalho ainda em vida, Peder Mork Monsted é um daqueles artistas, com os quais a valorização merecida ainda não veio proporcional à sua vasta e excelente produção.

No bosque, óleo sobre tela, 34,5 x 48

Riacho tranquilo, óleo sobre tela, 48 x 93,5

Águas calmas, óleo sobre tela, 69,8 x 100,3

Peder Mork Monsted nasceu em Balle, perto de Grenaa, na Dinamarca, a 10 de dezembro de 1859 e faleceu aos 82 anos de idade, em Copenhague. Filho de Otto Kristian Monsted e Thora Johanne Jorgensen. Sua biografia é um tanto quanto incompleta e os poucos registros de sua trajetória não são de todos confiáveis. Mas, o volume e a qualidade de sua obra em breve lhe trarão o reconhecimento e a valorização que ele merece.

Barulhos da manhã, óleo sobre tela, 40 x 61

Dia de verão em Aalsgaarde, óleo sobre tela, 71 x 97

Moça tricotando, óleo sobre tela

Peder Monsted iniciou seus primeiros estudos em Aarhus. Sabe-se que aos 16 anos de idade ele se ingressou na Academia de Copenhague, onde teve os primeiros ensinamentos administrados por Andries Fritz e Exner Julius. Foi nesse período, que também teve suporte de Kobke Christen, um excelente colorista e Christian Pieter Skorgaarde, um pintor declaradamente nacionalista, do qual Monsted certamente recebeu grande influência para ter em seu conjunto de obras, vários temas que representam a paisagem e as florestas dinamarquesas.

Dia de inverno, óleo sobre tela

Depois da nevasca, óleo sobre tela

Cena de inverno na aldeia, com igreja ao fundo, 71 x 100

Ele casou-se com Elna Matilde Sommer e tiveram 3 filhos: Knud Mork Monsted, Tage Mork Monsted e Olga Edith Monsted.
Foi um artista que viajou bastante por várias regiões da Europa, norte da África e Oriente Médio, mas, manteve sempre como referência seu ateliê, em Copenhague. Essa pluralidade de ambientes e situações deu ao artista um colorido bem característico e rico. Mesmo com uma veia acadêmica marcante, suas obras tem um sentido apurado de luz e atmosfera, típicos de artistas impressionistas. Isso veio, certamente, pela prática constante de esboços feitos ao ar livre, que realizou por todo seu itinerário de viajante e explorador.

Vista do Etna, de Taormina, óleo sobre madeira, 18 x 42

Pescadores em uma praia na Baía de Capri,
óleo sobre tela, 28 x 48

Geleiras em Montreux, óleo sobre painel montado, 13 x 26

Durante a 1ª Guerra Mundial, Monsted ficou mais entre a Noruega e Suécia, indo para as regiões costeiras do Mediterrâneo pelos anos de 1920 e 1930. Nunca deixando de retratar, porém, as paisagens e o litoral dinamarqueses. A Suíça, França e Itália também fizeram parte de seu roteiro. Esses países, aliás, foram o destino de muitos artistas escandinavos, contemporâneos de Monsted.

Paisagem ensolarada, óleo sobre tela

Vista da cidade de Nysted com castelo - Óleo sobre tela - 90 x 149,5 - 1905

Um rio na floresta, óleo sobre tela

Os trabalhos de Monsted transmitem uma visão romântica e poética, e não é difícil entender porque ele foi considerado o melhor paisagista de seu tempo, na Dinamarca. Ele explorou com habilidade os vários anos de ensinamento acadêmico que recebeu, compondo um estilo artístico realista e bem próprio. A qualidade de suas paisagens é intocável. Tinha uma habilidade extrema para descrever com exatidão, a água e os interiores de florestas. 

Lavadeiras, óleo sobre tela, 46,5 x 32,7

Um canto em Innsbruck, Áustria,
óleo sobre tela

Nos arredores de Cairo, óleo sobre tela, 40 x 55

O “ar puro” e naturalista lhe rendeu muito sucesso e prestígio ainda em vida. Em grande parte, isso se deve à sua capacidade de desenvolver uma linha típica, quase esquemática de composição, o que foi muito comum a artistas escandinavos e italianos no final do século XIX. Seus motivos eram geralmente construídos em torno de água parada e árvores, que ele soube retratar tão bem, seja sob a luz do sol ou com densa vegetação sombria.

Paisagem com rio na primavera, óleo sobre tela, 81 x 121

Reflexos da manhã, óleo sobre tela

Um córrego que ruge debaixo de uma ponte na floresta,
óleo sobre tela, 35 x 45

Há em sua obra um conjunto que impressiona, os reflexos são tão bem colocados, a atmosfera límpida representa fielmente céus abertos e fechados, a percepção honesta para todas as estações do ano, seja na luz brilhante da primavera às geladas cenas de inverno. As figuras em suas composições, agem como atores coadjuvantes, valorizando um pouco mais o caráter idílico e especial de seus cenários.

Corredeira, óleo sobre tela, 90,8 x 154,3

Cachoeira em Ryde, óleo sobre tela, 47 x 65,4 

Canto de floresta em Copenhague, óleo sobre tela

Embora seja mais conhecido pelas suas paisagens, Monsted também foi um pintor de retratos e cenas de gênero. Foi o pintor preferido do Rei Jorge da Grécia, que o convidou a ficar durante todo o ano de 1893, pintando as cidades e os campos gregos.

Dia de primavera em Fredensborg, Dinamarca
Óleo sobre tela - 41 x 23

Um riacho, óleo sobre tela, 85 x 54

Vista de crianças andando em fazenda,
aos arredores de Fredensborg,
óleo sobre tela

Seus trabalhos foram frequentemente exibidos nos Salões de Paris e Munique, referências muito cobiçadas para sua época. Uma grande exposição, quando ainda estava vivo, foi realizada no Palácio Charlottenborg, em Copenhague. Suas pinturas são disputadas em leilões mundo afora e algumas obras podem ser vistas no Museu Dahesh de Nova York, no Museu Chi Mei em Tainan, Taiwan, e também nos museus das cidades de Aalborg, na Dinamarca e Bautzen, na Alemanha.

Um dia de verão, óleo sobre tela, 60 x 40

Gansos em um dia de verão, óleo sobre tela, 50 x 70

O claustro, Taormina, 
óleo sobre tela, 96 x 63,5

Apesar de respeitado por todos aqueles que o conhecem, Monsted ainda não possui uma biografia digna e uma catalogação organizada e sistemática de sua vasta produção. Fica aqui, o desejo da publicação de um livro que possa revelar ao mundo, a qualidade suprema de um mestre que os tempos de hoje tanto carece.

Paisagem com ponte de tronco,
óleo sobre tela, 68 x 48,5

Primavera ao longo do córrego, com
andorinhas pegando insetos, óleo sobre tela, 82 x 120

Uma lagoa tranquila, óleo sobre tela, 69,8 x 95,3

VEJA TAMBÉM A SEGUNDA MATÉRIA SOBRE ESSE ARTISTA:

e também


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O QUE A CHUVA TRAZ...

PAUL SAWYIER - Caminhando na chuva
Aquarela, 34,2 x 52,7

PEDRO WEINGÄRTNER - Procissão interrompida
Óleo sobre tela, 20,5 x 39

CHILDE HASSAM - Dia chuvoso, Av Columbus, Boston
Óleo sobre tela, 66,4 x 121,9

NIKOLAI ALEXANDROVICH SERGEYEV - Gaivotas
Óleo sobre tela, 90 x 133

JOSÉ ROSÁRIO - Timóteo (centro norte), dia de chuva
Óleo sobre tela, 60 x 120

O QUE A CHUVA TRAZ...
(JOSÉ ROSÁRIO)

Veio a chuva me dizer que o verão chegou
Trazendo memórias da infância,
Daquelas,
Que a velocidade dos dias
Insiste em manter distantes.
Embriagando de cenas
Minha retina já cansada de tanto presente.
Deixando imperfeito
Um pretérito cada vez mais meu.

Barquinhos na enxurrada
Represas que afogam lágrimas
Raios e trovões que partem a alma
Dias vestidos de cinza.

A criança que sou se escondeu
Num desses céus revoltos
Desarrumados de ventos e andorinhas.
A ameaça da vidraça que brilha
Olhos maiores que as órbitas
Goteiras nas latas a ninar insônia.

Desmancham as nuvens
Enquanto teço minha colcha de cacos
Enquanto sou só saudades e abraços
Dos distantes dias de verão
Da chuva que ressuscita lembranças.


GUSTAVO DALL'ARA - Largo da Lapa (com chuva)
Óleo sobre tela, 49 x 39

ROBERT KOEHLER - Dia chuvoso na Av Hennepin
Óleo sobre tela, 61 x 61

JEAN BÉRAUD - O retorno do Funeral
Óleo sobre tela, 66 x 53,3

LORENZO DELLEANI - Torrente Europa
Óleo sobre madeira, 31,5 x 41,9

JOÃO BARCELOS - Passeando na chuva
Óleo sobre linho, 40 x 30

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

PARIS E VENEZA (José Rosário)

Entre uma esquina e outra, a cidade ia se mostrando num desfile de novidades que parecia não ter mais fim. Como foi preciso ir tão longe para perceber que a melhor maneira de conhecer uma cidade é andar por ela!


ANTOINE BLANCHARD - Place de la Madeleine e mercado das flores 
Paris, óleo sobre tela, 61 x 91,5

ANTOINE BOUVARD  - Veneza
Óleo sobre tela, 50 x 60 

Paris e Veneza são dessas cidades onde caminhar deveria ser uma lei obrigatória a todo turista. É impossível absorve-las na íntegra sem ser caminhando. E apenas caminhando, é que se tem a exata dimensão porque estas são, certamente, as duas cidades mais retratadas do mundo.


PARIS
Primeiramente Paris. Para conhece-la melhor, não há região mais propícia para iniciar que a Rive Gauche. Saindo do Museu d’Orsay; um verdadeiro templo das artes montado dentro de uma antiga estação ferroviária; e descendo sempre pela margem esquerda do Sena, a exploração se fará perfeita.
GUSTAVE CAILLEBOTTE - Rue de Paris, temps de pluie
Óleo sobre tela, 212 x 276,2

CHILDE HASSAM - April showers, Champs Elysees, Paris
Óleo sobre tela, 31,75 x 42,5

CLAUDE MONET - Boulevard des Capucines
Óleo sobre tela, 61 x 80

AKSELI GALLEN KALLELA - Boulevard em Paris
Óleo sobre tela, 52,5 x 40,5

Rive Gauche é o apelido da metade sul esquerda de Paris, em oposição, evidentemente, ao outro lado, que se chama Rive Droite. Muito mais que localizar ou mapear uma região da cidade, Rive Gauche quer designar primeiramente um jeito de ser da cidade, um estilo de vida. Um modo de agir, de vestir, um modo de aparência mesmo. Como os distritos 5 e 6 ficam localizados nessa região, fica bem mais fácil entender porque esse estilo de vida se tornou tão evidente. Sendo os bairros mais antigos da cidade, eles se tornaram destino certo para artistas, boêmios e intelectuais de todas as áreas, até a primeira metade do século XX. Por isso eles sempre ditaram esse estilo diferenciado, completamente oposto aos bairros burgueses clássicos situados na margem direita.


EDOUARD LEON CORTES - Praça da República, Paris
Óleo sobre tela

GIUSEPPE DE NITTIS - Avenue du Bois de Boulogne
Óleo sobre tela, 31,4 x 42,5

ALFRED SISLEY - Vista de Montmartre, Paris
Óleo sobre tela, 70 x 117

EUGÈNE GALIEN-LALOUE - Arco do Triunfo, Paris
Guache, 27 x 35

Ainda na Rive Gauche, localiza-se o distrito 7, onde fica imponente e soberana a Torre Eiffel. Por onde quer que se vá, lá está ela, nos mirando, quase nos dizendo que por ali não há referência melhor a seguir. Assim fiz, passei por uma infinidade de ruas, lindas praças e grandes avenidas, centros universitários de referência, galerias, alguns museus (o Rodin fica bem ali por perto)... Impossível mesmo é não se render à infinidade de excelentes sebos de livros localizados em todo cantinho de rua, todos muito bem equipados e com material suficiente para nos aprisionar ali por dias. A Torre Eiffel sempre na mira...
Depois desse roteiro inicial, aí sim, complete as outras visitas obrigatórias da cidade (que são tantas...): Museu do Louvre, Sacre Coeur, Notre Dame, Teatro da Ópera, Champs-Élisées, Moulin Rouge, Passeio pelo Sena e mais um monte de endereços e atrações que haja sola de sapato e disposição para percorre-los. Por isso, dizem que quem sempre vai a Paris uma vez, voltará mais vezes. É impossível conhece-la em uma única visita.


GEORGES STEIN - Vista da Casa de Ópera, Paris
Óleo sobre tela, 92 x 60


JOSÉ ROSÁRIO - Tempo nublado, Paris
Óleo sobre tela, 60 x 80
À partir de um guache de Galien-Laloue

LUTHER EMERSON VAN GORDER - Quai aux fleurs, Paris
Óleo sobre tela, 91,4 x 122

VINCENT VAN GOGH - Moulin de la Galette, Paris, início de 1887
Mista sobre papel, 61,5 x 38,5

O título de “Cidade-Luz” não lhe foi dado por acaso. Andando por lá, percebe-se mesmo que algo sempre novo se irradia dela, apesar da idade já avançada. Fico imaginando essa energia em pleno final de século XIX, estando a cidade já à frente das outras cidades mundo afora.
Como é forte a emoção de percorrer os mesmos caminhos no Montmartre por onde pisaram Van Gogh, Monet, Picasso, Renoir, Matisse, Sisley, Degas, Léger e muitos outros. Quantos segredos escondem cada viela, cada esquina, cada marquise, cada palmo de chão que a história eternizou em telas e desenhos.

VENEZA
A noroeste da península itálica, banhada pelo Mar Adriático, Veneza esbanja originalidade e beleza. Formada em um arquipélago de 118 ilhas numa baía rasa que foi sendo povoada lentamente, se uniu em muitas vielas e canais, com a maior parte de suas construções feitas diretamente no mar.


ANTONIO CANALETTO - O grande canal e Santa Maria de la Salute
Óleo sobre tela

MARTIN RICO Y ORTEGA - Veneza
Óleo sobre tela

RICHARD FRANZ UNTERBERGER - Piazetta
Óleo sobre tela

ANTONIETTA BRANDEIS - Santa-Maria del Giglio, Veneza
Óleo sobre painel, 16 x 25

Já em pleno século X, ela se tornou uma importante cidade da Europa, pois era ponto estratégico no Mediterrâneo. Suas entidades comerciais, que recebiam o nome de feitorias, controlavam várias rotas comerciais e é por isso, que para muitos historiadores, Veneza talvez seja o primeiro pólo capitalista que tenha surgido na história.
Cheguei à cidade numa manhã de setembro, em pleno verão quente, que exibe um sol escaldante até altas horas, daqueles que queimam o rosto e amorenam o peito na abertura da camisa. O que mais se estranha no primeiro contato com Veneza são as suas vias de transporte. Muitos canais; sempre cheios de um tráfego intenso de barcos, balsas e gôndolas; e que substituem as nossas costumeiras ruas empilhadas de automóveis. Pedestres há por todos os lados e caminhar por lá é uma regra difícil de não ser cumprida. Mais uma vez, a certeza de que caminhar por uma cidade é a melhor maneira de ficar mais íntimo dela.


MORGILLI - Primavera em Veneza
Óleo sobre tela, 70 x 90

JOSE MORENO CARBONERO - Grande canal, Veneza
Óleo sobre tela

JOSÉ ROSÁRIO - Cena veneziana
Óleo sobre tela, 30 x 50

SATTLER - Figuras na Fondamenta degli Schiavoni, Veneza
Óleo sobre tela, 72 x 98

Tudo é velho e novidade na mesma definição. Passado e ousadia numa cidade ameaçada pelo aquecimento global que atravessa o planeta. Veneza paga um preço elevado para se manter ainda como está. Com a alta cada vez mais crescente das marés, o sistema de comportas e arrefecimento trabalha cada vez mais no limite.
Para os amantes das artes, Veneza se tornou uma referência eterna. Uma curiosidade interessante: lá foram construídas as primeiras telas para pintura, que mudaram a maneira de usar suportes. Ande pela cidade e com um pouco de imaginação sentirá por perto as presenças de Ticiano, Tintoretto, Giorgione, Antonello de Messina, Giovanni Bellini, Veronese, Rubens Santoro, Canaletto, Guardi... E com os ouvidos ligados à mesma imaginação, ouvirá notas de Vivaldi, o filho músico que nasceu por lá e nunca deixou a cidade.


MORGILLI - Veneza
Óleo sobre tela, 80 x 60

FEDERICO DEL CAMPO - Veneza
Óleo sobre tela

RUBENS SANTORO - Grande canal, Veneza
Óleo sobre tela

THOMAS MORAN - Veneza
Óleo sobre tela

Além do carnaval com máscaras, há ainda o Festival de Cinema, a Bienal de Veneza e uma infinidade de galerias, museus, basílicas e igrejas, castelos e pontes famosas, servindo o turista com uma vasta opção de diversões.
Nietzche deu uma das melhores definições para a cidade: “Se tivesse de procurar uma palavra que substituísse música poderia pensar em Veneza.


Indo para o Louvre. Sempre caminhando...
Tickets de entrada para a Torre Eiffel (Paris) e
Campanário (Veneza). Todas as duas cidades ficam ainda
mais impressionantes vistas de cima.