domingo, 27 de maio de 2012

ARTE E HISTÓRIA


O Grito, em leilão na Sotheby's

Essa matéria foi uma sugestão de Márcio Domingues Soares; leitor e agora colaborador do blog; e veio num momento muito pertinente, mesmo apesar de os fatos estarem se tornando algo comum. Algumas notícias sobre arte sempre acabam ganhando as manchetes e provocando algumas polêmicas. Parece que sempre foi assim, toda vez que uma obra atinge valores astronômicos ou alguma farsa é desmascarada. Para continuar com o assunto, melhor assistir aos vídeos anexados logo a seguir, para que algumas conclusões possam ser tiradas.



Leilão da obra "O Grito"


Falsário de pinturas consagradas


Depois de ver essas matérias, é bom lembrar de uma frase de Picasso: “Pinto da mesma forma como algumas pessoas escrevem uma biografia. As telas, concluídas ou não, são como páginas de meu diário e, como tais, válidas ou não. O futuro escolherá as de sua preferência. Não cabe a mim, fazer as escolhas”. Estaria Picasso prevendo os “exageros” dos tempos atuais? Certos trabalhos valem tudo aquilo pelos quais são vendidos? Quando um artista produz uma obra, tem exata noção da mudança que pode provocar no mundo? Uma infinidade de outras perguntas poderia se seguir a essas e provavelmente teria respostas bem variadas. Não quero chegar ao mérito da obra como objeto, pois entender um trabalho isolado é algo injusto e produziria conclusões desastrosas. A intenção principal dessa matéria é exatamente levantar um questionamento acerca dos rumos da obra de arte e o mercado no qual está inserida. Falar pelo menos de uma obra, logo adiante, tornar-se-á inevitável.
Muitos foram os artistas que amargaram uma dura jornada em suas carreiras. Passando dificuldades financeiras extremas, rejeitados por críticos e público e vivendo em um dilema interior constante. Muitos deles pesarosos em abandonar uma linguagem estilística estável e rentável. Quase sempre tentados a inovar e produzir aquilo que seus desejos sempre lhes sondavam. Essa busca constante se tornou para muitos uma tortura e alívio ao mesmo tempo. Afinal, é da transgressão que nascem os grandes nomes. Da vontade infinita de querer mudar, surge sempre a possibilidade de uma nova vida. Em alguns casos muito isolados, o reconhecimento e prestígio chegam a tempo para que o artista usufrua em vida de sua criação. Mas quase sempre, os lucros irão enriquecer oportunistas do mercado a posteriori. E por que uma obra chega a valer tanto? A resposta mais plausível para essa pergunta é que o que está à venda não é apenas um pano com tinta, espichado em um chassi de madeira. O que está à venda é um pedaço da história, da ousadia de alguém que um dia produziu algo novo para seu tempo; porque o mercado de arte é assim, vive de novidades. Não só novidade do que é contemporâneo, feito hoje, mas também e principalmente do que já foi novidade um dia. Como disse Picasso, o artista produz, “mas não cabe a ele fazer as escolhas”. A história é sempre montada nas gerações posteriores e feita de acordo com suas conveniências.
Não queria me estender a nível individualizado, mas vamos pegar como exemplo a obra “O Grito”, de Edvard Munch. Famosa nos últimos tempos, por se tornar um dos trabalhos mais valorizados produzido por um artista. Por que se tornou tão valorizada? A tela vendida é uma das quatro versões produzidas para o mesmo tema. Tem a cor mais intensa que as outras três, é a única que tem a moldura original com um poema do artista (que deu origem à elaboração do tema) e também a única que possui uma figura em segundo plano olhando para baixo. O que valoriza o quadro é audácia de alguém que soube pintar aquilo que sentia, sem as aparas da crítica e nem a cobiça de querer produzir algo para ser vendido. Munch escreveu sobre seu trabalho: Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol. O céu ficou de súbito vermelho-sangue. Eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta. Havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade. Os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade, e senti o grito infinito da Natureza”.
A obra de Munch foi criticada quando exposta pela primeira vez e até aconselharam que sua exposição não fosse visitada por mulheres grávidas, tamanhas eram as agressões contidas em suas imagens. Mas o público acolheu a obra com uma emoção completamente oposta, aclamando-a como a linguagem de um novo tempo. Não havia mais retorno, “O Grito” inaugurava uma das mais fortes manifestações expressionistas e isso fez história. E é sobre histórias assim, que o mercado de arte constrói sua trajetória.
No segundo vídeo, um artista que não teve a mesma audácia de um Munch, mas que sabe como poucos reproduzir aquilo que fizeram um dia. Dois universos completamente distintos. De duas obras que são praticamente idênticas do ponto de vista técnico, mas que se distanciam imensamente de suas propostas artísticas. A original feita por alguém que transgredia e buscava novos horizontes, a cópia feita unicamente com a intenção de ganhar dinheiro.
Felizmente o tempo sabe selecionar aquilo que merece virar história.

sábado, 26 de maio de 2012

ELLERY GUTIÉRREZ


ELLERY GUTIÉRREZ - Frutas em cesto
Óleo sobre tela - 120 x 180

ELLERY GUTIÉRREZ - Peras e maçãs
Óleo sobre tela - 100 x 150

ELLERY GUTIÉRREZ - Mangas
Óleo sobre tela - 100 x 150

Ainda lembrando das influências de Caravaggio sobre outros artistas, vale ressaltar que elas não se deram apenas aos seus contemporâneos, mas que continuou através de muitos séculos depois, e continua fazendo escola. Um artista da atualidade, de nome Ellery Gutiérrez, também tem suas inspirações nas sombras e luzes vigorosas, que tanto admirou nos trabalhos do artista italiano. Porém, Gutiérrez soube interpretar essas influências do antigo mestre e desenvolveu uma linguagem pictórica bem particular, explorada principalmente no uso de diversas composições com flores e frutos, além é claro, da temática com animais e figuras humanas. Mas são as naturezas mortas, os pontos fortes de sua obra.

ELLERY GUTIÉRREZ - Flores
Óleo sobre tela - 110 x 140

ELLERY GUTIÉRREZ - Cattleya Mossiae - 100 x 150 - Flor nacional da Venezuela

ELLERY GUTIÉRREZ - Copos de leite e strelitzias
Óleo sobre tela - 110 x 160

Ellery Gutiérrez nasceu na cidade venezuelana de Maracay, no estado de Aragua, em 1 de setembro de 1969. Começou autodidatamente com figuras e retratos e foi progredindo para um estilo bem próprio na representação de flores e frutos, que lhe deu reconhecimento e fama. Entre os anos de 1992 e 1995 fez aulas com o professor de desenho e pintura José Antonio Aranaz, de quem herdou o gosto pela representação de naturezas mortas.

ELLERY GUTIÉRREZ - Cocos - Óleo sobre tela - 120 x 180

ELLERY GUTIÉRREZ - Cocos
Óleo sobre tela - 100 x 150

Entre os anos de 2001 e 2002 aperfeiçoa seus estudos sobre teoria cromática com a professora Siomara Ochoa, em Caracas, cidade onde reside atualmente. Uma das características principais da produção de Gutiérrez é a execução de suas obras em grandes dimensões, adequando-se ao que o mercado às vezes nomeia de arte decorativa. Aliás, toda arte pode se propor à decoração. Independente dos rótulos, faz uma arte que encanta leigos e críticos.

ELLERY GUTIÉRREZ - Frutas - Óleo sobre tela - 120 x 180

Detalhe

Diversas exposições pela Venezuela trouxeram imediato reconhecimento e já o lança com segurança no mercado internacional. As redes sociais de comunicação são outros pontos favoráveis na divulgação de seus trabalhos. Gutiérrez é uma prova de como a influência de boas referências pode realmente render bons frutos.


PARA SABER MAIS:

quarta-feira, 23 de maio de 2012

DOUGLAS OKADA


DOUGLAS OKADA - Vida no sítio - Óleo sobre tela - 60 x 80

Há um grande número de ótimos artistas realistas no interior do estado de São Paulo. Alguns com propostas mais acadêmicas, outros com visões mais contemporâneas, mas, sempre nos proporcionando ótimos trabalhos para admiração. Faria uma extensa lista de nomes, mas me restringirei, nesse momento, aos trabalhos de um jovem artista de nome Douglas Okada. Temos nos falado nos últimos dias e vou deixar a sua própria narrativa conduzir sua matéria. Uma visão pessoal é sempre algo legal de se observar.

DOUGLAS OKADA - Namorando na praça - Óleo sobre tela - 60 x 80 - 2008

Inicialmente o que me despertou na infância (6-7 anos de idade) foi ver meu pai realizando alguns esboços de personagens animados que eu gostava de assistir na televisão e  nos gibis. Eu comecei a observar e tentar fazer o mesmo. Posteriormente, copiava dos gibis os personagens e a partir daí comecei a desenhar os colegas de escola (caricaturas ). O desenho foi minha paixão inicial. Na adolescência comecei a me interessar por um desenho mais realista, abandonando a caricatura e tentando imitar o que via. A paixão pela pintura surgiu aos 14 anos, por estímulo de um filme: Incógnito (o personagem fazia uma falsificação de Rembrandt), nasceu ali o interesse pela obra do mestre holandês.

DOUGLAS OKADA - Cabeça de cavalo - Óleo sobre tela

Realizei alguns ensaios em pintura a óleo sem muito sucesso e no final do ano de 1999, já com 15 anos, ingressei no atelier de Marcelo Miura (Araraquara-SP). Com uma bolsa de estudos, iniciei o curso; minha família não tinha condições de manter as aulas e os materiais. Miura me ajudou muito no começo, aprendi com ele as técnicas básicas da pintura tradicional. Foram 2 anos e meio de aprendizado lidando com diversos temas e em particular a natureza morta. Sempre estudando muito as obras dos grandes mestres do passado. Nesse período, pintava todos os dias.

DOUGLAS OKADA - Carro de boi - Óleo sobre tela

Em 2002, aos 18 anos, quando ganhei o prêmio principal no salão de Ribeirão Preto-SP com uma obra de figura humana sem a influencia do meu professor, tive o estímulo necessário à minha auto- estima para desvincular do atelier de Miura e iniciar minha jornada para criar uma identidade própria na pintura. Foi nesse período, e nos próximos anos, que comecei a praticar muito o desenho e pintura do natural, estudar (através de livros e internet) conceitos, teorias, realizar experimentos com médiuns, tintas, vernizes, texturas e suportes para pintura a óleo. Estudei muito a obra de Rembrandt e sua visão da pintura: foi quando incorporei sua filosofia ao meu trabalho. Inicialmente obsecado com sua maneira de pintar e depois realmente com a essência de seu trabalho: tentar enxergar além da pose, o que há por trás, captar do modelo sua espontânea naturalidade. Continuar com o progresso e visão de pintura sem se importar com críticas e outras coisas, apenas vivenciar a pintura. Outra grande influencia no meu trabalho foi do movimento impressionista e sua ideia principal: capturar o momento.

DOUGLAS OKADA - Composição - Óleo sobre tela - 50 x 70 - 2010

Os trabalhos de grandes mestres como Caravaggio, Leonardo da Vinci, Vermeer , Velázquez, W. Bouguereau, Sargent e os brasileiros Almeida Jr., Pedro Alexandrino, Batista da Costa, Eliseu Visconti, Oscar Pereira, Edgar Walter, entre outros e as visitas aos museus como MASP e Pinacoteca do estado de São Paulo foram determinantes para meu desenvolvimento.

DOUGLAS OKADA - Vida no campo - Óleo sobre tela - 50 x 40

Foi durante esse período que me mudei para Jaboticabal-SP para ingressar no curso de artes da faculdade São Luís e ministrar aulas de pintura e desenho no meu próprio atelier. Pratiquei muito os temas que tinha dificuldade na época do meu aprendizado como as paisagens e flores. Frequentemente realizava visitas ao amigo W. Maguetas para passar horas conversando sobre pintura, mercado de arte e carreira. Reinaldo Jeron realizou um workshop em meu atelier em 2007; ele  e Maguetas foram  importantes  para meu desenvolvimento em pintura de paisagem.

DOUGLAS OKADA - Menino - Óleo sobre tela - 60 x 50 - 2011

Artistas da atualidade como Pino Daeni, David Leffel, Scott Burdick, Jeremy Lipking  , Casey Baugh, Morgan Weistling, David Kassan, Carlo Russo, Serge Marshennikov e os brasileiros, Gilberto Geraldo, Luiz Pinto, Alexandre Reider, Morgilli, Boner, Maurício Takiguthi, Vasco Machado, José Rosário, Claudio Vinicius, entre tantos outros são referencias de qualidade e  fontes de aprendizado .

DOUGLAS OKADA - Rosas - Óleo sobre tela - 50 x 40

Além das obras dos grandes artistas contemporâneos e do passado, “a luz, o momento, a realidade e busca interminável pela essência das coisas” são minhas inspirações. Sou muito exigente comigo e estou sempre insatisfeito com meu trabalho, sempre buscando praticar mais e melhorar sempre. Os temas que trabalho são variados. Gosto de realizar estudos a lápis ou com pastel, mas minha paixão é pintura a óleo, suas texturas e efeitos intermináveis. Cada tema tem seu desafio, é exatamente disso que gosto, seja uma fruta, pétala, riachos, animais ou simples olhar.A figura humana representa um desafio maior, tentar imprimir sua personalidade e sua singularidade.

DOUGLAS OKADA - Arranjo - Óleo sobre tela - 50 x 70

Utilizo a técnica de pintura indireta (underpainting e velaturas)  para a maioria de meus trabalhos quando uso a fotografia como recurso para inspiração e pintura direta (Alla prima) para modelo natural. Sinto muito prazer em pintar do natural, especialmente retratos e naturezas mortas. Estou realizando diversos estudos com paisagens ao ar livre.
As paisagens naturais da região de São Paulo e Minas são minhas grandes fontes de inspiração para essa temática, especialmente cenas com sítios e animais. Sempre sou contratado para fazer retratos e outras encomendas que se tornam uma fonte de renda junto às aulas de pintura.

DOUGLAS OKADA - Um canto de jardim - Óleo sobre tela 0 70 x 50

Ministro aulas de pintura durante a semana (turmas variadas) nos períodos manhã, tarde e noite. Uma maneira segura para nós vivermos hoje no nosso país, já que as vendas são sempre incertas. Tenho realizado algumas exposições em São Paulo e no interior do estado, recentemente tenho agendado para julho no Octávio Café na capital paulista. Participo sempre que posso dos salões de arte, mas o tempo é curto para produzir , por conta das aulas e encomendas. Minha família, amigos, alunos e o Sr. Emanuel Von Lauenstein Massarani (crítico de arte, presidente do instituto de recuperação do patrimônio histórico de São Paulo.) são os maiores colaboradores . A internet é uma ferramenta essencial na divulgação de um artista hoje (e para conhecer o trabalho de muitos outros). Tenho feito muitas exposições fora circuito tradicional, buscando sempre lugares bem movimentados. Grande parte dos brasileiros não é educada para frequentar museus e pinacotecas, então temos de levar as obras até onde está o publico, para que crie um habito de ver e apreciar uma obra de arte.

DOUGLAS OKADA - Mais um dia de trabalho - Óleo sobre tela - 70 x 100

O interior de São Paulo é uma região muita rica em produção artística, temos artistas muito bons como Boner, Morgilli, Maguetas, Clodoaldo Martins, Zaniboni entre tantos outros. Tenho sonhos e projetos para conhecer e estudar nos museus da Europa e EUA, sempre tendo a mente aberta para aprender cada vez mais, tentar melhorar nas temáticas que tenho problemas ou dificuldades; Ser um eterno aprendiz.


PARA SABER MAIS:

sexta-feira, 18 de maio de 2012

DOSE DUPLA

Duas grandes exposições, para atestar aquilo que todo mundo já tomou conhecimento: que a Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, se tornou um dos maiores roteiros de exposições de artes dos últimos tempos. Já prestigiei várias por lá, e também estarei incluindo mais essas duas na agenda. Iniciarão no mês de maio, mostras de Caravaggio e De Chirico.

CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES


Começa no dia 22 de maio, a primeira das duas grandes mostras agendadas para os próximos dias. São 20 obras que atestam a genialidade e influência de Caravaggio, sendo 6 originais do artista e mais 14 originais de seus seguidores, como Gentileschi, Mattia Preti, Jusepe de Ribera e Giovane Baglione.
É a maior reunião de obras de Caravaggio, na América do Sul, realizada em um mesmo espaço. Só possível, graças a uma parceria da Casa Fiat de Cultura com o Museu de Arte de São Paulo. O patrocínio da exposição é da Fiat Automóveis e do Banco Bradesco, com o apoio das embaixadas brasileiras e italianas nos dois países, do Jornal Estado de Minas e da TV Globo Minas.
A exposição pode ser vista das terças às sextas, das 10 às 21 horas. Também aos sábados, domingos e feriados, das 14 às 21 horas. Maiores informações: (31) 3289-8900.

CARAVAGGIO - São Jerônimo escrita - Óleo sobre tela - 112 x 157 - 1605
Galeria Borghese, Roma


DE CHIRICO - O sentimento da Arquitetura

Mais uma grande mostra de outro artista italiano, um dos maiores nomes do Surrealismo e da arte metafísica. Serão 120 obras entre esculturas, pinturas e litogravuras provenientes da Fondazione Giorgio e Isa De Chirico, formando a maior exposição do artista, já realizada no Brasil.
Realizada em conjunto com o Museu de Arte de São Paulo, Fundação Iberê Camargo e Ministério da Cultura. Mais um patrocínio da Fiat Automóveis e Banco Itaú BBA, com o apoio da Embaixada Italiana, da Fondazione Giorgio e Isa De Chirico, TV Globo Minas, Jornal Estado de Minas. Esse evento faz parte da programação Momento Itália Brasil.
Acontecerá entre os dias 29 de maio a 29 de julho, nos mesmos horários citados acima.

GIORGIO DE CHIRICO - Praça italiana com estátua equestre - Óleo sobre tela

PARA SABER MAIS:

quinta-feira, 17 de maio de 2012

GUSTAVE LOISEAU


GUSTAVE LOISEAU - Árvores num campo em Ble - Óleo sobre tela - 1917

GUSTAVE LOISEAU - Aldeia junto ao rio
Óleo sobre tela - 1900

Outro dia, lendo um periódico parisiense do início do século XX, pude constatar o quanto a dificuldade de impor um trabalho é algo de longa data. A matéria, que enfatizava a comparação entre trabalhos de artistas daquele período, fazia um paralelo entre alguns artistas “contemporâneos”, em especial aos ligados aos movimentos impressionistas, ainda que esse estilo não tivesse a devida importância, como viria a ter à partir dos anos 1930. Monet já era o pilar de referência do movimento e qualquer outro trabalho que seguisse tendência parecida à sua, sofreria inevitáveis comparações. Foi o que aconteceu, em quase toda a carreira do artista Gustave Loiseau.

GUSTAVE LOISEAU - A Praça da Bastilha
Óleo sobre tela - 1924

GUSTAVE LOISEAU - Igreja de Saint Medard, em Paris
Óleo sobre tela - 1903

Imagino que não deve ter sido fácil para Loiseau, viver à sombra de todas as comparações com Monet, uma vez que seus trabalhos são realmente bem parecidos à primeira olhada. Enquanto em Monet há uma preocupação quase excessiva de enfatizar a luz e suas nuances e efeitos, em Loiseau há uma preocupação mais subjetiva, de um certo ponto emocional, e trazendo fortes indícios sentimentais em suas composições. E como viajavam quase sempre para os mesmos lugares e frequentavam quase sempre os mesmos ambientes, ficou a impressão de que Loiseau percorria os passos de Monet, meio que o perseguindo. Mas o seu trabalho tem uma riqueza que não se pode desprezar e as indevidas comparações com Monet e Sisley acabam ficando pelo caminho.

GUSTAVE LOISEAU - Casa na Normandia - Óleo sobre tela - 1913

GUSTAVE LOISEAU - Outubro na Normandia
Óleo sobre tela - 1906

GUSTAVE LOISEAU - Pequena fazenda em Vaudreuil - Óleo sobre tela

Gustave Loiseau nasceu a 3 de outubro de 1865, em Paris. Após o serviço militar de um ano, retornou para casa e se propôs a acatar os conselhos de seu pai, que o queria como decorador na empresa da família. Não foi bem o que viria a acontecer. A morte de sua avó e alguns transtornos com a saúde, viriam distanciá-lo dos negócios da família e o levaram a perseguir os seus próprios interesses, de um dia se tornar um pintor. Chegou mesmo a mudar para Montmartre, o bairro referência de artistas da época, e começou a participar de encontros com vários deles.

GUSTAVE LOISEAU - Paisagem em Oise
Óleo sobre tela - 1906

GUSTAVE LOISEAU - Barcos no porto
Óleo sobre tela - 1911

Em 1890, visitou Pont-Aven. Ainda não pode encontrar com Gauguin nesse período, mas as influências deste se fizeram por outros discípulos seus. Só em 1894, quando Gauguin retornou do Taiti, para uma temporada de cinco meses, é que Loiseau desfrutou dos ensinamentos deste que era sua maior referência. Também foi nesse período que começou a ser representado por Durand-Ruel, o maior negociante de artistas impressionistas da época, e certamente o maior incentivador que o estilo teve em sua gênese.

GUSTAVE LOISEAU - Cais de Pothius em Pantoise
Óleo sobre tela - 1906

GUSTAVE LOISEAU - Planície de Coteaux
Óleo sobre tela

GUSTAVE LOISEAU - A catedral de Axerre - Óleo sobre tela - 1907

Em 1895, Loiseau mudou-se para Moret-sur-Loing e começou a pintar os rios e colinas de lá. Viagens sempre foram atividades constantes na vida de Loiseau. Era em períodos assim que saía para pintar paisagens em diversas partes da França. Frequentava os lugares mais badalados do momento, como a Normandia, Fecamp, Etretat, Le Havre e Marselha. Entre os anos de 1905 e 1910, pintou uma série de paisagens do bairro de Rouen. Ele retornou a Paris em seus últimos anos, vivia em um apartamento no Quai d'Anjou e pintava cenas cotidianas da cidade com uma intensidade incrível.

GUSTAVE LOISEAU - Praia em Petit Dalles, Normandia
Óleo sobre tela - 1908

GUSTAVE LOISEAU - Tempo nublado em Neslrs-la-Vallee
Óleo sobre tela - 61 x 74 - 1896

GUSTAVE LOISEAU - Rio no outono
Óleo sobre tela - 1919

Uma outra característica distinta nos trabalhos de Loiseau, principalmente se comparados à Monet, é que gostava mais das luzes da manhã e do fim da tarde, enquanto em Monet ofusca com vibrante força, a luz do meio-dia. Loiseau gostava mais da luz suave que parecia abraçar todas as coisas e produzir efeitos mais tênues e atraentes. Ainda bastante ofuscado por outros grandes nomes do movimento impressionista de seu tempo, Loiseau vem sendo procurado cada vez mais por colecionadores e instituições de arte.

GUSTAVE LOISEAU - Autorretrato com estatueta
Óleo sobre placa - 60,7 x 48,5 - 1916

sexta-feira, 11 de maio de 2012

MATERNIDADE


ELISEU VISCONTI - Maternidade - Óleo sobre tela - 1906

A aproximação da data (Dia das mães no próximo domingo) sugeriu escrever algo. Mesmo que a comemoração seja uma tentativa comercial de criar mais um período do ano para se consumir presentes; numa espécie de entressafra de natais; um dia reservado às mães é mesmo algo merecido. Muito merecido, por sinal! E se falamos sobre elas, iremos sempre lembrar das muitas imagens que povoam o mundo das artes desde longa data. De fato, a história da arte ocidental está repleta de suas representações desde a Idade Média. Uma mãe e sua criança nos transmitem sempre uma boa sensação. Há todo um universo sugerindo proteção, carinho e calor. E isso mexe com todos nós!

LEONARDO DA VINCI - A virgem e O menino com Santa Ana
Óleo sobre painel - 168 x 112 - Museu do Louvre, Paris

RAFAEL - Madonna do Grão Duque
Óleo sobre painel - 1504 a 1505 - Palazzo Pitti, Florença

Inúmeras culturas usaram a figura materna para criar símbolos e arquétipos. De uma certa forma, a cultura cristã é a mais responsável por difundir essa imagem da mãe complacente e terna, que afaga e ao mesmo tempo protege, que educa corrigindo, que ensina a ser livre impondo os limites da vida.

JEAN BAPTISTE-SIMÉON CHARDIN - A oração antes da refeição
Óleo sobre tela - 49,5 x 38,4 - 1740 - Museu Hermitage

MARY CASSATT - Mãe e filho
Pastel - 1880

As primeiras representações sobre a maternidade evocavam uma lembrança da humanização do divino. A mãe, na figura de Maria, é a ponte que liga o eterno e o terreno, e isso colocou a humanidade mais próxima e acessível daquilo a que ela acreditava. Pelo menos era essa a intenção da Igreja Católica, ao criar tais imagens para educar seus seguidores. Aos poucos, a figura da mãe do filho de Deus foi ganhando ares mais humanos, e adquirindo uma maternidade mais terna e mais ligada a esse mundo. A intimidade e o aconchego de cenas domésticas instigaram pintores de todas as escolas e estilos. Com o passar dos anos, as representações atestam as mudanças estruturais da família, da mãe ganhando um papel secundário e submisso no período feudal até o século XIX, e vindo a ter um papel de destaque na nova estrutura que foi se consolidando no século XX.

BERTHE MORISOT - A lição de costura
Óleo sobre tela - 1884

CLAUDE MONET - Jean Monet no berço
Óleo sobre tela - 1867

PABLO PICASSO - Mãe e filho
Óleo sobre tela - 97 x 71 - 1921

Os tempos atuais inspiram cuidados. A família tem se dissolvido e mudado sua forma estrutural mais básica, e isso acontecendo numa velocidade imensa. Muito mais do que líderes do lar, são necessários casais companheiros que devolvam o verdadeiro sentido de viver em sociedade. A mãe ainda é o pilar mais forte na tentativa de resgatar essa estrutura. Felizmente, ainda só é possível chegar a esse mundo através dela. Mesmo que o homem colabore gerando um filho, é a mãe, o "portal" que irá trazê-lo ao mundo externo.

NANCY HOWE - Maternidade
Óleo sobre tela

VICENTE ROMERO REDONDO - Maternidade
Pastel - 50 x 61

Que continuemos a nos inspirar nas muitas imagens acolhedoras e promotoras de um mundo melhor, que nos acompanham há vários séculos. Uma mãe que acolhe um filho, acolhe uma nova vida e a esperança de um novo mundo.

JOSÉ ROSÁRIO - Na feira - Mista sobre tela - 46 x 65