segunda-feira, 30 de maio de 2011

A ESCRITA... O GRANDE PASSO (José Rosário)


LARS JUSTINEN - Inspiração

“O mais belo triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar.”
Eugène Delacroix
(Saint-Maurice-França 1798-1863 Paris-França)

Considero três, as principais conquistas do homem. O fogo, a roda e a escrita.
Quando souberam produzir e dominar o fogo, nossos ancestrais não só se protegeram e aqueceram nas noites frias, como também aprenderam a cozinhar e assar os seus alimentos. E isso aumentou, e muito, a variedade do cardápio. A roda fez o homem encurtar distâncias e multiplicar suas tecnologias. Desde uma simples roda d’água, que movimentava moinhos, até instrumentos importantes como a máquina de fiar (roca) e as complexas engrenagens, os frutos mais sofisticados na Revolução Industrial. Mas é a escrita, a maior de todas as conquistas.

WINSLOW HOMER - Luz da manhã e sombra
Óleo sobre tela - 1872

“Dupla delícia: o livro traz a vantagem de a gente poder estar só
e ao mesmo tempo acompanhado.”  
 Mário Quintana 
(Alegrete-RS 1906-1994  Porto Alegre-RS)

Todos os historiadores são unânimes em afirmar que a escrita foi a única habilidade que nos tornou completamente diferentes dos outros animais. É na complexidade da língua, codificada em símbolos, que o homem ascendeu ao padrão sapiens, que significa saber, ter consciência de algo e dominar aquilo que se pensa, tanto que é o fator divisor entre a pré-história e a história, no decorrer de nossas civilizações.


WILLIAM BOUGUEREAU - A difícil lição
Óleo sobre tela - 97,8 x 66 - Coleção particular


“É o que você lê quando não tem que fazê-lo
que determinará o que você será quando não puder evitar.”
 Oscar Wilde
(Dublin-Irlanda 1854-1900 Paris-França)

A escrita é como uma foto de nossas idéias. Estou longe de todos vocês nesse instante, mas vocês acompanham comigo, no caminhar de cada linha, todas as cenas e situações que estou propondo em minhas palavras. E se elas são diretas e conexas, consigo explicar, até com mais clareza, certas idéias que não faria pessoalmente. São poucos símbolos que ao embaralharem e se ajuntarem, transformam-se nessa rica mistura de palavras, frases, textos, livros...

ARCIMBOLDO - O bibliotecário
1566 - Stkklosters Slott, Estocolmo

“Ler é beber e comer. O espírito que não lê
emagrece como um corpo que não come.”
 Victor Hugo 
(Besançon-França 1802-1885 Paris-França)



Quando a escrita ganhou as primeiras vogais, ainda no alfabeto grego, Sócrates temia que um grande desastre abateria sobre a humanidade. Para ele, a palavra falada era a forma mais segura de atingir um verdadeiro questionamento. Temia, por isso, que os jovens de sua época, encantados com a escrita, perdessem o hábito de questionar e que portanto não exercitassem mais suas memórias em uma boa roda de conversas, pautadas por diálogos, retóricas e discursos. Felizmente ele se enganou, e o mundo pode assimilar a maior de todas as transformações culturais.
Estamos atravessando, nesse momento, algo parecido com o que aconteceu há cerca de 2500 anos. Uma mudança cultural. Da cultura escrita para a cultura digital e visual. Até bem pouco tempo, a forma física do texto era um suporte escrito com algum tipo de tinta, desde os papiros do antigo Egito até bem recente, no melhor papel impresso na impressora mais avançada. Agora temos o livro eletrônico, que oferece experiências que vão muito além de um deleite da companhia de um bom livro, mas tem também recursos visuais e táteis inimagináveis até bem pouco tempo atrás.

TOM BROWNING - Lições
Óleo sobre painel - 30,5 x 40,6

“Os livros são os mais silenciosos e constantes amigos;
os mais acessíveis e sábios conselheiros;
e os mais pacientes professores.”
 Charles W. Elliot
(Boston-Estados Unidos 1834-1926 Northeast Harbor-Estados Unidos)

É uma pena que os hábitos da escrita, e principalmente da leitura, estejam perdendo forças. Existem atalhos demais para a comunicação. Códigos, gírias, expressões que se agrupam em pouquíssimos símbolos. Uma linguagem que absorve nossa essência sapiens e nos habilita progressivamente, a uma linguagem de máquinas. Há um perigo constante, na nova onda digital que entramos, da abundância de informações com demasiados apelos visuais e sonoros, que dispersam uma profunda leitura e informem apenas aquilo que é superficial, muitas vezes banal e que nada acrescente.
Por todos os lados, engrossa cada vez mais a parcela dos analfabetos funcionais, pessoas que aprenderam a linguagem dos símbolos, mas não continuaram o diálogo com eles. Desacostumaram, no correr dos dias, a ouvir, pronunciar, sentir a musicalidade que exala das frases que compõe a nossa vida, que expressam o que somos e o que queremos.

TEIXEIRA DA ROCHA - Cena de interior
Óleo sobre madeira - 53,5 x 32,5 - Coleção Fadel

“Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma.”
 Fernando Pessoa 
(Lisboa-Portugal 1888-1935 Lisboa-Portugal)

A encruzilhada na qual estamos tem uma semelhança muito grande com o futuro temido por Sócrates. O caminho que iremos escolher é algo ainda bastante incerto.
Algumas poucas iniciativas tentam resgatar o muito do que se tem perdido. É preciso louvar e reverenciar iniciativas defendidas por atos isolados, de entidades ou até mesmo pessoais, na luta contra a ignorância que abraça o mundo. Somos todos responsáveis e muitas vezes esquecemos disso.

ALMEIDA JÚNIOR - Repouso
Óleo sobre tela - 85 x 115
Coleção particular, Rio de Janeiro

“É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro,
mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.”
 José Saramago  (Azinhaga-Portugal)

Vou deixar alguns endereços que descobri pela rede, um veículo que fala a linguagem de um novo tempo. Não temos que evitar novas maneiras de expressar, só precisamos apenas, saber utiliza-las.



“O Livro Desconhecido

Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e, de súbito, uma frase lida com lágrimas nos olhos, diria em êxtase de dor e de enfim libertação: mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!”

Clarice Lispector
(Tchechelnik-Ucrânia 1920 - Rio de Janeiro-RJ - 1977)

sábado, 28 de maio de 2011

CLÁUDIO VINÍCIUS (José Rosário)

CLÁUDIO VINÍCIUS - Beira de estrada
Óleo sobre tela - 70 x 100

CLÁUDIO VINÍCIUS - Beira de rio - Óleo sobre tela - 30 x 40

Um incidente foi o ponto alto do encontro com Cláudio Vinícius. Encontro que só foi possível graças à simpatia e cortesia do Túlio Dias, que não só já era uma das minhas honradas referências, como se mostrou uma figura ímpar, daquelas que “raridade” é o adjetivo mais adequado para descrever.
Respeitado por todos os grandes paisagistas da atual geração e escondido por todos os marchands, conscientes do toque de Midas que sai de seus pincéis, Cláudio Vinícius já habitava meu imaginário há cerca de 20 anos, como aquela figura rara, arquetípica dos grandes mestres e inacessível ao mundo dos reles mortais. O incidente veio oportunamente para jogar por terra todas essas falsas impressões. Antes de qualquer rótulo, Cláudio é humano e soube na melhor definição de Fernando Sabino, “fazer da queda um passo de dança”.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Estrada
Óleo sobre tela

CLÁUDIO VINÍCIUS - Paisagem com ponte
Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2011

Sei que vou carregar eternamente a culpa de ter deletado as imagens (todas) da câmera digital do Cláudio, e que o Túlio vai fazer o maior esforço para que essa lembrança não morra, mas o episódio serviu favoravelmente para quebrar o gelo do mundo surreal que o José Ricardo e eu criamos, entre o Cláudio Vinícius e aquela tarde, que escorreu bem mais rápido do que a gente queria. Não se percebe o tempo, quando as pessoas que estão perto provam que o mesmo é realmente aquilo tudo que o Einstein disse a respeito dele: “relativo”.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Riacho
Óleo sobre tela - 70 x 100

CLÁUDIO VINÍCIUS - Paisagem em Dionísio, MG
Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2011

Já recuperado do incidente, mas com a tortura ainda constante em minha mente, não poderia deixar de falar pelo menos um pouco do Cláudio, da simplicidade do ser humano que se esconde atrás do seu sorriso fácil e sincero, e que permitam a ainda modesta expressão, uma das figuras protagonistas das páginas mais importantes da pintura paisagística brasileira.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Curva de rio
Óleo sobre tela - 70 x 100

CLÁUDIO VINÍCIUS - Rio Manhuaçu
Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2011

Ausente do cenário brasileiro pela estadia que fez nos Estados Unidos por alguns anos, Cláudio Vinícius fez disso uma espécie de recolhimento. O anonimato tem mesmo esse dom, permitir um isolamento a que todo artista deveria se propor um dia. Também há nisso um pouco de risco, evidentemente. Cláudio Vinícius é figura mais que conhecida e respeitada no meio artístico, mas um tanto quanto ainda quase desconhecido pelo grande público. E certas injustiças, se não são reparadas a tempo, correm o risco de nunca serem feitas. E aqui estou eu, tentando pela minha humilde colaboração, registrar algo dessa história, que será arquitetada um dia por algum biógrafo, mais competente que eu para essas necessárias intenções.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Ouro Preto
Óleo sobre tela

CLÁUDIO VINÍCIUS - Ouro Preto
Óleo sobre tela - 100 x 160

Mineiro de Belo Horizonte, nascido em 1955, Cláudio Vinícius Rodrigues iniciou nas artes aos 13 anos. Na nossa conversa descontraída daquela tarde, lembrou dos dias difíceis, em que saía com material debaixo dos braços, e atravessava a cidade até Pedro Leopoldo, para as aulas que o iniciaram no mundo das técnicas e das percepções. Alberto Braga foi o tutor que desvendou esses caminhos. Mais tarde, conviveu em paralelo com a profissão da engenharia eletrônica, até que o caminho decidisse unicamente pelo trilho das Artes.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Estrada
Óleo sobre tela - 70 x 100

CLÁUDIO VINÍCIUS - Chegando a Dionísio - Óleo sobre tela - 91 x 121

Há muito tempo já nos oferece uma pintura amadurecida, detalhada na paciência de muitas horas e dominada em todas as suas possíveis dificuldades. Há que se ressaltar a força de suas cores e o equilibro de suas composições, preferencialmente as paisagens com seus rios de águas calmas e estradas com misteriosas curvas. Diria que o Cláudio é o Peder Monsted dos trópicos.


CLÁUDIO VINÍCIUS - Curva de estrada - Óleo sobre tela - 70 x 100

CLÁUDIO VINÍCIUS - Paisagem
Óleo sobre tela

Uma curiosidade de sua carreira foi a doação de uma de suas telas para Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos, quando esteve no Brasil em dezembro de 1982. A tela, uma cena da Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, foi entregue com honrarias por Sandoval de Morais, na época diretor-presidente da Progresso Engenharia de Sistemas ltda.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Vida tranquila
Óleo sobre tela - 70 x 100

CLÁUDIO VINÍCIUS - Natureza em festa - Óleo sobre tela - 50 x 70

Uma de suas primeiras projeções no cenário internacional foi a participação da Artexpo New York, a maior feira de artes plásticas e arte popular do mundo. Além da obra na Casa Branca, ainda está nos acervos da Ward Nasse Gallery, no charmoso bairro do Soho, em Nova Iorque, no museu Magnólia Plantation and Gardens, em Charlestone, Carolina do Sul e também no Museu de Londres. Ficou sem fronteiras, a galeria para o Cláudio Vinícius.

CLÁUDIO VINÍCIUS - Rio calmo
Óleo sobre tela

CLÁUDIO VINÍCIUS - Beira de rio - Óleo sobre tela - 70 x 100

Ficarei com a eterna lembrança daquela tarde onde conheci uma lenda da pintura brasileira e das gargalhadas do Túlio, que não me fazem esquecer de outras lembranças.





PARA SABER MAIS:
(31) 3452-3727

quarta-feira, 25 de maio de 2011

DOUG LANDIS

Muitos artistas usam o lápis apenas como meio para estudos e rápidos esboços. Outros o utilizam como o meio mais nobre para transmitir sua arte, caso do artista Doug Landis, do qual recebi algumas imagens enviadas pelo amigo Jader, e não poderia deixar de compartilhá-las com vocês.








Alguns artistas tem processos muito especiais na realização de seus trabalhos.



Doug produz seus desenhos com a boca. Um grave acidente na prática de wrestling lesou a coluna, e ele perdeu os movimentos principais de braços e pernas. Foi pela iniciativa do irmão, triste por vê-lo cair em forte depressão, que Doug começou a desenhar e retomar o gosto pela vida. Ele pode ter perdido muito de sua liberdade física, mas conseguiu libertar seu espírito. Ele é categórico ao afirmar: “Encontrei um talento em mim, que me leva a crer que todo mundo tenha talento. Se eu posso fazer de alguma maneira, todos podem encontrar a sua própria maneira de fazer. Encontrar seu talento ajuda a ter esperança e a atravessar melhor a vida”.
Após recente exposição na Bélgica, onde seu trabalho recebeu resposta extraordinária, muitas oportunidades surgiram. Doug tem se especializado cada vez mais na anatomia de animais, principalmente os situados em via de extinção.
Não poderia terminar essa matéria sem deixar uma frase do próprio artista. “Eu prefiro que vejam a obra de arte antes de verem como eu as realizei. A obra de arte é mais importante do que como eu fiz”.

PARA SABER MAIS:

terça-feira, 24 de maio de 2011

ORIENTALISMO

LORD EDWIN WEEKS - A barcaça do Marajá de Benares
Óleo sobre tela - 52 x 76

Sempre houve uma certa “barreira” natural entre o ocidente e o oriente. Povos que nem são tão distantes assim uns dos outros, praticam culturas completamente diferentes e originais. Foi assim nos tempos primordiais, ainda é e acredito que sempre será, mesmo que a globalização alargue fronteiras e compartilhe novos costumes e tradições. Houve um tempo, porém, em que as duas culturas, tão antagônicas, conviveram numa espécie de troca de conhecimento.

HOLGER H. JERICHAU
Rua da Índia com vendedores de melancia
Óleo sobre tela - 42 x 68

WILLIAM J. WEBB - Uma rua em Jerusalém
Óleo sobre tela - 89 x 166 - Mathaf Gallery, Londres

Para os intercâmbios artísticos referidos nessa matéria, entende-se por Oriente, não apenas o extremo oriente propriamente dito, mas também o Oriente Médio, norte da África e Turquia. A relação com todas essas culturas era estritamente comercial, ou somente através de incursões militares. Mesmo o comércio, era feito por grupos restritos e não abrangiam grandes áreas.


GIOVANNI BATTISTA TIEPOLO - O encontro de Moisés
Óleo sobre tela - 202 x 342 - 1730
Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo


MUITAS CENAS RELIGIOSAS, FINANCIADAS PELA IGREJA
CATÓLICA, JÁ PERMITIAM UMA LEVE ABERTURA
PARA TEMAS ORIENTAIS. TIEPOLO E VERONESE
FORAM GRANDES EXPLORADORES DE UMA TEMÁTICA
COM VESTUÁRIO COLORIDO E EXÓTICO. DELACROIX
SE CONCENTROU EM TEMAS MAIS LIGADOS À
GUERRAS E CONFLITOS, COM APELO BEM DRAMÁTICO,
MAS JÁ COM INFLUÊNCIAS BEM PERCEPTÍVEIS DA
CULTURA ORIENTALISTA.

EUGENE DELACROIX - O massacre de Quios
Óleo sobre tela - 417 x 354 - 1824
Museu do Louvre, Paris

Na Arte, os primeiros toques orientalistas já se notaram presentes em obras renascentistas e na imponência do rococó. Bellini, Veronese, Tiepolo e Rembrandt abriram as portas para o que seria uma rica troca de experiências. Os monarcas franceses também já ostentavam exageros na decoração e no vestir, inspirados das opulências que vinham de lá.

GUSTAVE BAURFEIND - Mercado de Jaffa
Óleo sobre tela

A data mais marcante desse começo de encontro e descobertas entre os dois mundos se deu em 1798, mais precisamente com a derrota dos turcos, no Egito, no que ficou denominada Batalha das Pirâmides. Napoleão, vencedor da batalha, não ficou por lá muito tempo, pois logo foi expulso pelos ingleses. Mas a breve estadia no país foi o suficiente para mudar e muito tudo que se sabia sobre o “oriente”.

ALOYSIUS O'KELLY - Um cafe narguilê, Cairo
 Aquarela - 57 x 46,5 - Mathaf Gallery

VICTOR HUGUET - Árabes fora do mosteiro
Óleo sobre tela - 137 x 112 - Coleção particular

O “cartão de visitas” lançado por Napoleão fez ocorrer, numa escala gigantesca, uma corrente cada vez mais crescente de ocidentais, ávidos pelas novidades das terras “proibidas”, ou pelo menos temidas. Tanta sede de novidades pelo oriente deu origem, já em 1809, à publicação francesa da primeira parcela de 24 volumes do que se designou “Descrições do Egito”. Até então eram os estudos mais elaborados que forneciam dados sobre topografia, arquitetura, monumentos, costumes, vida natural e dados diversos sobre as populações da região. Tamanha era a importância de tais documentos, que a arquitetura francesa sofreu uma influência radical depois disso. Basta apenas citar a inclusão de obeliscos nos monumentos públicos, idéia trazida das terras egípcias.

FABIO FABBI - Garotas do harém
Óleo sobre tela

Escritores também relatavam suas aventuras nas terras desconhecidas e os artistas desenhavam e pintavam tudo aquilo que viam. Estiveram no norte da África, Turquia, todo o Oriente Médio e alcançaram por fim, a Índia e outras regiões ainda mais orientais. Todo esse reboliço e alvoroço, somadas às enxurradas de informações que chegavam à Europa, deram origem ao que ficou caracterizado como Arte Orientalista ou Orientalismo, um movimento que engloba todos os assuntos relacionados ao descobrimento e divulgação da cultura oriental naquele período.

GIULIO ROSATI - Dança do harém
Óleo sobre tela

ALFRED HENRI DARJOU - Dançarina 
Óleo sobre tela

Esse movimento se espalhou por quase um século e envolveu os mais diversos artistas das mais diversas áreas. Muitos deles, inclusive, nomes já consagrados no cenário artístico de seus países de origem. Muitas pinturas produzidas nesse período possuem detalhes tão minuciosos que beiram ao realismo fotográfico.

RUDOLF HELLGREWE - Caravana
Óleo sobre tela - 100 x 80

GUSTAVO SIMONI - Fora do palácio
Óleo sobre tela - 119 x 80 - 1903
Mathaf Gallery, Londres

Financiados pelos monarcas de seus países de origem, os primeiros artistas que por lá passaram, deram ênfase em cenas de guerra, caçadas de animais e toda espécie de representação que fazia parecer que o oriente era uma terra temível. Mas, o século XIX ainda guardava muitas surpresas. Com os movimentos libertários da arte por todas as regiões da Europa; com ênfase para o Naturalismo e Realismo, até o surgimento do Impressionismo; as temáticas do oriente pareciam cair como uma oportunidade de fuga da temática defendida pelos grandes salões. Um novo tema era tudo que a Arte precisava naquele momento para se reciclar. A prática da pintura ao ar livre, lançada pelos pioneiros de Barbizon também teve adeptos pelos artistas orientalistas.

MICHAEL GORSTKIN WYWIORSKI - Mercadores
Óleo sobre tela - 65 x 80

ERICH KIPS - Shangai
Guache - 34,7 x 49,7

A idéia de se aventurar por terras estranhas custou caro para muitos desses artistas. Suportaram as mais diversas dificuldades e correram riscos incríveis, na busca cada vez mais descontrolada de divulgar as novidades que buscavam. Aliadas a isso, ainda havia sérias doenças encontradas pelo caminho, até então desconhecidas pelos artistas ocidentais. Confrontos com saqueadores, bandidos dos desertos e racionamento até do que comer e beber. Ao mesmo tempo que eram recebidos com a maior hostilidade, também lhes eram servidas honrarias e as mais calorosas simpatias. Desse contato surgiram amizades duradouras entre vários povos. Foi nesse período que muitas nações européias estreitaram seus laços de amizade com muitas outras nações daquela região.

FILIPPO BARTOLINI
Comerciantes de rua no Cairo
Aquarela - 76 x 57 - Mathaf Gallery

HERMANN DAVID SALOMON CORRODI
Ruela egípcia
Óleo sobre tela - 103 x 66 Christie's Images, Londres

Todos os países mais influentes no cenário artístico daquela época enviaram seus artistas: Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, Itália, Rússia, Espanha, Estados Unidos e Austrália. Eram especialistas nas mais diversas modalidades, que iam desde a pintura de paisagem, temas de Arqueologia ou mesmo relacionamento social. Alguns buscavam os locais de manifestação dos fatos bíblicos e religiosos, ou se concentravam nas estratégias militares. Também foram expedições científicas que registravam a flora e a fauna por onde passavam.

ROBERTO RAIMONDI - O mercador
Aquarela - 50 x 72,5 - Mathaf Gallery, Londres

GIUSEPPE SIGNORINI - Cena do mercado em Cairo
Óleo sobre tela - 58,4 x 86,4 - Mathaf Gallery, Londres


Aos poucos, o conceito errôneo de que o oriente era a rota para o perigo foi se desfazendo. A narrativa quase poética que emanava das obras de todos os artistas que passaram por lá, foi acrescentando, mesmo que lentamente, a idéia de que o oriente também era uma terra onde seria possível viver em harmonia. Um lugar onde as tradições se mantinham firmes e os dias, já naquela época, tinham uma velocidade mais lenta no correr.


FERENCZ EISENHUT - Guerreiros
Óleo sobre tela - 71 x 54 - Coleção particular

ANTONIO MARIA FABRÉS Y COSTA
 Acendedor de lâmpadas
Óleo sobre painel - 78 x 63,5
Mathaf Gallery - Londres

Uma coisa é certa, a experiência por que passaram todos esses artistas mudou radicalmente suas vidas. Muitos por lá morreram e os que sobreviveram ainda carregavam, com uma clareza cristalina, as imagens de tudo aquilo que havia ocorrido. Como repórteres de um tempo distante, sabemos hoje muitos costumes, tradições e dados físicos e comportamentais de uma civilização que mudou drasticamente. 


JOSE VILLEGAS Y CORDERO - Cena árabe
Óleo sobre tela

FRANZ ROUBAUD - Corredores orientais
Óleo sobre tela - 61 x 82

Como a Arte tem o poder de mudar a vida das pessoas que a criam, também tem o poder de mudar a vida de todos aqueles que comungam de suas criações. O que chegou até nossos tempos, é um legado que tempo nenhum apagará.

OLIVER DENNET GROVER - Cena de harém
 Óleo sobre tela - 195,6 x 167,6
Sheldon Swop Art Museum