sábado, 30 de abril de 2011

RIO EM CORES DE CINEMA


No último feriado, que foi a união de duas datas; Tiradentes e Sexta-feira Santa; estive no Rio de Janeiro. É impossível estar lá e não se lembrar da célebre frase de Gilberto Gil: “O Rio de Janeiro continua lindo...” Uma outra frase, dita com convicção por um fotógrafo alemão, na comemoração dos 450 anos da cidade, também vem logo à mente: “O Rio de Janeiro não é uma cidade maravilhosa. É um cenário maravilhoso dentro de uma cidade em caos”.
Polêmicas e controvérsias à parte, fica latente na cidade, que a perda da capital federal para Brasília, na década de 60, ainda expõe cicatrizes difíceis de serem fechadas. Percebe-se o grande esforço da administração recente, para que a cidade retome o título de “maravilhosa” na completude de seu significado, mas também é muito triste constatar que as medidas tomadas ainda não sejam de todo eficientes.
As belezas naturais já gritam sinais de alerta. Basta contornar a Baía da Guanabara e confirmar que o pedido de socorro de uma natureza que chora, não pára nunca. Estive lá num período de feriado prolongado, com a cidade cheia de turistas, mas, nos quatro dias que lá passei, os museus estavam todos fechados. Fico pensando se para uma cidade que tenta se recobrar, desprezar o turismo cultural seja uma atitude sensata a ser tomada. Está na contramão de todos os grandes centros do mundo, pelo menos.
Incentivar um turismo natural, cada vez mais ameaçado, e desprezar o turismo cultural, tão rico e particular da cidade, me parecem atitudes, no mínimo, incoerentes.
A cidade está às portas de dois grandes eventos de repercussão mundial. Soluções extremas precisam ser tomadas e o tempo já se mostra como o inimigo mais forte para que elas não aconteçam. Fico torcendo, como todos nós brasileiros, para que a cidade se reencontre e continue a ser o principal cartão-postal do Brasil mundo afora. Desejo seriamente, ter orgulho, sem limites e sem reservas, da cidade que nos apaixona desde o primeiro contato.

Deixo a todos, a letra de uma música escrita por um cantor sergipano. Ela é uma visão solidária com a quase totalidade dos brasileiros.



RIO EM CORES DE CINEMA
(Chico Queiroga)

“O Rio de Janeiro continua lindo”
A praia de Ipanema, a pele da morena,
Como é bom se ver, como é bom viver,
Como é bom sonhar.

O Rio de Janeiro continua indo
Esconde a violência e mostra um paraíso.
Como é bom viver, como é bom se ver,
Como é bom sonhar.

Mas vejo bandoleiros de carroças atômicas
Índios caras-pálidas
Vejo gaviões em batalhões lançando suas garras.
E o que se passa na cabeça do Cristo Redentor?
Eu vejo o Rio de Janeiro vendo O Salvador
Em cores de cinema.

O Rio de Janeiro continua rindo
Portela na avenida, confetes e serpentinas,
Como é bom se ver, como é bom viver,
Como é bom sonhar.

Ainda o Rio de Janeiro em prosa e poesia
Esconde todo o choro mostrando a alegria
Como é bom viver, como é bom se ver,
Como é bom sonhar.

Mas vejo o carnaval na edição “O Dia”
Adeus toda a folia pra tantos foliões
E nos olhos de Deus, mais longe a harmonia.
E o que se passa na cabeça do Cristo Redentor?
Vendo o Rio de Janeiro O nosso Salvador,
Em cores de cinema.

Com os amigos Wai (à esquerda) e Célio (à direita). Um dia no Rio,
com as bençãos do mineiro Drumond.


AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: 
Célio, Andréia, Wai, Rafael e Lucas 
pelo final de semana perfeito.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

VLADIMIR VOLEGOV (José Rosário)


É com grata satisfação, saber que a arte figurativa sobrevive e se reinventa pelos caminhos mais diversos possíveis,  descortinando fronteiras e aproximando os extremos mais distantes. Vem da Rússia, mais precisamente de Khabarovsk, um dos grandes representantes da arte figurativa atual.

VLADIMIR VOLEGOV - Leitura
Óleo sobre tela, 2010

VLADIMIR VOLEGOV - Mãe e filho
Óleo sobre tela

Com impressionismo arrojado, lírico acima de tudo, deixa claro o que os tempos de estudo na Rog Krvoj  acrescentou em seu caminho. O garotinho que aos três anos de idade deu as primeiras pinceladas, teria ainda os dias alegres da adolescência interrompidos pelo serviço obrigatório ao exército soviético.

VLADIMIR VOLEGOV - Brincadeira de criança
Óleo sobre tela

VLADIMIR VOLEGOV - Garota com cerejas
Óleo sobre tela - 81 x 81

As primeiras competições internacionais começaram em 1984 e os prêmios também começaram no mesmo período. Muitos, aliás. E se a mudança para Moscou em 1988 parecia o abrir de um novo caminho, bastaram alguns trabalhos em artes comerciais, para que o jovem fosse logo percebido por Agências de Publicidade e Editoras. Sempre um passo à frente nas inovações em cartazes, capas de CD’s e cassetes, que o serviço publicitário tanto o consumia o tempo, seguia paralelo o incansável trabalho de telas e mais telas, com as quais arrebanhava ainda mais prêmios em exposições.

VLADIMIR VOLEGOV - Veneza
Óleo sobre tela, 2003

VLADIMIR VOLEGOV - Veneza
Óleo sobre tela, 2003

Experiência ainda maior estava por vir. Parte para várias cidades da Europa na década de 90. Em Barcelona, Berlim, Viena e tantas outras, pintava nas ruas, retratos e souveniers. O pintar ao vivo, que necessita basicamente de velocidade, treinou ainda mais sua percepção e execução da figura humana. Pequenos toques transformados em grandes gestos, passaram a ser o diferencial em seu trabalho.

VLADIMIR VOLEGOV - Café da manhã
Óleo sobre tela, 2010

VLADIMIR VOLEGOV - The mood
Óleo sobre tela, 92 x 73

VLADIMIR VOLEGOV - Hydrangeas
Óleo sobre tela, 81 x 100

O que mais encanta no trabalho de Volegov não é apenas a coerência e exatidão das proporções e feições humanas, e sim o jogo correto das pinceladas vibrantes e ousadas, a sensibilidade que evoca cada uma de suas figuras. Um trabalho cujos adjetivos se apequenam. Basta apenas contempla-los e perceber que o figurativismo na arte ainda terá vida bastante longa, graças a Deus!


VEJA EXCELENTE VÍDEO DE VOLEGOV


PARA SABER MAIS:


quinta-feira, 28 de abril de 2011

ALEIJADINHO (José Rosário)


Maiores até do que as riquezas extraídas das Minas Gerais, são os tesouros talhados pela genialidade e grandiosidade dos artistas que aqui nasceram. Desenhando, pintando, esculpindo e projetando em obras o que o futuro jamais esqueceria. Os caminhos são muitos e a vasta obra dos que por aqui produziram arte, confirmam que Minas não é apenas um estado na formação política do país. Ser Minas é, antes de tudo, um “estado de espírito”.
Das muitas mãos geniais que construíram o orgulho de ser Minas, o Aleijadinho é a figura de maior expoente. E se sua história registrada não possa relatar com detalhes as fases de sua existência, suas obras o eternizaram e fazem confirmar: “um homem só é eterno quando o seu trabalho permanece”.

EUCLÁSIO VENTURA - Possível retrato de Aleijadinho

A tentativa de fazer uma biografia correta do Aleijadinho esbarra sempre em diversas interpretações. Primeiro pela desconfiança da veracidade dos fatos, segundo pelas fontes bastante imprecisas e finalmente por se tratar de um ícone da arte brasileira. E para artistas nesse nível, muitas histórias sem confirmação devem ser acreditadas com ligeira desconfiança.
A fonte mais próxima da verdade parece ser mesmo a de Rodrigo José Ferreira Bretas, que em 1858 colheu informações de pessoas que haviam conhecido pessoalmente o Aleijadinho, 44 anos depois de sua morte. Nesse grupo de pessoas se encontra a própria nora do artista. Muitos dados fornecidos por Bretas foram confirmados através de pesquisas realizadas pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, muitos dos quais com minúcias de detalhes que encaixam perfeitamente a muitos pontos supostos anterior a sua pesquisa. O  “Registro de Fatos Notáveis” sobre a arte e artistas da região de Minas Gerais, elaborado em 1790 pelo 2° vereador da Câmara de Mariana, a mando de D. Maria I, rainha de Portugal, foi reproduzido e consta nos arquivos de Bretas. O original, porém, está hoje  desaparecido, se é que ainda seja possível a sua existência. É um documento raro e muito importante, pois relata sobre o artista em pleno apogeu e dono  de uma reputação que o colocava como o mais importante artista brasileiro até então conhecido.


Algumas obras de Aleijadinho


A data de nascimento do Aleijadinho é o primeiro fato de sua biografia que ainda não está de todo esclarecido. No documento de citação de Bretas, 29 de agosto de 1730 é a data de seu nascimento, isto, levando em conta um documento identificado como a certidão de nascimento do artista. É uma data que gera controvérsias, pois a certidão de óbito do artista, conservada até hoje no arquivo da Paróquia de Antônio Dias de Ouro Preto, atesta que Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), faleceu a 18 de novembro de 1814, com 76 anos de idade, oito anos discordantes da possível certidão de nascimento, citada por Bretas.

Anjo com cálice da paixão, na via-sacra de Congonhas

Aleijadinho era filho bastardo e escravo. Seu pai, Manoel Francisco Lisboa teve um relacionamento com uma de suas escravas, vindo a gerar o filho artista. Outros dados pouco confiáveis e incompletos dizem respeito à sua formação escolar. Parece ter concluído o primário e algumas aulas de latim. Seu pai, arquiteto de projeção na época e o desenhista João Gomes Batista são indicados, nos relatos de Bretas, como os primeiros tutores artísticos de Aleijadinho. Não eram escultores, o que leva a crer que o Aleijadinho teve outros tutores além deles. Especula-se Francisco Xavier de Brito e José Coelho Noronha como os primeiros entalhadores considerados referências para o Aleijadinho. Gravuras de santos, quase sempre vindas da Alemanha e que se tornaram uma febre no mundo ocidental, talvez sejam outra grande referência inspiradora para os trabalhos dele, tamanha a grande semelhança de seus trabalhos com as referências mencionadas.

Nossa Senhora das Dores,  Museu de Arte Sacra, São Paulo

É possível que Aleijadinho tenha começado bem cedo o ofício do entalhamento, mas, é somente em 1766, o relato oficial de sua primeira grande obra, quando executa a importante encomenda da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto. Executa desde o projeto arquitetônico até as ornamentações de fachada, púlpitos, talhas da capela-mor, lavabo de sacristia, etc.
Diversas encomendas em 1770, o fazem dirigir à Sabará, com especial atenção para a Igreja da Ordem Terceira do Carmo. Já em 1774 parte para São João Del Rey. Lá executa o projeto e a ornamentação da Igreja de São Francisco de Assis. Esta é tida como a obra-prima de sua carreira, juntamente com a Igreja da mesma ordem realizada em Ouro Preto.

Acima, Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto

Abaixo, detalhe da fachada

Segundo relatos, à partir de 1777 começaram a surgir os primeiros sinais de uma grave doença, que lhe deformou progressivamente o corpo e causou grandes sofrimentos no trabalho. Não se sabe ao certo qual mal o afetou até o fim de seus dias. Mesmo com progressivas dificuldades, continuou trabalhando assiduamente.

Igreja de São Francisco de Assis, São João del Rey

Nos anos seguintes, várias outras vilas coloniais recebem obras de Aleijadinho. A encomenda era tamanha que chega a realizar duas ou mais obras em cidades diferentes. Fato que conclui, ter tido o artista, um apoio irrestrito de “funcionários” do atelier. Os chamados “oficiais de atelier” sempre se fizeram presentes na maioria das obras realizadas pelo seu mestre, ajudando nos trabalhos mais secundários e até mesmo na conclusão de obras inteiras, como nos Passos da Via-Sacra no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas. É inconcebível que um único homem, com as restrições físicas que tinha, tenha executado, sozinho, tão grandiosas e numerosas obras num espaço de tempo tão curto. Essa atividade, a de “terceirizar” encomendas também foi muito utilizada por outros artistas. Exemplo mais comum é o do pintor flamengo Rubens, um dos mais prolíficos da história da Arte. O fato de envolver “terceiros” em seu trabalho, talvez contribua para a explicação de incontáveis peças espalhadas em galerias, museus e coleções particulares. Muitas delas, atribuídas a Aleijadinho, possam ter sua origem questionada. Mesmo tendo características bem particulares em seu trabalho, é bem natural que um ou mais habilidosos “oficiais”, tenham feito cópias bem próximas dos trabalhos seus.

Fachada da Igreja de Santo Antônio, Tiradentes

Interior da Igreja de Santo Antônio, Tiradentes

Com base nessa hipótese, a da ajuda irrestrita de terceiros na execução de seu trabalho, é que o conjunto de Congonhas, num total de 76 estátuas em tamanho natural, tenha sido executado num espaço de tempo relativamente curto, 9 anos. Muito mais se levarmos em conta que Aleijadinho já estava na fase final de sua vida e que as enfermidades decorrentes de sua doença já encontravam em estado avançado.

Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas

Escadaria com os profetas e Congonhas ao fundo

Os doze profetas, Congonhas

Profeta Oséias, Congonhas

Profeta Daniel, Congonhas

Auxiliado certamente por “oficiais”, Aleijadinho deixou uma produção artística invejável e estas podem ser confirmadas nos vários recibos redigidos e assinados de próprio punho, além dos livros de despesa, que se encontram ainda nos arquivos dos templos onde ele trabalhou. Toda sua obra, entre talhas, projetos arquitetônicos, relevos e estatuária foi realizada somente em Minas Gerais.
Aleijadinho não se casou, mas teve com a mulata Narcisa, um longo caso que lhe rendeu um filho.



Passos da via-sacra, no Santuário do Senhor Bom Jesus 
de Matozinhos, Congonhas

Restauração de obras dos Passos da via-sacra no
Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos

Mencionado por muitos como o "Michelangelo dos trópicos", Aleijadinho dedicou toda sua vida a um dos ideais mais nobres para todos aqueles que produzem arte. Deixou um estilo inconfundível, que se espalhou por muitas gerações de artesãos e até hoje continua fazendo escola.

terça-feira, 26 de abril de 2011

DAVI (José Rosário)


Florença não é apenas o berço do Renascimento (como se isso já fosse pouca coisa), é também o palco da melhor visita que a Itália pode nos oferecer. Há um certo charme que a coloca entre um dos lugares mais carismáticos do mundo. Os grandes gênios do Renascimento encontraram ali, durante um bom tempo, porto seguro para viajarem em suas criações. Um em especial, de nome Michelangelo, deixou para a cidade, uma de suas maiores criações: Davi.


Um bloco de mármore de Carrara, abandonado por cerca de 25 anos no pátio da catedral de Santa Maria del Fiore, escondia o que seria no futuro, uma das esculturas mais importantes da história. Entre os anos de 1501 e 1504, Michelangelo trabalhou incansavelmente nessa obra. E havia até um certo desafio nessa empreitada, pois quando o bloco chegou até ele, já havia sido recusado por outros grandes nomes da escultura italiana naquele período. Mesmo que o bloco tenha se danificado com a exposição ao ar livre e perdido um pouco de seu tamanho original, a escultura acabada ainda ficou com 5,17 m. Michelangelo ainda não havia completado 30 anos de idade.


Outros artistas, antes de Michelangelo, já haviam explorado esse tema. Sempre se concentraram numa composição após o confronto entre Davi e Golias. Muitos representavam o Davi ostentando orgulhosamente a cabeça do gigante. Michelangelo resolveu inovar, representando o jovem lutador antes da grande batalha. Conserva na sua obra uma tradição classicista na representação de nus. Inicialmente, por pudor, uma guirlanda de bronze lhe tapava o sexo. A figura não sugere movimento, tem uma expressão tensa, mas a rigidez da composição acaba na representação do corpo relaxado em uma das pernas. Muitos vêem na obra, um símbolo do civismo republicano de Florença e também um dos maiores representantes do pensamento renascentista.

Piazza della Signoria, Florença.

A obra original, que antes ficava na Piazza della Signoria, foi, em 1873, transferida para a Galleria dell’Academia, onde está hoje. Duas réplicas podem ser encontradas em ambiente externo, uma na Piazza della Signoria e outra na Piazelle Michelangelo. Decisão acertada, pois as condições das intempéries naturais teriam danificado gravemente a obra. Para o aniversário de 500 anos, a escultura recebeu acurada restauração. Meses de paciente trabalho de limpeza, revelaram também a fragilidade nos tornozelos da figura, que sustentam quase 6 toneladas. Até uma tomografia computadorizada foi necessária para visualizar melhor as várias trincas formadas ao longo de tantos anos.


Relatos encontrados da época, narram a euforia de todo o povo florentino para a inauguração da escultura, que aconteceu num outono de 1504. Colocada em uma gaiola de madeira, muito bem segura, a obra desfilou pelos quatro cantos da cidade. Fico imaginando a dificuldade em erguer tão pesada obra com os recursos da época.

                                    

Dois esboços sobre o Davi.
Acima, esboço do próprio Michelangelo, que
experimentou diversas outras posições.
Abaixo, um estudo feito por Rafael à partir
da obra de Michelangelo.

  

Davi é também uma das provas porque Michelangelo tenha sido aclamado, em vida, como o maior artista de seu tempo. Ele foi um dos poucos artistas ocidentais com a biografia publicada, estando ainda vivo, e esta ficou a cargo de Vasari, um dos maiores escritores de registros da época. Vários registros de sua carreira e personalidade, bem como objetos e esboços, eram guardados como relíquias por inúmeros admiradores.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A ARTE DE AMAR (Manuel Bandeira)

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

MANUEL CARNEIRO DE SOUZA BANDEIRA FILHO
Pernambucano de Recife.
Nasceu a 19/04/1886
Morreu a 13/10/1968

Hoje é data do aniversário de nascimento desse ilustre escritor. Como é bom saber que pessoas de bem, como ele, também pisaram esse planeta!

domingo, 10 de abril de 2011

KNUD EDSBERG (José Rosário)

KNUD EDSBERG - Manhã na fazenda
 Óleo sobre tela - 50 x 60,5

A história até parece a mesma de muitas outras. Não é por desejo que elas assim se constroem, os personagens que as protagonizam estão ali quase que por um testemunho. Já nem diria que são vítimas, essas são apenas suas vidas e vive-las é o que os fazem ocupar um lugar especial na história.

KNUD EDSBERG - Cena de fazenda
Óleo sobre tela

KNUD EDSBERG - Matando a sede
 Óleo sobre tela - 1970

KNUD EDSBERG - Gado descansando sob a luz da tarde
Óleo sobre tela - 99 x 71,12 - 1960

Knud Erik Edsberg cresceu em condições humildes nos arredores de Copenhague, na Dinamarca. Um pacato cidadão talvez seria o seu destino mais certo, não fosse a convicção de que estava nesse mundo para outros propósitos. O desenho, bem cedo lhe era companhia mais que certa, e passava muitas das horas de folga que tinha, para sempre aprimora-los. Sua mãe, uma costureira que se desdobrava em sua tarefa, ainda não possuía renda suficiente para oferecer ao filho uma adequada iniciação no caminho que o garoto tanto desejava. As dificuldades, no entanto, não impediram o garoto de evoluir dentro do que sua condição permitia. Já na adolescência, teve a sorte de ser apresentado a um renomado artista de sua época, de nome Laurits Tuxen, e que era reconhecido principalmente por sua técnica e estilo clássicos. Um famoso retratista da época que percorria toda a Europa, sempre com grandes e importantes encomendas.

KNUD EDSBERG - Uma tarefa diária
 Óleo sobre tela - 66 x 99 - 1980

KNUD EDSBERG - Frokost
 Óleo sobre tela - 45 x 55

KNUD EDSBERG - Pastando
 Óleo sobre tela

Edsberg esperava bem mais que apenas conselhos. Tuxen já era um renomado artista, mas ele não o conheceu numa das melhores fases da pintura dinamarquesa. A prolífica Idade de Ouro da Pintura na Dinamarca já havia passado e dela ficaram apenas os ecos de inspiradas referências.

KNUD EDSBERG - Pastagem aberta
Óleo sobre tela - 1955

KNUD EDSBERG - Frolic no campo
 Óleo sobre tela - 71,12 x 99 - 1980

KNUD EDSBERG - Paisagem com vacas
Óleo sobre tela - 50,5 x 70

Há sempre uma luz que guia os caminhos daqueles que desejam realmente caminhar. Cada vez mais forte em suas convicções, Edsberg se empenha em fazer sua própria formação, estudando a paleta, técnica e estilo daqueles que seriam seus principais mestres: Rembrandt, Ticiano, Carl Bloch, Peder Severin Kroyer e Anders Zorn. E mesmo sabendo serem necessárias as referências desses importantes mestres do passado, o fascínio pela luz e cor que tanto pregava o Impressionismo também já lhe sondava como intenção. Essa atração, quase natural, fica evidente em muitas de suas pinturas de gênero realizadas em “plein air”, que lhe trazia também a nostalgia por não ter vivido algumas décadas atrás, quando teria talvez conhecido alguns dos mestres que referenciava, e quando também a paisagem natural não estaria não modificada quando em outras épocas. Algo como saudade daquilo que nunca viu.

KNUD EDSBERG - Família reunida
 Óleo sobre tela - 1980

KUND EDSBERG - Vaca
Óleo sobre tela

KNUD EDSBERG - Um dia de trabalho
 Óleo sobre tela - 24,8 X 30,5

Com todas as dificuldades porém, Edsberg atravessa a década de 1950 se firmando como aquilo que menos tinha em mente, ser um respeitado retratista. E foi um dos preferidos de sua época. Só para se ter uma idéia, apenas para o Museu Carlsberg, ele realizou 50 retratos.

KNUD EDSBERG - Animais no pasto
Óleo sobre tela

KNUD EDSBERG - Cavalos
Óleo sobre tela

KNUD EDSBERG - Paisagem com moinho
Óleo sobre tela - 48,3 x 68,6 - 1964

Já casado e pai de um menino de nome Soren, Edsberg inicia seu filho bem cedo no conhecimento das cores, desenho e volumes. É na década de 1960, que tanto pai e filho se vêem numa formação mais bem estruturada. Soren tinha o trabalho bem parecido ao do pai no início de sua carreira. Mais tarde, uma linguagem mais individualizada se tornou perceptiva em sua obra. Knud Edsberg teve também outro menino, Gitte, que não se enveredou porém pelo caminho das Artes.

SOREN EDSBERG - Vacas na fazenda
Óleo sobre tela

Dois trabalhos de Soren Edsberg, filho de Knud.
Na sua fase inicial, os trabalhos lembravam e
muito os trabalhos do pai. Mais adiante, seus
trabalhos receberam uma linguagem mais pessoal,
diferenciando um pouco do início de carreira.


SOREN EDSBERG - Vila
Óleo sobre tela

Knud Edsberg tinha uma preferência declarada por pintura de gênero e por cenas rurais de sua terra, com toda a imensidão de paisagens e céus. Muitos verões eram passados na fazenda de um amigo, em Jutland. Tudo que pintava e esboçava era uma prova de amor fiel por seu país. Na calmaria do interior, saía à caça de vários temas, que enchiam blocos de esboço. Ficava horas na captura de novos ângulos dos animais ao pasto, que lhe capacitaram um ótimo entendimento de suas anatomias, poses e reações instintivas. É nessa fase que consegue fazer o perfeito casamento técnico de tudo aquilo que apreendeu dos antigos mestres, com as expressões mais contemporâneas de sua época, como paleta com forte influência impressionista e pinceladas bem personalizadas. Nos últimos anos de vida, essas viagens realizadas pelos interiores da Dinamarca lhe alimentavam com material suficiente para desenvolver com desenvoltura as obras finais de sua produção, mesmo no ambiente fechado de um ateliê.

KNUD EDSBERG - O descanso do caçador
 Óleo sobre tela - 55,9 x 63,5 - 1949

KNUD EDSBERG - Retrato de David B. Haight
Óleo sobre tela - 50,8 x 40,6

KNUD EDSBERG - Estudo com vacas
 Óleo sobre tela - 30,5 x 40,5

Tinha ainda um grande amor por todas as Artes, Matemática, Física e História. Hoje, seus trabalhos são disputados por coleções particulares, principalmente dos Estados Unidos e Dinamarca.


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KNUD EDSBERG - Autoretrato
 Óleo sobre tela - 1943

Nasceu a 22 de agosto de 1911, em Copenhague, Dinamarca.
Faleceu a 15 de julho de 2003, em Holmstrup, Dinamarca.