segunda-feira, 31 de outubro de 2016

COSTA DVOREZKY

COSTA DVOREZKY - No estúdio - Óleo sobre tela -142,2 x 213,3

COSTA DVOREZKY - Cativo 4
Óleo sobre tela

COSTA DVOREZKY - De costas - Óleo sobre tela

Retratos e cenas com figuras humanas em grande escala foram muito encomendados por religiosos, aristocratas e políticos durante muitos anos. A figura humana foi imortalizada durante vários séculos, principalmente em tamanho natural, até que a fotografia ocupasse essa função. Acabou por se tornar um tema que deixaria famosos muitos artistas na história da arte. Nos tempos atuais, vários artistas voltaram a visitar essa temática, adaptando e propondo novas leituras, de acordo com as solicitações desses novos tempos. A arte de Costa Dvorezky retrata o ser humano com todas suas mazelas, virtudes, inquietações e dramas. E convida aos seus espectadores a fazerem parte desse mundo tão diversificado e introspectivo.

COSTA DVOREZKY - Cativo 2 - Óleo sobre tela

COSTA DVOREZKY - Cativo 3 - Óleo sobre tela

Há todo um simbolismo na obra de Dvorezky, proveniente do esforço constante em entender o aspecto humano em todas as suas faces. O aparente sadismo revelado em suas figuras, que é o aspecto marcante em sua obra, é uma crítica à constante banalização ao corpo humano. Seus temas falam do desejo fictício alimentado na mente de todos os seres humanos e que muitas vezes são reprimidos ou escondidos do convívio social. Ele quer nos chocar expondo aquilo que as mentes arquitetam e que o corpo evita. Procura a busca pela liberdade ilimitada, nos corpos que se lançam ao ar ou que se deleitam em profunda relação.

COSTA DVOREZKY - Beijo II - Óleo sobre tela - 183 x 122

COSTA DVOREZKY - Professora de salsa - Óleo sobre tela - 121,9 x 152,4

COSTA DVOREZKY - Pulling a blanket
Óleo sobre tela - 183 x 137

Um dos aspectos importantes a se realçar na obra de Dvorezky é que ele não abre mão da tradição. Busca referências no Impressionismo e Expressionismo ocidentais, mas os reinterpreta para um estilo muito bem composto, que se adapta perfeitamente para as linguagens contemporâneas. Há quem faça ligações de suas figuras com as sombras profundas de Caravaggio e toda a introspecção que emana delas. Sua técnica refinada é trabalhada em pacientes camadas de veladuras e etapas. O resultado é um trabalho que convence pelo realismo, mas que se funde perfeitamente a fundos desfocados e não concluídos.


COSTA DVOREZKY - O salto
Óleo sobre tela - 182,8 x 121,9

COSTA DVOREZKY - O pulo dos irmãos - Óleo sobre tela - 152,4 x 243,8

COSTA DVOREZKY - O pulo - Óleo sobre tela - 182,8 x 142,2

Nascido em Moscou, em julho de 1968, Costa Dvorezky teve uma formação rigorosa e muito bem alicerçada, como é típico dos artistas russos. Ele graduou-se pela Escola Secundária de Arte de Moscou, em 1983, com nova graduação pela Faculdade de Arte de Moscou e mestrado pela Academia Stroganov de Arte, também em Moscou. A grave crise econômica que se instalou em solo russo, depois da queda do Muro de Berlim, levou Dvorezky a procurar novos mercados para sua arte. Após uma temporada no ocidente europeu, acabou indo para o Canadá, onde se estabeleceu e conquistou fama. Hoje, é respeitado como um artista que sabe abordar como poucos, uma linguagem universal. Seu trabalho se identifica com qualquer pessoa de qualquer parte do mundo.

COSTA DVOREZKY - A máscara - Óleo sobre tela

COSTA DVOREZKY - Garota urbana - Óleo sobre tela - 127 x 152,4

COSTA DVOREZKY - Hash - Óleo sobre tela

O conjunto de sua obra é ousado. As imagens falam de uma forma direta, mas a interpretação de seus significados é feita por cada observador. Há um “querer examinar de perto”, conferir como a carne dos seus corpos retratados parecem tão reais. Além dessa curiosidade técnica, também há o desejo por desvendar os segredos ocultos de cada personagem. O reino da reflexão é o território mais convidativo quando se pensa em seus trabalhos.


domingo, 23 de outubro de 2016

PETER BROWN

PETER BROWN - Regent Street, olhando ao norte, 2014 - Óleo sobre tela - 29 x 35 pol

PETER BROWN - Cork Street - Óleo sobre tela

Natural da cidade inglesa de Bath, no ano de 1967, o artista Peter Brrown vem conquistando um respeito cada vez mais crescente com o seu trabalho. O arquétipo do artista paisagista contemporâneo atual, prefere trabalhar diretamente no local, mesmo que as condições atmosféricas e até mesmo do ambiente não sejam as mais propícias.

PETER BROWN - Primavera, Royal Avenue - Óleo sobre tela - 10 x 30

PETER BROWN - Richmond Park - Óleo sobre tela - 31 x 92

Ele deixou sua cidade natal em 1986, a fim de especializar em arte, e formou-se pela Universidade Metropolitana de Manchester em 1993. Inspirado pela arquitetura e pela vida intensa da cidade, Brown começou a pintá-la incessantemente. Tornou-se praticamente uma figura típica dali, pintando em todas as esquinas, praças e onde houvesse um bom ângulo para ser captado. O ateliê dele é o mundo e disse várias vezes que não se sente confortável entre a comodidade de quatro paredes.

PETER BROWN - Brisa e luzes da manhã - Óleo sobre tela - 10 x 15 pol

PETER BROWN - Walcot Street, tarde de verão, Bath
Óleo sobre tela - 20 x 25 pol

PETER BROWN - Bedruthan Steps - Óleo sobre tela - 24 x 48

A vida de artista itinerante tomou gosto e logo se viu andando por outras cidades, fazendo o que mais gosta: pintar. Londres, Cardiff, Dublin, Edimburgo, Paris, até mesmo em cidades da Índia. Isso para não deixar de mencionar as enseadas, falésias e praias de várias costas da Grã-Bretanha. São famosas suas cenas costeiras em Cornwall, Dorset, Devon, Somerset e Brittany. Tudo isso, sempre armado com cavalete, telas ou blocos de desenho.

PETER BROWN - As pontes, Ladbroke Grove - Óleo sobre tela - 24 x 48 pol

PETER BROWN - Pall Mall sob a chuva, 2011 - Óleo sobre tela - 20 x 16 pol

O processo de trabalho de Peter Brown é bastante interessante. Enquanto muitos artistas de plein air preferem as pequenas dimensões, que são captadas espontaneamente em uma rápida sessão, ele prefere as grandes dimensões, que são feitas com várias visitas ao local. São essas idas sequentes ao mesmo ponto de captação da cena escolhida, que lhe permitem acrescentar um maior número de figurantes, carros e objetos, que certamente não estariam ali num único momento.

PETER BROWN - Marylebone High Street, Outubro - Óleo sobre tela - 34 x 40 pol

PETER BROWN - Primavera em Bradford on Avon - Óleo sobre tela - 20 x 25

Há todo um conjunto que o motiva a começar um trabalho: o jogo de luz, o espaço, a cena em si, com todos os personagens e seus afazeres. Peter Brown inspirou primeiramente em sua cidade natal, observando a arquitetura, a atmosfera, a luz e as sombras, nos anos que trabalhava em sua juventude. São as imagens dessas cenas que sempre o inspiram a começar qualquer trabalho. Suas obras são vibrantes, como sua personalidade. E gosta de fazer isso usando das mais diversas técnicas, tendo preferência pelo óleo, pastel e carvão.

PETER BROWN - Cachorros dormindo, Varanassi - Óleo sobre tela - 12 x 16

PETER BROWN - Jenkins Quay, Bantham - Óleo sobre tela - 10 x 15 pol

“Pete da rua”, como é conhecido, admite que não consegue conter sua paixão pela pintura. Para ele, tudo que está a sua frente, em uma breve caminhada pela cidade, está convidando a transformar em um trabalho. Diante de seus olhos, tudo pulsa como um ritmo cardíaco. Mas, ele afirma que nem tudo são flores em sua carreira. Certa vez, pintando em frente a um escritório, em Londres, a polícia foi contatada para retirá-lo dali. Lamentável, para um país onde a arte é tão valorizada. Na Índia, muito pelo contrário, as pessoas lotam o seu entorno. Estão todas curiosas, vendo e querendo saber sobre o processo da criação. E isso o estimula ainda mais.

PETER BROWN - Via Laietana - Óleo sobre tela - 16 x 12 pol

PETER BROWN - Picadilly Circus - Óleo sobre tela - 89 x 76


Peter Brown mora atualmente na cidade de Bath, com sua esposa Lisa e seus cinco filhos. Diz que ali, está sempre em casa. Afinal, onde tudo começou!


PARA SABER MAIS:



domingo, 16 de outubro de 2016

CARL HASCH

CARL HASCH - Um rio na montanha em Hamsau - Óleo sobre tela - 63 x 82

CARL HASCH - Motivo do sul - Óleo sobre tela - 76 x 110,5 - 1880

CARL HASCH - Paisagem alpina com cachoeira - Óleo sobre tela - 80 x 110

Entre os anos de 1815 e 1848, desenvolveu-se em vários países da Europa Central uma corrente estética que ficou conhecida como Período Biedermeier. Entre tantas especialidades, esse movimento prezava principalmente em retratar uma visão sentimental e piedosa do mundo, de uma forma realista. A preservação das tradições, principalmente no que se refere à simplicidade, era o ponto alto dessa corrente. Vários campos artísticos sofreram influência desse movimento, a citar a literatura, a música, as artes visuais e o desenho de mobiliário para interiores. Com o final das guerras napoleônicas, algumas expressões artísticas se encontravam num momento de paz, e resolveram explorar esse período. O retorno às tradições e a valorização do que era bucólico e simples duraria até o início das primeiras revoluções europeias, que começariam em meados do século XIX.

CARL HASCH - Vista de Dachstein
Óleo sobre tela colada em painel - 41 x 31

CARL HASCH - Paisagem com figura - Óleo sobre cartão - 42 x 55 - 1871

A pintura austríaca, em especial, teve uma forte influência desse retorno às tradições, no Período Biedermeier. A arte era simples, com valorização dos costumes tradicionais de cada localidade. Artistas como Ferdinand Georg Waldmüller foram um dos principais expoentes da pintura nesse período, e daria para a Áustria uma boa reputação no campo artístico daqueles tempos. Sua arte ainda é muito apreciada em vários países da Europa Central. A sua temática, bem como de vários artistas do momento, não se prendia ao passado, muito pelo contrário, preocupava em retratar o momento presente e valorizá-lo, sobretudo. Era uma arte que não tinha nenhum engajamento político e social a defender. Falava do povo, suas tradições e tudo que elas significavam para ele.

CARL HASCH - Monte Portofino, próximo a Nervi - Óleo sobre tela - 19 x 34

CARL HASCH - Paisagem de montanha com caçador
Óleo sobre tela - 100 x 73

CARL HASCH - Hallstätter Salzberg - Óleo sobre tela - 17,5 x 35,5 - 1882

Carl Hasch não foi um dos maiores expoentes desse movimento em seu país, até porque começou sua fama como artista quando o movimento já entrava em declínio, mas, hoje seu nome é lembrado e valorizado pela boa produção que desenvolveu naqueles anos. Ele explorou sua terra natal, principalmente no que se tocava à paisagem luxuriante que tanto o admirava. E fez isso com competência, criando uma espécie de “modo” Hasch de representar montanhas e rios. A consagração como paisagista respeitado se deu em 1873, quando participou da Exposição Mundial de Viena com uma bela cena paisagística alpina.

CARL HASCH - Um córrego na montanha - Óleo sobre tela - 41 x 57,5 - 1882

CARL HASCH - Um caçador - Óleo sobre painel - 31,5 x 24,5 - 1897

CARL HASCH - Motivo do Tirol - Óleo sobre tela - 60 x 87 - 1896

Carl Hasch nasceu em Viena, a 8 de novembro de 1834, embora alguns registros insistam em dar seu nascimento na cidade italiana de Como. Prodígio nos desenhos, cursou a Academia de Viena de Artes logo cedo. Assim que se formou, fez um longo período de viagens, que se iniciou pelos Alpes austríacos, parte da Riviera francesa, norte da Itália, Suíça e terminou na Bélgica. Nessas viagens, fez uma série de apontamentos, que abrangiam desde estudos a lápis a pequenos esboços em óleo, captados em plein air.

CARL HASCH - Kalvarija, Eslovenia - Óleo sobre tela - 1883

CARL HASCH - Vista do Lago Bled - Óleo sobre cartão - 24 x 37

Hasch era um pintor atento e muito cuidadoso no trato com suas obras. Tinha um olhar seletivo e curioso, retratando as suas obras como um clima que lembrava cenas românticas do século anterior, mas que ele sempre incorporava com composições e motivos realistas de sua época. Sua reputação de bom artista e importante valorizador de seu país natal, proporcionou a ele tornar-se membro da Künstlerhaus, em Viena. Construído entre os anos de 1865 e 1868, o Viena Künstlerhaus é um edifício de exposição desde essa época, que também abriga atualmente outras atividades artísticas, como o Festival de Cinema de Viena. Foi nesse edifício, que Hasch comercializou grande parte de suas obras.

CARL HASCH - Paisagem com torrente e serração - Óleo sobre tela - 52 x 68 - 1897

CARL HASCH - Paisagem romântica - Óleo sobre madeira - 29 x 46,5

CARL HASCH - Vista em Pustertal - Óleo sobre tela - 37 x 46 - 1897


Hasch passou praticamente toda sua vida assim, saindo a campo para captar motivos e se refugiando em seu estúdio em Viena, para realizar seus trabalhos inspirados nos frutos de suas viagens. Amante de sua terra natal, preocupou-se em exaltá-la, até os seus últimos anos de produção. Ele faleceu ali mesmo, em Viena, no dia 1º de abril de 1897. Várias coleções de seu país, tanto públicas quanto particulares, abrigam orgulhosamente seus trabalhos.

CARL HASCH - Noite em Lakeside - Óleo sobre tela - 58 x 87,5

CARL HASCH - Um rio gelado na montanha - Óleo sobre tela - 30,5 x 41,9

domingo, 2 de outubro de 2016

A IMPORTÂNCIA DE UMA COLEÇÃO

JEAN BÉRAUD - Bois de Boulogne - Óleo sobre tela - 45,7 x 58,4

JEAN BÉRAUD - Bois de Boulogne - Detalhe

A Arte deve a sua perpetuação não apenas aos artistas que a produzem, mas também aos muitos colecionadores e mecenas que a sustentaram e sustentam em todos os tempos. Muitas pessoas entendem, desde cedo, que relacionar com a arte é uma maneira saudável de relacionar com a vida, por isso iniciam a sua instigante e prazerosa aventura de adquirir e colecionar objetos de arte. Há grandes coleções que estão quase que exclusivamente restritas sob o domínio de poucos proprietários, pessoas que herdaram ou construíram um importante patrimônio em todas suas vidas. Mas, há também pequenas e importantes coleções, frutos do amor devotado e gratuito àquilo de mais belo que o ser humano pode produzir. Muitos jovens admiradores de arte, com uma aguçada visão cultural, começam cedo suas coleções e tomam por elas um gosto e um apreço incalculáveis. E não fazem isso apenas com o intuito de posse e investimento. A arte proporciona prazeres inimagináveis para aqueles que podem e tem a oportunidade de coleciona-la. Quem coleciona e guarda um objeto de arte, sabe que o está fazendo pela manutenção da história. A presente matéria trata exclusivamente de uma pequena parte da coleção de Margaret Thompson Biddle, um dos nomes mais fortes do colecionismo americano.


Margaret Thompson (esquerda) em Paris

Margaret Thompson Biddle e seu marido Tony Biddle

Margaret Thompson Biddle nasceu no estado americano de Montana, no ano de 1896, filha do milionário William Boyce Thompson. Dono de fartas minas de cobre nas vastas planícies do oeste americano, William Thompson deixou uma grande fortuna para sua filha. Educada no mais tradicional sistema e cultivando desde cedo um gosto nato por tudo que envolvia arte, Margaret Thompson Biddle logo se tornou uma colecionadora eficiente e com um olhar seletivo aguçado. Inteligente e bela, possuía um charme e bondade de coração ímpares. Ela passou grande parte de sua vida na França, e estar entre Paris e a Riviera Francesa, recebendo amigos americanos e a mais alta sociedade francesa, era a sua atividade predileta. Ela conhecia todo mundo de importância na capital francesa e convivia muito bem com artistas, escritores e políticos.

JEAN BÉRAUD - A conversa - Óleo sobre tela - 55,9 x 39,3

JEAN BÉRAUD - A dança
Óleo sobre painel - 26,6 x 15,3

JEAN BÉRAUD - Courses rue de la paix - Óleo sobre painel - 41 x 32,4

Paris atraía cada vez mais americanos, tanto no final do século XIX, quanto início do século XX. Eles lotavam hotéis, movimentavam a economia das muitas lojas e restaurantes da cidade, e se envolviam cada vez com o ritmo de vida, tão diferente das terras americanas. Juntamente com os turistas, vinham também escritores, arquitetos e artistas, ansiosos por se inscreverem em escolas renomadas da cidade-luz. Paris ensinou ao americano comum a respirar arte e se apaixonar por ela. Entre esses grupos, algumas mulheres se destacavam, conquistando seu espaço na sociedade e impondo um novo respeito à classe feminina. Margaret era uma delas. Seja em seu apartamento em Nova York, numa mansão em Paris ou mesmo na Riviera, todos os visitantes recebidos em suas propriedades se deliciavam com o grande número de obras que Margaret Thompson ia acumulando em sua vida. Muitas obras foram adquiridas com o intuito de ajudar artistas em dificuldade, chegando a manter muitos deles por longos anos. Outras, foram colhidas em visitas a velhos antiquários ou adquiridas de famílias que se desfaziam de obras herdadas. Por todos os espaços, obras de Corot, Gauguin, Renoir, Monet, Galien-Laloue, Lépine e tantos outros. E, em especial, um grupo de várias obras do artista Jean Béraud, que são o foco dessa matéria.

JEAN BÉRAUD - Cena ao sul dos Champs Élysées - Óleo sobre tela - 36,8 x 53,3
Antes e depois de restaurada

JEAN BÉRAUD - Ao lango do Sena - Óleo sobre painel - 37,8 x 54,6

JEAN BÉRAUD - Entrada do Pequeno e Grande Palácio, Avenida Alexandre III
Óleo sobre painel - 37,8 x 54,9

Provavelmente foi o amor incondicional por Paris, que despertara em Margaret o gosto por obras que retratassem a cidade e a sua vida. Ninguém fazia isso melhor naqueles tempos que Jean Béraud. E ninguém colecionava mais as suas obras do que ela. As obras de Béraud acabaram por se tornar quase que um guia da cidade. Ele parecia saber capturar todo o sentimento que tinha tanto o francês como o americano pela capital francesa. Em palavras de um cronista da Sotheby’s, “as composições de Béraud são duradouras visões de momentos fugazes de prazeres urbanos”. Béraud era extremamente rigoroso. Ele viajava pela cidade em uma espécie de estúdio móvel, capturando os eventos e as cenas mais corriqueiras que aconteciam em todos os cantos. O próprio Béraud afirmou certa vez: “Quando você pintar cenas da vida cotidiana, tem que coloca-las em seu contexto e dar seu ambiente autêntico”. Esse sentimentalismo colocado na obra que despertou em Margaret Thompson o forte interesse em coleciona-la. As obras de Béraud, presentes na coleção de Margaret Thompson, se tornaram uma espécie de janelas para o passado, que nutriram nela, até morrer subitamente, em 1956, um amor intemporal pela cidade de Paris.

 
Esquerda: JEAN BÉRAUD - Um gentlemen - Óleo sobre painel - 27,9 x 14,6 - 1873
Direita: JEAN BÉRAUD - Uma serviçal - Óleo sobre tela - 65,7 x 40
Abaixo: JEAN BÉRAUD - Mulher contemplando uma tela - Óleo sobre painel - 8,9 x 6,7


Todas as obras de Béraud, aqui apresentadas, estavam armazenadas em um cofre, desde a morte de sua proprietária. Como não haviam sido restauradas desde então, várias delas estavam impregnadas de marcas do tempo. Fumaças de charutos, poeira, fuligens... Béraud utilizou telas e painéis de madeira para a execução das obras. Ele viveu numa época relativamente estável para os artistas e utilizava bons materiais para executar os seus trabalhos, talvez por isso, mesmo com vários anos sem manutenção, as obras ainda se encontravam em relativo bom estado. A restauração trouxe a luz cores vibrantes e tons que o tempo havia escondido, como mostram algumas cenas antes e depois da restauração. Essas obras foram a leilão pela Sotheby’s, em 18 de maio de 2016. Elas atingiram a marca de quase 5 milhões de dólares.

Antes e depois de restaurada

JEAN BÉRAUD - Les grand boulevards Cafe American - Óleo sobre painel - 36,2 x 53,3

JEAN BÉRAUD - Les grand boulevard - Detalhe

 
Esquerda: JEAN BÉRAUD - La loge - Óleo sobre painel - 45,4 x 37,5
Direita: JEAN BÉRAUD - Uma mulher descendo de uma carruagem
Óleo sobre painel - 46 x 36,8