terça-feira, 31 de maio de 2016

CARLOS REIS

CARLOS REIS - A feira - Óleo sobre tela - 277 x 400

CARLOS REIS - Paisagem com pastora e rebanho - Óleo sobre tela - 55 x 73

Já publiquei uma referência a Carlos Reis, na matéria que escrevi sobre o Grupo do Leão (link ao final do texto), em janeiro de 2011. Confesso que sinto praticamente na obrigação de estar falando um pouco mais sobre cada artista daquele grupo, não porque são uma referência natural para mim, mas porque acredito que precisam ser mais conhecidos do grande público. Especialmente porque ilustram, no meu ponto de vista, a fase de ouro da pintura portuguesa.

CARLOS REIS - Cantigas d'amor
Óleo sobre tela - 1929

CARLOS REIS - O batizado - Óleo sobre tela - 130 x 166
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Carlos António Rodrigues dos Reis nasceu a 21 de fevereiro de 1863 na Vila de Torres Novas, na freguesia de Santiago, em Portugal. Filho do cirurgião João Rodrigues dos Reis e Maria de Jesus Nazaré Reis. Com apenas treze anos de idade, partiu para Lisboa, trabalhando em uma tabacaria. Nos momentos de folga no serviço, punha-se a esboçar tudo que via, o que despertou interesse em alguns fregueses que frequentavam o lugar.

CARLOS REIS - Milheiral - Óleo sobre tela - 130 x 200

CARLOS REIS - Paisagem do Rio Almonda - Óleo sobre cartão - 54 x 74 - 1896

Em 1881, matriculou-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, meio a contragosto inicial do pai. Teve a sorte de ter, naquele momento, os ensinamentos de Silva Porto, para as aulas de Pintura. Tornaria um dos mais disciplinados discípulos dele. D. Carlos, príncipe real, notou a destreza e competência do jovem artista, numa visita surpresa que fez em uma sessão de pintura. Prontificou então a ajuda-lo com uma mesada até o fim do curso.

CARLOS REIS - Engomadeiras - Óleo sobre tela - 178 x 120

CARLOS REIS - O caminhante - Óleo sobre tela - 127 x 148

Ao término de seu curso em Lisboa, concorreu a uma bolsa de estudos para a Escola de Belas Artes em Paris, conseguindo logo na primeira tentativa. Naquele mesmo ano seguiu para Paris e estudaria por lá até 1896. Percebe-se que os anos em Paris tiveram uma influência muito grande na obra final de Carlos Reis, que adquiriu pinceladas espontâneas, típicas do impressionismo que pairava pela cidade. Lá frequentou ateliês de renomados mestres, como o retratista Bonnat e o professor de pintura histórica Joseph Blanc.

CARLOS REIS - Casario com figura feminina - Óleo sobre tela - 45 x 66

CARLOS REIS - Azinhaga da Cruz da Pedra - Óleo sobre madeira - 24 x 31,5

Com a morte de Silva Porto, em 1893, criou-se uma vaga de professor para a cadeira de paisagem, na Escola de Belas Artes de Lisboa. Carlos Reis, retornando a Portugal em 1896, ocuparia essa cadeira, cargo que conquistou pela concorrência com dois outros artistas: António Monteiro Ramalho e Artur Melo. Vários artistas de destaque da arte portuguesa passaram pelos ensinamentos de Carlos Reis, durante o período que ocupou a cadeira de paisagens daquela escola. Vale ressaltar que todos eles seguiram suas carreiras com as referências de seu mestre, mas totalmente independentes em suas expressões artísticas.

CARLOS REIS - Paisagem da Lousã com figura - Óleo sobre tela - 65 x 45

CARLOS REIS - Paisagem com figura - Óleo sobre tela - 38 x 50

A primeira geração de grandes pintores naturalistas portugueses atuou durante os primeiros anos do chamado Grupo do Leão, um movimento de artistas liderado por Silva Porto, que recebeu esse nome por se encontrarem numa famosa cervejaria de Lisboa, a Leão d’Ouro. Carlos Reis foi um dos mais destacados pintores da segunda geração de pintores naturalistas de seu país. Influenciado evidentemente por Silva Porto, seu primeiro e grande mentor artístico, colaborou com a manutenção da arte naturalista portuguesa, incentivando principalmente ao trabalho em campo, criando o Grupo Ar Livre e mais tarde a Sociedade Silva Porto. Ele e seus discípulos faziam isso, tentando se opor ao crescente movimento modernista que tomava conta da arte do país.

CARLOS REIS - O véu da comungante - Óleo sobre tela - 136 x 147

CARLOS REIS - Plus de vin - Óleo sobre tela - 131 x 151

Carlos Reis já era dono de uma pintura respeitada, ainda que o movimento naturalista já começasse a entrar em decadência. Consagrado como pintor de paisagem, essa tinha sempre a incidência de alguma cena de gênero. Habilidoso, também pintava temas religiosos e tornou-se um retratista procurado em sua época. Os trabalhos do artista, principalmente paisagens, possuíam uma atmosfera poética em seu início de carreira. Mais tarde, essa característica foi dando lugar a uma representação mais objetiva daquilo que representava. Com relação aos artistas da primeira geração de naturalistas, os trabalhos de Carlos Reis tinham uma tendência um pouco mais acadêmica. Talvez por já pressentir o domínio modernista que vislumbrava no horizonte, preferiu continuar fazendo um trabalho que acreditava ser a representação daquilo que mais admirava na arte.

CARLOS REIS - Paisagem com figura feminina - Óleo sobre tela - 70 x 95

CARLOS REIS - Quinta dos Lagares del Rei, Lisboa - Óleo sobre madeira - 35 x 59

Durante vários anos, Carlos Reis exerceu o cargo de diretor do Museu Nacional de Belas Artes. Um dos momentos altos de sua direção, foi a organização da Sala de Faianças e Vidros, inaugurada em 1911. Em 1937, uma série de fatos abalou, e muito, a saúde de Carlos Reis. Uma forte dor no olho direito, fez com que o mesmo fosse extraído. No ano seguinte faleceu o seu irmão e no ano posterior, sua irmã. Somados todos esses fatores a fortes compromissos de trabalho que exigiam rapidez na entrega de encomendas, seu organismo acabou se debilitando. Vários problemas foram se somando e deixando cada vez mais sensível seu estado de saúde. Em 21 de agosto de 1940, Carlos Reis não suportou uma bronco-pneumonia e faleceu na cidade de Coimbra.

CARLOS REIS - Retrato de velho
Óleo sobre tela - 66 x 56

CARLOS REIS - Retrato de senhora
Óleo sobre tela - 36 x 26


Foi um artista revolucionário na arte de seu país, que conseguiu imprimir uma luminosidade invejável em seus trabalhos. Contrário ao que aconteceu a muitos artistas antes dele, sua arte não se declinou, muito pelo contrário, morreu em plena glória. Carlos Reis teve a felicidade de não conhecer a decadência artística, prova disso, é a segurança e maestria que nos mostrou em sua última tela. Merecer o título de “mestre” é uma honraria que culmina a carreira de todo artista. Carlos Reis não só o mereceu e conquistou, como deixou a arte portuguesa mais rica e a elevou a patamares de reconhecimento mundial.


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domingo, 22 de maio de 2016

FREDERICK JUDD WAUGH

FREDERICK JUDD WAUGH - Marinha - Óleo sobre tela - 25 x 30 pol

FREDERICK JUDD WAUGH - Cena costeira - Óleo sobre tela - 36,8 x 47 - 1906

Frederick Judd Waugh começou na vida artística da maneira mais desejada por todo artista iniciante: tendo aulas com outros respeitados artistas. Ele estudou inicialmente na Academia de Belas Artes da Pensilvânia com Thomas Eakins e Jerome Ferris, e posteriormente estudou com William Bouguereau e Robert Fleury, na Académie Julian, em Paris. Um aprendizado eficiente conduz invariavelmente para uma carreira notável. O que realmente aconteceu com ele.

FREDERICK JUDD WAUGH - Família descansando sob uma árvore
Óleo sobre tela - 46,3 x 55,2 - 1889

FREDERICK JUDD WAUGH - Por de sol - Óleo sobre tela - 62,2 x 127

Frederick Judd Waugh nasceu em Bordentown, New Jersey, a 13 de setembro de 1861. Ele era filho do retratista Samuel Waugh e da pintora de miniaturas Mary Elizabeth Young Waugh. O ambiente familiar conspirou para que ele logo se interessasse pelas artes. Curioso, desde cedo se interessava por assuntos diversos, desde plantas e animais a construções navais, tanto que essa última lhe acompanhou também como profissão.

                                
Esquerda: FREDERICK JUDD WAUGH - Moça num jardim - Óleo sobre tela - 36,5 x 24 - 1882
Direita: FREDERICK JUDD WAUGH - Paisagem pastoral - Óleo sobre tela - 35,75 x 24 pol - 1883
Abaixo: FREDERICK JUDD WAUGH - Jogadoras de xadrez - Óleo sobre tela - 1891


Durante a Primeira Guerra Mundial, ele realizou projetos para a Marinha dos Estados Unidos, sob a direção de Everett L. Warner. Embora dividisse a carreira artística com uma outra profissão, mesmo que por breves períodos, ele se deu muito bem nas duas. Até pelo envolvimento com a profissão de projetista naval, acabou se empenhando muito mais em pintar marinhas, principalmente nos últimos anos de sua vida. A atração pelo mar nasceu logo na primeira travessia que fez sobre o Atlântico, quando viajou para a Europa.

FREDERICK JUDD WAUGH - Costa do Maine - Óleo sobre painel - 60,9 x 91,9

FREDERICK JUDD WAUGH - Noite em Pearl - Óleo sobre tela - 78,7 x 106,6 - 1906

Mesmo que tivesse interesse em outras temáticas, Waugh acabou estabelecendo sua reputação como pintor de marinhas. São famosos os seus trabalhos com cenas litorâneas da Nova Inglaterra, especialmente aqueles com arrebentações e extensas praias. Acredita-se que tenha pintado mais de 2500 marinhas, em toda sua carreira.

FREDERICK JUDD WAUGH - Tarde de sol - Óleo sobre tela - 24 x 36 pol - Cerca de 1930

FREDERICK JUDD WAUGH - Uma brisa suave - Óleo sobre tela - 76,2 x 101,6

A carreira de ilustrador também fez parte de sua vida profissional. Fazia participações em revistas e publicações, o que de uma certa forma acabou despertando o interesse por estilos e temas não tão tradicionais para sua época, como o Simbolismo. Antes de adquirir reputação e reconhecimento nos Estados Unidos, Waugh fez várias participações no Salão de Paris. Ser selecionado para expor em Paris era como a admissão para um seleto mundo de artistas consagrados.

FREDERICK JUDD WAUGH - Menina pastora - Óleo sobre tela - 61 x 91,4 - 1885

FREDERICK JUDD WAUGH - Run row - Óleo sobre tela - 81,2 x 73,6 - 1922

Em 1908, Waugh retornou para os Estados e se estabeleceu em Montclair Heights, em Nova Jersey. Ele não tinha um estúdio próprio assim que chegou, mas conseguiu um espaço com o colecionador William T. Evans, que lhe cobrava uma nova obra a cada ano, como pagamento da hospedagem. O artista foi amadurecendo sua técnica e usava regularmente a espátula, para conseguir efeitos mais volumosos em sua pintura. A marinha tornou-se tema marcante à partir dali.

FREDERICK JUDD WAUGH - Simpatia - Óleo sobre tela - 114,3 x 147,3 - 1889

FREDERICK JUDD WAUGH - Sombras da tarde - Óleo sobre tela - 134,6 x 180,3 - 1885

Waugh era agora um artista disputado por colecionadores, que dividia também seu tempo com novos projetos navais. A paixão pelo mar era tanta, que construiu o seu estúdio em Massachusetts, com madeiras de navios velhos. Ele ia regularmente para o litoral, fazia seus apontamentos ao vivo e depois executava trabalhos em maiores dimensões e mais elaborados em seu estúdio.

Frederick Judd Waugh faleceu em Provincetown, Massachusetts, no dia 10 de setembro de 1940. 


terça-feira, 17 de maio de 2016

LEV LAGORIO

LEV LAGORIO - Praia, Criméia - Óleo sobre tela - 62,6 x 97,5 - 1889

LEV LAGORIO - Atravessando o rio - Óleo sobre tela - 61 x 97,5 - 1879

A escola russa de paisagem deu ao mundo alguns dos melhores artistas nessa temática. É injusto citar um ou outro, pois muitos deles formam um time de extrema qualidade. Com influência marcante das escolas europeias mais atuantes naqueles tempos, os paisagistas russos elevaram esse gênero de pintura a um patamar muito respeitado até hoje. Lev Feliksovich Lagorio foi um destacado paisagista russo, famoso pelas suas marinhas e também pelas muitas cenas que fez em terras europeias.

LEV LAGORIO - Arredores de Nápoles, com vista para o Vesúvio
Óleo sobre tela - 68 x 106 - 1860

LEV LAGORIO - Paisagem do sul - Óleo sobre tela - 63 x 85 - 1866

LEV LAGORIO - Atravessando um rio no Cáucaso - Óleo sobre tela - 72,5 x 104,5

Lev Lagorio, como ficou mais conhecido, nasceu em Feodosia, a 9 de dezembro de 1826, filho de um comerciante e pedreiro, cujos ancestrais vieram de uma aristocrática família genovesa. Ele se formou inicialmente ali mesmo, em Feodosia, e ali também passou uma temporada no estúdio de um respeitado artista da época, Ivan Aivazovsky.

LEV LAGORIO - Vista de Capo de Monte, Sorrento
Óleo sobre tela - 76 x 63 - 1860

LEV LAGORIO - Meio-dia italiano - Óleo sobre tela - 76 x 63 - 1856

Em 1842, com o apoio do governador Tavria Al Kaznacheeva, Lagorio entrou para a Academia Imperial de Artes, onde estudou sob os cuidados de Sauerweid, Vorobiev e Villevalde. No verão de 1845, Lagorio partiu a bordo de um navio a vapor, pelas costas da Finlândia. Entre muitos estudos e apontamentos, produziu trabalhos que lhe concederam importantes prêmios nos próximos anos: uma pequena medalha de prata em 1847, uma grande medalha de prata em 1848 e uma medalha de ouro em 1850.

LEV LAGORIO - Costa do Mar Negro - Óleo sobre tela - 41 x 72 - 1872

LEV LAGORIO - Vista de montanha na Itália - Óleo sobre tela - 100 x 145 - Cerca de 1850

LEV LAGORIO - Paisagem do norte - Óleo sobre tela - 64 x 104 - 1872

Financiado por verbas públicas, ele passou uma temporada no Cáucaso, em 1851. E, após se formar pela Academia Russa, conseguiu um pensionato por 8 anos na Europa. Os ares por lá foram muito bons para ele. Solidificaram ainda mais a influência europeia em suas obras, principalmente no período que passou na Itália. Sob uma iluminação diferenciada, sua paleta se tornou naturalmente mais brilhante. Mesmo com o término da pensão que bancava suas viagens, ele conseguiu permissão para ficar por lá mais dois anos, sob suas próprias custas.

LEV LAGORIO - Falésias costeiras em Capri - Óleo sobre tela - 67 x 79 - 1859

LEV LAGORIO - Pátio italiano - Óleo sobre tela - 33 x 46 - 1869

LEV LAGORIO - Casa de pescadores na Ilha de Capri - Óleo sobre tela - 64 x 77 - 1859

Os anos da década de 1860 trariam boas surpresas a Lagorio. Merecidamente, recebeu o título de professor de pintura, em 1860. No ano de 1861, após uma série de trabalhos realizados para Alexandre II, foi condecorado com a Ordem de St Anne 3º grau. De volta ao Cáucaso nesse mesmo ano, foi novamente condecorado pelo Grão-Duque Mikhail Nikolayevich. Em 1864, ele finalmente se estabeleceu em São Petersburgo, de onde saía para passar os verões em Sudak.

LEV LAGORIO - Nas montanhas do Cáucaso - Óleo sobre tela - 1870

LEV LAGORIO - Pescadores no rio, ao por do sol - Óleo sobre tela - 60 x 107 - 1886


Respeitado principalmente no meio acadêmico, Lagorio recebeu uma grande encomenda em 1885. Uma série de pinturas com o enredo da Guerra Russo-Turca. Para sua empreitada, visitava campos de batalha e se preocupava com a veracidade de suas composições. Em 1900, ele se tornou membro honorário da Academia de Artes. Cinco anos mais tarde, Lagorio faleceria na cidade de São Petersburgo, no dia 17 de novembro. O artista deixava uma contribuição significativa à pintura de paisagem russa, ainda mantendo uma linguagem acadêmica, mesmo que esta vinha sofrendo forte influência dos movimentos modernistas que acenavam um novo futuro.