sábado, 25 de janeiro de 2014

JUAN MORENO AGUADO

JUAN MORENO AGUADO - Procissão em El Molar
Óleo sobre tela - 197 x 130 - 1992

JUAN MORENO AGUADO - Mirante em Moncloa - Óleo sobre tela - 130 x 195 - 2004

Ao me deparar com artistas com propostas bem realistas, como o espanhol Juan Moreno Aguado, é inevitável que recorra aos argumentos de um outro conterrâneo seu, Antoni Tàpies: “A pintura sempre foi uma abstração, desde as cores de Altamira até Picasso, passando por Velásquez. Perante os fanáticos do realismo, eu disse muitas vezes que a realidade nunca esteve na pintura, mas que unicamente se acha na mente do expectador. A arte é um signo, um objeto, algo que sugere a realidade do nosso espírito. Não vejo pois, nenhum antagonismo entre abstração e figuração, enquanto nos sugira essa ideia de realidade. A realidade que os olhos mostram é uma sombra extremamente pobre de realidade”. Questões levantadas por Tàpies são importantes, pois não desmerecem nenhuma das propostas artísticas. A representação da realidade proposta por Aguado está carregada de símbolos, que permitem universos individuais em suas interpretações. Ele mostra o que os olhos podem ver, mas sugere o que a alma de cada um pode entender, como no abstracionismo de Tàpies.

JUAN MORENO AGUADO - Depois do banho
Óleo sobre tela - 105,5 x 85 - 1994

JUAN MORENO AGUADO - Esqueleto - Óleo sobre tela - 200 x 200 - 2005

Há uma corrente muito forte no Realismo contemporâneo explorando esse mundo de símbolos. Composições são arquétipos de situações e propostas, envoltas em uma série de intenções. Isso é liberdade! Nada é mais importante no universo artístico do que liberdade. No fundo, tanto o artista realista quanto o artista abstrato tem a mesma proposta, se a verdadeira Arte for aquilo que alimenta as suas inspirações. Caso a Arte verdadeira não habite as intenções de nenhum dos dois, então cada obra será apenas uma representação vazia, que nada diz. O próprio Aguado mencionou em uma de suas mostras: “Nada é mais real e nada é mais abstrato. No fundo, realismo é uma abstração total. Existe apenas a verdade da Luz”. Ele nos quer dizer que no fim de tudo, está a verdadeira intenção do artista, independente da maneira como ele se expresse. Pegue por exemplo, a obra “Esqueleto”, de 2005. Não é representação simplesmente de um esqueleto e de uma criança ao fundo. Há todo um simbolismo contido nas intenções. A criança que olha para a luz e o espaço aberto, enquanto o esqueleto está mergulhado num mundo de sombras, voltado para o interior. A possibilidade da vida que ainda há, contra a inércia da vida que já se foi. Esses símbolos o artista propõe, mas tem todos conseguem ver. Por isso, a diversidade de estilos seja algo às vezes tão incompreensível na arte atual.

JUAN MORENO AGUADO - Estrada Priero - Óleo sobre tela - 114 x 162 - 2009

JUAN MORENO AGUADO - Vacas
Óleo sobre tela - 149 x 199 - 2010

“Na consciência do criador plástico, a imaginação é superior à razão”, já disse Joan-Josep Tharrats. Isso cai muito bem para todas as vertentes atuais, principalmente para aquelas imbuídas do verdadeiro espírito artístico. Uma paisagem pintada por Aguado carrega todos os desejos do seu criador. Imaginação sobrepõe à razão. O que se enxerga nem sempre é o que se precisa ver. Não é apenas um caminho rodeado de árvores, mas um lugar que nos contém, um templo onde cada folha e cada galho tem o seu significado. Oprimente para alguns, acolhedor e aconchegante para outros. “Colocamos nas coisas, as cores que temos por dentro”, já dizia Drumond. O criador da obra quer provocar ao observador. Sensações que fazem com que a imaginação domine a razão que sempre nos cega, ao aproximarmos de qualquer trabalho.

JUAN MORENO AGUADO - Casamento - Óleo sobre tela - 130 x 195 - 2009

JUAN MORENO AGUADO - Lúcia
Óleo sobre tela - 77 x 122 - 1985

Juan Moreno Aguado nasceu em Madri, em 1954. É bacharel em belas artes pela Universidade Complutense de Madrid. Estudou pintura com Vargas Ruiz e modelagem com Francisco Toledo. Também estudou anatomia com Curro Fernández Villaseñor. Além de pintura de cavalete e escultura, também exerce a pintura mural com regularidade. Os vários prêmios que lhe foram concedidos, principalmente na década de 90 e na primeira década desse século, deram maior notoriedade e respeito ao seu trabalho. É um artista requisitado, presente nas coleções de vários museus e galerias.

JUAN MORENO AGUADO - Arturo com o burro
Óleo sobre tela - 120 x 140 - 2009

JUAN MORENO AGUADO - Flores silvestres
Óleo sobre tela - 45 x 31 - 1996

Quer seja polêmico, quer seja provocador, Aguado nos brinda com suas obras e nos faz crer que no universo atual das artes plásticas, sempre haverá espaço para aquilo que tem verdadeira proposta e verdadeiro espírito artístico.

JUAN MORENO AGUADO - Autorretrato em poliéster
Escultura

PARA SABER MAIS:

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

ENSAIOS DE PINTURA E PSICANÁLISE


Alguns livros nos encontram. Se permitirmos, ajudam a mudarmos conceitos e a modificar nossas vidas. Mestres silenciosos, estão sempre disponíveis e às vezes pouco lembrados. Ensaios de Pintura e de Psicanálise é um desses livros diferenciados, obrigatório para aqueles que fazem, vivem ou simplesmente curtem Arte. Escrito pelo mineiro Carlos Perktold, é um alento de que as coisas ainda tem jeito, um bom sinal de que a Arte já mostra vontade de reencontrar seu verdadeiro caminho. É com muita honra que leio um crítico de arte contemporâneo, tendo a coragem de afirmar com orgulho o seguinte trecho: “Para onde vai a pintura nesse século XXI? Respondo declarando que o novo caminho é privilégio de quem sabe desenhar e pintar. E muito! Quem sabe, desenha e pinta, quem não sabe, apresenta cacarecos e ideias idiotas”. Carlos Perktold assume assim, bravamente, o lado daqueles que há muito tempo já perceberam que a Arte se embrenhou por um caminho perigoso e que lentamente precisa de guerreiros para defenderem seu verdadeiro reino.
Integrante do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais e da Associação Brasileira de Críticos de Arte, Carlos é colaborador do Caderno Pensar do Estado de Minas e do Caderno Domingo, do Hoje em Dia. Essas credenciais são importantes, pois atestam a presença de alguém atuante, que possui conhecimento de causa para falar e expressar sobre assuntos delicados, ligados diretamente à Arte. Seu livro reúne uma coletânea de ensaios, alguns inéditos inclusive, e é dividido em duas partes: na primeira, um passeio delicioso pela pequena biografia de vários nomes importantes da arte nacional e mundial. Emocionante a narrativa sobre Guignard, sua trajetória triste e solitária. Há também uma homenagem digna a Manet, o pai da grande reviravolta no ver e fazer Arte, e nos surpreende com relatos sobre Herculano Campos (tão pouco conhecido), Chanina, Bracher, Gauguin, Ianelli e outros. Para a segunda parte, vários aspectos na natureza humana são apresentados de uma forma acessível e bem precisa. O mais interessante é que todos os argumentos usados para explicar os comportamentos humanos são feitos em paralelo com obras artísticas, extraídas do cinema, da literatura e da pintura.

MANET - Olympia - Óleo sobre tela - 130,5 x 190 - 1863 - Museu d'Orsay, Paris
"Olympia, tão abominada, execrada, vilipendiada e ocasionalmente,
vista como prostituta, nunca foi vendida. Manet a manteve para sempre
por pura falta de comprador. O quadro sumiu e reapareceu,
glorioso, somente depois da II Guerra Mundial...
Olympia hoje nos pergunta por que tanta valorização se sempre
foi o que é. A resposta a esta pergunta está em nós: porque mudamos."

Perktold é consciente de que a Arte é um terreno cíclico. Não há mais espaço nela para os desvarios que vemos na atualidade, mas também não vê o artista como alguém estacionário, que não evolui. Gosto bastante quando ele afirma que “temos dificuldade de aceitar ou negar novas ideias. Não aprendendo com o passado, arrastamos o presente, sem modificar o futuro. Paralisados, repetimos. Lidamos mal com pessoas criadoras porque elas contrariam a regra geral”. É por essa lógica, que ele nos esclarece como um artista se torna abstrato por convicção, depois de galgar todos os degraus penosamente pela arte acadêmica e de fundamentos técnicos e teóricos. Abstrair uma forma com consciência é uma dádiva alcançada por poucos. Simplificar pinceladas e tornar-se espontâneo não é algo apenas para quem deseja, é algo que precisa ser conquistado.

É com muita felicidade que saúdo o livro e seu autor. Perktold, que sempre foi um admirador e colecionador de artes apurado, revela agora as experiências de suas observações, filtradas pelo conhecimento que a Psicanálise lhe proporcionou. Ganha a Arte, ganhamos nós, ganha principalmente a humanidade.

INIMÁ DE PAULA - Retrato de Carlos Perktold
Óleo sobre tela

sábado, 11 de janeiro de 2014

WASHINGTON MAGUETAS

WASHINGTON MAGUETAS - A poesia, meu jardim e o mar - Mista sobre tela - 60 x 97

WASHINGTON MAGUETAS - Figuras à beira de rio
Óleo sobre tela

Estava devendo uma matéria sobre o Maguetas, desde a visita que eu o havia feito; no final do ano passado; quando por ocasião de uma rápida passagem pelo interior de São Paulo. Bom anfitrião como poucos, ele nos recebeu (Zaniboni, Ernandes, Mateus e eu) com uma cordialidade pouco comum nos tempos atuais e já nos foi logo convidando para conversar no local que mais gosta em sua casa: o jardim que ele próprio construiu nos fundos da residência. É ali que compôs uma grande parte de suas obras e o local onde se sente realmente à vontade.

WASHINGTON MAGUETAS - No jardim
Óleo sobre tela

WASHINGTON MAGUETAS - Na praia - Mista sobre tela

WASHINGTON MAGUETAS - A família e o cãozinho
Óleo sobre tela - 12 x 30

Todos que por ali visitam, ouvem dele o prazer em ter pendurado cada orquídea e plantado cada flor e árvore ali presentes. Obrigatória é uma passagem pela ponte em estilo japonês, que já esteve em cenários de várias obras. É um local realmente agradável, que o inspira e que acabou se tornando seu mundo particular. Ali ele recebe seus clientes, amigos, crianças que vem para pesquisas escolares e é ali também que está localizado seu ateliê.

WASHINGTON MAGUETAS - Carina e os mandarins - Óleo sobre tela - 45 x 70 - 2013

WASHINGTON MAGUETAS - Gisele na ponte do meu jardim
Óleo sobre tela - 80 x 110

Entre uma prosa no jardim e a apresentação dos últimos trabalhos em andamento, Maguetas foi contando sua trajetória, narrando os passos de cada parte de sua carreira. Apresenta saudosista os catálogos de suas mostras, explica os detalhes das experiências que vem realizando atualmente e deixa parecer que revive um pouco de tudo que já construiu, nas lembranças que não fazem ausência.

WASHINGTON MAGUETAS - Na sala do pintor
Mista sobre tela

WASHINGTON MAGUETAS - Crisântemos brancos e frutas - Mista sobre tela - 75 x 190

WASHINTON MAGUETAS - Meu quarto de dormir
Mista sobre tela - 60 x 90

Washington Maguetas nasceu em Taguaritinga, estado de São Paulo, a 5 de julho de 1942, e oito anos depois já fez seus primeiros trabalhos em argila. Aos 15 anos, um jornal local já divulgava os feitos de um artista precoce, que estava apenas iniciando uma trajetória que deixaria várias boas lembranças e conquistas. Desde 1960 tornou-se professor de desenho e pintura, atividade que divide também com a produção de algumas esculturas e poesias, além de realizar aquilo que mais lhe satisfaz: pintar.

WASHINGTON MAGUETAS - A rede no jardim
Óleo sobre tela - 60 x 100

WASHINGTON MAGUETAS - Marinha com flamboyant - Mista sobre tela

É um artista que aprendeu apenas pela prática e observação e nunca mediu esforços para que esse aprendizado lhe conduzisse para os caminhos que sempre desejou. Descobriu bem cedo sua proposta: explorar o estilo impressionista, como se tivesse participado do movimento em sua época. A busca por uma paleta singular, que traduzisse um “Impressionismo Tropical”, levou a experimentar cada vez mais. Dessas experiências, consolidaram uma forte identidade que são traduzidas imediatamente pelas suas cores, pinceladas, composições e temas.

WASHINGTON MAGUETAS - Camile no bosque
Mista sobre tela - 70 x 110

WASHINGTON MAGUETAS - Ateliê ambulante
Óleo sobre tela

"Muitas vezes, quando pinto ao ar livre, me transporto para um mundo atemporal, e outras vezes acabo por realizar um trabalho de documentação histórica, pintando paisagens que hoje já não existem mais; algumas se alteraram devido as estações do ano; no entanto, outras simplesmente foram modificadas pelo avanço urbano." (Maguetas)

WASHINGTON MAGUETAS - Jacarandá e a serra
Óleo sobre tela - 65 x 90

WASHINGTON MAGUETAS
Manhã de neblina com ipê, Taguaritinga
Óleo sobre tela - 60 x 70

"Em meus quadros, retrato a magia inabalável da paz e o fascínio de tudo que é visualmente belo. Muitas vezes a pintura surge através de manchas, vou espalhando as cores na tela despreocupadamente até que alguma figura, cena cotidiana, ou paisagem apareçam com maior intensidade. Passo então a destacá-la e dar maior consistência àquela imagem. Surgem várias figuras, no entanto, prevalecem as que de uma certa maneira ficam como protagonistas de uma história. As minhas telas são resultado de variada combinação entre luz e sombra. Desses dois elementos surgem as matizes e, assim, a definição dos cenários e seus personagens. Vejo nos personagens que passeiam nos bosques, à beira dos lagos, todo o romantismo de uma época que consagrou os pintores impressionistas clássicos como Monet e Renoir, com os quais me identifico." (Maguetas)

WASHINGTON MAGUETAS - Lilian no meu jardim imaginário - 60 x 120

Um grave transtorno com a saúde; na última década; não o impediu de continuar fazendo aquilo que se tornou a sua vida. Pelo contrário, percebe-se que é exatamente a arte que lhe impulsiona a enfrentar o que para muitos seria um grande entrave. Experimentos atuais não o distanciaram de sua proposta. Apenas lhe permitem expressar sua arte com outras ferramentas.

WASHINGTON MAGUETAS - Flores vermelhas na janela - Mista sobre tela - 75 x 110

WASHINGTON MAGUETAS - Janela com rosas amarelas
Mista sobre tela - 60 x 115


Com essas intenções, Maguetas vai compondo paisagens, cenas de interiores, retratos e naturezas mortas que se tornaram a marca registrada de toda sua trajetória. Pincelada precisa, cores agradáveis e composições bucólicas. Há uma busca intencional pelo ideal inatingível, fazendo com que suas composições sejam atemporais. Pinta essa época, mas permite que outras épocas também visitem o presente. A arte tem esse dom, ser e estar quando e onde se desejar.


PARA SABER MAIS:

VEJA TAMBÉM:

sábado, 4 de janeiro de 2014

POR DENTRO DE UMA OBRA - John Frederick Lewis

JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Óleo sobre tela - 53,3 x 78,7

Em 1840, John Frederick Lewis partiu de Roma para uma viagem que ainda não sabia exatamente o destino. Passou pela Albânia, Corfu, Janina, pelas Montanhas de Pindo e Patrass, Atenas, pelo Golfo de Corinto e Esmirna, até finalmente chegar a Istambul, onde iria residir pelo resto daquele ano. Amou aquele lugar logo à primeira vista. Ficava intrigado como havia uma cultura tão rica, cultivada por pessoas tão simples. Passava horas passeando por todos os mais pitorescos cantos, desenhando, anotando e registrando como podia, tudo aquilo que não lhe cansava os olhos.

JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 1

Embora grande parte de seus vários estudos focasse mais as construções, também havia espaço em suas pesquisas para a representação do povo local e todos os seus costumes. Lá estão representados o povo comum, soldados, ciganos, senhoras, crianças... Todos nas tarefas e prazeres de suas rotinas. Lugares, pessoas, acontecimentos, tudo isso formaria um rico material com que Lewis trabalharia por anos, depois que retornasse a Londres.
Scutari é uma rua na parte noroeste de Istambul, situada na margem asiática do Bósforo, e que agora é conhecida como Üsküdar, um distrito de Istambul. Durante muitos anos, a área era local de importante comércio, graças à sua boa localização, que lhe dava um porto estratégico e também já lhe havia oferecido um glorioso passado. Era ali uma espécie de central de correios asiáticos, palco para as primeiras linhas férreas da Anatólia, bem como o destino final de caravanas que vinham da Síria e de outros pontos da Ásia. Só por aí já dá pra se ter ideia de como era a efervescência do local e como isso alimentou a criatividade e visão artística de Lewis.

JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 2

Lojas Kibab vendiam uma espécie de “churrasquinhos”, ou carne espetada assada, se melhor preferir. Este foi o ambiente escolhido por Lewis, para desenvolver um de seus mais belos trabalhos. A riqueza de detalhes da tela é impressionante. Três homens, com vestes ricamente coloridas reúnem-se sob a sombra de um portal. À esquerda, um senhor de idade (provavelmente o dono da loja) lê enquanto repousa. Acredita-se que o homem de barba, de pé, seja o próprio artista se retratando. Ele olha diretamente para o espectador. Os detalhes não param por aí: atente-se para o vaso de rosas murchas mais ao canto, a ornamentação nas cerâmicas chinesas e até mesmo as mais diversas texturas e estamparias de cada veste. Lewis sabia como ninguém manipular as cores e combiná-las perfeitamente tanto à luz quanto na mais profunda sombra. O primeiro plano é iluminado por uma luz intensa de meio-dia. Ao fundo, um grupo de homens conversa animadamente, e mais distante, a cidade aparece majestosa. No plano intermediário, a cena é invadida por uma luz refletida muito bem controlada, que define e valoriza tudo.

JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 3

Todos os figurantes estão estáticos e o movimento é representado apenas pelos pombos, comprovando aquilo que a composição sugere: um local para se descansar e relaxar num momento de refeição.
Os objetos foram montados em estúdio. Todos certamente garimpados nas muitas compras que Lewis fazia em Istambul e em bazares do Cairo. Eles não sugerem nenhuma opulência e a obra também não teve nenhuma pretensão política. Estão ali apenas representando toda uma cultura e o seu povo. São exatamente o contraste com o requinte europeu, mas exaltam uma riqueza que não tem valor.
Depois que retornou a Londres, Lewis passou a ter uma vida reclusa, concentrando todas as suas forças nas elaborações muito bem estudadas de todos os locais pelos quais havia passado. Cada obra sua era sempre esperada com muita ansiedade.

JOHN FREDERICK LEWIS - Uma loja Kibab, Scutari, Ásia Menor - Detalhe 4

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John Frederick Lewis nasceu em Londres, a 14 de julho de 1804. Filho de um outro artista, Frederick Christian Lewis. Reconhecido primeiramente por sua excelência na pintura de aquarelas, John Frederick Lewis também foi um artista que produziu bastante com o óleo, guache e outras técnicas. Virtuoso, era extremamente detalhista e nada lhe fugia ao olhar. Especializou-se na pintura de cenas do Oriente Próximo e Médio e também das costas mediterrâneas. Teve vários endereços, mas suas estadias estrangeiras mais duradouras foram na Espanha, entre 1832 e 1834; e no Egito, entre 1841 e 1850.
Ele se associou à Academia Real em 1859 e tornou-se um membro da mesma em 1865. Faleceu em Londres, a 15 de agosto de 1876.

Esquecido por muitos anos depois de sua morte, o trabalho de Lewis passou a ter uma forte valorização a partir de 1970. Atualmente, seus raros trabalhos, quando colocados em ofertas nas melhores casas de leilões, atingem facilmente as cifras dos milhões.

Veja mais algumas obras do artista: 

JOHN FREDERICK LEWIS - Uma lady recebendo visitas
Óleo sobre painel - 63,5 x 76,2 - 1873

JOHN FREDERICK LEWIS - Os peregrinos romanos
Aquarela, guache e grafite sobre papel - 55,6 x 76,5 - 1854

JOHN FREDERICK LEWIS
Um acampamento no Deserto do Monte Sinai
Aquarela, guache e grafite sobre papel - 66,7 x 135,9 - 1856

JOHN FREDERICK LEWIS
A oração e a fé salvarão o doente
Óleo sobre painel - 90,8 x 70,8 - 1872

JOHN FREDERICK LEWIS
Vida em um harém do Cairo
Óleo sobre tela

JOHN FREDERICK LEWIS - Refeição do meio dia
Óleo sobre tela - 88 x 114 - 1875