domingo, 1 de abril de 2018

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA


MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Hora da ordenha em Anticoli Corrado
Óleo sobre tela - 92,5 x 124 - 1922 - Museu de Zaragoza

Abaixo, detalhe de Hora da ordenha em Anticoli Corrado

Anos atrás, quando estava escrevendo a matéria sobre o artista brasileiro Pedro Weingärtner, acabei entrando em contato com a obra de Mariano Barbasán Lagueruela. Um fato em comum entre os dois artistas chamou-me a atenção: a visitação constante que fizeram ao povoado italiano de Anticoli Corrado. Não muito distante de Roma, debruçado sobre uma colina, esse pequeno povoado tornou-se um ponto de peregrinação de muitos artistas estrangeiros que iam estudar em Roma, nas décadas finais de 1800 e início de 1900. Weingärtner e Barbasán não apenas visitaram o local com assiduidade, mas o eternizaram exaustivamente em trabalhos minuciosos e maravilhosos.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Vem com o papai
Óleo sobre painel - 28,8 x 46,9 - 1897

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Paisagem com uma vila nos arredores de Roma
Óleo sobre tela - 105 x 75 - 1905

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Mercado, Anticoli Corrado
Óleo sobre tela - 24 x 46 - 1909

Mariano Barbasán Lagueruela e Pedro Weingärtner chegaram em Roma praticamente no mesmo período, nos anos finais do século XIX, a fim de estudar num dos locais que era a melhor referência acadêmica daquele momento. Roma já começava a perder o status de referência artística para Paris, mas ainda assim se mantinha como uma rota quase obrigatória para muitos artistas, principalmente aqueles que ainda se mantinham fiéis às correntes conservadoras realistas, naturalistas e afins. Muitos desses artistas tinham o hábito de se encaminhar para a Piazza di Spagna, em Roma, onde diversos jovens (moças, rapazes e adolescentes), vindos principalmente das redondezas de Roma, em especial Antícoli Corrado, se ofereciam como modelos para aulas e sessões de pinturas. Era no contato com esses modelos que crescia a afinidade entre artistas e o povo desse lugarejo italiano. Nos verões, uma grande caravana de artistas partia para Antícoli Corrado e ali se instalava em estrebarias e currais, que os camponeses transformavam em ateliês e alugavam para os artistas passarem a temporada de produção.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Praça em Antícoli Corrado
Óleo sobre tela - 94,5 x 85 - 1922

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Primeira comunhão
Óleo sobre painel - 17,8 x 28,5 - 1900

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Pastora com cabras
Óleo sobre tela - 147 x 90 - 1910

Durante os dias, os artistas punham a aproveitar ao máximo a luminosidade especial do lugarejo e se encaminhavam para os campos e trigais, onde não cansavam de registrar as famosas cenas de colheitas e pastoreios, que até hoje encantam e são motivos de acirradas disputadas nas melhores casas de leilões de todo o mundo. Durante as noites, em alegres festividades em tabernas locais, ou mesmo em residências particulares, continuavam a produzir estudos dos incansáveis modelos. Muitas dessas moças que se prestavam para posar aos artistas, acabaram se tornando esposas ou amantes deles. A visitação ao pequeno vilarejo era tão intensa que em 1935, já no período final do auge como centro de peregrinação, ainda existiam ali 55 ateliês de artistas, um fato que não deixa de ser curioso, uma vez que ali não possuía, como até hoje, não mais que mil habitantes.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Paisagem italiana com cabras e pastores
Óleo sobre tela - 24,5 x 46,5 - 1924

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Rua em um povoado
Óleo sobre tela - 37 x 57,5 - 1909

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Procissão - Óleo sobre tela - 1899

As idas para Antícoli Corrado começaram a ficar mais intensas para Mariano Barbasán em 1892. Ele gostou tanto da Itália, que passaria ali trinta anos de sua existência, retornando para sua cidade natal somente no final de sua vida. Ele desenvolveu um gosto tão especial pelas pinturas de costumes locais, que logo ficou famoso entre os colecionadores e era procurado inclusive por turistas desejosos de levar uma lembrança das terras italianas. Assim, ele criou um laço especial com a população camponesa de Antícoli e outros vilarejos vizinhos, principalmente Subiaco. Suas obras dessas localidades se tornaram um relato preciso da vida do homem do campo, o sentimento religioso desses povos e a relação deles mediante à natureza e as suas tradições. Cada trabalho guarda a memória de um tempo especial, tanto para o artista como para a localidade de Antícoli Corrado.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - La cata - Óleo sobre painel - 29,5 x 47

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Plaza de la Retama, Toledo
Óleo sobre tela -1887

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Pedro II, o Grande, em Las Panizas
Óleo sobre tela - 200 x 185 - 1891

Mariano Barbasán Lagueruela nasceu em Saragoça, a 3 de fevereiro de 1864. Ele completou seus estudos artísticos na Escola de Belas Artes de San Carlos, em Valência, onde estudou entre os anos de 1880 e 1887. Para completar os estudos, viajou para Madri para estudar de perto as obras dos grandes mestres espanhóis que admirava. As coleções do Museu do Prado trouxeram um novo impulso para sua formação. Ele também realizou diversas viagens para Toledo, onde pintou diversas cenas de gênero, com cenário histórico. Pintou também várias cenas da literatura europeia.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Veneza - Óleo sobre painel - 20,3 x 28,3 - 1889

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Aguadoras - Óleo sobre tela - 35,5 x 61 - 1889

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Uma vista de Veneza ao por do sol
Óleo sobre tela - 61 x 100

Em 1889, com o prêmio que conseguiu pela Província de Saragoça, uma mensalidade vitalícia para estudar na Itália, uma espécie de aposentadoria oferecida a artistas premiados, Barbasán partiu para Roma. Ele produziu as obras mais significativas de sua vida por lá. É de 1892, uma famosa cena num café árabe, de pintores espanhóis em Roma, disfarçados de árabes para um carnaval.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - O outono - Óleo sobre tela - 50 x 72 - 1918

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Tristeza de inverno
Óleo sobre tela - 64 x 98 - 1917

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Planície alagada - Óleo sobre tela - 50 x 71 - 1917

Barbasán montou um estúdio muito bom em Roma, e fez exposições frequentes por toda a Alemanha, Áustria e Inglaterra. Nunca na Espanha, onde quase nem era conhecido. Em 1912, ele morou na cidade uruguaia de Montevidéu, por um curto período de tempo, enquanto organizava duas exposições que fez por lá. Ele permaneceu em Roma até 1921, quando sua saúde começou a piorar. Retornando à Espanha, ele ocupou uma cadeira na Academia de Belas Artes de San Luis, em Saragoça, que havia ficado vaga com a morte de Francisco Pradilla.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Saída para Assis - Óleo sobre painel - 11 x 18 - 1889

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Batalha de Guadalete
Óleo sobre painel - 21,9 x 50,2 - 1882

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA - Saída para Tívoli - Óleo sobre painel - 11 x 18 - 1889

Dois anos depois que havia retornado à Espanha, Barbasán realiza a primeira exposição em território espanhol, no Mercado Central de Saragoça. Somente naquela época, seus trabalhos começaram a ser conhecidos e procurados pelo público espanhol. Ele faleceu em Saragoça, no dia 22 de julho de 1924. Em 1925, seu filho Mariano Barbasán Lucaferri realizou uma grande retrospectiva em sua homenagem, no Museu de Arte Moderna de Madri. Ele faria diversas outras nos anos sequentes, ajudando a estabelecer a reputação de seu pai na Espanha.

MARIANO BARBASÁN LAGUERUELA
Autorretrato
Óleo sobre tela - 52 x 41 - 1887