sexta-feira, 30 de maio de 2014

UM POUCO MAIS SOBRE MONSTED

PEDER MORK MONSTED - Sorup, Dinamarca - Óleo sobre tela - 1936

Assumo que sou um admirador incondicional desse artista e tento divulgar ao máximo os seus trabalhos, proporcionalmente à minha admiração que cresce. Foi um dos paisagistas mais célebres de seu tempo, oxalá não seja um dos mais respeitados artistas dessa temática. Por vez ou outra, cá estou a mostrar algo novo que encontro sobre ele e faço isso com muita satisfação. Para essa nova abordagem, escolhi algumas obras e vou tentar comentar alguns dados que foram coletados sobre elas.


NA SOMBRA DE UMA PÉRGOLA ITALIANA
Óleo sobre tela – 122,5 x 97 – 1884

Peder Mork Monsted tinha uma atração enorme pelas paisagens italianas. Passou por lá diversas temporadas e, assim como muitos artistas itinerantes de sua época, sempre se deliciava com cenas e paisagens da Ilha de Capri. Localizada no Golfo de Nápoles, na Região de Campania, essa ilha é uma espécie de paraíso até hoje. Mar exuberante e regiões interiores com um cenário singular. Ainda é possível encontrar muitas pequenas povoações com costumes bem tradicionais.
Pérgolas são uma espécie de galeria, feitas de duas séries de colunas paralelas e que servem para suporte de trepadeiras. As pérgolas sempre foram muito utilizadas nas parreiras da ilha de Capri.

PEDER MORK MONSTED - Na sombra de uma pérgola italiana
Óleo sobre tela - 122,5 x 97 - 1884

Detalhe

Essa tela esteve na Exposição de Charlottenborg, em 1884, e é muito fácil de entender o fascínio que ela tem até hoje. Todos os artistas do norte europeu sempre tiveram dias de sol muito limitados durante quase todo o ano. Invernos rigorosos, como os que passava Monsted em sua terra natal, na Dinamarca, eram compensados nessas viagens, onde cores quentes eram acrescentadas à paleta e muitos efeitos eram experimentados.



AO MEIO DIA, NUMA PLANTAÇÃO DE CACTUS EM CAPRI
Óleo sobre tela – 163,1 x 121,9 – 1885

Mais um trabalho realizado à partir das anotações que Monsted fez na Ilha de Capri. Leiloado em novembro de 2012 pela Sotheby’s e proveniente de várias coleções particulares anteriores, é mais uma bela composição com motivos daquela ilha italiana.

PEDER MORK MONSTED - Ao meio, numa plantação de cactus em Capri 
Óleo sobre tela - 163,1 x 121,9 - 1885

Detalhe

O terreno da Ilha de Capri é quase todo muito pedregoso, impróprio para gramíneas de pastagens e que sempre foi um entrave para que se desenvolvesse uma pecuária mais consistente na ilha. Como em várias regiões de clima árido, de todo o entorno do Mediterrâneo, a plantação de cactos (principalmente uma variedade de palmas) se tornou uma alternativa para alimentar animais domésticos, principalmente suínos e caprinos.
Sob o sol escaldante da ilha, Monsted registrou essa cena, também um trabalho de grandes dimensões.


PAISAGEM DE VERÃO COM RIO EM FREDERIKSBERG
Óleo sobre tela – 81 x 121 – 1911

Frederiksberg é o menor município da Dinamarca em área, mas a posição privilegiada próxima a Copenhague fez dele o quinto mais populoso do país. Não foi assim em outros tempos. No passado, era apenas uma zona rural de fácil acesso, por isso mesmo destino certo para os passeios de finais de semana e para onde se encaminhavam grupos de artistas. Monsted fez várias tomadas de lá.

PEDER MORK MONSTED - Paisagem de verão com rio
Óleo sobre tela - 81 x 121 - 1911

Detalhe

Essa tela foi produzida num período muito produtivo do artista. Havia alcançado uma excelência técnica na composição de paisagens e sua fama de pintor quase hiper-realista já corria mundo. O que, à distância, parece se tratar de uma tela minuciosamente detalhada, logo se desfaz quando nos aproximamos bem dela. É possível ver grossas pinceladas, soltas, bem arrojadas aliás, exibindo a versatilidade de um artista que tinha uma atração especial pelas experiências impressionistas que fazia. Viveu na França no período do Impressionismo, de onde suas influências tiveram um forte fundamento.


TARIFA, PRÓXIMO A GIBRALTAR
Óleo sobre cartão – 12 x 32,8 – 1892

Esse pequeno estudo, feito em local, mostra o quanto Monsted se identificava com o movimento Impressionista. Despojado, valoriza especialmente a água e o céu. Os barcos são componentes intermediários, apenas para criar a sensação de proporção e profundidade à cena. Todo executado em pinceladas bem vigorosas, mostrando o quanto o artista dava importância aos estudos realizados em plein air.

PEDER MORK MONSTED - Tarifa, navegando próximo a Gibraltar
Óleo sobre cartão - 12 x 32,8 - 1892

Detalhe

Já descrito em um artigo sobre Monsted, intitulado Magia da Natureza, lançado em Dusseldorf em 2013, esse é um dos vários esboços que o artista fez em sua passagem pela província espanhola de Cádiz. Ele fez vários apontamentos entre o Estreito de Gibraltar e a cidade de Tarifa.
Atente para as formações em cúmulos formadas pelas nuvens e como elas tem um alto grau de importância na composição.


TRAJETO DE FLORESTA PARA FREDERIKSBERG
Óleo sobre tela – 120 x 200 – 1908

Mais um excelente trabalho realizado por Monsted, retratando os arredores de Frederiksberg. Esse, uma cena típica de inverno rigoroso, mas com o dia numa luminosidade fantástica.
Proveniente de uma coleção particular em Luxemburgo, a tela impressiona primeiramente pelo tamanho, um dos grandes trabalhos realizados por ele. Essa temática consolidou ainda mais a sua fama, e trabalhos como esse eram esperados ansiosamente em exposições por toda a Dinamarca, Berlim, Munique, além de serem aceitos com frequências nos Salões de Paris.

PEDER MORK MONSTED - Trajeto de floresta para Frederiksberg
Óleo sobre tela - 120 x 200 - 1908

Detalhe

Monsted havia se tornado um exímio pintor de neve. Conseguia extrair sua aparência macia com poucas pincelas e acrescentou cores até então não exploradas por artistas que executavam essa temática. Mas, o destaque especial dessa obra está mesmo no trabalho diferenciado que concedeu aos ramos das muitas árvores que se espalham por todo o quadro. Seus tons fortes e quentes intensificam ainda mais o céu de um dia límpido de inverno.
Crianças brincando em um trenó indicam que o pior da estação já passou. Agora é tempo de divertir!



domingo, 25 de maio de 2014

GIOVANNI MARZIANO

A maior virtude de um bom trabalho realista é que ele nos poupa a complexidade de discursos. Fala por si só e qualquer excesso de palavra é pura competição com o desperdício. Assim é o trabalho de Giovanni Marziano, faz com que nos recolhamos ao silêncio e nele possamos nos dar a oportunidade de fazer algo que muitos ainda não deram o devido valor: contemplar.
Antes de qualquer outra palavra, empreste um momento às imagens que se seguem e extraia delas tudo aquilo que possa conseguir:

GIOVANNI MARZIANO - Composição - Óleo sobre tela - 100 x 70

GIOVANNI MARZIANO - Praia - Óleo sobre tela

GIOVANNI MARZIANO - Ervas na escada - Óleo sobre tela - 100 x 70

GIOVANNI MARZIANO - Janela - Óleo sobre tela

Espero que tenha experimentado o mais nobre dos sentimentos que foi em mim primeiramente despertado: o de gratidão. Sou grato por ter tido a oportunidade de contemplar esses trabalhos. Um dia ainda o farei pessoalmente! Ver e sentir a força do trabalho de Marziano é comungar a democracia do saber que ele nos proporciona. Ele nos ensina no que faz e percebemos que há uma doação espontânea em nos compartilhar tudo aquilo que ele aprendeu. A cada trabalho dele que permito emprestar um minuto de observação, aprendo gratuita e eternamente.
Não é qualquer obra que nos chega como um imperativo de reflexão, mas todas as obras dele são naturalmente assim.

Sem mais palavras!

GIOVANNI MARZIANO - Arado - Óeo sobre tela - 40 x 80

GIOVANNI MARZIANO - Cebolas - Óleo sobre tela - 30 x 70

GIOVANNI MARZIANO - Pescados - Pastel - 30 x 40

GIOVANNI MARZIANO - Homenagem a Mattia Preti - Óleo sobre tela - 50 x 50

GIOVANNI MARZIANO - Plantas ao sol - Óleo sobre tela - 50 x 70

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Giovanni Marziano nasceu em
Catanzaro, Itália,em 1949.

PARA SABER MAIS:




quinta-feira, 22 de maio de 2014

POR DENTRO DE UMA OBRA: MARIE-FRANÇOIS FIRMIN-GIRARD

MARIE-FRANÇOIS FIRMIN-GIRARD - Le Quai aux fleurs
Óleo sobre tela - 100,3 x 144,8 - 1875

Os últimos leilões de arte com obras do século XIX, realizados pela prestigiada Casa de Leilões Sotheby’s, tem causado muito frissom. O último deles, realizado no dia 9 de maio desse mês, trouxe uma comoção especial e tinha motivos para ser esperado com ansiedade. Dentre os muitos lotes oferecidos para serem leiloados naquele dia, um deles, em especial, merecia uma atenção diferenciada por parte de vários colecionadores. Tratava-se da obra “Le Quai aux fleurs”, pintada por Marie-François Firmin-Girard. Um óleo sobre tela datado de 1875. A comoção e ansiedade criadas em torno do lote a ser leiloado foram confirmadas quando o martelo bateu sobre o último lance oferecido: a obra entrou no leilão com estimativa inicial entre 300 e 500 mil dólares e foi vendida por nada menos que mais de 3 milhões de dólares. Mais uma vez comprovando o quanto a arte figurativa, especialmente realista e dentro dessas tendências, vem retomando um carinho especial por parte de vários colecionadores em todo o mundo.
Medindo 100,3 x 144,8 cm, a tela tem mesmo uma espécie de fascínio. Alcançou sua cifra de valores com todos os méritos e consolidou a carreira de Firmin-Girard, que ainda não havia conquistado a evidência merecida.



No decorrer da década de 1870, os trabalhos produzidos por Firmin-Girard para o Grande Salão de Paris seguiram as mesmas tendências de mudança no gosto do público, saindo das tradicionais cenas históricas e mitológicas, para temáticas com influências japonesas e orientalistas. Muitas dessas composições colocaram o artista em evidência e lhe renderam os primeiros elogios, mas, foi Le Quai aux fleurs, inscrito no Salão de 1876, que veio lhe permitir conquistar de vez o cenário internacional. A composição, uma tomada panorâmica feita ao longo do Quai de la Corse, em Paris, retratou com fidelidade o que foi durante muito tempo, um tradicional mercado de flores da cidade. Era um dos pontos mais badalados no auge da Belle Èpoque francesa.



Magistralmente emoldurado, o quadro ganhou um lugar de destaque bem em frente à entrada do Grande Salão daquele ano. Firmin-Girard deixou escrito posteriormente em uma carta: “A multidão que estava continuamente aglomerada em frente ao meu quadro era tão grande, que nem mesmo eu consegui chegar perto dele”. Tal afirmativa não é exagero, jornais da época também notificaram que a polícia teve trabalho em fazer o fluxo de admiradores circular em frente ao quadro, evitando os tumultos frequentes que foram provocados logo na entrada do Salão.



Ricamente detalhado e densamente povoado em todos os espaços, o quadro nos convida a admirá-lo incansável e cuidadosamente, repetidas vezes. Estão representadas todas as construções locais, com detalhes que impressionam e extasiam. É possível ver, ao longo da margem esquerda do Sena, o Tribunal de Comércio, o Posto l’Horloge e as duas tores de la Conciergerie (que hoje se tornou o Palácio da Justiça). Pelo lado direito do rio, um pequeno trecho do Théâtre du Châtelet, com uma pequena colunata do Museu do Louvre e ainda trecho do Pavilhão das Flores, bem à distância. Todo o quadro é uma ode ao bom gosto e refinamento.



Não foram medidos elogios para o trabalho. Quase todos os jornais e periódicos dedicaram matérias especiais a ele, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Algumas matérias iam além, tentando decifrar cada personagem representado na composição de Firmin-Girard. Quem seriam os membros daquelas elegantes famílias burguesas, elegantemente vestidas? Bebês com suas babás, motoristas de carruagens, guiadores com seus carrinhos de mão, vendedores de flores... Ninguém escapava aos comentários ávidos dos repórteres e críticos da época. Atente para um vendedor de bebidas, bem ao centro da composição, que oferecia uma espécie de refrigerante de alcaçuz e limão e era muito comum na Paris daquela época. Eram vendedores ambulantes muito criativos. Firmin-Girard deve ter feito uma pesquisa minuciosa com vários deles para elaborar a sua tela. Esse vendedor, em especial, além de trazer à sua cintura as tradicionais taças de prata para oferecer a bebida, também sustentava uma espécie de estátua dourada com um relógio, que o deixava facilmente reconhecível em meio à multidão.



As flores então são um atrativo à parte. Firmin-Girard não mediu esforços e conseguiu coloridos e matizes dos mais variados em todas as espécies de flores ali representadas. Alguns escritores de jornais chegaram mesmo a comentar que a obra parecia excessivamente detalhada, mas se rendiam ao grande impacto que o conjunto da obra causava a todos. As grandes obras de arte da humanidade são pintadas com a alma. Não temos a menor dúvida que Firmin-Girard se faz presente em seu trabalho, imortalizando-se ali em cada pincelada. O trabalho não teve nenhuma premiação no Salão daquele ano, mas essa obra viria a conquistar Medalha de Bronze na Exposição Universal de 1900. A obra foi adquirida pelo colecionador americano Theron Butler, por 85 mil francos. Depois de passar por mãos de outros colecionadores a obra veio finalmente a ser leiloada no início desse mês, atingindo o valor recorde para um trabalho do artista.



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Marie-François Firmin-Girard nasceu a 29 de maio de 1838, na aldeia de Poncin, região de Ain, na França, e faleceu na cidade de Montluçon, região de Auvergne, também na França, aos 83 anos de idade, em 1921. Iniciou seus estudos com o suíço Charles Gleyre e mais tarde recebeu ótimas orientações com Jean-Léon Gérôme, o grande mestre acadêmico de cenas orientalistas e pinturas históricas. Iniciou sua participação no Salão de Paris em 1859, com uma impressionante imagem de São Sebastião. Com um prêmio que recebeu em 1861, na Competição de Roma, conseguiu recursos financeiros para montar seu próprio estúdio no Boulevard de Clichy, em Montmartre. Como muitos artistas de sua época, teve um período com forte influência da arte de gravuras japonesas, vindo a se inspirar nelas para muitas de suas composições. La toilette japonaise, por exemplo, foi exibida no Salão de 1873. Durante cerca de 30 anos, Firmin-Girard conseguiu que suas obras entrassem para o Salão de Paris. Seus últimos anos de vida foram mais reclusos e pouco se sabe sobre eles.

OUTROS TRABALHOS DO ARTISTA:


MARIE-FRANÇOIS FIRMIN-GIRRARD - Le jardin de la marraine
Óleo sobre tela - 101,6 x 69,2 - 1875

MARIE-FRANÇOIS FIRMIN-GIRARD - Outono no mercado em Les Halles
Óleo sobre tela - 83 x 117

MARIE-FRANÇOIS FIRMIN-GIRARD - O toilette japonês - Óleo sobre tela - 1873

MARIE-FRANÇOIS FIRMIN-GIRARD - Colhendo flores - Óleo sobre painel


segunda-feira, 19 de maio de 2014

UM OLHAR SOBRE O REALISMO CONTEMPORÂNEO

ANNA MARINOVA - Morning freshness - Óleo sobre tela - 100 x 90

Uma linguagem artística nunca extingue a outra, apenas a sucede num ciclo que não fecha, e que certamente sempre retorna. Os renascentistas ressuscitaram o classicismo grego, injetando um novo fôlego na arte mundial daquele tempo, tendência que retornou mais tarde com as ideias neoclassicistas, confirmando que estilos não são eternos e que também nunca morrem. Vão e voltam ao gosto das gerações sequentes. Quando parecia que os movimentos modernistas perdurariam onipotentes e sem a menor ameaça de concorrência, eis que surge uma nova corrente ressuscitando mais uma vez os ideais clássicos para inspirarem seu tempo. O Realismo Contemporâneo nasceu assim, não suportando mais os estilos que imperaram por quase todo o século passado. Muitos artistas, de diversas partes do mundo, se viram cansados de uma arte que precisava de longas explicações e que procurasse justificativas em intermináveis discursos e fórmulas. O Movimento Realista Contemporâneo nasceu com a intenção de reagir aos modernistas e pós-modernistas, que ainda dominam o mercado das artes. Esse movimento já conseguiu um alto grau de respeito, tanto por parte de críticos e principalmente de público.

VICTOR WANG - Chapéu de girassóis - Óleo sobre tela - 122 x 117

MAURÍCIO TAKIGUTCHI
Retrato de Eduardo de Amorim
Carvão e lápis pastel branco sobre papel - 2014

Definimos Arte Contemporânea principalmente aquela praticada por artistas que ainda estão produzindo. Pra ser contemporâneo é preciso primeiramente estar vivo. Falar a linguagem de seu tempo é essencial para que o período artístico vivido por todo artista não passe em branco. Portanto, é possível sim, fazer arte realista e ser contemporâneo. É mais que viável fazer a arte desse tempo, mesmo que inspirando em ideais experimentados no passado, como aconteceu em outras épocas. A nova onda de artistas realistas tomou força na década de 1970 e não parou mais de crescer. Já havia conseguido muitos adeptos até a virada do século, mas a força maior para o movimento só se concretizou mesmo com a internet, uma ferramenta de extrema eficiência que consegue ligar pensamentos com a mesma sintonia em diversas partes do mundo. Estilos e tendências já não são mais impostos por uma minoria que antes controlava mídias e galerias especializadas. A internet é a vitrine mundial e seu alcance é irrestrito.

T. ALLEN LAWSON - Os primeiros sinais da primavera - Óleo sobre tela - 86,36 x 91,44

VINÍCIUS SILVA - Luz na mata - Óleo sobre tela - 40 x 50

Uma das intenções principais dos realistas contemporâneos é produzir um estilo natural, quase sempre bem objetivo. Há quem diga que procuram o real e não o ideal. Muitos artistas do início do movimento realista começaram suas carreiras como pintores abstratos treinados e chegaram mesmo a se tornar professores e teóricos de desprezo das pinturas representacionais. Porém, muitos deles não se viam realizados em suas propostas. Mais uma vez, inspirados pela antiga arte clássica grega, começaram a representar o seu tempo de uma nova maneira. Agradeçam especialmente a Peter Hurd e Andrew Wyeth, protagonistas desse movimento que deu um novo ânimo ao cenário artístico mundial. Não deixem confundir realistas contemporâneos com foto-realistas ou hiper-realistas, são correntes com propostas bem diferentes.

DANIEL SPRICK - Amaryllis - Óleo sobre tela - 66,04 x 71,12

RENATO MEZIAT - Vários potes - Óleo sobre tela - 81,28 x 127

As escolas-ateliers são a base do movimento realista. Elas são a fonte de educação adequada e necessária para todo artista que pretende ser realista. Todos os ensinos superiores de arte haviam se tornado teóricos demais. Os artistas formados em universidades no século passado precisavam quase que obrigatoriamente ter um conhecimento de filosofia e história da arte, porque o que produziam era quase sempre conceitual e muitas vezes nem confeccionado por eles mesmos. De prática, sabiam muito pouco quando formavam. Atualmente, adotou-se nas escolas-ateliers o hábito dos workshops. O aprendiz não precisa necessariamente se matricular em um curso de longa duração, mas se especializar em minicursos, com diversos professores, sem a obrigatoriedade de uma matrícula em cadeira universitária. Essa prática é muito interessante, pois se estuda aquilo que mais interessa. Para quem deseja prática experimental é essencial.

JEREMY LIPKING - Folhas de outubro - Óleo sobre tela - 50,8 x 76,2

VIRGÍLIO DIAS - Pescadores do Arraial de Cabo Frio
Óleo sobre tela - 90 x 120

Uma prova de que o novo realismo tem atingido diversas pessoas em diversas partes do mundo está nos preços de leilões praticados para obras que seguem essa tendência. Artistas como William Bouguereau, do século XIX, um dos inspiradores do Realismo Contemporâneo, tiveram suas cotações crescidas em mais de mil vezes nos últimos 35 anos. Muitas galerias, que até a década passada só trabalhavam com artistas modernistas e abstratos, também já inseriram realistas contemporâneos em sua oferta de obras. Sem falar de vários museus que passaram novamente a adquirir obras realistas, inclusive de artistas vivos.

MICHAEL LUKASIEWICS - Trance - Acrílica sobre tela - 64,77 x 62,86

RODRIGO ZANIBONI - Elisa
Óleo sobre tela - 50 x 40

Outra reação muito curiosa, que diz respeito à aceitação da arte tradicional, é que as pessoas já não tem mais medo de dizer que não gostam de modernismo. Até bem pouco tempo atrás, consentir que não se entendia uma obra era um sinônimo de pouca cultura. Muitos se calavam e fingiam gostar de algo que no fundo não lhes dizia nada. Como a grande maioria das pessoas não tem tempo ou oportunidade de dedicar ao estudo das artes, era sempre manipulada por “conhecedores” que intimidavam a todos com discursos que nada diziam, sobre obras quase sempre vazias. Mas, isso já pertence ao passado, novamente as pessoas se dão ao direito de escolher aquilo que querem ver e principalmente, aquilo que querem levar para compor as suas residências.

MORGAN WEISTLING - Alimentando os gansos
Óleo sobre tela

SÉRGIO HELLE - Acqua - Infogravura - 90 x 130

No Realismo Contemporâneo cabem todos os temas: paisagem, natureza-morta, marinha, figura humana... Novas tecnologias tem sido aplicadas na elaboração das obras, mas uma coisa é essencial, o artista realiza suas obras por ele mesmo. O desenho voltou a ser a ferramenta fundamental do artista que se propõe realizar arte realista contemporânea, por isso a prática constante do exercício com modelo vivo é de fundamental importância. A pintura em plein air, para os adeptos do paisagismo, também é uma das fortes ferramentas usadas por artistas que pretendem se esmerar em seus aprendizados. Os estudos ou sketches são referências para trabalhos que serão elaborados em ateliês, ou até mesmo se tornam a obra principal, provas de que quem os elaborou está numa procura constante de aperfeiçoamento.


JÉSUS RAMOS - Ribeirão Mumbaça, Dionísio/MG
Óleo sobre tela - 54 x 73

CLYDE ASPEVIG - Rosas à luz da tarde - Óleo sobre linho - 60,96 x 66,04

Sites como o http://www.artrenewal.com, elaborado pelo Art Renewal Center se transformaram num verdadeiro museu virtual da arte realista. Em matéria recente do site, brilhantemente escrita por Frederick Ross, temos uma explanação precisa e muito importante sobre o Realismo Contemporâneo e os caminhos que o esperam. É imperdível e pode ser conferida no link abaixo:

Felizmente, o Realismo Contemporâneo encontrou raízes sólidas em todo o mundo e continua crescendo como nunca. Os adeptos dessa tendência são todos aqueles que nunca deixaram de estar comprometidos com o verdadeiro espírito da arte. Gostaria de terminar a matéria com uma citação extraída do artigo de referência citado acima: “Realismo é uma linguagem universal que permite a comunicação com todas as pessoas e para as pessoas de todos os tempos: passado ... presente ... e futuro”.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

LYN DIEFENBACH

LYN DIEFENBACH - Atemporal - Óleo sobre linho - 75 x 100

Estar disposto a aprender continuamente é uma virtude louvada. Na arte, esvaziar-se a cada dia para que novos ensinamentos venham somar na caminhada, é um reconhecimento de que sempre é possível aprender e que saber nunca ocupa espaço, pelo contrário, cria outros. Lyn Diefenbach sabe, como poucos, como isso foi e é importante em sua carreira. Artista desde idade precoce, sempre trabalhou com o óleo. Foi em 1995, que experimentou o pastel pela primeira vez e pode perceber quantas possibilidades poderiam se abrir abraçando aquela nova maneira de fazer. Soube extrair dessa nova técnica espontaneidade e imediatismo, atributos que não conseguia com a mesma intensidade no óleo.

LYN DIEFENBACH - Abundante - Óleo sobre linho - 38 x 80

LYN DIEFENBACH - Alegre profusão - Pastel - 45 x 60

LYN DIEFENBACH - Alegria pura - Óleo sobre tela - 48 x 70

Australiana da cidade Yeppoon, Lyn dedicou arduamente à nova técnica, e já em 1998 teve seu reconhecimento oficial como mestre na Sociedade Australiana de Pastel. Continua com sua filosofia de “sempre aprender” e alcançar cada vez mais qualidades magistrais em seus trabalhos.

LYN DIEFENBACH - Caminho para o céu
Óleo sobre linho - 65 x 135

Versátil, aborda várias temáticas em suas obras, mas quis focar principalmente na sua produção com florais, que se tornaram uma marca registrada de sua trajetória. Há nos trabalhos de Lyn uma atração imediata pela interação da luz com a matéria. Suas composições parecem ter luz própria e ela consegue se sobressair dentro de uma temática aparentemente corriqueira e muito explorada por artistas de todas as escolas e épocas.

LYN DIEFENBACH - Arbusto
Óleo sobre linho - 65 x 75

LYN DIEFENBACH - Vestido em esplendor - Pastel - 60 x 45

Aulas com o retratista Daniel E. Greene, em 1999, trouxeram um novo desafio na sua carreira de aprendizagem que nunca cessa: a pintura e desenho de retratos. A figura humana tornou-se assim, mais um atraente e desafiador exercício.

LYN DIEFENBACH - Regeneração - Óleo sobre linho - 75 x 65


Lyn Diefenbach tem ministrado aulas e workshops em pastel, óleo e aquarela em toda a Austrália. Pela sua dedicação e compromisso com o trabalho que desempenha, já recebeu diversos prêmios e honrarias. Suas pinturas se encontram em várias coleções, tanto na Austrália quanto em outros diversos países.


PARA SABER MAIS: