sábado, 24 de setembro de 2016

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Felicitações pelo aniversário (detalhe)

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Felicitações pelo aniversário
Óleo sobre tela - 81 x 65 - 1880

Tido como um dos mais bem sucedidos retratistas espanhóis de seu tempo, Raimundo de Madrazo foi um grande artista de sua geração. É facilmente entendida essa afirmação, ao se observar atentamente sua produção. Dono de um Realismo minucioso e elegante, Madrazo possuía um domínio técnico invejável, e sua paleta e fatura se constituíam com uma delicadeza e refinamento incomparáveis.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Damas na janela
Óleo sobre tela - 72,7 x 59,7 - 1875

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Saída do baile de máscaras
Óleo madeira - 49 x 80,5 - 1885

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - O toilete - Óleo sobre tela

Nascido em Roma, em 1841, Raimundo de Madrazo y Garreta já nascera em família privilegiada para as artes. O avô, o notável pintor José de Madrazo y Agudo, começou um dos legados da família, que teria sua continuação em Federico de Madrazo y Kuntz, um famoso retratista espanhol, que por sua vez se tornou pai de Raimundo de Madrazo. Na família, ainda haveria outros representantes para as artes: Ricardo Madrazo, seu irmão; e Mariano Fortuny, um cunhado que também se tornaria um importante pintor da cena espanhola do século XIX.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Garota com violão e papagaio
Óleo sobre tela - 49 x 38 - 1872

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Uma pequena princesa no jardim de Versalhes
Óleo sobre tela - 88,9 x 116,8 - 1905

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Sapatos novos
Óleo sobre tela

As primeiras lições de artes de Raimundo de Madrazo começaram em sua própria família. Ele dividia as horas de aulas, ora com o pai, ora com o avô. Até que os próprios o direcionaram para a Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, onde teve como mestres Carlos Luís de Ribera e Carlos de Haes. Carlos Luís era um pintor de respeito entre as classes burguesas e tinha sua produção alicerçada na produção histórica e retratos. Já Carlos de Haes, tinha sua produção voltada para a execução de paisagens, que lhe trouxe grande prestígio. Os ensinamentos dos dois formaram uma boa base de aprendizagem, aliada aos ensinamentos dos parentes.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Arrumada para a noite
Óleo sobre tela - 93,98 x 57,15

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Uma bela tocadora de bandolim
Óleo sobre tela - 80 x 54

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - A harpista
Óleo sobre tela

Raimundo de Madrazo ainda teria novos ensinamentos na sua formação, quando mudou-se para Paris, na década de 1860, e tornou-se aluno de Leon Coignet. Coignet pode até não ter uma grande reputação como artista, mas foi o professor de mais de cem artistas de renome que passaram por Paris. Além de conquistar o respeito pelos mestres de Paris, Raimundo de Madrazo também caía no gosto de colecionadores abastados. Há várias cartas trocadas entre Raimundo e seu pai, nesse seu período em Paris. Seu pai o tratava com enorme carinho e via nele a projeção internacional que faltava para a família. Além de confidente, essas correspondências confirmam também como Federico o ajudava na escolha de questões pessoais e profissionais.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
O Pátio de São Miguel, Catedral de Sevilha
Óleo sobre tela

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Piscina no Jardim de Alcazar
Óleo sobre madeira - 10 x 16,4 - 1868

Em setembro de 1867, Raimundo de Madrazo deixa Paris momentaneamente e retorna a Madri, para ajudar nas cerimônias de casamento de sua irmã Cecília, com o também pintor Mariano Fortuny. Os cunhados tinham uma ótima convivência e chegariam inclusive a assinar trabalhos em parceria. Como uma espécie de retiro, ele prolongaria essa sua estadia espanhola por cerca de um ano, período que frequentou regiões distintas do país, inclusive a Andaluzia. É desse período, uma série de pequenas paisagens que fez em sua passagem por Sevilha. Obras belíssimas pela espontaneidade, são consideradas caprichos de sua produção. No retorno a Paris, começaria a fase mais importante de sua carreira.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Travessuras da modelo
Óleo sobre tela - 95,2 x 66 - 1885

RAIMUNDO DE MARAZO Y GARRETA - Jardim do Alcazar em Sevilha - Óleo sobre painel

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Jardim da casa de Fortuny
Óleo sobre madeira - 40 x 28 - 1877

Ele conseguiu participar da Exposição Universal, mesmo sem haver exposto ainda em Madri, sua casa. Já nessa época, gozava de uma ótima reputação, baseada principalmente na excelente técnica que lhe traria uma vida tranquila e movimentada. Todos os atributos a ele conferidos, consequentes da excelência profissional que se tornara, lhe garantiram a primeira medalha e a nomeação oficial da Legião de Honor, em sua participação na Exposição Universal de Paris, em 1889.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - A leitura
Óleo sobre tela - 45 x 56 - Entre 1880 e 1885

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - A serenata - Óleo sobre tela

Uma agenda agitada começava na carreira de Raimundo de Madrazo. Ele era frequentemente contratado para retratar a mais alta sociedade, pintando reis, políticos, intelectuais, empresários e até mesmo outros artistas. Conhecedor dos movimentos que agitavam a Paris daquela época, Madrazo conseguia aliar um trabalho com característica realista a pinceladas soltas e espontâneas, típicas dos amigos impressionistas. Manchas e cores selecionadas previamente encantavam a todos, aliadas a um detalhamento fino e criterioso. Já não era apenas a França o reduto maior de sua clientela, ele também já conquistava mercado na Inglaterra, nos Estados Unidos e entre ricos clientes argentinos, países para onde era levado por seus clientes e passava grandes temporadas.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Namorico - Óleo sobre tela - 70,5 x 120,5

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Os mascarados
Óleo sobre tela - 101,6 x 64,8 - Entre 1875 e 1878

Raimundo de Madrazo chegou aos Estados Unidos em 1896 e fixou seu ateliê em Nova York. Pela fama que carregava em sua bagagem, logo conquistou uma vasta clientela e era um dos mais procurados retratistas da cidade, atraindo colecionados proeminentes como John Pierpont Morgan e os Vanderbilt. Logo, muitos magnatas, de diversas partes do país, vinham à procura de seus trabalhos. Andrew Peacock, vice-presidente da Carnegie Steel Company, logo se tornaria um dos clientes mais devotados. Tido como um colecionador de gosto apurado, ele mantinha uma rica coleção em sua mansão em Pittsburgh, na Pensilvania, chamada Rowanlea. Peacock encomendou sete retratos da família ao artista, e fez questão de hospedá-lo em sua residência, com todas as honrarias que pudesse oferecer, enquanto executava os trabalhos.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Retrato de Isabelle McCreery
Óleo sobre tela - 266 x 174

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Saindo da igreja - Óleo sobre tela

Não é arriscado dizer que Raimundo de Madrazo viveu completamente feliz e estável, num dos momentos mais conturbados da arte europeia. Ele não foi nenhum profeta da revolução artística, mas soube passar por esse período de turbulência exatamente por conciliar o que havia de controverso e de vanguarda, ao que era acadêmico e conservador. Na opinião de muitos críticos de sua época, ele foi a união perfeita entre a tradição e a modernidade. Ele sabia, como poucos, assimilar as qualidades brilhantes de seus antepassados. Mas, quando sentava em frente a seu cavalete, logo os esquecia e pintava aquilo que a intuição lhe sugeria. E o convívio com os novos tempos daquela agitada Paris sempre lhe intuíam inovações em seus trabalhos. Como poucos artistas de seu tempo, conseguiu fazer uma arte de transição, sem agredir. Acima de tudo, era extremamente elegante em tudo que fazia.

Raimundo de Madrazo faleceu em Versalhes, no ano de 1920.

RETRATADO PELO PRÓPRIO PAI: 

FEDERICO DE MADRAZO
Retrato de Raimundo de Madrazo y Garreta
Óleo sobre tela - 1857

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

WILLIAM BOUGUEREAU - Parte 2

WILLIAM BOUGUEREAU - Admiração - Óleo sobre tela - 147 x 200 - 1897

WILLIAM BOUGUEREAU - Mulher de Cervara e sua criança
Óleo sobre tela - 109,2 x 83,2 - 1861

Ao longo da História da Arte, é de praxe que estilos e movimentos se alternem como gostos populares. É normal que artistas se tornem as “estrelas da vez” e conquistem fama e prestígio imensuráveis. Evidentemente, isso nem sempre acontece da maneira mais amigável possível, porque na Arte, como em nenhum outro lugar, os egos se inflamam de uma maneira desproporcional. Quem está no domínio do cenário não quer perder as rédeas e quem está para assumir o espaço, faz o impossível para conquista-lo. Os anos finais do século XIX testemunharam uma das batalhas mais ferrenhas que já aconteceram no campo das artes. A França foi o palco de toda essa controvérsia, uma vez que estava à frente dos acontecimentos culturais da Europa. O Academicismo, que dominava a cena no momento, se viu açoitado, humilhado e vencido pelas correntes modernistas, que jogaram com todas as cartas que podiam e não pouparam ninguém. William Bouguereau, o grande defensor do ensino acadêmico e o nome de destaque daquela época, serviu como uma espécie de bode expiatório para essa batalha. Batalha que lhe custou a glória e os méritos, conquistados por toda uma vida dedicada ao que mais gostava de fazer.

WILLIAM BOUGUEREAU - A primeira discórdia, Caim e Abel
Óleo sobre tela - 196,2 x 150,5 - 1861

WILLIAM BOUGUEREAU - Biblis - Óleo sobre tela - 50 x 80,5 - 1884

Mas, o que realmente aconteceu para que as coisas chegassem a tal ponto? Como pode, alguém que era considerado o mais competente artista vivo de seu tempo, se transformar no mais desprezível artista do momento, a ponto de ter seu nome apagado de todas as futuras enciclopédias e livros? O que leva um artista do nível de Bouguereau, ter seus quadros escondidos nos depósitos de museus durante décadas? Por que, de uma hora para outra, aquele que era a referência maior do ideal artístico, se tornara a referência do que deveria ser evitado? Para responder a essas perguntas e ser imparcial com os resultados das respostas que sucederam àquele triste período, é preciso conhecer um pouco mais como tudo se passava naquela época, principalmente com Bouguereau, o mais prejudicado com tudo aquilo acontecido naquele período.

WILLIAM BOUGUEREAU
A flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo
Óleo sobre tela - 309 x 210 - 1880

WILLIAM BOUGUEREAU - Pietá
Óleo sobre tela -222,9 x 149,2 - 1876

William Bouguereau se adequou com todas as forças possíveis para aquilo que sonhou um dia para sua arte, tornar-se um verdadeiro artista acadêmico. Mas, o que vem a ser Academicismo e o que isso trouxe para o cenário artístico mundial? Academismo é um método de ensino nascido no século XVI, fruto maior das ideias renascentistas. Em meados do século XIX, essa corrente de pensamento chegou a obter uma influência dominante. As academias davam grande valor ao que foi experimentado e consolidado pelos antigos mestres, realçando ainda mais os ensinamentos deles baseados na tradição clássica. Além de ter um caráter estético, havia também uma ética, através da qual era traçada toda a proposta pedagógica de quem se propunha a tornar um acadêmico. Um dos objetivos maiores idealizados na tradição acadêmica, é que a arte educasse o público; não só apenas os artistas que a praticavam; mas também a todos aqueles que a admirassem de alguma forma. E que essa educação proposta, transformasse toda a sociedade para melhor. Como sempre dependeu dos poderes de cada governante, os artistas acadêmicos acabavam sendo envolvidos por compromissos políticos e sociais. Graças a essa organização que funcionava muito bem, muito do que existe hoje como referência de museus e galerias de arte, nasceram da vontade acadêmica de preservar a cultura e deixa-la para todas as gerações futuras.

WILLIAM BOUGUEREAU - O nascimento de Vênus
Óleo sobre tela - 300 x 217 - 1879

WILLIAM BOUGUEREAU - Um vento natural - Óleo sobre tela - 1881

Para ser um artista acadêmico, no rigor da palavra, o caminho era bastante árduo. Havia todo um aprendizado sistemático e graduado, ministrado por um mestre competente, que repassava os ensinamentos de mestres do passado. Além de todo o aparato teórico, obtido em anos de profundo estudo, que abrangiam as mais variadas áreas de ensino (História, Filosofia, Mitologia, Poesia, Religião...), o artista precisava ser, acima de tudo, muito eficiente em sua profissão. A habilidade para a execução de um desenho rigoroso era indispensável, pois nele estava toda a base da obra acadêmica. Era pelo desenho preciso que se estruturava toda a composição no início da obra, como também permitia alterações seguras no decorrer dela. Tudo começava com inúmeros esboços preparatórios, onde todos os elementos da obra eram posicionados minuciosamente. O conhecimento de anatomia era exigido com rigores extremos, uma vez que toda composição acadêmica estava situada em torno da figura humana.

WILLIAM BOUGUEREAU - Uma bacante e uma cabra - Óleo sobre tela - 160,5 x 228 - 1862

WILLIAM BOUGUEREAU - O retorno da colheita - Óleo sobre tela - 241,3 x 170,1 - 1878

Bouguereau não só se muniu de todos os atributos citados anteriormente, como conseguiu supera-los em todos os quesitos. Impressionava, acima de tudo, a suavidade e a textura que conseguia na reprodução da pele humana e como representava impecavelmente as formas e gestos obtidos nas mãos, pés e faces de seus personagens. O perfeccionismo não era uma exigência trilhada por Bouguereau, mas, uma normalidade. Cada centímetro de sua tela era minuciosamente trabalhado, mantendo um acabamento de altíssima qualidade. As marcas de pincéis eram praticamente invisíveis, fundidas em laboriosos esfumatos. Ele parecia sempre insatisfeito com os resultados, retocando as composições, mesmo depois de dá-las por terminadas. A consequência disso tudo era a excelência dominada com anos e anos de execução. Bouguereau era a referência maior em todos os lugares que passava e conquistava todos os prêmios que almejava e concorria. O domínio profundo das normas acadêmicas lhe trouxe cargos importantes, tanto nas escolas, como junto ao poder que as financiava. Começava assim, um perigoso caminho na vida do artista.

WILLIAM BOUGUEREAU
Zenóbia encontrada pelos pastores nas margens do Araxes
Óleo sobre tela - 148 x 118 - 1850

WILLIAM BOUGUEREAU - Dante e Virgílio no inferno
Óleo sobre tela - 280,5 x 225,3 - 1850

Paris era, inevitavelmente, a meca cultural do mundo naquele momento, e o Salão, a grande vitrine que testemunhava esse domínio cultural. O Salão era um evento competitivo, que tinha um caráter artístico, mas também comercial. Era ali que os artistas consagrados se exibiam e também era ali que os iniciantes tinham a oportunidade de se projetar para o mundo das artes. O acesso ao Salão não era nada fácil, pois os acadêmicos eram os organizadores do evento, e utilizavam dele como uma ferramenta poderosa no controle do que deveria ou não ser produzido pelos artistas naquele momento. Já que a meta do Academicismo sempre foi implantar um sistema que prezasse pelo culto às referências clássicas, serviam para ingressar ao salão somente as obras que se encaixassem nas temáticas históricas, religiosas ou mitológicas. Essa espécie de controle da liberdade de expressão, com o passar dos anos, já era visto com desconfiança por muitos artistas. O próprio público já começava a ficar entediado em ver corredores e mais corredores de obras com as mesmas temáticas. Mas, nem mesmo assim os organizadores do Salão cediam. Bouguereau, como um dos líderes do movimento acadêmico naquele momento, e presidente da Sociedade dos Artistas Franceses, a mesma que organizava e ditava as normas do salão, começou a instituir severas restrições a obras que não se encaixassem nos propósitos da instituição e do evento, irritando ainda mais as novas propostas artísticas que desejavam um espaço para expor. A lista de trabalhos recusados na seleção para o salão enchia galpões e aumentava ainda mais a ira dos adversários àquele sistema.

WILLIAM BOUGUEREAU - Oréadas - Óleo sobre tela - 236 x 182 - 1902

WILLIAM BOUGUEREAU - A primeira manhã - Óleo sobre tela - 203 x 252 - 1888

Os tempos acenavam mudanças significativas em todas as direções. A classe média, que começava a frequentar os salões e se tornar um importante comprador de obras, e que nem sempre tinha a mesma bagagem cultural da elite dominante, para absorver a arte clássica de até então, começava a abrir os olhos para outros tipos de manifestações. Queriam ver ali, também expostas, obras do cotidiano de todos, cenas pitorescas e realistas, bem como temas exóticos, como os da Idade Média ou do Oriente. Muitos artistas, há tempos já produziam dentro dessas novas propostas, mas, esses nunca conseguiam oportunidade para expor no grande salão. O próprio Bouguereau, à partir da década de 1860, começou a livrar da produção histórica e religiosa, com temática rigorosamente acadêmica, que sempre foi a marca de sua reputação. Como o gosto dos clientes mudava, ele adaptava facilmente a eles. Produzindo séries intermináveis de nus, cada vez mais sensuais e provocantes, bem como anjos e cupidos entregues à mais deleitosa perdição. Nesse momento, seus opositores o atacavam ainda mais ferozmente, afirmando que ele prostituía sua arte e seus propósitos, em nome de dinheiro e status. Ele defendia, afirmando que apesar de mesmo produzindo algo popular, ainda o fazia com classe e rigores técnicos, e não tinha culpa, se os outros não conseguiam fazer o mesmo.

  
Esquerda: WILLIAM BOUGUEREAU - Momentos do dia, Aurora - Óleo sobre tela - 124,4 x 63,7 - 1881
Centro: WILLIAM BOUGUEREAU - Momentos do dia, Crepúsculo - Óleo sobre tela - 1882
Direita: WILLIAM BOUGUEREAU - Momentos do dia, Noite - Óleo sobre tela - 208,2 x 107,3 - 1883

Se havia motivos que irritassem os adversários de Bouguereau, ele parecia já ter provocado todos. Suas obras atingiam valores astronômicos. Corria até uma piada dizendo que ele perdia cinco francos, toda vez que largava seus pincéis para urinar. Esse tipo de extravagância só nutria a inveja e a ira dos que iam em desencontro aos seus propósitos. Muitos artistas, que praticamente viviam em petição de miséria, não se conformavam em ver as oportunidades restritas nas mãos de uma minoria elitizada de artistas. Os modernistas, principalmente os impressionistas, que há anos buscavam algum espaço, já caíam no gosto da nova classe consumista, pois começavam a expor e conquistar um público considerável nos salões alternativos, já que eram sistematicamente recusados nos salões principais. Foram justamente eles, os mais implacáveis contra Bouguereau e seus seguidores. Degas, um dos ícones do movimento impressionista, chegou a criar o termo “bougueresco”, como um sinônimo pejorativo a tudo aquilo que lembrava o que era produzido por Bouguereau e sua turma. O Academicismo já era visto por muitos como artificialidade, um sistema que se embotava por falta de originalidade e que minava a criatividade dos que queriam produzir algo inusitado.

WILLIAM BOUGUEREAU - Na fonte
Óleo sobre tela - 142 x 86,5 - 1897

WILLIAM BOUGUEREAU - Uma infância idílica - Óleo sobre tela - 102 x 130 - 1900

Os modernistas atraíam vários artistas para sua briga, principalmente porque defendiam um movimento sem amarras, onde a liberdade de expressão era ilimitada. Com os modernistas dominando todos os olhares e atraindo a atenção de marchands, colecionadores e novos espaços de exposição, o período acadêmico chegou ao fim. Pelo menos, a tirania imposta pelos líderes do movimento foi cedendo paulatinamente ao gosto da população e principalmente dos artistas. As obras acadêmicas já não vendiam mais e literalmente desapareceram do mercado. Os seus artistas foram caindo no esquecimento e se tornou difícil ouvir qualquer referência sobre eles até mesmo nas escolas de arte, a não ser como um exemplo do que não fazer. Ficou evidente que a oposição contra os artistas acadêmicos, principalmente Bouguereau, se deu pelo fato de, principalmente ele, ser tecnicamente bom demais no que fazia, ter produzido fortuna quando muitos mal sobreviviam do que produziam e principalmente não ter sido mais tolerante com as vanguardas que conviviam e produziam naquele período, uma vez que estava na liderança das instituições e tinha forte opinião junto aos governos. Todo sistema que se torna arrogante, terá adversários ao longo do caminho.

WILLIAM BOUGUEREAU - A família sagrada
Óleo sobre tela - 137 x 108 - 1863

WILLIAM BOUGUEREAU - Amor fraternal
Óleo sobre tela - 147 x 103,7 - 1851

Até o início do século XX, as obras de Bouguereau eram disputadas avidamente e compradas por milionários de várias regiões da Europa e Estados Unidos. Para muitos, ele era considerado o mais importante artista francês de todos os tempos. Porém, depois de 1920, devido a forte influência de críticos de arte sobre o que gostar e colecionar, e principalmente por Bouguereau ter se posicionado tão fortemente contra os impressionistas, ele foi caindo no descrédito. Durante décadas, seu nome foi esquecido e sequer mencionado nas muitas enciclopédias que foram surgindo ao longo do século XX. Muitos museus, praticamente esconderam seus quadros. Por cerca de sete décadas, Bouguereau se tornou praticamente inexistente, até que, em 1974, uma primeira exposição com obras suas, montada no Museu de Luxemburgo, causou alguma sensação. Em outras mostras montadas nos anos seguintes, alguns críticos contemporâneos ainda insistiam na tecla de que sua obra era vazia e árida, mesmo reconhecendo nele a genialidade técnica quase incomparável.

WILLIAM BOUGUEREAU - Alma Parens - Óleo sobre tela - 230,5 x 139,7 - 1883

Curiosamente, a tirania imposta pelos acadêmicos aos modernistas, quando estavam no poder, é a mesma imposta pelos contemporâneos que dominam o atual cenário. Vê-se claramente que o que está em jogo não é a eficiência ou a produção dos artistas que ainda executam trabalhos acadêmicos ou similares, nem dos muitos mestres passados que tanto contribuíram para que a arte chegasse até aqui, mas, a ameaça do controle de galerias e instituições que lucram fortunas com a venda dos artistas que estão no topo do mercado. Por isso, críticos de arte se tornaram vendedores de novidades e influenciam fortemente a opinião daqueles que não tem discernimento suficiente para escolher um trabalho para adquirir. Tanto naquela época, quanto nessa, a ganância cega os olhos para a verdadeira arte e impõe aquilo sobre o que as pessoas sequer entendem. Se naquela época, as obras acadêmicas foram criticadas por não serem acessíveis à maioria, o pior acontece nos tempos atuais. Exposições são montadas com obras que precisam de quase um formulário para poder explica-las. Não são acessíveis nem mesmo para quem está no mercado de arte.

WILLIAM BOUGUEREAU - A batalha dos Centauros e Lapiths
Óleo sobre tela - 124,5 x 174,3 - 1853

WILLIAM BOUGUEREAU - Pequenas pedintes - Óleo sobre tela - 161 x 93,5 - 1890

Lamentável é ver como um artista, com as qualidades técnicas que possuía um Bouguereau, seja relegado ao isolamento, por um puro capricho daqueles que o temiam fortemente naquele período. Em 2000, o Art Renewal Center, fundado por Fred Ross, artistas e colecionadores favoráveis às belas-artes, vem defendendo os valores anteriormente conquistados pelos trabalhos acadêmicos. A crescente demanda por obras e a grande procura por artista produtores de belas-artes é uma realidade em todo o mundo. A internet tem colaborado bastante para isso, pois, sendo uma galeria aberta e imparcial, as pessoas fazem livremente as suas escolhas. Resta esperar por um dia, onde o respeito às manifestações artísticas, de qualquer espécie, seja o ponto alto da natureza humana. Sendo a única espécie nesse planeta a produzir arte, pelo menos intencionalmente, o homem é bem melhor do que essa mesquinha luta de mercados que existe por aí. Para aqueles que produzem arte, e a fazem com a melhor das boas intenções e prazer, uma frase deixada por Bouguereau continua mais atual do que nunca:

“A cada dia entro em meu estúdio cheio de alegria; à noite, quando a escuridão me obriga a deixá-lo, mal posso esperar pelo dia seguinte. Se eu não pudesse devotar-me à minha amada pintura eu seria um pobre coitado.”

WILLIAM BOUGUEREAU - Autorretrato
Óleo sobre tela - Coleção particular 46 x 38,4 - 1886

domingo, 4 de setembro de 2016

WILLIAM BOUGUEREAU - Parte 1

WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas (detalhe)

WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas - Óleo sobre tela - 117 x 90 - 1865

Há uma vasta literatura sobre William Bouguereau, tanto impressa quanto virtual. Um dos mais competentes artistas de todos os tempos, também é um dos mais polêmicos; que tem um número cada vez maior de admiradores e seguidores e que no passado também foi um dos artistas mais injustiçados da história. Esquecido após sua morte, por causa da crítica impiedosa e implacável de seus opositores, William Bouguereau ficou quase sete décadas no anonimato, vindo a ressurgir com toda força na década de 70 do século passado. Confirmando aquela máxima de que “ninguém morre, enquanto for lembrado”, Bouguereau voltou a cena artística da maneira mais honrosa possível: respeitado pela nova corrente realista acadêmica de todo o mundo, que viu nele a referência máxima do ideal artístico, especialmente a nível técnico.

WILLIAM BOUGUEREAU - A abdução de Psiqué
Óleo sobre tela - 209 x 120 - 1895

WILLIAM BOUGUEREAU - A juventude de Baco - Óleo sobre tela - 331 x 610 - 1884

Bouguereau teve o privilégio de viver num período onde o academicismo estava em alta e acabou se tornando um dos maiores defensores dessa corrente de ensino. Essa, aliás, talvez tenha sido também a causa maior da perseguição que teve por parte dos modernistas que emergiam no final do século XIX. Também o fato de ter agradado a grande classe colecionista e aristocrática de seu tempo, possa ter feito dele um alvo de inveja por parte de artistas e críticos. Muitos jornais e periódicos do início do século XX chegaram a classificar Bouguereau como o modelo do artista que deve ser evitado, por fazer um trabalho vazio e artificial. Isso se tornou uma cruz pesada no final de sua vida, mas nunca abalou os propósitos de sua arte. Bouguereau sabia nitidamente aquilo que queria fazer e o fez até os seus últimos dias. Mesmo nos tempos atuais, há um público muito dividido com relação aos seus trabalhos.

WILLIAM BOUGUEREAU
Cupido e Psiqué como crianças
Óleo sobre tela - 200 x 116 - 1889

WILLIAM BOUGUEREAU - Lamour piqué
Óleo sobre tela - 116,5 x 62,5 - 1894

William-Adolphe Bouguereau nasceu na cidade (comuna) francesa de La Rochelle, a 30 de novembro de 1825, filho do casal Théodore Bouguereau e Marguérite Bronnin. Comerciantes, mudaram para Saint-Martin, quando William Bouguereau tinha apenas 7 anos, para começarem uma nova vida nos negócios. Mas não vieram para a cidade num período muito próspero e acabaram atravessando um momento muito difícil. As coisas se agravaram a tal ponto, que William foi encaminhado para viver com o tio Eugène Bouguereau, um membro de melhores posses na família. A sorte não podia ter sorrido de maneira melhor para o pequeno artista. Eugène tinha uma rica cultura, alicerçada principalmente nas referências clássicas, na literatura francesa e no ensino religioso. O mesmo tio que possibilitava e exigia do sobrinho aprender latim, também era o mesmo que cobrava rigores em aprendizados como caça, equitação e gosto por temas ecológicos.

WILLIAM BOUGUEREAU - Contemplando a criança - Óleo sobre tela - 76,2 x 95,2 - 1871

WILLIAM BOUGUEREAU - Distração - Óleo sobre tela - 61 x 50,2 - 1868

Localizada na região administrativa de Poitou-Charentes, Pons é uma cidade (comuna) francesa localizada no departamento de Charente-Maritime. Naquela época, possuía uma escola de referência em todo o país, e é para onde William foi enviado pelo dedicado tio, no ano de 1839. Numa instituição religiosa austera, a intenção do tio era que o sobrinho aprofundasse ainda com mais critério nos conhecimentos clássicos. Ali, William aprendeu praticamente de tudo disponível até aquele momento sobre o mundo antigo, desde a Mitologia Grega à história de todos os continentes, passando pelos mais renomados poetas da antiguidade, como Ovídio e Virgílio. Simultaneamente, fazia aulas de desenho com Louis Sage, um antigo aluno do neoclassicista Ingres.


WILLIAM BOUGUEREAU - Convoitise
Óleo sobre tela - 65,4 x 44,1

WILLIAM BOUGUEREAU - Adormecendo - Óleo sobre tela - 61,6 x 51,4

A família de William Bouguereau recuperou-se do mau momento financeiro e o filho voltou a morar com o casal em 1841. Eles foram inclusive, tentar novos negócios em Bordeaux. Mesmo que dedicasse bastante para seguir o ramo do pai, os desenhos que William fazia em seus intervalos atraíam imensamente a atenção dos clientes da família. Foi pela insistência desses, que o pai de William o matriculou na Escola Municipal de Desenho e Pintura, sob os cuidados de Jean-Paul Alaux. Os avanços foram tão rápidos, que já em 1844, o iniciante artista recebe seu primeiro Prêmio em Pintura. Na procura por ajudar os negócios da família, William ainda elaborava rótulos para produtos alimentícios.

WILLIAM BOUGUEREAU - Ninfas e sátiro
Óleo sobre tela - 260 x 180 - 1873

WILLIAM BOUGUEREAU - Le livre d'heures
Óleo sobre tela - 66 x 53,3 - 1867

Em 1846, acontece um passo decisivo na carreira de William. Por uma recomendação de seu mestre Alaux e mediante as economias feitas com a produção de retratos na cidade onde morava, ele é admitido na Escola de Belas Artes de Paris, instituição que se tornaria um marco em sua vida. Foi com François-Édouard Picot que William se aperfeiçoou no método acadêmico e nunca desvencilharia dele. A dedicação e o envolvimento era tão intenso, que o jovem aluno chegava a pintar e desenhar por cerca de vinte horas por dia e mal se alimentava. Não bastassem os ensinamentos próprios de seus estudos, assistia a dissecações de cadáveres para se aprimorar no desenho anatômico e também fazia Arqueologia e História. O resultado já se fazia evidente em seus trabalhos, que mesmo em início de carreira, já se mostravam completamente bem acabados e resolvidos. Um fato inédito aconteceu nessa época, quando ele, iniciante em salões, dividiu o primeiro prêmio com Gustave Boulanger, o Prêmio de Roma, nome dado ao prêmio máximo entregue pelo Salão de Paris e o mais cobiçado daquela época. Uma espécie de oscar da pintura naqueles tempos. Dois anos depois, ele venceria o prêmio mais uma vez. Os caminhos já estavam mais que solidificados para o artista.

WILLIAM BOUGUEREAU - Blessures d'amour
Óleo sobre tela - 191,8 x 114,3 - 1897

WILLIAM BOUGUEREAU - Depois do banho
Óleo sobre tela - 178 x 88,5 - 1875

Mas, William Bouguereau sentia uma vontade de aprendizado que não cessava. Ele monta um estúdio na Villa Medici, em Roma, e mais uma vez se põe a estudar e aprender. Agora, com os mestres do renascimento italiano. Ele teve orientações de Victor Scnetz e Jean Alaux nessa sua nova fase. Rafael tornou-se a referência mais admirada por Bouguereau. Ele não só gostava de tudo que ele havia produzido, como o achava um dos mais originais artistas do renascimento italiano. Giotto foi outro artista italiano que muito inspirou Bouguereau, chegando a reproduzir todos os seus afrescos contidos na Basílica de Assis. Muitos artistas já consagrados elogiavam e referenciavam Bouguereau e suas obras. Ele já era agora um artista de respeito e bastante procurado.

WILLIAM BOUGUEREAU - A lição
Óleo sobre tela - 116,8 x 80,6 - 1895

WILLIAM BOUGUEREAU - Admiração maternal
Óleo sobre tela - 116,8 x 90,8

Com a vida profissional em avanço contínuo, Bouguereau casa-se com Marie-Nelly Monchablon, no ano de 1856. Eles teriam cinco filhos e Bouguereau perderia quatro deles, ao longo de sua vida. Começava ali uma de suas décadas mais promissoras, com obras que praticamente o consagrariam com uma das maiores revelações de sua época. Pintou retratos para o imperador e sua família, decorou espaços públicos e produziu vários trabalhos no estúdio. Se até então, seus trabalhos eram evidenciados pela produção histórica e religiosa, a década de 1860 viria nascer um Bouguereau diferenciado, que atendia ao gosto do público requintado e culto de Paris. Sua paleta ganha novas cores e o nível técnico de seu trabalho atinge o ápice.

WILLIAM BOUGUEREAU - Homero e o seu guia
Óleo sobre tela - 209 x 143 - 1874

WILLIAM BOUGUEREAU - Menina com uma romã
Óleo sobre tela - 56,9 x 45,7 - 1875

De relacionamento fácil no meio artístico, Bouguereau estabelece fortes laços de amizade com Jean-Marie Fortuné Durand e seu filho Paul Durand-Ruel. Conhecidos marchands na cidade, apresentam a ele Adolphe Goupil, mais um comerciante das artes que sabia os caminhos das grandes coleções particulares. Bouguereau passa a participar efetivamente dos salões que aconteciam na capital francesa e a colecionar títulos em sequência. Sua fama não se restringia somente à França. Da Inglaterra, viriam várias encomendas importantes. O momento econômico favorável permitiu que ele comprasse uma mansão em Montparnasse.

WILLIAM BOUGUEREAU - Moissonneuse
Óleo sobre tela - 106,5 x 85 - 1868

WILLIAM BOUGUEREAU - Todos os santos - Óleo sobre tela - 61 x 50,8

A Guerra entre a França e a Prússia, em 1870, mudaria um pouco a rotina de Bouguereau. Ele deixa a família em Londres, onde passavam férias e retorna a Paris, para ajudar na defesa de barricadas, mesmo já sendo isento do serviço militar, devido a sua idade. Findo o período de batalhas entre os dois países, volta suas atividades, decorando catedrais e realizando vários retratos. Sua vida intercalava momentos de muita alegria e reputação, com momentos tristes, com a perda de entes queridos. As aulas na Academia Julian, iniciadas nessa mesma época, eram um alento para o período.

WILLIAM BOUGUEREAU - Frère et souer
Óleo sobre tela - 180,5 x 81,2 - 1887

WILLIAM BOUGUEREAU - O caranguejo
Óleo sobre tela - 81,3 x 65,4 - 1869

Um dos períodos mais tristes da vida particular do artista aconteceria em 1877, quando falecem sua esposa e, dois meses depois, um de seus filhos. Como que por compensação, o artista se isola ainda mais em seu trabalho, produzindo a partir dali, as suas obras maiores e mais ambiciosas. Em 1878, a grande medalha de honra, na Exposição Universal o coroava ainda mais no meio artístico. Em 1879, William fica noivo de Elizabeth Gardner, com quem só viria a casar em 1896, pois a família não era muito conivente com a união.

WILLIAM BOUGUEREAU - Na praia
Óleo sobre tela - 95,9 x 61,6 - 1903

WILLIAM BOUGUEREAU - Pescando
Óleo sobre tela - 137,2 x 106,7 - 1882

Enquanto na década de 1880, sua carreira chegava ao auge, produzindo grandes encomendas e realizando obras importantes, recebendo inclusive o Prêmio de Comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra, começava também o embate com grupos pré-modernistas. Como era presidente da Sociedade dos Artistas Franceses, a mesma que organizava e administrava os salões, William tinha opiniões bastante rigorosas quanto a seleção e exposição das obras em cada evento. As discussões ficaram cada vez mais sérias, a ponto de em 1889, um grupo liderado por Ernest Meissonier criar a Sociedade Nacional das Belas Artes, que passou a realizar um salão dissidente. Isso começou a afetar bastante a imagem de Bouguereau junto ao meio artístico francês. Se por um lado, as coisas não iam bem “em casa”, o mesmo não podia se dizer do seu reconhecimento fora, onde era homenageado na Alemanha e na Inglaterra.

WILLIAM BOUGUEREAU - O lanche da manhã
Óleo sobre tela - 90,8 x 55,9 - 1887

WILLIAM BOUGUEREAU - A onda - Óleo sobre tela - 121 x 160,5 - 1896

Golpe maior aconteceria em 1900, quando morre o quarto filho de Bouguereau, Paul. A partir daquele momento, William já não teria mais uma saúde estável e em 1902, um problema cardíaco o deixaria ainda mais debilitado. Momentos de reconhecimento e de alegria viriam com a aclamação de sua obra enviada à Feira Mundial, principalmente com o título que faltava em sua vida: Grande-Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra, em 1903. Bouguereau ainda teria tempo para as celebrações do centenário da Villa Medici, em Roma e uma rápida viagem a Florença. Muitos convites para homenagens e condecorações vinham de várias cidades da Europa, mas a sua saúde já não permitia mais tantas viagens. Com a saúde cada vez mais precária, já não consegue nem mais pintar, nos meses finais de 1904. Pressentindo sua morte iminente, ele se refugia onde começou sua vida, em La Rochelle, mudando-se para lá em julho de 1905. Ali, morreria no mês seguinte, dia 19 de agosto.

WILLIAM BOUGUEREAU - Autorretrato
Óleo sobre tela - 46 x 38 - Coleção particular - 1879