terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

VALOR TONAL


A escolha inteligente de uma quantidade de tons (3 ou 4) para a composição
acima, feita pelo artista Vinícius Silva, resultou em uma composição de
grande impacto e que sugere imediatamente uma cena pintada sob
luz forte, típica da metade do dia. Observando a pintura em cores, percebe-se
que nem é necessária uma quantidade muito variada de matizes (cores),
para que o resultado ganhe volume e solidez.

VINÍCIUS SILVA - Estrada com araucária - Óleo sobre tela

Acredito que para a grande maioria dos leitores que estará tendo acesso a esse texto, não estarei falando nenhuma novidade. Mas, o assunto é de tamanha importância em qualquer prática artística, que falar sobre ele mais vezes e recordar sempre, nunca é excesso.
O valor tonal é algo tão importante em um desenho e pintura quanto a própria capacidade de saber desenhar e pintar. Aliás, sem a aplicação correta dos tons, linhas e pinturas correm o risco de nunca expressarem aquilo que seu criador desejou. Podemos definir o tom como a medida de claridade ou escuridão de um desenho ou pintura. Nunca confundir tom com matiz ou intensidade, esses se referem à cor. É o tom que define a quantidade de luz que realmente chega a nossos olhos. Embora cada cor pareça ter a sua tonalidade própria, essa pode ficar mais ou menos intensa dependendo da quantidade de luz que incida sobre ela. Experimente colocar o mesmo objeto sob uma iluminação intensa e depois em um ambiente escuro. Em seguida, compare como a cor desse objeto que você observa em um local, parecerá completamente diferente em outro. Um vermelho sob uma luz bem forte pode parecer laranja, assim como o mesmo vermelho em um ambiente escuro parecerá um marrom.


A escolha por um número maior de tons, em uma composição, é algo bastante
pessoal. Para essa cena, optei por uma escala tonal maior, que procurasse
realçar os vários planos que existem até o infinito.

JOSÉ ROSÁRIO - Indo pra cidade
Óleo sobre tela - 50 x 80 - 2011

Nunca devemos esquecer que quando há luz, há sombra. É a conjugação perfeita desses dois elementos que nos permite a correta sensação de volume. Uma das melhores maneiras de entender e visualizar esse conceito, é observar uma fotografia em preto e branco. Ali não há cor, apenas tom. Vários tons, aliás, que vão desde o branco ao preto, passando por uma infinidade de cinzas. E, no entanto, é possível ver e distinguir cada coisa ali contida, sem que cada objeto ou plano se misture. Por incrível que possa parecer, o melhor pintor não é aquele que sabe produzir as mais belas cores, mas aquele que sabe equilibrá-las tonalmente em sua composição, conseguindo volumes e profundidades convincentes.


Nessa pintura elaborada com valores tonais bem altos, quase não não se
observa tons escuros. Os contrastes são bem sutis, o que sugere uma
pintura leve e quase etérea.

EMIL CARLSEN - Paisagem de primavera
Óleo sobre tela - 86,5 x 96,5 - 1904

Há uma infinidade de tons, que vai do branco mais intenso ao preto mais profundo. Perceber todos eles é uma capacidade restrita apenas para máquinas. À olho nu, conseguimos observar facilmente somente até nove deles. Uma pintura já se tornaria perfeitamente legível com a correta utilização de três tons bem definidos, mas, a utilização de seis, sete ou até nove tons, permite uma riqueza bem maior no volume e uma sensação bem maior de veracidade. Há um exercício bem simples, que pode ajudar a observar melhor os tons. Quando olhar para um objeto, aperte um pouco os olhos, de modo que as cores não tenham tanta influência na sua observação. Essa espécie de filtragem, fará com os tons apareçam com bem mais facilidade. Quanto mais prático estiver na observação dos tons, verá que uma boa pintura é exatamente aquela que foi feita com o menor número e o uso correto deles.


Ao contrário da pintura anterior, essa composição criada por Thomas Moran
sugere um clima de suspense e tensão. Valores tonais bem baixos propiciaram
essa atmosfera.

THOMAS MORAN - Paisagem ao crepúsculo (Fuga para o Egito)
Óleo sobre tela - 38 x 68,5 - 1878

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CLARK HULINGS - Burro com carruagem - Nanquim sobre papel

A enorme experiência acumulada ao longo de sua carreira, fez com que Clark Hulings
dominasse perfeitamente o uso correto dos tons. Usando a mesma técnica, veja
como conseguiu resultados completamente diferentes. Acima, o nanquim é
aplicado em traços, por isso, os tons são conseguidos pela variedade de espessura
dos mesmos, bem como pela sobreposição em determinados locais. Abaixo, a
mesma técnica foi empregada em aguada com pincéis, criando uma
sensação quase fotográfica ao volume.

CLARK HULINGS - Grande esforço - Nanquim sobre papel

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Um excelente artigo, bem mais abrangente sobre esse tema, pode
ser acessado no link abaixo:



4 comentários:

  1. José Rosário, por tal, sempre insisti com meus alunos da necessidade do aprendizado do desenho, pois é no desenho que se domina a técnica tonal e se exercita a visão a perceber a tonalidade em profundidade.
    Na arte realista não se alcança a maestria sem o perfeito domínio da tonalidade.
    Excelente artigo.
    Luz e paz. Um grande abraço.
    S. Quimas

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    1. Sim, completamente de acordo.
      Costumo dizer que, se quer avaliar o resultado de um quadro, fotografe-o e converta a imagem para preto e branco. Verá todas as possíveis correções tonais.
      Grande abraço, Quimas!

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  2. José Rosário,

    Mesmo que não seja novidade para muitos, sua abordagem foi esclarecedora, e os exemplo muito bem escolhidos.
    Um ótimo artigo!

    Abraços,
    Thiago Costa

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    Respostas
    1. Obrigado, Thiago. Pela vinda e pela participação.
      Mesmo sendo um tema costumeiro dos que já lidam com a arte há mais tempo, sempre vale uma revisita ao assunto.
      Grande abraço!

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