SÉRGIO FERRO - Van Gogh Preno Pour Jacopo Pontormo
Acrílica e óleo sobre tela - 146 x 114 - 1986
Todos os fatos de nossa vida servem para edifica-la, como também para destruí-la. Em qualquer circunstância é possível aprender e tirar bom proveito de duvidosas situações. Muitos brasileiros foram exilados durante o regime de ditadura que se implantou no país no final da década de 60 e toda década de 70. Muitos se foram do Brasil e tiveram todo o curso de suas histórias alterado. Porém poucos souberam tirar proveito dessa nova situação em suas vidas, caso do paranaense Sérgio Ferro.
SÉRGIO FERRO - Barroque V
Mista sobre tela - 129 x 97
SÉRGIO FERRO - Barroque II
Mista sobre tela - 146 x 113
Sérgio Ferro Pereira nasceu em Curitiba aos 25 de julho de 1938. Em 1962 ele se formou em Arquitetura e Urbanismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, vindo ocupar, logo em seguida, o quadro docente da instituição, como assistente de ensino na cadeira de História da Arte. Nesse mesmo ano e até o ano de 1970, foi professor de Composição Plástica, História da Arte e Estética em várias faculdades de arte e arquitetura em Santos, São Paulo e Brasília. Porém, não é por envolvimento artístico, o grande episódio que viria mudar os rumos de sua vida.
SÉRGIO FERRO - Sem título
Mista sobre tela
SÉRGIO FERRO - Orfeu e Eurídice
Mista sobre tela - 161 x 129
Juntamente com Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, formavam o grupo denominado Arquitetura Nova, e através do movimento, elaboraram uma crítica com ótica marxista à produção arquitetônica instituída no Brasil, fato que despertou irritabilidade com os métodos até então vigentes. As atitudes do grupo tomaram rumos extremados, quando Ferro, Lefèvre e José Carvalho Oliveira, colocaram uma bomba-relógio no estacionamento do Conjunto Nacional em São Paulo , com a intenção de atingir a biblioteca do USIS e o consulado dos Estados Unidos.
SÉRGIO FERRO - Éden, cinco minutos antes
Mista sobre tela - 130 x 195
Principalmente devido à sua militância política e a severa perseguição militar que passou a sofrer, Ferro foi afastado do cargo que ocupava na Universidade de São Paulo e exilou-se na França, fixando residência em Grenoble. Também impossibilitado de exercer a sua profissão, a de arquiteto, passou a dedicar à atividade artística e ao magistério, lecionando em cursos de arte e arquitetura. Assim, entre o período de 1972 e 2003, lecionou na Universidade de Grenoble, na França.
À esquerda: SÉRGIO FERRO - Agnus dei - Mista sobre tela
À direita: SÉRGIO FERRO - Lille - Mista sobre tela
SÉRGIO FERRO - Paolo et Francesca
Mista sobre tela - 114 x 146 - 2001
Como citei no início da matéria, certos fatos direcionam nossas perspectivas de vida para caminhos inimagináveis. Tendo a arte como sua nova direção, Sérgio Ferro produziu diversas obras, todas muito bem situadas dentro do estilo próprio que lhe faria fama. Vi duas de suas obras em uma galeria paulista no ano de 1998 e senti a força de sua composição, mesmo não conhecendo ainda um pouco de sua história de vida.
SÉRGIO FERRO - Lisasyas
mista sobre tela - 97 x 130
SÉRGIO FERRO - Sisifo
Mista sobre tela - 96 x 130
Seus trabalhos parecem recortes de imagens de épocas distantes. A influência maneirista dos grandes mestres italianos daquele período é o ponto forte de sua obra. Aliado a isso, seguem incursões muito bem feitas em colagens, respingos, aplicações e toda série de interferências. Mas o que chama mesmo a atenção, em sua obra, é o respeito à primeira concepção do trabalho. Estão lá, meio que resistindo às mudanças do processo criativo, os primeiros traços, primeiros esboços que seriam o prenúncio de sua obra final. Aqueles ensaios que fazemos sem muita objetividade, e que por vezes acabam sendo esquecidos no fundo da tela, são levados à sério em todas as suas composições. Simples traços, mas que revelam todos os caminhos da composição.
SÉRGIO FERRO - Direito ao trabalho
Grafite, colagem e nanquim sobre papel - 107 x 77
SÉRGIO FERRO - Le-meintre
Mista sobre tela - 107 x 91 - 1989
Além da citada influência de Caravaggio e de seus contemporâneos, Ferro também coloca elementos atuais, como o chapéu da Spirit, uma personagem famosa de histórias em quadrinhos. Colagens e temas que condenam os excessos do nosso século, também estão sempre lá. Ele consegue falar do hoje, ilustrando com elementos do passado, porque a vida é mesmo assim, cíclica. Essa rica “sopa” de elementos recebeu o rótulo de “pós-moderno”, não que houvesse necessidade, mas porque certos críticos ainda fazem muita questão de identificar estilos.
SÉRGIO FERRO - Nature wort dux
Mista sobre tela
SÉRGIO FERRO - Sem título
Mista sobre tela - 114 x 147 - 2005
Como ele mesmo afirma, seu estilo é um pouco de experiência e linguagem própria. Na quase totalidade dos trabalhos há o historiador e o crítico de arte, que procura experimentar nos seus trabalhos, o que fizeram os mestres do passado. Como empregaram certa técnica, como ela reage e o que dela pode trazer para sua composição. A pequena parte, cerca de 10%, que ele bem frisa, é o seu próprio trabalho.
SÉRGIO FERRO - Etudes baroques
Acrílica sobre tela - 147 x 114 - 2004
SÉRGIO FERRO - La regret de Van Goch
Mista sobre tela - 92 x 73 - 2004
Já acostumado com as guinadas da vida, Sérgio Ferro continua assim sua trajetória. O trabalho, já consagrado e respeitado mundo afora, é mais uma das grandes referências a que o Brasil precisa aprender a se orgulhar.
À esquerda: SÉRGIO FERRO - Sem título - Acrílica e óleo sobre tela - 100 x 80
À direita: SÉRGIO FERRO - Les 4 temperaments etude pou le lymphatique
Óleo sobre tela - 100 x 80 -1999
DADOS MARCANTES:
- Entre 1982 e 1997, funda e dirige o laboratório Dessin/Chantier, em Grenoble.
- Recebe o prêmio de melhor pintor da Associação Paulista de Críticos de Arte-APCA, em 1987.
- Em 1979, publica o livro O Canteiro e o Desenho, em 1981 MICHELANGELO: Notas por Sérgio Ferro, e em 1998, Michel-Angel, Architecte et Sculpteur.
- Na década de 90, realiza diversos murais para várias instituições na França e no Brasil, como o Memorial da América Latina, em 1990 e o Memorial de Curitiba, em 1996 e em 2002.
- Na década de 90, realiza diversos murais para várias instituições na França e no Brasil, como o Memorial da América Latina, em 1990 e o Memorial de Curitiba, em 1996 e em 2002.
Sérgio Ferro
Há um dez anos atrás, ainda na faculdade de arquitetura, visitei uma galeria onde havia trabalhos do Ferro, e de mais alguns artistas que guardo com muito carinho, e foi uma daquelas experiencias que mudam o rumo que nossas vidas, ao ver pessoalmente o trabalho dele, e dos outros, pensei, "é isso que quero fazer" Grande artista, grande referencia, e uma boa lembrança.
ResponderExcluirFiquei muito feliz de ver os trabalhos dele aqui hoje!
Bom que comungue com minha opinião, Leonardo. Acho uma pena que o Sérgio Ferro ainda não seja merecidamente reconhecido em nosso país. É desconhecido inclusive por vários artistas. Obrigado pela visita!
ResponderExcluirEle é fantástico! Fui aluna dele e só recebi coisas boas.
ResponderExcluirQue inveja boa, sinto de você. Não é todo dia que se encontra um mestre assim pelo caminho. Abraço, Rachel!
ResponderExcluirEsplendida matéria José, já tinha ouvido falar deste artista, mas essa vida corrida por vezes me esqueci de procurar seu trabalho. É muito bom que você nos apresente. Extraordinário artista.Parabéns!
ResponderExcluirValeu Gianni. O Sérgio Ferro é extraordinário artista. Meio longe da mídia nos últimos tempos. Abraço!
ResponderExcluir