sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A PINTURA DE PAISAGEM NA INGLATERRA


THOMAS GAINSBOUROUGH - Paisagem com floresta e fazenda
Óleo sobre tela

THOMAS GAINSBOUROUGH - Regato
Óleo sobre tela - 147 x 180 - 1777

Há cerca de 500 anos foram executadas as primeiras pinturas com a inclusão de paisagens. Compunham os planos secundários de retábulos e cenários medievais e foram conquistando espaço de maior importância em diversas obras dos artistas do centro-norte europeu. Isso graças a uma série de fatores, em especial à Contra-reforma, que abriu a possibilidade de uma representação mais voltada para a vida terrena e por isso mesmo, mais próxima da realidade vivida pelos artistas. Com o passar dos anos, esse tema foi ganhando notabilidade em diversas partes do mundo. Na Inglaterra, em especial, teria desdobramentos bem importantes. Os grandes movimentos artísticos sempre foram mais destacados na porção continental da Europa, principalmente entre o eixo França/Itália. A Inglaterra, isolada geograficamente, parece sempre seguir de uma maneira discreta em quase todas essas ocasiões. Para a pintura de paisagens, porém, o mundo deve uma grande contribuição aos artistas desse país e essa injustiça já tem sido bastante redimida.


RICHARD WILSON - Tribunal Croome, Worcestershire, 1758 - Óleo sobre tela

Juntamente com o retrato, a pintura de paisagens gozou de um grande prestígio na Inglaterra do século XVIII, graças principalmente a Canaletto, que passou uma temporada de 9 anos por lá, executando as paisagens do interior do país. Canaletto viria a influenciar muitos outros artistas e é impossível não destacar, entre eles, Thomas Gainsborough e Joshua Reynolds. Declaradamente rivais, disputavam cada cliente da abastada aristocracia inglesa. Retratistas respeitados, introduziram na paisagem um nível mais elevado, representando esse tema com a mesma importância de seus clientes retratados. É bom também não se esquecer da contribuição e influência que deixou Richard Wilson para essa temática.


WILLIAM TURNER - Fort Vimieux - Óleo sobre tela - 71,1 x 106,7 - 1831 - Coleção particular

O Romantismo foi o grande movimento que deu ao tema paisagístico o status que desfrutamos dele hoje. Exaltando acima de tudo a tradição, esse movimento encontrou um solo fértil na Inglaterra e Escócia, países assumidamente tradicionalistas. No Romantismo, a natureza expressa aquilo que mais intimamente sentimos. Ela pode ser evidenciada pelos fenômenos naturais e pela interatividade com que o homem tem com ela. É nesse período que começam a ser representadas as grandes cenas, com paisagens imponentes e que nos transportam, muitas vezes, para um mundo de sonhos e fantasias. O Romantismo parece ser também o prenúncio para uma arte de apelo ecológico, que tenta resgatar nas pessoas um sentimento de solidariedade com a natureza, visto às agruras que o meio ambiente começa a sofrer com a Revolução Industrial. Mas, precisaria de mais alguns anos para que a paisagem viesse a ter a importância merecida.


WILLIAM TURNER - Velha ponte em Londres
Aquarela - 26 x 35,5 - Tate Gallery, Londres

JOHN CONSTABLE - Catedral de Salisbury do Jardim do bispo
Óleo sobre tela - 13,63 x 17,32 pol - Museu Metropolitano de Nova York

No século XIX, a pintura de paisagens alcança um patamar até então não atingido. Em parte, essa popularização se deu pela prática mais constante, entre os artistas, da pintura ao ar livre. Essa “nova maneira” de pintar só ganhou forças graças à invenção da bisnaga descartável para tinta. O ateliê já não precisava ser o característico laboratório de antes e a execução de obras ao ar livre criava um novo leque dentro das possibilidades de querer produzir algo. A intensidade de um contato mais próximo com a natureza e o simultâneo desinteresse pelos temas de paisagens alegóricas e míticas provocam uma renovação na pintura paisagística, em todas as partes do mundo por onde a representação desse tema tenha ocorrido.

JOHN CONSTABLE - Wivenhoe Park, Essex
Óleo sobre tela - 56,1 x 101,2 - 1816 - Galeria Nacional de Arte, Washington

Se em movimentos artísticos anteriores, como o Barroco e o Neoclassicismo, a Inglaterra deu uma contribuição modesta para a história da arte, com o Romantismo a pintura inglesa viria conquistar um prestígio e importância merecidos. Dois nomes elevam a Inglaterra ao grande patamar da pintura universal: Joseph Mallord William Turner e John Constable. Enquanto Turner busca inspirações nas obras de Claude Lorrain e na perspectiva precisa de Canaletto, Constable bebe na fonte de paisagistas holandeses do século XVII. Ambos provocam mudanças radicais na maneira como representar a natureza. Ao representar as mudanças de luz ao ar livre e o movimento das nuvens, Constable afasta-se definitivamente das convenções pictóricas do paisagismo. As referências de Turner são outras, mas o interesse pelo espaço atmosférico e pelo fenômeno da luz é idêntico. Só que nos trabalhos de Turner, a pintura parece explodir numa espécie de turbilhão, inundando a tela e envolvendo com um força estrondosa quem se coloque em sua frente e lhe empreste um momento de atenção. Tive o privilégio de admirar pessoalmente algumas obras desses dois artistas em duas mostras, uma em Munique e outra em Paris, em 1995. Constable foi o primeiro artista estrangeiro paisagista que influenciou a minha obra, numa época onde as informações só nos chegavam por livros e gravuras e o mundo não tinha ainda as praticidades da internet. Os dois viriam a se tornar referência obrigatória para um novo e grande movimento mais adiante, o Impressionismo.


SIR JOHN LAVERY - Numa ponte em Grez - Óleo sobre tela

SIR JOHN LAVERY - 12 de Julho
Óleo sobre tela

STANHOPE ALEXANDER FORBES - O terminal, Estação Penzance, 1925 - Óleo sobre tela

O Impressionismo teve uma temporada bem mais fértil em sua pátria mãe, a França. Na Inglaterra já não havia o apogeu vivido no início do século XIX, mas mesmo assim, surgiram ótimos representantes no estilo, com destaque para importantes paisagistas. O país recebeu, por várias vezes, visitas de diversos impressionistas, entre eles Sargent, Monet, Sisley e Lepage, que executaram vários trabalhos em solo inglês.


MICHAEL JAMES SMITH - Beira de rio, calmaria - Óleo sobre tela - 50,8 x 76,2

JAMES PRESTON - Verão no prado - Óleo sobre tela - 60 x 60

A entrada do século XX produziu na Inglaterra um fenômeno que se repetiu mundo afora: o termo paisagem não se restringiria mais ao campo, às planícies abertas, ao litoral ou altas montanhas. A cidade, agora com suas vilas e aglomerados cada vez mais numerosos, exibia um novo perfil. Casas, fábricas e todo tipo de construções solicitavam a criação de um novo termo: paisagem urbana. Definitivamente o homem estaria inserido nessas novas composições. A Inglaterra não produziu nenhum nome revolucionário na paisagem mundial nesse período, mas continua, até hoje; como é tradicional na pintura inglesa; ter uma produção constante e sempre lançar artistas com técnicas extraordinárias e com desafiadoras propostas. Que mesmo discreta e "isolada", a Inglaterra continue a nos presentear com suas novidades!


TINA MORGAN - Espreguiçadeiras e toalhas - Óleo sobre tela - 38,5 x 50,8

JULIAN MERROW-SMITH - Sombras azuis - Óleo sobre tela - 46 x 55

4 comentários:

  1. A contribuição desses artistas com certeza é inquestionável, nomes como Turner, John Constable,Gainsborough e Joshua Reynolds,dentre outros.
    Sem eles, certamente a paisagem inglesa não seria tão bem representada, seus campos, suas luzes, seus movimentos...
    "Que mesmo discreta e isolada, a Inglaterra continue a nos presentear com suas novidades"!
    Felicidades amigo!

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    1. Sem eles, provavelmente a pintura de paisagens não seria a mesma, a nível mundial.
      Tenha ótimo fim de semana, Vidal!

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  2. Obrigado por socializar em seu blog a história da arte. A internet é mais que um facilitador para disseminar o conhecimento, é na verdade a mais fantastica ferramenta já inventada pelo homem em termos de tornar a comunicação acessivel. Acompanhando suas "aulas virtuais", você nos dá dicas preciosas, para assimilarmos o seu talentoso trabalho, sua versatilidade... você inova, experimenta estilos, escolas, temáticas diferentes, sempre surpreendendo com a sua arte. A propósito, quando surgiu a pintura de paisagem no Brasil? Só me recordo de ver em nossos museus, pelo menos os que visitei, óleos retratando vultos históricos e figuras sacras (séculos XVIII e XIX).
    Finalizando, parabéns por mais essa sua iniciativa, certo que ela vai de encontro a banalização na utilização da internet. Laércio Álvares Maciel

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    1. Olá Laércio, a internet é sim um grande facilitador de todas as coisas para os tempos atuais. Duvido que apareça outro meio de comunicação com tanta eficiência num futuro próximo.
      Quanto a paisagem na pintura brasileira, começou com a vinda da família real nos inícios de 1800. A Missão Francesa se encarregou de fazer nossas primeiras imagens e de uma certa forma quem mais contribuiram foram os Irmãos Grimm, que já adotavam, naquela época, a pintura ao ar livre. Uma tela famosa deles, que você conhece muito bem, é aquela que fica no refeitório do santuário do caraça. Mais detalhes estão na matéria A Paisagem em Minas, que também engloba a paisagem no Brasil.
      Grande abraço!

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