terça-feira, 26 de abril de 2011

DAVI (José Rosário)


Florença não é apenas o berço do Renascimento (como se isso já fosse pouca coisa), é também o palco da melhor visita que a Itália pode nos oferecer. Há um certo charme que a coloca entre um dos lugares mais carismáticos do mundo. Os grandes gênios do Renascimento encontraram ali, durante um bom tempo, porto seguro para viajarem em suas criações. Um em especial, de nome Michelangelo, deixou para a cidade, uma de suas maiores criações: Davi.


Um bloco de mármore de Carrara, abandonado por cerca de 25 anos no pátio da catedral de Santa Maria del Fiore, escondia o que seria no futuro, uma das esculturas mais importantes da história. Entre os anos de 1501 e 1504, Michelangelo trabalhou incansavelmente nessa obra. E havia até um certo desafio nessa empreitada, pois quando o bloco chegou até ele, já havia sido recusado por outros grandes nomes da escultura italiana naquele período. Mesmo que o bloco tenha se danificado com a exposição ao ar livre e perdido um pouco de seu tamanho original, a escultura acabada ainda ficou com 5,17 m. Michelangelo ainda não havia completado 30 anos de idade.


Outros artistas, antes de Michelangelo, já haviam explorado esse tema. Sempre se concentraram numa composição após o confronto entre Davi e Golias. Muitos representavam o Davi ostentando orgulhosamente a cabeça do gigante. Michelangelo resolveu inovar, representando o jovem lutador antes da grande batalha. Conserva na sua obra uma tradição classicista na representação de nus. Inicialmente, por pudor, uma guirlanda de bronze lhe tapava o sexo. A figura não sugere movimento, tem uma expressão tensa, mas a rigidez da composição acaba na representação do corpo relaxado em uma das pernas. Muitos vêem na obra, um símbolo do civismo republicano de Florença e também um dos maiores representantes do pensamento renascentista.

Piazza della Signoria, Florença.

A obra original, que antes ficava na Piazza della Signoria, foi, em 1873, transferida para a Galleria dell’Academia, onde está hoje. Duas réplicas podem ser encontradas em ambiente externo, uma na Piazza della Signoria e outra na Piazelle Michelangelo. Decisão acertada, pois as condições das intempéries naturais teriam danificado gravemente a obra. Para o aniversário de 500 anos, a escultura recebeu acurada restauração. Meses de paciente trabalho de limpeza, revelaram também a fragilidade nos tornozelos da figura, que sustentam quase 6 toneladas. Até uma tomografia computadorizada foi necessária para visualizar melhor as várias trincas formadas ao longo de tantos anos.


Relatos encontrados da época, narram a euforia de todo o povo florentino para a inauguração da escultura, que aconteceu num outono de 1504. Colocada em uma gaiola de madeira, muito bem segura, a obra desfilou pelos quatro cantos da cidade. Fico imaginando a dificuldade em erguer tão pesada obra com os recursos da época.

                                    

Dois esboços sobre o Davi.
Acima, esboço do próprio Michelangelo, que
experimentou diversas outras posições.
Abaixo, um estudo feito por Rafael à partir
da obra de Michelangelo.

  

Davi é também uma das provas porque Michelangelo tenha sido aclamado, em vida, como o maior artista de seu tempo. Ele foi um dos poucos artistas ocidentais com a biografia publicada, estando ainda vivo, e esta ficou a cargo de Vasari, um dos maiores escritores de registros da época. Vários registros de sua carreira e personalidade, bem como objetos e esboços, eram guardados como relíquias por inúmeros admiradores.

4 comentários:

  1. OS PINTORES DE HOJE DEVERIAM DAR MAIS IMPORTÂNCIA ÀS ESCULTURAS POIS A MESMA...TEM TANTAS COISAS PARA SE ASSOCIAR A NOSSA CARREIRA COMO PINTOR.
    O K VEMOS EM MICHELANGELO É ALGO MUITO ALÉM DO K IMAGINAMOS...VALDONÊS

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  2. Obrigado pela visita, Valdonês. Não pense que esqueci do seu texto, te enviarei em breve. Dias meio cheio ultimamente, andei sumido até daqui. Abraço!

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  3. Esse DAVI, de Michelangelo, é uma das esculturas que mais anseio por conhecer.
    O que acho mais incrível é a escultura ter chegado intata até hoje. Como ela foi removida mais de uma vez, teria sido fácil ela se quebrar nos tornozelos ou um dos braços.
    Bela postagem, José!

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    1. Estar diante da escultura Davi, do Michelangelo, é realmente algo indescritível Hildebrando. Não há palavras que traduzem tudo que sentimos quando estamos diante dela.
      Grande abraço, amigo!

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