Mais um conto enviado por José Geraldo de Araújo Castro.
MISSÃO CUMPRIDA
ELIMAN AMARAL - Ladrão de galinha - Aquarela
Esta estória aconteceu
numa pequena cidade, existente no interior do país. Cidade pequena,
de gente amiga e acolhedora. Lá os dias transcorriam bucólicos e calmos. A
praça com sua igreja matriz, o armazém do “Zito compra tudo” com seus produtos
variados de secos e molhados de frente para a igreja, o barbeiro Onofre da
Zinha sentado num banco à porta de seu estabelecimento, na rua principal, que
dava acesso à praça, aguardava, amolando a navalha, o freguês. A farmácia do Nozinho, situada à
frente, sem nenhum cliente, ficava cheia de gente batendo papo. O prefeito
José Pedreira, o padre Prudêncio, o
coronel Epaminondas e o delegado Bonifácio eram companheiros constantes de
prosa. A cidade ficava sempre animada, com suas festas religiosas, cheia de
barraquinhas, abrilhantada por sua bandinha de música e por um grupo de congadeiros, tradição do
local. Num lugar de poucos recursos, solidariedade não faltava. Laurindo Preto,
líder deles, era casado com D. Maria Cristina, benzedeira
afamada do lugar, que ajudava muita gente em suas enfermidades, com suas rezas
milagrosas. Laurindo, tropeiro antigo dos tempos idos, estava aposentado. Conhecido de todos, era admirado pela
liderança à frente do Congado, entretanto, alguns o temiam porque corria a fama
de que era conhecedor de bruxarias e magia negra. Tinham eles um filho, chamado
Benedito, mais conhecido por Bené declarado inimigo do trabalho. Nessa época,
vivia a população dessa pacata cidade sem os perigos da violência urbana de
hoje.
Muros altos, cerca elétrica, câmera de segurança eram
meios de proteção impensáveis. As casas ainda possuíam grandes quintais com
belas hortas plantadas. Ao fundo, sempre havia um paiol para guardar os utensílios
e mantimentos da família. Os quintais eram cercados com cerca de arame farpado. Os mais exigentes
os cercavam com cerca de bambu maduro, rachado ao meio, bem alinhado para a durabilidade ser maior. Não podia
faltar também, um galinheiro indispensável para garantir a fartura de proteína das
famílias.
À tarde, as senhoras sentadas nas cadeiras, à porta
das casas, passavam longo tempo, envolvidas em intermináveis conversas até o
anoitecer.
Como a cidade
era pequena e pacata, a força de segurança pública era constituída do vaidoso e
ingênuo subdelegado Bonifácio e dois atarefados praças, dedicados criadores de
passarinhos.
Subitamente, a rotina da cidade foi interrompida por
inúmeros roubos realizados durante a noite. A população ficou apavorada. Era
uma vez a tranqüilidade do lugar.....
Imediatamente, moradores formaram uma comitiva para ir
a delegacia formalizar uma queixa ao subdelegado
Bonifácio. Os dias passaram, os roubos continuaram e nada do subdelegado tomar
uma atitude digna da importância do caso apresentado. Foi então organizada
outra comissão, de respeitáveis
cidadãos, para formalizar outra queixa,
desta vez, ao delegado regional da comarca. Exposto o assunto, perguntou o
delegado se os reclamantes tinham algum suspeito para acusar. Todos foram
unânimes em acusar o Bené do Laurindo. Bené era notívago. Dormia de dia, mas
perambulava pela cidade toda noite. Não
havia dúvida, era ele o ladrão. Então, sem vacilar, dirigiu o delegado até sua
mesa de trabalho, assentou, puxou um
bloco de carta que estava na gaveta, sacou do bolso da camisa branca a caneta
Compactor e foi logo escrevendo:
Senhor Subdelegado
Bonifácio, atendendo a respeitável comissão de sua cidade que solicitou e
registrou nessa delegacia a queixa de diversos roubos acontecidos aí, por um
desocupado e ladrão de galinhas, ordeno
que prenda imediatamente o Bené e guarde sigilo. Passando o bilhete aos reclamantes, pediu que a intimação fosse entregue ao subdelegado
Bonifácio, logo que chegassem. Lendo o bilhete, foi convocada pelo delegado, o
restante da força pública do lugar para a singular missão. Sem muito esforço encontraram
o Bené dormindo em casa.
Sendo autuado, sem resistência, estava a melindrosa tarefa
concluída. Foi a vez do subdelegado sacar sua caneta Bic e num pedaço de papel
informar, prontamente, ao delegado da comarca o desfecho da importante missão. Senhor delegado, ordem
dada, ordem executada. Bené preso, Sigilo não encontrado.
José
Geraldo de Araújo Castro Fevereiro de 2012
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