quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PINTURA AO AR LIVRE

JOAQUIN SOROLLA Y BASTIDA - Maria pintando ao ar livre
Óleo sobre tela - 80 x 106 - Coleção particular

A prática da pintura ao ar livre, que no termo francês recebe a designação de plein air, é relativamente antiga. Alguns apontamentos são identificados desde meados do século XVIII, mas é só na metade do século XIX em diante que a prática ganha força e vários adeptos. Essa popularização nesse período deve-se principalmente às primeiras confecções dos tubos de tinta à óleo, que já traziam o pigmento manipulado de fábrica, com várias opções de cores. Isso foi um feito inédito, pois antes cada artista tinha que moer e manipular o seu próprio pigmento e confeccionar a sua própria tinta. A criação do cavalete de campo, pelos franceses, foi outro importante passo para que o movimento ganhasse ainda mais força. Portáteis, com pernas telescópicas e compartimentos para alojar tintas e pincéis, eram ideais para trilhas em campos e montanhas. Também na cidade eram muito versáteis, podendo ser alojados em qualquer canto da casa, sem que ocupassem os grandes espaços dos cavaletes tradicionais de ateliê.

JOHN SINGER SARGENT - O artista pintando - Óleo sobre tela - 1922

Deve-se principalmente aos integrantes da Escola de Barbizon, na França, o gosto por essa atividade que extrapolava os limites do ateliê, indo buscar as fontes de inspiração diretamente da natureza. Essa escola naturalista e realista também apontava em seus esboços a rotina diária dos moradores de áreas rurais. Tais estudos influenciaram, e muito, um outro grupo que ficaria intimamente ligado à prática da pintura ao ar livre, os impressionistas. É praticamente impossível desvincular os impressionistas da pintura em ambiente aberto. E não ficavam restritos apenas às paisagens rurais, captavam também as cenas urbanas, com todo o seu movimento e dinamismo. Outra escola que utilizava bastante do recurso era a Escola de Newlyn, na Inglaterra, com importantes aquarelistas.

ALFRED SMITH - A aquarelista - Óleo sobre tela - 100 x 73 - 1890

Na prática da pintura ao ar livre o artista tenta capturar uma impressão imediata daquilo que o olho vê, e não aquilo que ele sabe pelos conceitos que adquiriu nos estudos em locais fechados. Ali, no ambiente externo, é possível ver como a luz se alterna em momentos diferentes do dia, e como essa alternância influi diretamente no resultado de suas observações. A luz, o principal elemento perseguido nessa prática, é quem dita as normas, quem mostra ao artista as tantas variações brilhantes e todos os efeitos que ela proporciona. Por isso, pintar externamente é uma prática completamente especial em relação a todas as outras, ela desafia os artistas a se concentrarem unicamente naquilo que está a sua frente. Visão, audição e até mesmo o olfato criam todo o clima que deixarão o artista em sintonia com aquilo que irá representar em sua obra. John Constable, um pintor inglês, afirmava que cada artista deve esquecer as fórmulas que aprendeu e confiar mais em seus sentidos. Entrar em sintonia com a natureza e deixar que sua obra seja um fruto dessa comunhão. Ele ainda afirmou: “O paisagista deve andar pelos campos com uma mente humilde. A nenhum homem arrogante jamais foi permitido ver a Natureza em toda a sua beleza”.

JOSÉ MALHOA - Os colegas - Óleo sobre tela - 43 x 52,5 - 1905

Nomes como dos impressionistas franceses Monet, Pisarro e Renoir, eram defensores irrestritos da prática do plein air. Conseguiram adeptos em diversas outras partes do mundo, como os russos Vasily Polenov, Isaac Levitan, Valentin Serov e Konstantin Korovin, além de nomes importantes como os americanos Guy Rose, John Singer Sargent, Childe Hassam, William Merrit Chase, Winslow Homer e Edmund Tarbell. Não esquecer de nome importante como o espanhol Sorolla.

ALFREDO KEIL - Paisagem de Colares - Óleo sobre madeira


No início do século XX, a prática da pintura ao ar livre ainda teria muitos adeptos. Porém, com o grande advento de movimentos modernistas, que utilizavam cada vez mais da produção de obras em grandes dimensões, geralmente produzidas e elaboradas em ateliê, a prática do plein air foi perdendo forças até voltar a tomar novo impulso à partir da década de 1980, principalmente entre os pintores americanos. Hoje, é uma prática amplamente difundida, com um número de adeptos que não para de crescer em todas as partes. Certamente continuará a desafiar os melhores artistas do mundo.

Juliana Limeira e Vinícius pintando na Serra do Luar, em Dionísio/MG.

Kenn Errol Backhaus em Veneza.

Ernandes Silva em São Pedro/SP.

8 comentários:

  1. Rosário, será muito bom quando o mercado brasileiro, tal como os mercados americano e europeu, começar a dar o valor que as obras produzidas ao ar livre, habitualmente de pequeno formato, merecem.

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    1. Interessante que outro dia estava lendo exatamente sobre isso, Oswaldo. O mercado de arte está meio em crise já faz um bom tempo e grandes dimensões são as primeiras a serem afetadas. Pequenos formatos, que são típicos da pintura em plein air, podem se tornar uma alternativa para os dias de "vacas magras". Além de caberem em qualquer cantinho de parede e fazerem o diferencial na decoração.
      Grande abraço, amigo! Obrigado por vir!

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  2. Dentre nomes famosos o grande Corot produziu obras maravilhosas, Constable, Turner,os impressionistas, e tantos outros...
    As famosas séries de Monet... sem dúvida ao ar livre tem um sentido de liberdade...
    Belíssima matéria, abração meu amigo...
    Não se esqueça da matéria sobre Corot...

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    1. Pois é, ele e a Escola de Barbizon merecem uma matéria à parte.
      Grande abraço, Vidal.

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  3. olá José Rosário , boa noite ..., sua observação sobre obras de pequeno formato são um alento para nós que gostamos de pintá-las ! tomara o mercado seja sempre receptivo e dê mais atenção a essa alternativa , um abraço. Beth Ferraz

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    1. Olá Beth, mas o que tudo indica é que pequenos formatos sejam mesmo uma bela alternativa para todos. Há quem não goste de fazê-los. Felizmente não tenho problemas com área.
      Grande abraço e obrigado por vir.

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  4. Bela matéria e belas imagens. Quanto a pratica da pintura em campo, que parece estar crescendo, estranhei o fato da trident tirar o cavalete francês de sua linha de produtos. Tentei comprar em dezembro e recebi esta triste notícia.
    Abraços.
    Thiago.

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    1. Olá Thiago. Curiosamente também procurei por esse produto no mesmo período, de um site de vendas de Curitiba. Produto retirado de linha! Por aí se vê que nossos empresários não estão tão antenados com o que está se passando a sua volta. Há um boom de praticantes de plein air que praticamente nunca houve no país.
      Bom, talvez isso mude.
      Grande abraço!

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