quinta-feira, 15 de setembro de 2011

GIORGIO VASARI

GIORGIO VASARI - Autorretrato
Óleo sobre tela

Nos tempos de hoje, não é muito difícil a um artista mostrar o seu trabalho. Com recursos materiais relativamente simples e um pouco de paciência, sua obra pode correr o mundo numa velocidade incrível. Além da divulgação, os contatos com outros artistas e eventos diversos, o colocam em sintonia com o meio produtor de arte e com o grande público consumidor. Ainda tem a assinatura, um símbolo que representa tal artista. A associação da assinatura do artista com o seu produto, que ganhou ênfase no século XIX, deixou mais fácil a identificação e a comercialização dos trabalhos, mesmo que o artista não venha a se empenhar muito em ser reconhecido.
Mas não foi sempre assim! Houve um tempo em que produzir algo e sair do anonimato envolvia grandes esforços: um bom mecenas, estar no local certo e na hora certa; e claro; uma regra que não muda muito, ter uma boa proposta. Antes do advento do Capitalismo, em que arte e negócio não tinham o peso que tem hoje, a assinatura era um detalhe que passava despercebido por muitos artistas. Muitas são as obras sem identificação, que dão um nó na cabeça dos especialistas para suas identificações, e poucos eram os artistas que se preocupavam em fazer seus próprios registros, isso mesmo, quando era possível fazê-lo. Por isso, tão importante quanto terem existido bons artistas e suas imortais obras, foi existirem pessoas com a intenção e preocupação de revelá-los para a posteridade. Historiadores que se preocuparam em narrar como era a vida de tais artistas, como era o meio em que viviam e principalmente, como eram suas obras e a aceitação delas em seus períodos. Um dos maiores colaboradores nesse sentido, na História da Arte, chamava-se Giorgio Vasari.

GIORGIO VASARI - A deposição da cruz
1540

GIORGIO VASARI - A natividade
Óleo sobre tela

Vasari foi um arquiteto e artista italiano de respeito, deixando grandes obras em pinturas e grandes projetos arquitetônicos. Era preocupado com o que via acontecendo à sua volta, mais até do que com seu próprio trabalho. Grandes artistas em suas melhores fases produtivas, realizando o que talvez sejam as obras mais significativas da História da Arte, ou pelo menos, de um importante período dela. Vasari começou a anotar e descrever com detalhes, as particularidades de artistas e suas obras, as influências de tais trabalhos sobre os novos artistas que se formavam, e os movimentos e escolas que já se organizavam em determinadas cidades e determinadas regiões. Extasiado com as novidades que via, acontecendo com tanta profusão e com tanta qualidade, criou o conceito de “Rinascita”, ou “Renascimento”, como conhecemos hoje. Ele viu que nos três séculos anteriores ao seu e inclusive no qual ele vivia, a Europa saía de uma fase de apatia e “treva” artísticas, caracterizada por quase toda a Idade Média, num período de quase mil anos, desde a queda do Império Romano.

GIORGIO VASARI - Anunciação
Entre 170 e 1571

No ano de 1568, portanto quase 500 anos atrás, ele publicou a sua obra-prima: “Vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos”. Foi com esse estudo, feito sobre pesquisas dos artistas de três séculos, que ele criou o que hoje conhecemos como “Renascimento”. Ele iniciou a catalogação dessa fase com Giotto e atinge o ápice de sua pesquisa em Michelangelo. Elisa Byington, historiadora de arte, não hesita nem um pouco ao afirmar: “Devemos a Vasari todos os conceitos que explicam o que foi o Renascimento. A História da Arte não passa de notas de rodapé de sua obra”. Como o primeiro historiador da arte, registrou a biografia dos principais artistas do Renascimento. “Gótico” era uma expressão que ainda não existia e foi impressa, pela primeira vez, em seu livro. Em 1550, ele já publicara tal trabalho, não só com biografias dos artistas, mas já com valioso e elaborado tratado de técnicas utilizadas por eles. Apenas 18 anos mais tarde, é que a edição foi completamente concluída, sendo acrescida com retratos de todos os biografados.

GIOGIO VASARI - O profeta Eleazar
Óleo sobre madeira - 40 x 29 - 1566
Galleria degli Uffizi

GIORGIO VASARI - Hefeistos
Óleo sobre tela - entre 1540 e 1560
Galleria degli Uffizi, Florença

Giorgio Vasari nasceu em Arezzo, a 30 de julho de 1511 e faleceu em Florença, a 27 de junho de 1574. Ainda bem jovem, torna-se discípulo de Guglielmo de Marsiglia. Foi Luca Signorelli, artista e também seu parente, quem o indicou. Com ainda 16 anos, é enviado a Florença pelo cardeal Sílvio Passerini, onde estuda no círculo do estúdio de Andrea Del Sarto e de seus ajudantes, Rosso e Jacoppo Pontormo. Também estudou Humanismo nesse período, sendo o curso de muita utilidade para a condução de suas pesquisas. Num desses estudos, ficou conhecendo Michelangelo, cuja obra influenciou bastante o estilo de Vasari. Visitando Roma, em 1529, estudou os trabalhos de todos os artistas do que ele próprio denominou “Alto Renascimento”.


GIORGIO VASARI - Perseu e Andrômeda
Entre 1570 e 1572

GIORGIO VASARI - O estúdio do pintor
Afresco - Museu da Casa Vasari, Arezzo, Itália

Tanto em Florença quanto em Roma, trabalhou regularmente para os Médici. Também realizou várias obras em Arezzo e Nápoles. Como artista, seus mais importantes trabalhos são a parede e o teto do Palazzo Vecchio, em Florença, e os afrescos incompletos no Domo de Santa Maria Del Fiore, a famosa catedral de Florença. Mas, profissionalmente falando, seu maior êxito foi como arquiteto. São grandes obras nessa área: a “loggia” do Palazzo degli Uffizi, ao lado do Arno, o planejamento urbanístico do longo e estreito jardim que funciona como praça pública, e também a longa passagem que conecta essa construção com o Palazzo Pitti, através da “Ponte Vecchio”.

GIORGIO VASARI - Galeria degli Uffizi
Florença - entre 1560 e 1581
Projeto arquitetônico

Cometeu alguns equívocos também. As igrejas medievais de Santa Maria Novela e a Basílica de Santa Croce foram prejudicadas com suas atividades, pois delas retirou várias partes que viriam a integrar seus trabalhos, além de tê-las modificado a estética conforme o estilo maneirista, que era típico de seu tempo.
Caso não muito comum na arte, Vasari teve em vida, alta reputação e fez fortuna. Em 1547, construiu uma mansão para si, em Arezzo e dedicou uma boa parte de seus dias a decorá-la com obras de arte. Hoje, a casa abriga um museu, que tem como proposta preservar a sua memória. Mas viveu nela por apenas três anos, quando novos compromissos de trabalho o obrigaram a mudar para Roma e Florença. Foi eleito para o Conselho Municipal de sua cidade e também ocupou ali, o cargo supremo de “gonfalonier”.

GIORGIO VASARI - Salão do Velho Palácio, Florença
Afresco

Entre 1563 e 1565, realizou vários afrescos nas paredes do Salão dos 500, em Florença, e estes narravam sobre “A Batalha de Anghiari Vinci”, a célebre pintura de Leonardo da Vinci, que não chegou ao nosso tempo. Há ainda uma busca ativa para que se encontre a exata localização dessa obra de Leonardo. Há quem diga que ela esteja debaixo dos próprios afrescos de Vasari. Foi também em 1563, que fundou a Accademia del Disegno, em Florença. O grão-duque local e Michelangelo tornaram-se líderes da instituição, e cerca de 36 artistas se tornaram membros dela.


Edição de Vidas dos mais excelentes pintores,
escultores e arquitetos.


A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que possui em seu acervo a primeira edição de “Vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos”, iniciou, no último 26 de agosto, uma exposição abrangente sobre a vida e obra desse grande personagem das artes, que criou o “artista moderno” e que nos possibilita hoje, o esplendor narrado com todos os grandes artistas de seu tempo.

12 comentários:

  1. Olá J.Rosário..., como sempre nos brindando com matérias e artistas incomparáveis !!visitar seu blog é sempre uma aula de arte!!abraços,
    Beth Ferraz- Petrópolis-RJ

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  2. OLÁ,JOSÉ ROSÁRIO,OBRIGADO POR MAIS ESSE CONHECIMENTO,COM ESSAS OBRAS MARAVILHOSAS
    ESSE BLOG É TUDO DE BOM,OBRIGADO POR MAIS
    SABER ///////////////.

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  3. Nossa, que maravilha cara, deve ser ótima suas aulas!! eu gostei muito tbm, vou aplicar nas minhas com certeza.
    muitissimo obrigado novamente pela força e incentivo no meu blog, fico muito honrado!!!
    ah, se quiser dar uma olhada lá, ja saiu o resultado, hehe.
    abração amigo, e parabéns pela super postagem de GIORGIO VASARI!! eu anda estudando muito historia da arte, principalmente o renascentismo.. muito mágico, impressionante como as peças vão se encaixando!! rs.

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  4. Já estive lá no resultado. Fantástico.
    Quanto ao Vasari, também tenho me surpreendido com as últimas descobertas. Tudo vai fazendo sentido, realmente. Interessante é que sempre me perguntei porque sempre houve tanta informação daquele período, sem saber que a resposta fossem suas anotações.
    Grato pela visita, André!

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  5. Olá José Rosário, muito bom o teu trabalho, estava tendo dificuldade para encontrar algo mais completo sobre Vasari.Valeu! Seu trabalho é incrível.

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  6. Olá Maria Edina,obrigado por vir aqui e bom que tenha algo para acrescentar.
    Grande abraço!

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  7. José rosário, tu percebes, que tens escrito os artigos mais completos da história da arte?
    OBRIGADO, OBRIGADO, OBRIGADO!!!

    Cara, eu fui um desses pintores da frente da UFFIZI, passava as horas ali, conversando com meu amico GIUSEPE MISERENDINO pintor de aquarelas, que pintava bem perto da escultura que retrata Dante.
    Tive a honra de ser convidado para visitar o corridoio vasariano, que sai do palazzo vechio,passa pela uffizi, por cima da ponte vechio, tem saída para a chiesa santa felicitá e termina no palazzo pitti. Era uma passagem secreta (e até hoje, não é passeio turístico) que conduzia os "nobres" á igreja e a seus outros patrimonios, sem contato com o povo.
    Do salão do cinquecento (chamado assim por comportar quinhentas pessoas ) no palazzo vechio, sai uma passagem secreta por dentro da parede, foi feito uma parede dupla deixando pedras faltando, que serven de escada para uma pessoa magra passar,que sobe até sobre o teto revestido em ouro do salão (um teto sem apoio em colunas, todo em madeira, que desce até o meio da salão por mecanismos medievais mecanicos, projetados por Vasari, e sobe, ainda com suas madeiras originais e funcionando),e sai-se por uma pequena porta de onde se tem que remover um quadro, que a fecha pela outra sala, chegando então á uma sala toda decorada com pinturas de DA VINCI com simbologia alquímica e FRANCESCO,filho do dono do palazzo, COSIMO, e aluno de arte e alquimia de LEONARDO.

    Tive a honra de fazer o percurso, graças á uma brasileira carioca(roseli) casada com um escultor italiano, que trabalha no palazzo ,que é a prefeitura de Firenze, e me incluiu num passeio cortesia á dois médicos africanos.

    abraços

    SELISTRE

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    1. Selistre, muito obrigado por deixar tão mais ricas as informações contidas na matéria.
      Estive na Europa num curto período, para passeio mesmo, cerca de 32 dias. Arrependo de ter conhecido países demais (7) e não ter aprofundado tanto como eu queria em todos eles. Mas lavei a alma literalmente.
      Um grande abraço!

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  8. Estou simplesmente sem palavras para definir,sua aptidão e bom gosto pela arte. José Rosário parabéns pelo blog que é ótimo bem formulado e simples de entender,gostaria muito de trocar algumas experiências com você! Muito obrigado pelo enriquecimento cultural aqui postado por ti!

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    1. Olá Wanderley, é uma honra tê-lo por aqui. A internet acabou virando a sala de encontro de todos nós, não é mesmo? Vamos nos falando, amigo.
      Grande abraço!

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