domingo, 11 de março de 2018

MARIANO FORTUNY Y MARSAL


MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Fantasia árabe - Óleo sobre tela - 50,8 x 62,2 - 1866

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - O espadeiro
Óleo sobre tela - 75 x 52 - 1867

Não poderia ficar indiferente com relação à essa exposição que terminará no dia 18 de março, no Museu do Prado, em Madri. Primeiro, por se tratar de um dos artistas espanhóis que mais admiro. Mariano Fortuny y Marsal, juntamente com Joaquín Sorolla e Velásquez formam o trio perfeito que mais me encanta na arte figurativa daquele país. Isso sem desmerecer uma infinidade de outros nomes não menos importantes, cuja lista pode ser encabeçada por ninguém menos que Salvador Dali, Picasso, El Greco, Raimundo de Madrazo, Goya... Enfim, faça sua lista ao seu gosto. Estará bem selecionada, independente da ordem que coloque qualquer um deles. A Espanha é um celeiro infindável de antigos e novos nomes na arte mundial. Em segundo lugar, porque é uma retrospectiva com um volume de obras inédito, cujo acervo exposto compõe a integridade das obras desse artista no Museu do Prado e outras tantas obras enviadas por outras coleções, especialmente as cedidas pelo Museu Fortuny de Veneza e o Museu Nacional de Arte da Catalunha.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Almoço em Alhambra - Óleo sobre tela - 1872

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - La mascarada
Aquarela e guache sobre papel - 44,9 x 62,9 - 1868

Mariano Fortuny y Marsal, o artista espanhol que teve uma maior presença internacional no último terço do século XIX, foi um verdadeiro inovador em todas as obras da arte que produziu. Na pintura a óleo, sua técnica precisa, colorida e brilhante permitiu-lhe uma nova abordagem da natureza, especialmente na captura de luz. Isso foi influenciado pelo seu domínio da aquarela, que o consagrou como o grande promotor desta técnica em seu tempo. A prática assídua do desenho, rápida e nervosa, é o fundamento de sua capacidade de refletir os diferentes aspectos da realidade. Gravurista excepcional, foi um dos mais respeitados de sua época. Finalmente, a paixão por colecionar levou-o a reunir em seu ateliê um grande número de obras de arte e antiguidades, muitas das quais são apresentadas em museus proeminentes.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - A odalisca
Óleo sobre tela - 56,9 x 81 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Odalisca
Óleo sobre tela - 21 x 32,5 - 1865 - Museu Nacional de Belas Artes da Argentina

Assim, a exposição inclui todos esses aspectos da criação de Fortuny e, como novidade importante, sua faceta como um excelente colecionador de antiguidades, intimamente relacionada à busca de qualidades, cor e luz, em sua pintura. Todos os trabalhos foram escolhidos cuidadosamente de acordo com sua qualidade e significado. Para isso, foi contado, além dos próprios fundos do Prado, com a colaboração desinteressada de grandes coleções e museus em todo o mundo e com o contributo especial do Museu Fortuny de Veneza, que empresta mais de 30 obras, muitas delas praticamente não publicadas, bem como o Museu Nacional de Arte de Catalunha. Uma exposição como essa coroa e justifica a passagem desse artista aqui na terra. Não no sentido de satisfação de ego apenas, mas principalmente por que tudo aquilo que viveu e pelo qual defendeu e lutou, sirva agora de referência e influência para tantas gerações. Vai-se o corpo, mas o trabalho permanece, principalmente aquele feito com afinco e qualidade.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Praia em Portici - Óleo sobre tela - 1874

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Paisagem ao norte da África
Óleo sobre tela - 51,5 x 122,5 - Cerca de 1862

Iniciada no dia 21 de novembro do ano passado, a mostra encerra como uma das iniciativas mais louváveis e enriquecedoras dos últimos tempos, abraçada pelo museu. Ocupa as salas A e B, no Edifício dos Jerônimos, o setor mais nobre do museu e tem a curadoria de Javier Barón, que é o Chefe da Conservação de Pinturas do século XIX, no Museu do Prado. Pinturas, aquarelas, desenhos e gravuras somam-se a inúmeros objetos de antiguidades que o artista conservava em seu ateliê, alguns deles tão preciosos, que compõe importantes coleções arqueológicas em diversos museus do mundo. Era um artista visionário e de extrema competência naquilo que se propunha, o que explica a rapidez de sua fama, ainda em vida, entre colecionadores da Europa e Estados Unidos.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Chefe árabe
Óleo sobre tela - 1874

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Velho nu ao sol
Óleo sobre tela - 76 x 60 - Entre 1862 e 1863 - Museu do Prado

Mariano José Maria Bernardo Fortuny y Marsal nasceu em Reus, na Espanha, no dia 11 de junho de 1838. Não foi difícil descobrir e lapidar sua veia artística, uma vez que nasceu numa família repleta de artistas. Seu próprio avô ficou com sua guarda desde os seis anos de idade, quando ele ficou órfão. Foi o avô quem incentivou sua carreira artística, colocando-o aos cuidados iniciais com o pintor Domènec Soberano. Também foi na infância que ajudou o ourives e miniaturista Antoni Bassa, atividade que influenciará bastante sua carreira futura como pintor, dando ênfase a minuciosos detalhes.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - O colecionador de estampas
Óleo sobre tela - 47 x 66,3 - 1863 - Museu de Belas Artes de Boston

Por ser também um grande colecionador de obras
de arte e antiguidades, Mariano Fortuny produziu
diversas obras com esse tema.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - O colecionador de gravuras
Óleo sobre tela - 52 x 66,5 - 1866 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

Em 1852 mudou-se para Barcelona na companhia de seu avô. Lá foi trabalhar na oficina do escultor Domènec Talarn, que, satisfeito com os avanços de seu jovem aluno, conseguiu uma pequena pensão para a Obra Pia e aulas gratuitas na Escola de Belas Artes de La Lonja, onde receberá pela primeira vez um vez treinamento oficial. Seus professores na Escola serão Pablo Milà e Fontanals, Luis Rigalt e Claudio Lorenzale. Em 1858, ele se mudou pela primeira vez para Roma com uma pensão da Deputação de Barcelona, onde estabelecerá amizade com outros artistas espanhóis da cidade, como Eduardo Rosales ou Dióscoro Puebla. Esta pensão tinha uma restrição rigorosa, já que ele tinha que enviar constantemente algumas de suas obras para a Deputação para validar sua estadia. Em Roma, também conheceu vários artistas italianos; entre todos eles, Attilio Simonetti, que tornou-se seu discípulo e amigo fraterno. Em paralelo, ele frequentou a escola particular de Lorenzale, onde desenvolveu, em uma visão mais ampla, seu gosto pelo romance.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Marroquinos
Óleo sobre painel - 13 x 19 - Museu do Prado

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - A Batalha de Tetuán
Óleo sobre tela - 300 x 972 - Entre 1863 e 1865 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

Em 1860, surgiu a Primeira Guerra de Marrocos, e a Deputação de Barcelona encomendou a Fortuny viajar para este país para se tornar um cronista gráfico do concurso, na companhia de Pedro Antonio de Alarcón. Ali, ele seria integrado como pintor no regimento do general Juan Prim. Em 12 de fevereiro de 1860, sua chegada a estas terras foi registrada e ele começou seu trabalho como cronista de eventos. Em solo africano, deixa-se influenciar pela luz ofuscante e principalmente pela paisagem ampla, além dos marroquinos e seus costumes, chegando a aprender inclusive um pouco do idioma local. A estadia em Marrocos não apenas gerou futuramente uma de suas telas mais famosas, A batalha de Tetuán, mas também traria mudanças importantes em sua pintura, para o resto de sua vida. No retorno para a Espanha, ele passaria em Barcelona, ​​onde ele criaria uma amizade com a família de Madrazo.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL
No jardim, Granada
Óleo sobre tela - 49 x 20

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - O casamento espanhol (La vicaría)
Óleo sobre tela - 60 x 93,5 - 1870 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

Mais uma vez em Roma, ele frequentaria a Academia de Belas Artes da França na Villa Medici, onde começaria esboços para o trabalho A Batalha de Tetuán. Mais tarde, em setembro e outubro de 1862, pediu à Deputação de Barcelona que voltasse para a África para fazer um estudo da luz do lugar em troca de enviar obras que ele aumentaria durante sua permanência em Marrocos. Esta viagem confirmou ainda mais a influência em seu estilo quando ele voltou. Suas obras foram transformadas com um estilo oriental, percebido em seu trabalho Rainha Maria Cristina revisando as tropas, solicitado pelo duque de Riansares.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL e RAIMUNDO DE MADRAZO
Os jardins da casa de Fortuny
Óleo sobre madeira - 40 x 28 - Entre 1872 e 1877
Essa obra leva duas assinaturas. Fortuny faleceu sem terminá-la e
Raimundo de Madrazo a concluiu anos depois. Não foi a primeira
vez que ele faria intervenções em obras do cunhado. Na famosa obra
La Vicaría, ele faria algumas correções em alguns pés de figurantes,
a pedido do próprio Fortuny.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Filhos do artista num jardim japonês
Óleo sobre tela - 44 x 93 - 1874

Fortuny casou-se com Cecilia de Madrazo, filha do pintor Federico de Madrazo e irmã do pintor Raimundo de Madrazo, com quem estabeleceria uma amizade íntima e com quem compartilhava um gosto por touradas. Esta manifestação artística apaixonou o pintor que ficou deslumbrado com seus valores plásticos e impressionado pela mistura de cor e drama ritual, elegância e brutalidade do universo taurino. Raimundo de Madrazo concluiria, depois da morte de Fortuny, um dos quadros mais expressivos do artista. Um período depois, ele pintou uma de suas pinturas mais famosas: La vicaría, considerado como o clímax de sua carreira. Aqui todos os aspectos característicos de seu trabalho estão resumidos; a meticulosidade e o uso metódico da cor, assim como o estudo exaustivo mediante o uso de luz adequada.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - O visitante - Óleo sobre painel

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - O vendedor de tapetes - Óleo sobre tela - 1870

A publicação subsequente de suas obras em gravuras acabaria por catapultar seu trabalho ao sucesso final. Em 1870, Fortuny mudou-se para Paris, onde contemplou as obras do Museu do Louvre e do Museu do Luxemburgo, sendo especialmente interessado em artistas como Horace Vernet, Eugène Fromentin, Alexandre Decamps e, especialmente, Eugène Delacroix. Naquele ano, ele exibiu várias obras no salão parisiense de Adolphe Goupil. Esta mostra foi elogiada por vários críticos como Théophile Gautier e foi um passo fundamental na sua consagração internacional. Em 1868, os Fortuny são instalados em Granada, onde Mariano pintou várias obras e onde ele vai atrair alguns de seus amigos de Paris, como Martin Rico, Jules Worms e Eduardo Zamachois.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Paisagem de Portici
Óleo sobre tela - 30 x 50 - 1874 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Carnaval numa rua de Roma
Óleo sobre madeira - 13 x 20 - 1873

Fortuny viajou brevemente para Londres, e depois para Nápoles, com uma passagem também pela pequena cidade de Portici, no sul da Itália, onde produziria belos trabalhos. Naquela época, ele manifestava sintomas de depressão; o sucesso comercial o elevou a uma posição social e econômica invejável, mas a clientela exigiu um tipo de pintura que o impedia de evoluir. Em maio de 1874, ele voltou para Paris com a intenção de quebrar seu relacionamento com Goupil, e fugir dos compromissos das encomendas. Finalmente, em 9 de novembro de 1874, ele retornou a Roma, onde morreu em 21 de novembro, devido a uma hemorragia no estômago causada por uma úlcera. Em abril de 1875, as pinturas que ainda estavam em seu estúdio e os diferentes objetos que Fortuny havia coletado em toda sua carreira foram leiloados no Hotel Drouot em Paris, atingindo preços exorbitantes.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Procissão surpreendida por uma chuva
Óleo sobre tela - 63 x 102 - 1868 - Museu Nacional de Belas Artes da Argentina

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Um pátio espanhol (detalhe) - Óleo sobre tela

A exposição do Prado, que se encerra em breve, mostra a trajetória completa de sua produção e desperta novamente o interesse, por diversas pessoas em várias partes do mundo, para esse nome singular da pintura espanhola. A cada artista, cabe o trabalho de contribuir para a construção de um mundo melhor, evoluindo constantemente sua técnica e socializando os aprendizados que forem colhendo em vida, para iluminar os caminhos de outros que vem chegando. A toda a humanidade, cabe a tarefa de preservar a memória daqueles que deram bastante de si e tornaram melhor a vida nesse planeta.

MARIANO FORTUNY Y MARSAL - Autorretrato
Óleo sobre tela - 62,5 x 49,5 - Cerca de 1858
Museu Nacional de Arte da Catalunha


2 comentários:

  1. É de arrepiar... grande artista, assim como muitos da sua época...
    Abração meu amigo!!!!

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    1. Um dos períodos mais efervescentes da história da arte.
      Grande abraço, amigo!

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