PEDRO PAULO BRUNO - A pátria
Óleo sobre tela - 190 x 278 - 1919
Museu da República
Uma terna imagem que simboliza, como nenhuma outra,
o sentido completo de que Pátria é a construção que
parte de cada um de nós. Também é ela a mãe que nos
acolhe e quem optamos acolher.
Clarice Zeitel Vianna Silva é uma jovem estudante da UFRJ, com 26 anos de idade. Fazendo o curso de Direito, seria mais um rosto no meio da multidão, não fosse um importante detalhe: é a vencedora de um concurso de redação promovido pela UNESCO. Disputando com mais de 50.000 participantes; de diversas partes do mundo; o tema, “Como Vencer a Pobreza e a Desigualdade”, veio nos mostrar a sua visão de nosso país. Provavelmente a visão de muitos outros jovens contemporâneos seus.
O texto se inicia com uma amargura velada em cada palavra, mas vai cedendo, paulatinamente, um desejo de mudança e uma proposta desafiadora, a mudança que começa dentro de cada um de nós.
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'PÁTRIA MADRASTA VIL'
(Clarice Zeitel Vianna Silva)
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência. .. Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos, não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?
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Clarice acaba de voltar de Paris, de onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Sua redação também foi incluída, com mais outros cem textos selecionados no concurso, em um livro. A publicação pode ser visitada no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.
ANDRUCHAK - Brasil
Acrílico - 120 x 100 - 2008
olá jose rosario sou ana laura fiz oito anos em novembro gosto muito do seu blog e muito legal curto ele todo dia e aprendo muito com voce .
ResponderExcluira respeito da patria madrasta vil eu nao sabia que o brasil era tao disrespeitado mais deve ser a verdade se voce colocou ai? VOU LEVAR ESTA PATRIA PARA MINHA PROFESSORA RAQUEL;GOSTO MUITO DE VOCE
Olá Ana Laura, fico feliz que o blog possa estar ajudando você.
ResponderExcluirQuanto ao texto da Pátria Madrasta Vil, infelizmente gostaria que muita coisa lá não fosse verdade, mas é.
Legal que crianças da sua geração se interessem por esses temas, tão importantes. Nosso futuro está com vocês!
Ola José! Uma redacao de peso!
ResponderExcluir"Pegou pesado" certamente.
ResponderExcluirMas um puxão de orelha merecido.
Emocionante a redação da nossa amiga...Vou compartilhar com os poucos que tem paciência de ler um belo texto reflexivo, analítico e inspirador.Parabens para nossa amiga e parabéns por nos apresenta-la. Abraço!!!
ResponderExcluirValeu Gianni. Pela visita, pelos comentários... A Clarice com certeza agradece!
ResponderExcluirBom, se não fosse pelos trechos: 1) "a minha mãe não tapa o sol com a peneira não me daria um lugar na Universidade sem ter-me dado uma bela formação básica."
ResponderExcluir2) "E mesmo há 200 anos não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome."
Espero estar enganada quanto ao pensamento de Clarice...mas estes dois trechos possuem uma conotação contrária a integração do negro na sociedade...
2)Meus ascendentes escravos e muitos outros, após a abolição,continuaram trabalhando como sempre fizeram, afinal eles sabiam trabalhar e adquiriram técnicas e conhecimento necessário para trabalhar e não morrer de fome ( ex.:Ouro Preto e outras de norte a sul)
1)Eu ( e muitos outros descendentes de negros) não pedimos nenhuma indenização pelos maus tratos sofridos na época da escravidão, é um fato passado e perdoado em nossos corações e vida. Não pedimos um lugar na Universidade, esse lugar se quisermos , mesmo com uma péssima educação básica fornecida pelos governantes, podemos conquistá-lo com nosso próprio esforço e mérito.
Bela observação, Maria Cristina. Um assunto polêmico, realmente, que nos exige um conhecimento histórico acerca dos fatos.
ExcluirObrigado por vir e participar. Grande abraço!