LARS JUSTINEN - Inspiração
“O mais belo triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar.”
Eugène Delacroix
(Saint-Maurice-França 1798-1863 Paris-França)
Considero três, as principais conquistas do homem. O fogo, a roda e a escrita.
Quando souberam produzir e dominar o fogo, nossos ancestrais não só se protegeram e aqueceram nas noites frias, como também aprenderam a cozinhar e assar os seus alimentos. E isso aumentou, e muito, a variedade do cardápio. A roda fez o homem encurtar distâncias e multiplicar suas tecnologias. Desde uma simples roda d’água, que movimentava moinhos, até instrumentos importantes como a máquina de fiar (roca) e as complexas engrenagens, os frutos mais sofisticados na Revolução Industrial. Mas é a escrita, a maior de todas as conquistas.
WINSLOW HOMER - Luz da manhã e sombra
Óleo sobre tela - 1872
“Dupla delícia: o livro traz a vantagem de a gente poder estar só
e ao mesmo tempo acompanhado.”
(Alegrete-RS 1906-1994 Porto Alegre-RS)
Todos os historiadores são unânimes em afirmar que a escrita foi a única habilidade que nos tornou completamente diferentes dos outros animais. É na complexidade da língua, codificada em símbolos, que o homem ascendeu ao padrão sapiens, que significa saber, ter consciência de algo e dominar aquilo que se pensa, tanto que é o fator divisor entre a pré-história e a história, no decorrer de nossas civilizações.
WILLIAM BOUGUEREAU - A difícil lição
Óleo sobre tela - 97,8 x 66 - Coleção particular
“É o que você lê quando não tem que fazê-lo
que determinará o que você será quando não puder evitar.”
A escrita é como uma foto de nossas idéias. Estou longe de todos vocês nesse instante, mas vocês acompanham comigo, no caminhar de cada linha, todas as cenas e situações que estou propondo em minhas palavras. E se elas são diretas e conexas, consigo explicar, até com mais clareza, certas idéias que não faria pessoalmente. São poucos símbolos que ao embaralharem e se ajuntarem, transformam-se nessa rica mistura de palavras, frases, textos, livros...
ARCIMBOLDO - O bibliotecário
1566 - Stkklosters Slott, Estocolmo
“Ler é beber e comer. O espírito que não lê
emagrece como um corpo que não come.”
(Besançon-França 1802-1885 Paris-França)
Quando a
escrita ganhou as primeiras vogais, ainda no alfabeto grego, Sócrates temia que
um grande desastre abateria sobre a humanidade. Para ele, a palavra falada era
a forma mais segura de atingir um verdadeiro questionamento. Temia, por isso,
que os jovens de sua época, encantados com a escrita, perdessem o hábito de
questionar e que portanto não exercitassem mais suas memórias em uma boa roda
de conversas, pautadas por diálogos, retóricas e discursos. Felizmente ele se
enganou, e o mundo pode assimilar a maior de todas as transformações culturais.
Estamos atravessando, nesse momento, algo parecido com o que
aconteceu há cerca de 2500 anos. Uma mudança cultural. Da cultura escrita para
a cultura digital e visual. Até bem pouco tempo, a forma física do texto era
um suporte escrito com algum tipo de tinta, desde os papiros do antigo Egito
até bem recente, no melhor papel impresso na impressora mais avançada. Agora
temos o livro eletrônico, que oferece experiências que vão muito além de um
deleite da companhia de um bom livro, mas tem também recursos visuais e táteis
inimagináveis até bem pouco tempo atrás.
TOM BROWNING - Lições
Óleo sobre painel - 30,5 x 40,6
“Os livros são os mais silenciosos e constantes amigos;
os mais acessíveis e sábios conselheiros;
e os mais pacientes professores.”
É uma pena que os hábitos da escrita, e principalmente da leitura, estejam perdendo forças. Existem atalhos demais para a comunicação. Códigos, gírias, expressões que se agrupam em pouquíssimos símbolos. Uma linguagem que absorve nossa essência sapiens e nos habilita progressivamente, a uma linguagem de máquinas. Há um perigo constante, na nova onda digital que entramos, da abundância de informações com demasiados apelos visuais e sonoros, que dispersam uma profunda leitura e informem apenas aquilo que é superficial, muitas vezes banal e que nada acrescente.
Por todos os lados, engrossa cada vez mais a parcela dos analfabetos funcionais, pessoas que aprenderam a linguagem dos símbolos, mas não continuaram o diálogo com eles. Desacostumaram, no correr dos dias, a ouvir, pronunciar, sentir a musicalidade que exala das frases que compõe a nossa vida, que expressam o que somos e o que queremos.
Por todos os lados, engrossa cada vez mais a parcela dos analfabetos funcionais, pessoas que aprenderam a linguagem dos símbolos, mas não continuaram o diálogo com eles. Desacostumaram, no correr dos dias, a ouvir, pronunciar, sentir a musicalidade que exala das frases que compõe a nossa vida, que expressam o que somos e o que queremos.
TEIXEIRA DA ROCHA - Cena de interior
Óleo sobre madeira - 53,5 x 32,5 - Coleção Fadel
“Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma .”
(Lisboa-Portugal 1888-1935 Lisboa-Portugal)
A encruzilhada na qual estamos tem uma semelhança muito grande com o futuro temido por Sócrates. O caminho que iremos escolher é algo ainda bastante incerto.
Algumas poucas iniciativas tentam resgatar o muito do que se tem perdido. É preciso louvar e reverenciar iniciativas defendidas por atos isolados, de entidades ou até mesmo pessoais, na luta contra a ignorância que abraça o mundo. Somos todos responsáveis e muitas vezes esquecemos disso.
Algumas poucas iniciativas tentam resgatar o muito do que se tem perdido. É preciso louvar e reverenciar iniciativas defendidas por atos isolados, de entidades ou até mesmo pessoais, na luta contra a ignorância que abraça o mundo. Somos todos responsáveis e muitas vezes esquecemos disso.
ALMEIDA JÚNIOR - Repouso
Óleo sobre tela - 85 x 115
Coleção particular, Rio de Janeiro
“É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro,
mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.”
José Saramago (Azinhaga-Portugal)
Vou deixar alguns endereços que descobri pela rede, um veículo que fala a linguagem de um novo tempo. Não temos que evitar novas maneiras de expressar, só precisamos apenas, saber utiliza-las.
“O Livro Desconhecido
Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e, de súbito, uma frase lida com lágrimas nos olhos, diria em êxtase de dor e de enfim libertação: mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!”
Clarice Lispector
(Tchechelnik-Ucrânia 1920 - Rio de Janeiro-RJ - 1977)
Que delícia tudo o que eu vi e vi por aqui!
ResponderExcluirOlá Rachel, ainda vou aprender a fazer "armadilhas" com as palavras como você. Rubem Alves tem razão, palavras são como alçapões, se nos deixarmos seduzir, já estamos pegos!
ResponderExcluirJosé, a linguagem escrita e falada dentro da norma culta é para mim, a mais poderosa ferramenta de integração nacional.
ResponderExcluirE você, como muito poucos, sabe usá-la de uma forma magistral, nos mostrando esta maravilhas.
Há pessoas que escrevem por insistência, mesmo.
ResponderExcluirEu me considero um. Tenho ficado feliz em estar sendo entendido, que acredito deveria ser a meta maior de qualquer escritor. Abraço!
Muito esclarecedor suas palavras, mas acredito que o livro impresso nunca haverá de morrer...nada mais prazeroso do que folhear um livro, ter sempre ele ao seu alcance....folhear página por página e sentir as emoções que o escritor descreve! Eu pessoalmente nunca trocaria um livro por folhas de papel baixadas uma a uma da internet....que prazer teria eu? nenhum! Adoro sentir o cheirinho do livro e poder deitar e dormir com ele aparando a luz que vem da lâmpada....leio pouco, mas estou sempre com um livro sendo lido...Agora estou lendo "Arroz de Palma" uma linda narração de um senhor idoso, que ao fazer o jantar p/a reunião familiar , vai se recordando de toda a sua vida, passagens comoventes, outra hilárias...e é um deleite, poder muitas vezes se identificar com a própria vida do personagem!Parabéns por sua reportagem, por fazer com que as pessoas pensem e reflitam sobre a importância de um bom e velho livro impresso!
ResponderExcluirMuito legal sua observação, Marise. Também gosto do livro de papel, do cheirinho de livro novo e do prazer em folheá-lo, mesmo sabendo que num futuro muito próximo estará quase extinto. Não há como evitar toda a revolução tecnológica que nos espera.
ExcluirGrande abraço e obrigado por vir!
Infelizmente os jovens e até alguns adultos estão trocando o prazer de ter um livro em mãos pela leitura virtual. Eu de forma alguma concordo com essa troca. Adoro ler. Teve uma época que eu lia tres livros por mês, hoje reduzi porque divido o tempo com a internet. Sou extremamente compulsiva em uma livraria e
ResponderExcluirtenho um ciúme enorme dos dos meus livros. E quando alguém me pede emprestado eu falto morrer só de pensar que vão devolve-lo ou sujo ou amassado.
É, parece que você não está sozinha...
ExcluirGrande abraço, Neide!