quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TOM ROBERTS

TOM ROBERTS - Allegro con brio, Bourke Street
Óleo sobre tela

Todos os continentes possuíram seus desbravadores. Artistas que acreditaram em suas visões e que conseguiram transmitir tal ideal a seus seguidores e companheiros. Muito mais que colocar na história da Arte as suas propostas, convictas para si mesmos, deixaram um legado de luta e perseverança, diante dos tempos difíceis pelos quais passaram.
William Thomas Roberts, mais conhecido no meio artístico como Tom Roberts, foi uma dessas peças fundamentais para a consolidação da pintura propriamente dita australiana. Não sendo nenhum exagero considerá-lo, juntamente com Arthur Streeton, como os pais do paisagismo impressionista daquele país. Ele nasceu em Dorchester, Inglaterra, a 9 de março de 1856, e era o filho mais velho do jornalista Richard Roberts e Matilda Agnes Cela. Já órfão de pai em 1869, muda-se com sua mãe e dois irmãos para Melbourne, Austrália.

TOM ROBERTS - A debandada
Óleo sobre tela - 1891

TOM ROBERTS - Tosqueando as ovelhas
Óleo sobre tela - 122,4 x 183,3 - 1888 a 1890
National Gallery of Victoria, Melbourne

TOM ROBERTS - O estúdio do escultor
Óleo sobre tela - 61 x 91,8 - 1885

Alguns cursos na Collingwood e na Escola para Artesãos Carlton, foram suas bases no caminho das artes, tendo conseguido nessa última, um prêmio por uma de suas paisagens, concedido por Louis Bouvelot e Eugen Von Gerard. Já em 1874, ingressa na Escola da Galeria Nacional, onde faz desenho com Thomas Clark.

                                               
À esquerda: TOM ROBERTS - Reconciliação - 1888
À direita: TOM ROBERTS - Uma manhã de verão - 1886

Também naquela época, Roberts já procurava defender uma linguagem mais regional na representação pictórica de seu país. E encoraja outros artistas a defenderem tal visão. Mc Cubbin foi um de seus primeiros aliados, encantado com a flora única da região onde moravam.
Aos olhos de Roberts, a pintura com forte influência européia que ainda era praticada em seu país, não valorizava o caráter especial da paisagem australiana: terras vermelhas, céus brilhantes e de azuis tórridos, e um relevo especialmente peculiar. Mas antes de aventurar-se pela prática de um estilo mais próprio com o que via, aceita uma bolsa na Academia de Artes Vitoriana, e parte para adquirir mais experiência, principalmente técnica, em Londres. Também foi selecionado para estudar na Real Academia de Artes, onde freqüentou, de 1881 a 1884. Desse período, são notáveis os seus progressos nos trabalhos de anatomia e perspectiva.

TOM ROBERTS - Acampamento - 1886

TOM ROBERTS - Tarde
Óleo obre tela

Como não era diferente a vários centros acadêmicos da Europa, Londres também possuía seus nichos de artistas que já se rebelavam contra a massificação do tema histórico na Arte, financiado por reis e monarcas. O New English Arts Club, formado em 1886, por artistas que residiam principalmente nos centros de Newlyn e Glasgow, foi o movimento inglês que mais se opôs aos velhos costumes e permitiu abrir a uma nova linguagem. Também influenciaram muito a esse grupo, trabalhos de Whistler e pintores com práticas de plein air como Bastien Lepage, com suas veias evidentemente ligadas à Escola de Barbizon.


TOM ROBERTS - Corroboree, Murray Island
Óleo sobre tela - 36,83 x 54,61 - 1892

TOM ROBERTS - Barco na praia em Queenscliff - 1887
Óleo sobre tela - 35,4 x 45,9

TOM ROBERTS - Rosas
Óleo sobre tela colada em painel de madeira - 51,4 x 76,9

Mesmo que o curto período passado na Espanha, coisa de poucas semanas, tenha parecido reduzido demais, o contato com alguns artistas daquele país incrementou ricos desdobramentos naturalistas aos trabalhos de Roberts. Talvez pela influência do ambiente, mais quente e iluminado do mediterrâneo, que lembrava um pouco a Austrália. Foi com Lorreano Barrau e Ramon Casas que ele fixou certas noções até então não muito compreendidas do Impressionismo e todos os princípios da pintura em plein air, que conduziam invariavelmente para esse novo estilo. Assim, continuou por todo o ano de 1884, captando os efeitos momentâneos de trabalhos feitos ao ar livre, treinados com figuras em marinhas, e acrescentou a essa nova fase, vários outros exercícios captados por uma passagem rápida que fez a Veneza.


TOM ROBERTS - Mentone
Óleo sobre tela montada em painel - 50,8 x 76,7 - 1887

TOM ROBERTS - Dia cinzento na primavera, Veneza
Óleo sobre painel de madeira - 11,3 x 20,2 - 1884

Em 1885, Roberts retorna à Austrália e já chega com um desafio, mesmo que não planejado, mas logo muito bem assimilado: iniciar por ali uma nova escola de pintura, baseada na prática do plein air, mas que desse uma valorização à temática e costumes locais, resgatando o regionalismo e o nacionalismo, algo nunca visto pelos artistas contemporâneos seus. As andanças de Roberts em terras européias foram fundamentais para tal fase. Ele parecia ter regressado com um senso de missão e entusiasmo, que foram importantes, tanto para pintores e escritores, que estavam buscando um novo caminho que os definisse como movimento. Tão dedicado parecia em seus novos caminhos, que logo foi colocado à frente de um grupo de pintores que ficou conhecido com a Escola de Hidelberg.


TOM ROBERTS - O sol do sul
Óleo sobre tela - 31 x 61,5 - 1887

TOM ROBERTS - Um dia tranquilo em Darebian Creek
Óleo sobre painel de madeira - 26,4 x 34,8 - 1885

TOM ROBERTS - Galpão em Newstead
Óleo sobre painel de madeira - 22 x 33 - 1893-94

Entre 1886 e 1889, montaram acampamentos em diversas regiões, costeiras ou interiores. Foi em 1887, mais precisamente no início do ano, que conheceu Arthur Streeton e produziu imagens imortalizadas naquele longo e quente verão. Tom Roberts, Arthur Streeton e Charles Conder exibiram uma série de pequenas impressões, coletadas nas muitas andanças que fizeram. Os painéis, um total de 182, dos quais 62 de Roberts, foram todos pintados sobre tampas de caixas de charutos e moldurados uniformemente para a mostra. Prepararam um vernissage muito bem decorado e divulgado, para fazerem a apresentação. Alguns críticos torceram o nariz dizendo que a arte era demasiada naturalista e que as propostas eram datadas demais. Roberts respondeu a esses comentários com uma frase que ficou célebre: “Fazendo da Arte a perfeita expressão de um tempo e de um lugar, torna-se de todos os tempos e de todos os lugares”. Mesmo com alguns apoios, o público não se impressionou e a National Gallery não correspondeu com o incentivo que eles esperavam. Para complicar, em 1891 Melbourne caiu numa forte depressão econômica, frustrando ainda mais as expectativas do grupo.


TOM ROBERTS - Floresta com lenhadores - 1886

TOM ROBERTS - Retrato de uma dama
Óleo sobre tela - 127 x 76,2 - 1888

É incrível como as dificuldades e as Artes caminham de mãos dadas. Mas, assim como a seleção natural de Darwin, tais obstáculos parecem fortalecer os mais aptos. Aqueles que fixam os olhos em seus objetivos, e aprendem que as quedas também ensinam, sempre conseguem deixar para as gerações futuras às suas, um pouco do combustível que os manteve em tais caminhos.


TOM ROBERTS - Indo pra casa
Óleo sobre painel de madeira - 23,4 x 13,6 - 1889

TOM ROBERTS - Mulher ao piano
Óleo sobre painel de madeira - 26 x 13,1

Um tanto frustrado, mas ainda convicto do que queria, Roberts parte para Sidney, onde fica sabendo que a Galeria Nacional de New South Wales tinha uma política de aquisição de obras produzidas sobre a Austrália. Foi quando lhe passou pela cabeça, utilizar dos aprendizados adquiridos com o Naturalismo visto na Europa, e desenvolver uma obra que narrasse os processos históricos que formaram sua nação, principalmente os métodos agrícolas e pastoris, que utilizavam o forte trabalho manual para subsistência, e que não era reconhecido como algo tão louvável. Arthur Streeton se juntou mais uma vez a ele e montaram um novo acampamento em Sirius Cove, Mosman Bay. Durante três anos seguidos, ele visitou a estação Brocklesly, no Riverina, onde pintou a célebre “Tosqueando as ovelhas”, que passou a ser a imagem definitiva de uma nova identidade artística que emergia.


TOM ROBERTS - Vindo para o sul - 1886
Óleo sobre tela - 63,5 x 52,2

TOM ROBERTS - Uma tarde de domingo
Óleo sobre tela - 41 x 30,8 - 1886

TOM ROBERTS - Olhos azuis e marrons
Óleo sobre tela - 126,8 x 76 - 1888

Além de pintor dedicado, Roberts era um leitor que tinha amor declarado para os poetas românticos ingleses, e isso refletiu, e muito, em sua obra. Seu envolvimento com a literatura é sentido nas abordagens que narra em suas telas em quase tudo que produziu. Mais da metade do trabalho produzido entre os anos de 1885 e 1900 foram retratos, um meio paralelo que arrumou para ganhar a vida.
Em 1896, casou-se com Elizabeth (Lillie) Williamson, em Melbourne, e com ela teve um filho, Caleb, em 1898.


                                                      
À esquerda: TOM ROBERTS - Portão mourisco
Óleo sobre tela - 48,3 x 33,3
À direita: TOM ROBERTS - Um canto em Alhambra
Óleo sobre painel - 21,6 x 16,2 - 1883

Roberts tinha uma liderança nata nas veias. Influenciava os jovens pintores apenas pela sua presença, participando de vários comitês e organizações de artistas em várias regiões de seu país. Em Sidney, se tornou o fundador e presidente da Sociedade dos Artistas. Batalhador no sentido de regularizar a condição artística como uma profissão, não pensava apenas em si, mas queria dividir com todos aqueles que estavam na sua mesma batalha, um pouco dos frutos que a sua perseverança lhe permitia colher. Sua proeminência social não fez esquecer os dias difíceis nos acampamentos sem conforto. Ele afirmou mais tarde: “Convenci a todos pelos meus argumentos, pela minha pintura e acima de tudo, pela minha presença”. Não era uma afirmação inflada de ego, mas consciente de que realmente acrescentara algo ao meio onde vivia.


TOM ROBERTS - A abertura do Parlamento da Austrália - 1903

Sua obra mais monumental ainda estava por vir: pintar a abertura do Parlamento Commonwealth. Depois de dois anos e meio, num trabalho que lhe ofereceu uma boa estabilidade financeira, nova crise econômica abalaria o país, e para se manter, volta a fazer retratos, vai a Londres, fica por lá uns tempos e novamente retorna à Austrália, isso depois de trabalhar numa frente hospitalar na Primeira Guerra Mundial.


TOM ROBERTS - Pedreira, Mary Island
Óleo sobre tela - 61 x 50,5 - 1926

TOM ROBERTS - Pela calçada
Óleo sobre painel de madeira - 23,6 x 14,2


Morreu na cidade de Talismã, a 14 de setembro de 1931. Por um grande período, sua obra caiu no esquecimento, vindo a ressurgir na metade do século passado. Será sempre lembrado como o bravo lutador que absorvia grandes novidades do cenário artístico mundial, e as adequava à sua realidade de nação. Impulsionou com sua mais profunda força, o desenvolvimento de um movimento nacional na pintura australiana, que jamais será esquecido. Um amigo de infância, escreveu sobre ele: “Era um grande conversador, divertido e cheio de caprichos e sabedoria, mas não era egoísta... Ele não permitia que um ouvinte se tornasse silencioso. Em cada momento, ofereceu sua camaradagem ativa, a participação na passagem da vida e a fruição da beleza. Ele não poderia ter vivido sem esse intercâmbio ativo de afeto e amizade”.


TOM ROBERTS - Autorretrato
Óleo sobre tela

13 comentários:

  1. Matéria fantastica José, fico impressionado com sua dedicação, obrigado por nos abastecer com estas informações especiais.Abraço!!!

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  2. Olá Gianni, bom que tenha gostado. Fico impressionado é encontrar tanta gente boa por aí e que ainda não são conhecidos à altura!

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  3. Olá José, mais uma excelente matéria, parabéns.
    Ai vai mais um nome de artista, se vc quiser poderia fazer uma matéria Ivan shishkin, esse artista, foi uma dica do Gilberto Geraldo, para o Luiz Pinto q passou pra mim.
    abraços.

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  4. Olá Kadu, há uma série de pintores russos para incrementar novas matérias. Queria um dia com mais horas pra poder divulgar mais obras e artistas que encontro pelo caminho.
    Obrigado pela visita, grande abraço!

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  5. mais um belo post de josé rosário, que com sua bateia, sempre nos apresenta belas pepitas de sua incansável busca por preciosidades que se escondem de nossos olhares!
    paulo de carvalho

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  6. E esse comentário poético, éin...
    Valeu mais uma vez pela visita, grande amigo!

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  7. hehe, estava na veia, como diria o machado... só não encontrei espaço para o meu "pois" tão a seu gosto e vindo de minha luso ascendência. fica para a próxima, pois!
    paulo de carvalho

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  8. Sempre que volto aqui pra colocar a leitura em dia tenho a nítida sensação de que pouco sei sobre o mundo das artes. Por mais que eu busque conhecimento, sempre haverá nomes que nós, humildes leigos não temos acesso, e é aqui o lugar que eu mais tenho encontrado a luz necessária que vai clarear a escuridão que toda a mídia mantém desses artistas fantásticos que mereciam ser mais divulgados. Adoro seus textos. Um bj carinhoso.

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  9. Cinha, obrigado pela visita. Bom que tenha ajudado em mais uma descoberta.
    Abraço!

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  10. Adoro a pintura de Tom Roberts com seus marrons , ocres tons terrosos e sua pintura impressionista...!! obrigada pelo presente !
    Beth Ferraz
    Petrópolis- RJ

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  11. É o que mais me atrai no trabalho dele também... cor de terra!

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  12. José Rosário... Parabéns por suas pinturas... adoro a luz e sombra que vc trabalha nelas.
    Também pinto; e gostaria se posso expor algumas das minhas telas nesse site.
    Meu e-mail é gustavocomparim@yahoo.com.br
    Se tiver interesse em ao menos dar uma olhada no meu trabalho, ficarei muito satisfeito.
    Abraço.

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  13. Olá Gustavo, veja o e-mail que lhe enviei.
    Grande abraço!

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