O Grito, em leilão na Sotheby's
Essa matéria foi uma sugestão de Márcio Domingues Soares; leitor e agora
colaborador do blog; e veio num momento muito pertinente, mesmo apesar de os fatos estarem se tornando algo comum. Algumas notícias sobre
arte sempre acabam ganhando as manchetes e provocando algumas polêmicas. Parece
que sempre foi assim, toda vez que uma obra atinge valores astronômicos ou
alguma farsa é desmascarada. Para continuar com o assunto, melhor assistir aos
vídeos anexados logo a seguir, para que algumas conclusões possam ser tiradas.
Leilão da obra "O Grito"
Falsário de pinturas consagradas
Depois de ver essas matérias, é bom lembrar de uma frase de
Picasso: “Pinto da mesma forma como algumas
pessoas escrevem uma biografia. As telas, concluídas ou não, são como páginas
de meu diário e, como tais, válidas ou não. O futuro escolherá as de sua preferência.
Não cabe a mim, fazer as escolhas”. Estaria Picasso prevendo os “exageros”
dos tempos atuais? Certos trabalhos valem tudo aquilo pelos quais são vendidos? Quando um artista produz uma obra, tem exata noção da mudança que pode provocar no mundo? Uma infinidade de outras perguntas poderia se seguir a essas e provavelmente
teria respostas bem variadas. Não quero chegar ao mérito da obra como objeto,
pois entender um trabalho isolado é algo injusto e produziria conclusões
desastrosas. A intenção principal dessa matéria é exatamente levantar um
questionamento acerca dos rumos da obra de arte e o mercado no qual está
inserida. Falar pelo menos de uma obra, logo adiante, tornar-se-á inevitável.
Muitos foram os artistas que amargaram uma dura jornada em
suas carreiras. Passando dificuldades financeiras extremas, rejeitados por críticos
e público e vivendo em um dilema interior constante. Muitos deles pesarosos em
abandonar uma linguagem estilística estável e rentável. Quase sempre tentados a
inovar e produzir aquilo que seus desejos sempre lhes sondavam. Essa busca
constante se tornou para muitos uma tortura e alívio ao mesmo tempo. Afinal, é
da transgressão que nascem os grandes nomes. Da vontade infinita de querer
mudar, surge sempre a possibilidade de uma nova vida. Em alguns casos muito
isolados, o reconhecimento e prestígio chegam a tempo para que o artista
usufrua em vida de sua criação. Mas quase sempre, os lucros irão enriquecer
oportunistas do mercado a posteriori. E por que uma obra chega a valer tanto? A resposta
mais plausível para essa pergunta é que o que está à venda não é apenas um pano
com tinta, espichado em um chassi de madeira. O que está à venda é um pedaço da
história, da ousadia de alguém que um dia produziu algo novo para seu tempo; porque o mercado de arte é assim, vive de novidades. Não só novidade do que é
contemporâneo, feito hoje, mas também e principalmente do que já foi novidade
um dia. Como disse Picasso, o artista produz, “mas não cabe a ele fazer as
escolhas”. A história é sempre montada nas gerações posteriores e feita de
acordo com suas conveniências.
Não queria me estender a nível individualizado, mas vamos
pegar como exemplo a obra “O Grito”, de Edvard Munch. Famosa nos últimos
tempos, por se tornar um dos trabalhos mais valorizados produzido por um
artista. Por que se tornou tão valorizada? A tela vendida é uma das quatro versões
produzidas para o mesmo tema. Tem a cor mais intensa que as outras três, é a única
que tem a moldura original com um poema do artista (que deu origem à elaboração
do tema) e também a única que possui uma figura em segundo plano olhando para
baixo. O que valoriza o quadro é audácia de alguém que soube pintar aquilo que
sentia, sem as aparas da crítica e nem a cobiça de querer produzir algo para
ser vendido. Munch escreveu sobre seu trabalho: “Passeava
com dois amigos ao pôr-do-sol. O céu ficou de súbito vermelho-sangue. Eu parei,
exausto, e inclinei-me sobre a mureta. Havia sangue e línguas de fogo sobre o
azul escuro do fjord e sobre a cidade. Os meus amigos continuaram, mas eu fiquei
ali a tremer de ansiedade, e senti o grito infinito da Natureza”.
A
obra de Munch foi criticada quando exposta pela primeira vez e até aconselharam
que sua exposição não fosse visitada por mulheres grávidas, tamanhas eram as
agressões contidas em suas imagens. Mas o público acolheu a obra com uma emoção
completamente oposta, aclamando-a como a linguagem de um novo tempo. Não havia
mais retorno, “O Grito” inaugurava uma das mais fortes manifestações
expressionistas e isso fez história. E é sobre histórias assim, que o mercado de
arte constrói sua trajetória.
No
segundo vídeo, um artista que não teve a mesma audácia de um Munch, mas que
sabe como poucos reproduzir aquilo que fizeram um dia. Dois universos
completamente distintos. De duas obras que são praticamente idênticas do ponto
de vista técnico, mas que se distanciam imensamente de suas propostas artísticas.
A original feita por alguém que transgredia e buscava novos horizontes, a cópia
feita unicamente com a intenção de ganhar dinheiro.
Felizmente
o tempo sabe selecionar aquilo que merece virar história.
José Rosário, você, além de pintor, é um ótimo redator! Muito bom o seu texto.
ResponderExcluirAbraço.
W. Vilela.
Olá Vilela, bom que tenha gostado. Grande abraço!
ExcluirOlá José!O excelente texto que acabo de ler me mostra os dois lados da moeda um como copista e outro como natureza,pensador,criador,imaginário,calculista,extravagante e varias outras palavras que não é comum como um pintor de telas, isto é emoção para poucos.Obrigado por me ensinar mais uma vez,grande JOSÉ.ABRAÇO
ResponderExcluirAbraço, Isaque. Obrigado pela visita!
ExcluirPara mim é uma mega obra,que pelo preço não tem valor,o valor é infinito para a humanidade,ela precisa de seu grito de reflexão nesse tempo pavoroso,não um grito de destruição ao próximo,mas enfim um jeito de misericordia,que ao fazer essa obra munch,não estava inocente ele via as cores dos desejos ,da fúria para um dia clolorido,então parece que entendemos pouco a mensagem,mas depois com algum blog que entramos uma revista informações da história da arte acordamos,eu por exemplo nem queria mencionar isso aqui,mas fiz o mês passado uma obra"O SILÊNCIO",sabe qual o preço?não tem valor comercial,tem é a história que estamos hoje o silêncio da humanidade,o eu ,só para mim,isso é só meu ,sendo que a gente já nasce perdendo,nada é nosso, tudo é emprestado como munch,emprestou para a humanidade essa obra que estava em seu sentimento na sua descoberta ,no seu tormento,mas valeu a pena criar isso creiop eu que valeu a pena criar o silêncio,daqui a cem anos,essa obra vai explicar a humanidade o que eu queria dizer,não estou fazendo propaganda ,mas sim deixo aqui o meu sentimento e certeza que a arte sempre falou tudo que o homem quis sempre saber...tudo de bom!!!
ResponderExcluirFernando, você e suas necessárias intervenções. Bom que a matéria tenha despertado algo. Essa é a principal intenção do blog.
ExcluirObrigado por vir e participar!