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domingo, 6 de março de 2022

PROJETO TRAÇO JOVEM


O rompimento da Barragem de Fundão deixou uma lição amarga para a nossa geração. Acidente ecológico sem precedentes na história de Minas Gerais, levantou uma série de perguntas sobre os verdadeiros propósitos do homem e seu habitat. Mais do que a exigência de uma nova postura perante ao manuseio dos rejeitos da mineração, ficou também claro um novo compromisso com a sociedade e o meio ambiente, mediante a prática de políticas reparadoras e que venham a promover o desejo de um novo mundo, mais igualitário para todos.

Como medida reparadora, foi criada a Fundação Renova. A Fundação Renova é a entidade responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, resultado de um compromisso jurídico chamado Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC). Cerca de 42 programas conduzidos pela fundação se desdobram nos muitos projetos que estão sendo implementados nos 670 quilômetros de área impactada ao longo do rio Doce e afluentes. As ações em curso são de longo prazo.

A Fundação Renova reúne técnicos e especialistas de diversas áreas de conhecimento, dezenas de entidades de atuação socioambiental e de conhecimento científico do Brasil e do mundo e soma hoje cerca de 6 mil pessoas (entre colaboradores próprios e parceiros) trabalhando no processo de reparação, de Mariana à foz do rio Doce.

Um dos 42 programas desenvolvidos pela Fundação Renova é o Edital Doce. A principal função do Edital Doce é apoiar projetos nas áreas de cultura, turismo, esporte e lazer por meio do Edital Doce.

Tive um projeto contemplado por meio do Edital Doce: o Projeto Traço Jovem.

O Projeto Traço Jovem visa levar aos jovens de dois distritos do município de Dionísio o ensino do curso de Desenho Artístico. Com ênfase nas técnicas de grafite e lápis de cor, o projeto levou aos distritos de Baixa Verde e Conceição de Minas um curso durante 5 meses, com início no mês de outubro de 2021 e término em fevereiro de 2022.


Apresentação do Projeto Traço Jovem

Realizar uma oficina de artes de forma presencial não foi uma tarefa muito fácil. Os jovens estavam parados há quase dois anos, depois de uma longa e traumatizante pandemia. Foi a primeira atividade presencial a que eles se viram inseridos. As aulas escolares já haviam começado de forma online, mas os alunos ainda não haviam experimentado um curso presencial. Dessa empreitada, ficou a lição de que é praticamente impossível conduzir um curso totalmente presencial de agora em diante. São novos tempos que pedem novas posturas e novos desafios no campo da aprendizagem. A praticidade da aula online, acessível no momento mais oportuno e no conforto da própria casa, fez com que a assiduidade ao curso ficasse comprometida. Felizmente, a criação de um grupo em rede social, onde as atividades eram socializadas, fez com a ausência presencial não interferisse no aprendizado das atividades oferecidas.

As aulas intercalaram entre aulas presenciais e vídeo-aulas.

Os alunos receberam material necessário para as aulas de desenho a lápis
e lápis de cor.

Aula de reprodução do modelo, por observação.

Somado ao desafio do retorno à atividade presencial, também teve a nova onda de pandemia do Coronavírus, com suas variantes. As fortes chuvas do período também impossibilitaram a realização de aulas presenciais por alguns dias, uma vez que as comunidades são localidades no interior do munícipio, ligadas à sede por estrada de terra. Especialmente o distrito de Baixa Verde ficou isolado em várias ocasiões e o acesso se tornou impossível. Ambos desafios que tiveram uma ajuda considerável das aulas online para serem contornados.

Não foi um ano fácil para as estradas em Minas Gerais. Como as
localidades de Baixa Verde e Conceição de Minas ficam na área
rural do município, o acesso até elas ficou impossível por vários dias.
 

Ao final do projeto, fazia parte do cronograma uma exposição em cada comunidade onde foram realizadas as oficinas. Infelizmente, devido à pandemia, os espaços públicos ainda não estão liberados para exposição no município de Dionísio. O único espaço permitido foi a Escola Estadual Jacy Garcia, que por medida de precaução, também limitou a visualização da exposição para o público de alunos e corpo da escola. São regras que ainda precisam ser seguidas, uma vez que o novo pico de contágio só começa a dar sinais de queda nesse momento. Independente dos contratempos, foi um dia descontraído, com a visualização dos trabalhos pelos colegas dos alunos do projeto, despertando interesse em alguns e inspirando principalmente os mais novos.


O projeto foi concluído no dia 3 de março. Ficaram muitas lições, tanto para os alunos quanto para mim. Um projeto experimental, numa proporção maior a que eu fazia de forma voluntária na sede do município. Deixou diversos ensinamentos para serem empregados em uma futura oportunidade.

 

AGRADECIMENTOS:

Muitas foram as pessoas e órgãos que tornaram realidade esse projeto, mas não poderia deixar de citar alguns deles:

. Fundação Renova

. Associação Comunitária dos Moradores de Baixa Verde, que cedeu o espaço do Centro Cultural (na pessoa de Vera Lobato).

. Clube de Mães Imaculada Conceição, em Conceição de Minas, que cedeu o espaço da sede da associação (na pessoa de Delma Araújo de Castro Abreu).

. CRAS (Prefeitura Municipal de Dionísio), que fez as inscrições de alguns jovens na localidade de Baixa Verde.

. Bruno Minafra (apoio técnico).

. Huberdam J. Nascimento (Baixa Verde).

. Especialmente aos alunos que acreditaram e ajudaram o projeto a acontecer.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Exposição ENTRE AMIGOS




No primeiro semestre de 2018, a convite de Luciana Pena, professora de artes do segundo grau, na Escola Estadual José Martins Drumond, em Dionísio, fiz uma série de três palestras sobre o tema Arte, para jovens do segundo e terceiro anos de segundo grau. Tais palestras despertaram o interesse por desenho em alguns dos alunos, e o resultado foi uma espécie de teste de aptidão aplicado nas turmas, para detectar possíveis alunos aptos para começar um curso de desenho e pintura. Cinco alunos foram inicialmente escolhidos (Aislan Pena, Antônio Dias, Darlone Lopes, Gerson Camilo e Mateus Henrique) e mais dois alunos completaram as duas turmas formadas (Marcione Félix e Saimon Douglas).


Primeiros contatos na Escola Estadual José Martins Drumond.

Primeiras aulas...

Exercícios em plein air.

Esse já era um projeto que eu tinha em mente, há anos, e as coisas acabaram fluindo mais naturalmente do que se esperava. O desejo de repassar algo que tenho aprendido durante todos esses anos está na importância que dou de resgatar valores artísticos em nossa cidade e despertar em outras pessoas, principalmente nos jovens, a oportunidade de uma nova vida. Foi uma atividade voluntária, uma vez que grande parte da falta de acesso a atividades artísticas está principalmente na dificuldade material. Também por isso, ficou a impossibilidade de fazer um curso mais abrangente, não só pelo tempo dispendido com as aulas, mas também por recursos materiais limitados.


Estudo de natureza-morta com arranjos.

Aulas noturnas.

Os primeiros contatos com a pintura.

Participação na Exposição OLHARES DIVERSOS, na Fundação Aperam Acesita, em Timóteo, MG.


As aulas foram ministradas uma vez a cada semana, divididas em duas turmas. Os alunos receberam material para execução das atividades e dois parceiros foram solidários nesse momento (Sinésio Crispim e Darcy Gasparetto), que doaram lápis de cor especiais e papéis próprios para a atividade. A eles, nosso muito obrigado, sempre. Também receberam acesso a livros para pesquisa, material didático necessário para complementar os estudos e imagens referenciais para a execução das atividades. Essas imagens, sempre impressas a cores ou preto e branco, dependendo da necessidade da referência.


Marcione Félix - Lápis sobre papel

Darlone Lopes - Lápis sobre papel

Aislan Pena - Lápis de cor sobre papel

Gerson Camilo - Lápis de cor sobre papel

Antônio Dias - Caneta esferográfica sobre papel

Saimon Douglas - Lápis de cor sobre papel

Mateus Henrique - Lápis sobre papel

O curso teve como prioridade o desenho, principalmente os fundamentos dele, tais como ênfase no estudo de perspectiva, composição e enquadramento, volumes e tons, e cores. As primeiras atividades eram conduzidas dentro de exercícios pré-estabelecidos, que melhor atendessem a expectativa de resultados para aquele momento. Atividades que iam desde a observação ao vivo, de objetos, até o uso de imagens impressas ou virtuais, para o desenvolvimento da atividade. As técnicas se concentraram no grafite, lápis de cor, carvão e tinta a óleo. A partir de certo tempo, com os jovens já familiarizados com o uso das técnicas, cada qual já tinha plena liberdade de escolher sua temática e melhor trabalhá-la.






Depois de mais de um ano de atividades no ateliê na Serra do Luar, foi realizada uma exposição (dias 11 e 12 outubro de 2019) que tinha como prioridade apresentar os trabalhos dos jovens artistas de Dionísio à comunidade. Tal exposição, intitulada ENTRE AMIGOS, foi uma promoção complementar para a Festa de Nossa Senhora do Rosário, tradição anual da cidade de Dionísio. Eles já haviam participado de uma exposição coletiva, na Fundação Aperam Acesita, no mês de agosto, onde os trabalhos foram muito bem aceitos e elogiados e estavam bastante motivados para a mostra de Dionísio.

Antônio Dias, Aislan Pena e Marcione Félix.


A exposição ENTRE AMIGOS contou com trabalhos de 7 alunos de Dionísio e também com obras de vários artistas do Brasil, pertencentes ao acervo de José Rosário. Foi realmente um momento único para os jovens artistas, uma vez que era o primeiro contato da cidade com os trabalhos deles. As escolas estadual e municipal de Dionísio enviaram diversas turmas para apreciar a exposição, uma decisão muito acertada, aliás. O público-alvo é exatamente as crianças e os jovens que formarão a próxima geração da cidade. Todos saíram da mostra com ótima impressão, e muitos estudantes se mostraram interessados em praticar desenho. Numa cidade onde a falta de opção para diversão e atividades extracurriculares é grande, a prática de desenho e pintura se mostraria como uma das melhores alternativas para desenvolver autoestima e promover o enriquecimento cultural, valorizando as raízes locais e desenvolvendo nos jovens o gosto pela sua terra. Num mundo cada vez mais ameaçado por opções degradantes como drogas e vícios, a arte se mostra como uma alternativa poderosa. A socialização é outro fator que não se pode desprezar nesse momento.




A exposição ENTRE AMIGOS marcou o encerramento das atividades de desenho e pintura com a turma desses 7 alunos. Fica o desejo que o projeto continue e descubra novos talentos em nossa cidade. Gostaria de agradecer a todos que puderam tirar um pouco de seu tempo para visitar a mostra e prestigiar os trabalhos desses jovens artistas. Pode parecer pouco, mas uma simples visita e palavras de incentivo é algo que eles precisam bastante nesse momento.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

COLECIONANDO HISTÓRIAS

Waiderson. Ao fundo, a tela "Vista de Ouro Preto",
medindo 70 x 100, que pintei no ano de 2006.


Pelo menos uma vez ao ano visito o meu amigo Waiderson e sua família. Wai, como o conheço desde que nos formamos no Segundo Grau, já é morador de Sumaré há uns 15 anos. Visitá-lo é um momento oportuno para colocarmos os papos em dia e também fazer um roteiro pelas redondezas de sua cidade. Nessas saídas, inclui-se principalmente visitas a museus, galerias, feiras de artesanatos e livrarias. Já garimpamos muitas coisas boas nessas andanças!


ÁLVARO LIMA - Casario
Óleo sobre tela - 30 x 20

MARCOS ZECHETTO - São Paulo
Acrílica sobre tela - 24 x 18

ALONSO - Carreando
Óleo sobre tela - 24 x 18

Tantos objetos colhidos por diversas andanças, o apartamento do Wai acabou se tornando uma espécie de galeria particular, e sempre que volto para visitá-lo, encontro novidades. O critério de maior peso nessas garimpagens é puramente emocional. Se algo agrada, ele vai logo arranjando um cantinho pra que faça companhia até que o destino arranje outro endereço. Coleciona pinturas, móveis antigos, artesanatos diversos, livros, cd's, muita raridade, diga-se de passagem.


SOUZA BRANCO - Litoral
Óleo sobre tela - 20 x 30

PASCOAL - Paisagem
Óleo sobre tela - 20 x 30

AMARAL - Marinha
Óleo sobre tela - 30 x 40

Um dos xodós de sua coleção são duas pequenas telas de palhaços, encontradas meio que por acaso em um barzinho num canto de Sumaré. São peças de 1974, de uma artista não conhecida, mas que lhe traz boas recordações pela aquisição. Também valoriza os artistas locais e fez contatos pessoais com praticamente todos eles, quando adquiriu as obras. Se não me engano, já se aproximam de 50, os quadros que já adquiriu.


CIDA - Palhaço
Óleo sobre tela - 42 x 27 - 1974

CIDA - Palhaço
Óleo sobre tela - 42 x 27 - 1974

Tanta saída e tanta volta com objetos daqui e dali, os espaços começaram a desaparecer. Como grande parte dos colecionadores, já não compra mais quadros grandes, apenas os de pequenos formatos. E eles vão dividindo os restantes de espaços vazios que sobram pelas paredes.


R. CARBOLLINNI - Baianas
Óleo sobre tela - 60 x 30

BAIENZA - A evolução
Óleo sobre tela - 100 x 40

Cada peça de sua coleção não é simplesmente o acúmulo de objetos. Traz muita história embutida. Um artista novo que conheceu, um lançamento de livro e vernissage que participou, um local que nunca havia visitado... Adereços que carregam boas lembranças. Um colecionador é alguém que preserva história. Sem a prática do colecionismo, não haveria a memória da humanidade.


JOSÉ ROSÁRIO - Os encantos do Vale
Óleo sobre tela - 100 x 70

Wai possui várias obras minhas (não sei precisar quantas). São de várias fases, técnicas e estilos. Separei algumas para colocar logo abaixo. Gosto em especial de uma tela em estilo meio surrealista (estilo que não pinto já faz um bom tempo), com o título "Os encantos do Vale", que ilustra sobre a nossa terra de origem, o Vale do Aço, em Minas Gerais, região que não só é rica em minérios e siderúrgicas, mas também em muitas belezas naturais e tradições culturais. Também gostei de ter feito um exercício à partir de uma tela de um pintor italiano chamado Ettore Tito.


JOSÉ ROSÁRIO - Wai em Porto Seguro
Óleo sobre prancha - 20 x 25

JOSÉ ROSÁRIO - Natureza morta
Óleo sobre tela - 40 x 50

JOSÉ ROSÁRIO - Le Bougival
Óleo sobre tela - 40 x 60
À partir de original de Ettore Tito

É uma coleção que me encanta sempre que retorno por lá!

sábado, 6 de novembro de 2010

ARTE E CRÍTICA (José Rosário)

PABLO PICASSO: Guernica - 3,49 x 7,76 m
Casa del Buen Retiro, Madri
A capital basca de Guernica foi bombardeada brutalmente
pelos aliados alemães de Franco. Esse trabalho é a imagem
da desumanidade do homem contra seus iguais. Picasso precisou
sentir o que fazia para se exprimir com tanta veracidade.

Todo artista é, impreterivelmente, um formador de opinião. Isso pode ocorrer de forma intencional, como da maneira mais involuntária possível.
Cada obra carrega consigo uma mensagem que ultrapassa o objeto em si. Seja por protesto, por homenagem, puro saudosismo ou por apenas uma fração interior do artista que foi revelada, a obra sempre diz muito mais do que mostra. Ela é uma visão no sentido mais amplo da palavra.
A obra é uma visão interior porque primeiro ela passa pelo filtro da memória de quem a executou. A bagagem cultural assimilada pelo artista até a data de sua execução é que determina quanto de sua visão interior está inserida na visão do mundo que o cerca.
A obra é também uma visão compartilhada porque quem a observa, também entenderá dela, aquilo que sua bagagem cultural permite entender. Leonardo Boff, no excelente livro “A águia e a galinha”, diz sobre isso de uma maneira até poética: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”. É impossível entender e sentir com os sentidos dos outros. Cada pessoa tem a sua visão e a interpreta da maneira que lhe é possível.

SALVADOR DALI - A Apoteose de Homero
Homero foi um grande escritor da antiguidade grega. Era
cego, mas fazia com que todos enxergassem um novo mundo 
através do que pensava e dizia. É impossível entender essa 
obra de Dali sem conhecer um pouco de Homero.

Além da bagagem cultural para análise de uma obra, há ainda o estado emocional, tanto de quem a fez quanto de quem a observa. Tristeza, raiva, opressão, medo... Todos os sentimentos podem ajudar ou atrapalhar a execução e o entendimento de uma obra. É que, como falou Drumond: “A gente põe nas coisas as cores que tem por dentro”.

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE: "A gente põe nas coisas,
as cores que tem por dentro"

Uma “Guernica”, de Pablo Picasso, certamente não teria a força impactante que tem se tivesse sido concebida em outra época. A questão social que tanto tocou o artista, ganhou força e se tornou um protesto perfeito para o momento em que a obra foi executada.
Assim sendo, julgar e analisar uma obra, sem se inteirar de toda a situação social da época em que foi feita, bem como a inclusão do artista no contesto social de quando a executou é, no mínimo, injusto. Ser crítico de uma obra ou estilo, sem a visão holística que eles precisam, faz do crítico, vítima daquilo que ele mais contesta: um simples ponto de vista.
Quem é “o” crítico de arte? Poderíamos dizer que é uma pessoa que interpreta e socializa uma obra para outras pessoas. Num passado mais distante, poucas eram as pessoas que tinham acesso à arte como consumo e propriedade. Eram geralmente os mais abastados financeiramente, e por isso, os que tinham um maior grau de instrução, pois, eram os únicos que conseguiam estudar. Com a revolução industrial, uma fatia maior da população começou a ter acesso a coisas que antes não tinha. Só que a melhor condição financeira não veio proporcional à condição cultural. Não era de se assustar que novas pessoas ricas nem sabiam ler direito. Com a arte sendo acessível a mais uma grande parte da população, ela precisava de alguém que a explicasse. Foi quando surgiram os primeiros críticos de arte. Ditos como os “tradutores” das obras. Eles explicavam o que os olhos comuns não conseguiam ver. Eram por isso, considerados grandes intelectuais, que tinham o poder de fazer entender o que muitos não conseguiam.
Por um bom tempo isso pode até ter funcionado. É que antes, os poucos estilos não se diversificavam tanto. Uma obra precisava muito mais de uma interpretação, do que necessariamente de uma crítica. Alguém que destrinchasse a obra em porções plausíveis de entendimento. Não se esqueça que a interpretação de uma obra, por mais criteriosa que possa ser, ainda é a visão individual de alguém que sente e se emociona.
Com o decorrer do tempo e o surgimento cada vez mais crescente de estilos, fazer arte se tornou o jardim individual da liberdade de expressão. Nos tempos atuais, qualquer um se dá o direito a “inventar” um estilo qualquer. Hoje, o que parece contar não o que tenha algo a dizer, mas sim, o que é novidade, o que nunca foi feito por ninguém, e o que é pior, o que tenha mais força na mídia para se impor como objeto de consumo. No afã de criarem uma arte nova estão cada vez mais destruindo a arte. Não estou negando aqui todos os benefícios que trouxeram movimentos como o Impressionismo, o Surrealismo e o Abstracionismo. Abriram as fronteiras do que se pode fazer, mas, não destruiram a essência da arte.
Desconfio muito de uma arte sem parâmetros, mais ainda de críticas, que já não precisam medir ou explicar nada. Se há liberdade para fazer, também há liberdade para entender. O crítico de arte, hoje, se tornou a peça menos importante possível. Se cada um se dá o direito de “criar” aquilo que bem quiser, cada um tem o direito de entender aquilo também como bem quiser, não precisando mais de tradutores. Se antes o crítico era o conhecedor histórico e cultural que tanto auxiliava na interpretação de uma obra, hoje se tornou apenas alguém com um ponto de vista exótico. Alguém que é humano e que sofre todas as influências como qualquer ser humano, alguém que sente e que avalia aquilo que está a sua frente apenas como qualquer outro, de seu ponto de vista.
Não poderia terminar esse texto sem citar Ferreira Gullar, que é alguém com uma lucidez incomparável do que é verdadeira arte: “A verdadeira arte tem o poder de nos reconduzir ao mundo fascinante que só existe nela – tessitura de cores e de matéria, de tons e meio tons, que vibram como sons, que nos estimulam o olfato, que engendram sabores imaginários, enfim, uma tessitura de sensações e significações, de matéria percebida ou sonhada, envolvendo a simbólica geral do corpo e do espírito”.

JOSÉ ROSÁRIO - Se não cuidarmos, restará apenas propaganda
Óleo sobre tela, 80 x 120
Acervo de Ildeu Franco, Belo Horizonte
Toda obra é formadora de opinião e cada pessoa absorve
de cada obra, aquilo que seu conhecimento permite.